A estréia do Brasil foi contra a
Croácia. Era a partida mais difícil da primeira fase, cercada pela tradicional
tensão e nervosismo do primeiro jogo, que num quadrangular, de tiro curto, pode
definir as condições para a classificação ou a eliminação. Ansiosa, a Seleção
Brasileira não jogou bem, mas venceu, com um chute de Kaká, de fora da área, no
finzinho do primeiro tempo. Na seqüência, o Brasil não teve muita dificuldade para
ganhar da Austrália, 2 x 0, gols de Adriano e Fred, e do Japão, 4 x 1, com dois
de Ronaldo. Dominante e primeiro no grupo, o Brasil seguia impávido e seguro,
com uma soberba de favorito absoluto. E festejava, pois com os dois gols contra
os japoneses, o atacante Ronaldo chegava a 14 gols em Copas do Mundo, igualando
o recorde do alemão Gerd Muller, até então maior artilheiro das Copas, que fez
10 gols na Copa de 70 e 4 gols na Copa de 74. Mas não foi só, Ronaldo chegava a
66 gols com a camisa canarinho e igualava-se a Zico, segundo maior artilheiro
da história do Brasil.
Na primeira fase, no “Grupo da
Morte”, Argentina e Holanda impuseram a tradição de suas camisas, eliminando
Sérvia e Costa do Marfim, esta última munida de Didier Drogba, que brilhava com
a camisa do Chelsea no Campeonato Inglês. O Equador mostrou força e eliminou a
Polônia. No grupo do Brasil, a surpreendente Austrália, que eliminara o Uruguai
nas Eliminatórias, deixou a Croácia para trás e avançou.
Nas oitavas de final, o
adversário do Brasil era o perigoso time de Gana. O Brasil tinha excelente retrospecto contra
países africanos nas Copas do Mundo. Fez 3 x 0 no Zaire em 1974, 1 x 0 na
Argélia em 1986, 3 x 0 em Camarões em 1994 e 3 x 0 em Marrocos de 1998. A
vitória por três a zero era o placar marcante dos duelos dos canarinhos com os
africanos. E foi o placar diante de Gana. Para manter a tradição de três gols
nos confrontos de Copa contra africanos, na Copa seguinte, em 2010, a vitória
sobre a Costa do Marfim foi por 3 x 1.
O resultado foi extremamente
festivo. Ronaldo Fenômeno abriu o placar e com este gol tornou-se o maior
artilheiro da história das Copas até então e o segundo maior da história da Seleção
Brasileira. Adriano ampliou ainda no primeiro tempo. Zé Roberto fechou a conta
no segundo tempo. Com quatro vitórias, o Brasil parecia sólido na sua rota para
o seu sexto título mundial. Mas a partir das quartas de final só haveria
pedreira no caminho de quem fosse erguer o troféu: Alemanha x Argentina, Brasil
x França, Inglaterra x Portugal, e Itália e Ucrânia. Seis campeões mundiais
entre os oito que haviam sobrevivido ao afunilamento. Dentre os que já haviam
levantado a taça do mundo, só o Uruguai não se fazia presente.
Os alemães venceram os argentinos
nos pênaltis e a Itália confirmou seu favoritismo diante dos ucranianos.
Portugal, do treinador brasileiro Luiz Felipe Scolari, e dos craques Luís Figo
e Cristiano Ronaldo, não saiu do zero contra os ingleses, mas também venceu nos
pênaltis. Já o Brasil tinha pela frente a França, que o eliminara nas quartas
na Copa de 86 e em cima de quem foi a campeã da Copa de 98 (os franceses também
tinham derrubado o Brasil na Copa das Confederações de 2001). O último sucesso
brasileiro sobre os franceses em Copas havia sido na semi-final de 1958. Hora de
reverter este quadro de insucessos? Os titulares do Brasil estavam todos
disponíveis: Dida, Cafu, Lucio, Juan e Roberto Carlos, Gilberto Silva, Juninho
Pernambucano, Kaká e Ronaldinho Gaúcho, Adriano e Ronaldo.
O duelo era em Frankfurt. O time
francês, treinado por Raimond Domenech, jogava com: Barthez; Sagnol, Thuram,
Gallas e Abidal; Patrick Vieira, Makelele, Zinedine Zidane e Malouda; Frank Ribery
e Thierry Henry. Era um grande time!
O primeiro tempo foi muito movimentado.
Zidane estava magistral, como sempre, na condução do meio-campo francês. As
maiores chances de gol de lado a lado surgiram em faltas nas respectivas
intermediárias, mas nenhuma vez houve uma oportunidade que tenha deixado a
respiração de qualquer torcedor presa, naquele sentimento de “quase!”. No início
do segundo tempo, também num cruzamento para a área, Henry tocou de cabeça e
fez os torcedores prenderem o ar no primeiro sentimento de “quase!”. Logo
depois não teve escapatória. O relógio marcava 11 minutos, Zidane novamente
teve a chance de cobrar uma falta na intermediária para dentro da área. Henry
penetrou por trás da defesa e escorou para as redes. Gol! Aos 15, os franceses
quase ampliaram. Aos 24, Dida saiu da área e se atirou com o corpo para matar o
contra-ataque e salvar novamente a seleção. A chance real do time canarinho só
veio aos 42. Ronaldo fez excelente jogada individual na entrada da área e foi
derrubado, Ronaldinho Gaúcho cobrou e a bola passou triscando o travessão. Fim
de jogo: França 1 x 0 Brasil.
Muito provavelmente foi a chance
de título mais desperdiçada de todas, pois em nenhuma outra o nível técnico dos
onze brasileiros esteve tão acima dos demais concorrentes. A torcida e a
imprensa fizeram a tradicional caça ao culpado, e crucificaram Roberto Carlos,
que no lance do gol, não prestou atenção e ficou ajeitando o meião, não
acompanhando Henry, que penetrou sem marcação para escorar para o gol. Mas
foram muitos os motivos do fracasso. Faltou seriedade e concentração, faltou
liderança e disciplina. O hotel sempre esteve sob ambiente festivo e não com a
seriedade que uma Copa do Mundo exige. Os jogadores abusavam, com consumo de champaigne durante as folgas. Faltou
pulso a Carlos Alberto Parreira também, sob o comando de Luiz Felipe Scolari,
por exemplo, certamente teria havido mais restrições às festividades fora de
hora. Zagallo, auxiliar-técnico de Parreira, já estava com 75 anos, já não
tinha a mesma energia, e não conseguia repetir o papel exercido em outrora.
A maior frustração de todas foi Ronaldinho
Gaúcho. Não que tenha jogado mal, mas não conseguiu ser o protagonista a nível
de Pelé e Maradona que se esperava dele. Nunca mais ousaram, nem imprensa nem
torcida, colocá-lo de novo no mesmo patamar destes dois. Ao mesmo tempo,
Ronaldo já começava a fase de luta contra a balança que marcou a fase final de
sua carreira. E Adriano já havia começado a manifestar os problemas com as
bebidas alcoólicas que o levaram a encerrar a carreira precocemente. O
“Quadrado Mágico” fracassou!
Na semi-final, a Itália desbancou
a Alemanha, dona da casa, vencendo por 2 x 0 na prorrogação. E a França superou
Portugal por 1 x 0. Na final, no histórico jogo em que Zidane acertou uma
cabeçada no peito do zagueiro Marco Materazzi e recebeu cartão vermelho. Os
franceses saíram na frente, logo no início do jogo, mas logo cederam o empate.
Os gols foram dos dois protagonistas da circense cena de agressão; Zidane foi
expulso e os italianos venceram nos pênaltis e conquistaram pela quarta vez a
Copa do Mundo. Se na Copa da Itália em 1990 foi a Alemanha que saiu campeã, na
Copa da Alemanha em 2006 foi a Itália campeã.
O time titular dos campeões,
treinados por Marcello Lippi, jogava com: Buffon; Zambrotta, Fabio Cannavaro,
Materazzi e Fabio Grosso; Gattuso, Andrea Pirlo, Perrotta e Camoranesi; Francesco
Totti e Luca Toni.
A seleção de melhores da Copa de 2006 eleita pela FIFA
ficou assim: Gianluigi Buffon (Itália), Gianluca Zambrotta (Itália), Fabio
Cannavaro (Itália), John Terry (Inglaterra) e Philipp Lahn (Alemanha), Patrick
Vieira (França), Andrea Pirlo (Itália), Zinedine Zidane (França) e Michael
Ballack (Alemanha), Thierry Henry (França) e Miroslav Klose (Alemanha). Nenhum
brasileiro! Poderia ser algo natural, não estivesse aquela seleção de 2006 tão
dominante no cenário internacional. Na lista dos 23 melhores da Copa divulgada
pela FIFA, apenas Zé Roberto apareceu.
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