Em 2004, a Argentina riu e provocou, mas o Brasil levou a melhor: na decisão da Copa América do Peru, a Seleção Brasileira, depois de um fim de jogo eletrizante, acabou campeã nas penalidades. Era o primeiro capítulo de uma trilogia de vitórias históricas sobre os argentinos em finais de competições internacionais.
"Não se pode brincar com o futebol brasileiro. Jamais brinquem com o futebol pentacampeão do mundo". Com sangue nos olhos e orgulhoso dos seus comandados, o técnico Carlos Alberto Parreira assim resumia a todos o que acabara de ocorrer no Estádio Nacional de Lima, no Peru. Na tarde de 25 de julho de 2004, o Brasil, sem suas principais estrelas, buscou um jogo perdido, viu a Argentina provocar, e ganhou nos pênaltis o saboroso título daquela Copa América.
De fato, o Brasil disputou a competição sem as suas principais estrelas, que, naquela altura, viviam grande fase na carreira. Em uma final contra a Argentina, seria impossível não notar as ausências de jogadores do porte de Cafu, Lúcio, Roberto Carlos, Emerson, Kaká, Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo. Nenhum deles foi ao Peru. Mas quem diria... nem seria preciso.
Frenética na busca por um tão sonhado título e o fim de um incômodo jejum que já durava desde 1993, a Argentina partiu pra cima e arranjou um pênalti aos 20 minutos do primeiro tempo, bem batido e convertido por Kily González. Mas o Brasil era valente. Antes do final da primeira etapa, a antiga parceria dos tempos de Cruzeiro deu resultado e Alex bateu uma falta na cabeça do zagueiro Luisão, que empatou o jogo.
No segundo tempo, o equilíbrio marcou a disputa do clássico e o nervosismo já poderia ser visto em ambos os lados quando Renato acabou furando uma bola e deixando-a livre para Delgado, que não perdoou e pôs os alvi-cestestes na frente aos 42 minutos do segundo tempo. O destino do troféu parecia selado. O desfecho se aproximava e a equipe brasileira não conseguia de modo algum recuperar a bola.
Carlitos Tévez e Andrés D´Alessandro, malandros como manda a etiqueta argentina, prendiam e passavam o pé por cima da bola nos instantes finais de jogo. Foram castigados. Duramente castigados. Assim que tomou a posse novamente, o Brasil partiu para a última tentativa e Diego lançou na área. Luís Fabiano disputou e a bola sobrou para Adriano, no ápice do seu Império, ele girou e estufou as redes de Abbondanzieri. As provocações de segundos antes, quase terminaram em briga no meio de campo. Não havia tempo para mais nada com a bola rolando, agora era a vez de decidir com a bola parada.
Nos pênaltis, os Deuses do Futebol, se é que existem, certamente entraram em ação e deixaram o resultado pender para o lado de quem mais mereceu, pela garra, luta e superação.
Argentina 2 x 2 Brasil (pen: 2 x 4)
Local: Estádio Nacional, em Lima, Peru
Juiz: Carlos Amarilla (Paraguai)
Gols: Cristian González (pênalti, 20'1T), Luisão (45'1T), César Delgado (42'2T) e Adriano (48'2T)
Brasil: Júlio César, Maicon, Luisão (Cris), Juan e Gustavo Nery; Renato, Kléberson (Diego Ribas), Edu Gaspar e Alex (Felipe); Adriano e Luís Fabiano. Téc: Carlos Alberto Parreira
Argentina: Roberto Abbondanzieri, Javier Zanetti, Fabricio Collocini, Roberto Ayala, Gabriel Heinze e Juan Pablo Sorín; Javier Mascherano, Lucho González (Andrés D´Alessandro) e Cristian "Kily" González; Carlos Tevez (Facungo Quiroga) e Mauro Rosales (César Delgado). Téc: Marcelo Bielsa
Nos pênaltis:
Argentina: Cristian González e Juan Pablo Sorin converteram; Andrés D´Alessandro e Gabriel Heinze perderam, defendidos por Júlio César
Brasil: Adriano, Edu, Diego e Juan converteram
Em 2005, o Brasil deu uma goleada na rival Argentina e foi campeão da Copa das Confederações. Uma noite de sonho... BRASIL 4 x 1 ARGENTINA... Adriano chutou e fez 1 a 0... Kaká bateu forte e ampliou... Ronaldinho Gaúcho fez o terceiro... Adriano completou a goleada... Argentinos lamentavam a derrota histórica... Ronaldinho Gaúcho liderava o samba... e depois, beijava a taça.
O segundo capítulo da trilogia aconteceu em 29 de junho de 2005. Noite na Alemanha, fim de tarde no Brasil. Não podia ter sido melhor. O troco da derrota para a Argentina nas Eliminatórias, menos de um mês antes, chegou em grande estilo, com um verdadeiro show no triunfo brasileiro por 4 x 1 na Final da Copa das Confederações, na primeira decisão entre os arqui-rivais fora da América do Sul na história.
Com um começo irrepreensível, o Brasil envolveu a Argentina com toque de bola eficiente e, em apenas dois ataques, abriu vantagem de dois gols no placar já aos 14 minutos, com Adriano e Kaká. O título foi consumado no começo do segundo tempo, quando Ronaldinho Gaúcho e mais uma vez Adriano definiram a histórica vitória. O atacante da Inter de Milão, Adriano, o Imperador, acabou como artilheiro da competição, com 5 gols. Foram dois gols na final, o primeiro, para abrir o caminho rumo ao título, e o último, finalizando a goleada por 4 a 1 diante da Argentina. Não só pela apresentação na decisão, mas pelo bom futebol em todo o torneio, Adriano foi escolhido o melhor jogador da Copa das Confederações. Foi ainda o artilheiro, com cinco gols. E, claro, campeão. No primeiro gol, na primeira vez que foi acionado no jogo, Adriano abriu o placar para o Brasil ao receber de Cicinho, cortar Coloccini e bater forte de esquerda. O forte disparo, mesmo no meio do gol, não pôde ser evitado por Germán Lux. Depois, a vitória começou a virar goleada quando a seleção trocou passes por quase dois minutos até a bola chegar em Cicinho. O lateral levantou na cabeça de Adriano, que escorou para as redes, era o quarto tento verde-amarelo.
No segundo gol, Robinho recebeu inversão de bola de Cicinho e acionou Kaká. O meia tirou Gabriel Heinze com um drible de corpo e bateu colocado, acertando o ângulo esquerdo de Lux. No segundo tempo, logo no primeiro minuto, o Brasil ampliou o placar. Depois de uma grande jogada de Cicinho pela direita, Ronaldinho Gaúcho fechou entre a zaga e definiu de perna direita. A bola passou entre as pernas de Lux antes de entrar.
Foi a maior vitória brasileira sobre seu principal rival em 37 anos. O placar de 4 a 1 havia sido registrado pela última vez no triunfo sobre os argentinos em um amistoso no Rio de Janeiro em 1968. A conquista no dia 29 de junho também remete ao aniversário de 47 anos do primeiro título mundial da Seleção Brasileira, na Copa do Mundo de 1958, na Suécia.
Com a conquista na Alemanha, a seleção principal completou um domínio hegemônico, detendo todos os títulos internacionais disponíveis: Copa das Confederações, Copa do Mundo e Copa América.
Mesmo sem marcar, a vitória teve como destaque o lateral-direito Cicinho, que teve participação direta na criação dos quatro gols brasileiros. Durante o jogo, a estrutura do Waldstadium passou por um teste de fogo para a Copa do Mundo de 2006. O estádio, o mais caro que a Alemanha construiu para o evento (US$ 188 milhões), sofreu com a forte chuva que caiu em Frankfurt. Á água acabou furando a proteção de lona na parte superior e prejudicando parte do gramado. Mas o espetáculo técnico apresentado pelo Superclássico das Américas disputado dentro das quatro linhas superou qualquer adversidade.
Ficha Técnica
Brasil 4 x 1 Argentina
Local: Waldstadium, em Frankfurt, Alemanha
Juiz: Lubos Michel (Eslováquia)
Gols: Adriano (10'1T), Kaká (14'1T), Ronaldinho Gaúcho (1'2T), Adriano (17'2T) e Pablo Aimar (20'2T)
Brasil: Dida; Cicinho (Maicon), Lúcio, Roque Júnior e Gilberto; Emerson, Zé Roberto, Kaká (Renato) e Ronaldinho Gaúcho; Robinho (Juninho Pernambucano) e Adriano. Téc: Carlos Alberto Parreira
Argentina: Germán Lux; Javier Zanetti, Fabricio Coloccini, Gabriel Heinze, Diego Placente e Juan Pablo Sorín; Esteban Cambiasso (Pablo Aimar), Lucas Bernardi e Juan Román Riquelme; César Delgado e Lucho Figueroa (Carlos Tévez). Téc: Jose Pekerman
O dia 15 de julho de 2007 fechou a histórica trilogia. Numa agradável tarde de domingo, os argentinos eram franco favoritos para conquistar o título, mas o Brasil atropelou o time alvi-cesteste e voltou da Venezuela com o troféu da Copa América em sua bagagem.
Pintado em todas as cores como 'azarão' da final da Copa América, em condição praticamente desconhecida em sua história de conquistas, o Brasil fez desabar o decantado favoritismo da então invicta Argentina na decisão no estádio Pachencho Romero, em Maracaibo. Com a vitória por 3 a 0, construída com a melhor atuação no torneio e gols de Júlio Baptista, Ayala (contra) e Daniel Alves, a seleção de Dunga conquista o bicampeonato continental, mais uma vez em cima do maior rival.
A vitória na Venezuela consolidou a supremacia brasileira sobre a Argentina naquele período. Em quatro anos, foram três triunfos em decisões sobre os arqui-rivais alvi-celestes: Copa América (2004 e 2007) e Copa das Confederações (2005).
"Sempre disseram que aqui tinha uma seleção praticamente medíocre. Provamos que as pessoas têm que respeitar mais a seleção porque aqui todos somos campeão", desabafou o autor do primeiro gol brasileiro, Júlio Baptista, em entrevista à Rede Globo.
A conquista de Robinho, Júlio Baptista e companhia foi a 8ª do Brasil na Copa América. Argentinos e uruguaios, até então com 14 títulos, seguiam como os grandes vencedores da competição. Mesmo ainda bem atrás dos rivais, o Brasil se firmava como a grande potência da competição continental na década, pelo fato de ter vencido quatro em cinco edições da Copa América (1997, 1999, 2004 e 2007, com o título de 2001 tendo ficado com a Colômbia).
Apesar da grande campanha até a final, com cinco vitórias em cinco jogos, a equipe de Riquelme, Tevez e Messi teve que amargar de novo a frustração de um vice-campeonato. Severamente criticado ao longo da competição, em razão da trajetória irregular da equipe e de algumas de suas opções táticas, como a implementação do meio-campo de três volantes, Dunga se tornou o primeiro brasileiro a vencer a Copa América pela seleção como jogador e técnico.
"Simplicidade, humildade e futebol de muito objetividade [foram o segredo dessa seleção]. Não demos tanto espetáculo, a gente sabe disse, mas mesmo sem espetáculo conseguimos ser campeões", comemorou o artilheiro do torneio, Robinho, em entrevista à Rede Globo.
O favoritismo argentino começou a ruir em Maracaibo logo aos 4 minutos de jogo, quando Vágner Love roubou a bola no campo de defesa e iniciou jogada de contra-ataque. Em seguida, Elano fez grande lançamento para Júlio Baptista, que, como se fosse um autêntico centroavante, dominou na área, cortou Ayala e bateu colocado, sobre Abbondanzieri. A Argentina não sofria um gol na Copa América desde sua segunda partida na competição, na vitória sobre a Colômbia (4 a 2). A meta de Abbondanzieri havia passado ilesa contra paraguaios, peruanos e mexicanos, na seqüência.
Três minutos depois, a Argentina respondeu em bela jogada coletiva. Messi alçou na área para Verón, que ajeitou de cabeça para Riquelme. O camisa 10 argentino bateu forte e acertou a trave direita de Doni. Mas mesmo com a vantagem argentina na posse de bola e a pressão territorial imposta pelo adversário, o Brasil conseguiu aumentar a vantagem no placar ainda no primeiro tempo. Aos 40 minutos, Daniel Alves, que acabara de entrar na vaga do lesionado Elano, arrancou pela direita e cruzou na área, o zagueiro Ayala tentou interceptar e acabou marcando contra.
No segundo tempo, o Brasil concentrou suas forças em anular a criação ofensiva do adversário, e conseguiu definir a vitória por 3 x 0 numa jogada de contra-ataque. Aos 23 minutos, Vágner Love arrancou, se desviou da marcação e serviu Daniel Alves, que bateu cruzado na saída do goleiro. Fim de papo, o adversário estava mais uma vez batido.
Ficha Técnica
Brasil 3 x 0 Argentina
Local: Estádio José Encarnación Pachencho Romero, em Maracaibo, Venezuela
Juiz: Carlos Amarilla (Paraguai)
Gols: Júlio Baptista (4'1T); Ayala (contra) (40'1T); e Daniel Alves (23'2T)
Brasil: Doni; Maicon, Alex Costa, Juan e Gilberto; Mineiro, Josué, Elano (Daniel Alves) e Júlio Baptista; Robinho (Diego Ribas) e Vágner Love (Fernando). Téc: Dunga
Argentina: Roberto Abbondanzieri; Javier Zanetti, Roberto Ayala, Gabriel Milito e Gabriel Heinze; Javier Mascherano, Esteban Cambiasso (Pablo Aimar), Verón (Lucho González) e Juan Román Riquelme; Lionel Messi e Carlos Tévez. Téc: Alfio Basile
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