Na primeira fase, a Seleção
Brasileira teria três adversários vestindo camisa vermelha pela frente.
Endossando todas as incertezas e inseguranças da imprensa esportiva e dos
torcedores, o Brasil, em sua estréia, viu os turcos saírem na frente nos
acréscimos do primeiro tempo através de Hasan Sas. Logo no início do segundo
tempo, no entanto, Ronaldo começou a desconstruir o medo a respeito de seu real
condicionamento físico, ele escorou cruzamento com oportunismo e empatou a
partida. O jogo se encaminhava para um empate quando a arbitragem deu uma
ajudinha para a Seleção Brasileira: o centroavante Luizão, que havia entrado
durante a segunda etapa, foi derrubado próximo à linha da grande área, falta fora
da área que o árbitro sul-coreano viu dentro da área e assinalou pênalti.
Protesto turco e bola na rede na cobrança de Rivaldo, aos 42 minutos do segundo
tempo. Jogo difícil na estréia e vitória fácil em jogo facílimo na segunda
rodada. A China não viu a bola e o Brasil venceu sem dificuldades por 4 x 0,
com gols dos "Rs" canarinhos: Roberto Carlos, Rivaldo, Ronaldinho
Gaúcho e Ronaldo. Classificado por antecipação, Felipão poupou jogadores no
terceiro jogo, mas ainda assim voltou a golear, 5 x 2 na Costa Rica, com
direito a dois gols de Ronaldo. O centroavante brasileiro afastou a
desconfiança que pairava sobre ele, fez 4 gols na 1ª fase, tendo balançado as
redes em todos os jogos. Nas oitavas de final, mais um adversário de camisa
vermelha pela frente, era hora de duelar com a Bélgica.
Foi um jogo duríssimo. A vitória
brasileira por 2 x 0 não diz quão duro foi o jogo. E tudo poderia ter sido
diferente se o árbitro jamaicano não tivesse errado em favor do Brasil. Aos 35
minutos do primeiro tempo, num cruzamento para a área brasileira, Wilmots subiu
com Roque Júnior e conseguiu cabecear para as redes, mas o juiz marcou uma
falta inexistente do atacante sobre o zagueiro brasileiro e anulou o gol. Só
aos 22 minutos do segundo tempo o placar saiu do zero, pelos pés de Rivaldo.
Nos minutos finais Ronaldo fez o segundo. O duelo nas quartas de final era diante da
Inglaterra, de David Beckham e Michael Owen. Os ingleses haviam participado de
quase todas as campanhas brasileiras que culminaram em título da Copa do Mundo. Em
1958, um empate sem gols na 1ª fase. Em 1962, vitória brasileira por 3 x 1. Em
1970, vitória brasileira por 1 x 0. Nas quatro conquistas canarinho de Mundial
até então, só em 1994 não houve um Brasil x Inglaterra. Que viessem os
ingleses, alimentar o sonho do Penta!
Tensão no ar quando Owen abriu o
marcador para os ingleses, mas Rivaldo empatou nos acréscimos da primeira
etapa, completando boa jogada de Ronaldinho Gaúcho. Do bom passe no primeiro
gol a uma cobrança de falta logo no começo do segundo tempo que era para ser um
cruzamento, mas encobriu o goleiro Seaman, enganando-o, e colocando o 2 x 1
definitivo no placar. A Seleção Brasileira mais uma vez avançava à semi-final
de uma Copa do Mundo. O adversário desta vez era a surpreendente Turquia, que havia
dado trabalho ao Brasil na 1ª Fase. Na outra semi, Alemanha x Coréia do Sul.
Eram duelos entre os dois maiores campeões da história das Copas com duas
seleções que chegavam pela primeira vez na história entre os quatro primeiros
colocados.
Jogo duríssimo para o Brasil,
suado! Ronaldo tinha cinco gols em cinco jogos, só não havia balançado as redes
diante dos ingleses. E foi de seus pés - do desacreditado centroavante que dava
a grande volta por cima naquele Mundial e fazia nascer o lema: "eu sou brasileiro,
não desisto nunca!" - que saiu o gol triunfal que selou a vitória
brasileira aos quatro minutos do segundo tempo. O "R9" chegava a seu
sexto gol no torneio, uma marca por si só já importante, pois todos os artilheiros da Copa do Mundo entre 1978 e 1998
haviam terminado o torneio com 6 gols. Miroslav Klose e Rivaldo tinham 5 gols
cada, um a menos que Ronaldo. A final valia não só o troféu como a marca de
artilheiro da competição.
Depois do fracasso da “Seleção
Brasileira Europeizada” na Copa de 90, o esquema tático usando três zagueiros
ressurgiu na Copa de 2002 e, chegando à final, provava que o Brasil poderia
jogar daquela forma e dar certo. Os titulares de Felipão naquela campanha:
Marcos; Lúcio, Edmilson e Roque Júnior; Cafu e Roberto Carlos; Gilberto Silva,
Kléberson e Rivaldo; Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo.
Brasil e Alemanha se encontravam
pela primeira vez numa Copa do Mundo, e logo para fazer uma final. De um lado o
Brasil, quatro vezes campeão em 1958, 1962, 1970 e 1994, do outro a Alemanha,
três vezes campeã em 1954, 1974 e 1990. O Brasil, tendo chegado àquela final,
igualava ainda a Alemanha, a única até então que havia disputado três finais
consecutivas na história das Copas, vice em 1982 e 1986 e campeã em 1990. O
Brasil tinha sido campeão em 1994 e vice em 1998. Era o duelo dos duelos da
história do futebol mundial. Em 30 de junho de 2002 o mundo pararia e
concentraria sua atenção no estádio de Yokohama, no Japão. De um lado o melhor
goleiro do mundo, Oliver Kahn, e do outro a artilharia brasileira, com Rivaldo,
Ronaldinho e Ronaldo.
Kahn havia sido eleito o melhor
jogador da Copa de 2002, era um paredão com a frieza de uma muralha. Mas se ele
parecia intransponível, a coisa começou a mudar aos 22 minutos do segundo
tempo. Rivaldo chutou da entrada da área e Oliver Kahn falhou ao tentar
encaixar, soltando a bola mansinha aos pés de Ronaldo, e o Fenômeno não
perdoou, rede! Doze minutos depois Kléberson avançou pela direita e cruzou,
Rivaldo fez conta-luz e a bola achou os pés de Ronaldo, que tocou no canto, longe do
alcance de Kahn. Brasil 2 x 0 Alemanha. O mundo do futebol estava novamente
conquistado pela Seleção Brasileira. A camisa canarinho ganhava sua quinta
estrela acima do escudo da CBF. Ronaldo chegava a 8 gols e se consagrava como
herói renascido. Desde 1970 uma seleção não era campeã sem tropeçar nenhuma
vez, setes jogos e sete vitórias! Uma campanha fantástica.
Campeão, o Brasil ainda mantinha
uma outra marca própria. Nunca uma seleção européia havia conquistado um título
nas Américas, e a única seleção não-européia a conquistar um título em solo
europeu foi a Seleção Brasileira, em 1958, na Suécia. Na primeira Copa do Mundo
fora do eixo Europa-Américas, a conquista canarinho a manteve como única a já
haver conquistado o Mundial de futebol fora de seu continente.
O lema da conquista, cantado no
batuque do samba pelos jogadores no vestiário, representava uma simbiose
perfeita naquele momento entre a sociedade brasileira e a maior paixão
nacional, o futebol. A música do sambista Zeca Pagodinho dizia: "Eu já
passei por quase tudo nessa vida, em matéria de guarida espero ainda a minha
vez / Confesso que sou de origem pobre, mas meu coração é nobre, foi assim que
Deus me fez / Só posso levantar as mãos pro céu, agradecer e ser fiel ao
destino que Deus me deu / Se não tenho tudo que preciso, com o que tenho eu
vivo, de mansinho lá vou eu / Se a coisa não sai do jeito que eu quero, também
não me desespero, o negócio é deixar rolar / E aos trancos e barrancos lá vou
eu! Sou feliz e agradeço por tudo que Deus me deu / Deixa a vida me levar, vida
leva eu!".
A bela campanha brasileira
colocou uma grande quantidade de jogadores na seleção da Copa do Mundo
escolhida pela FIFA, os eleitos: Oliver Kahn (Alemanha), Myung Bo (Coréia do
Sul), Fernando Hierro (Espanha), Sol Campbell (Inglaterra) e Roberto Carlos (Brasil),
Michael Ballack (Alemanha), Hasan Sas (Turquia), Ronaldinho Gaúcho (Brasil) e Rivaldo
(Brasil), Miroslav Klose (Alemanha) e Ronaldo (Brasil).
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