A 19ª Copa do Mundo de futebol
foi disputada pela primeira vez na África. O Brasil queria manter seu status de
única seleção até então na história a ter conquistado Copas fora de seu
continente, pois assim foi em 1958 na Suécia e em 2002 na Coréia do Sul e no
Japão.
As Eliminatórias não reservaram
grandes surpresas. O Uruguai, como se tornou rotina, jogou a repescagem, mas
eliminou a Costa Rica e garantiu sua classificação. Na Europa, França e
Portugal também foram à repescagem, eliminaram respectivamente a Irlanda e
Bósnia, e também se garantiram na África do Sul.
As 32 seleções foram divididas em
8 grupos. No Grupo A estavam França, Uruguai, México e África do Sul. Num grupo
equilibrado, os dois latino-americanos conseguiram a classificação, os franceses
empataram na estréia com os uruguaios e depois só perderam, dando um adeus
prematuro. No Grupo B estavam Argentina, Grécia, Nigéria e Coréia do Sul;
favoritos, os argentinos não tiveram muita dificuldade. No Grupo C estavam
Inglaterra, Eslovênia, Estados Unidos e Argélia, e o Grupo D era formado por
Alemanha, Sérvia, Gana e Austrália. No Grupo E estavam Holanda, Dinamarca,
Camarões e Japão. O Grupo F tinha Itália, Eslováquia, Paraguai e Nova Zelândia,
e também teve adeus prematuro de campeões mundiais. Os italianos empataram com
paraguaios e neozelandeses e perderam dos eslovacos. O Grupo G tinha Brasil,
Portugal, Costa do Marfim e Coréia do Norte. E no Grupo H estavam Espanha,
Suíça, Chile e Honduras.
O Brasil fez bem poucos jogos
preparatórios. Em novembro de 2009 jogou duas vezes no Oriente Médio, sendo o
primeiro, o único jogo da preparação que exigiu mais da seleção canarinho, uma
vitória por 1 x 0 sobre a Inglaterra. Depois venceu Omã, um país que nunca havia disputado uma Copa do Mundo, por 2 x 0. Em março, venceu o Eire por 2 x 0. E para
fechar, às vésperas do Mundial, já em solo africano, venceu com facilidade a
Zimbábue (3 x 0) e Tanzânia (5 x 1), dois países que também nunca haviam estado numa Copa do Mundo. Repetindo 2006, quando também fez poucos jogos
preparatórios antes do principal evento futebolístico do calendário mundial,
foi assim que a Seleção Brasileira se preparou para fazer sua estréia, que era
contra a Coréia do Norte.
Se foram poucas oportunidades
para aperfeiçoar o entrosamento da equipe que entraria em campo para representar
o Brasil, foram suficientes para definir um novo nome para a posição com a qual
Dunga estava menos satisfeito, a lateral-esquerda. Michel Bastos chegou e se
firmou como titular da posição. Ele era pouco conhecido no Brasil, de onde
saiu aos 18 anos de sua cidade-natal, Pelotas, no Rio Grande do Sul, para
defender o Feyenoord, da Holanda. Voltou ao Brasil três anos depois e passou
por Atlético Paranaense, Grêmio e Figueirense. Aos 23 anos voltou para a
Europa, tendo defendido primeiro o Lille e depois o Lyon, na França, onde
conseguiu as atuações que o levaram a vestir a camisa verde e amarela. Depois
da Copa ainda veio a defender ao Schalke 04, da Alemanha, e à Roma, da Itália,
mas jamais sem conseguir o destaque que conseguiu naquela temporada de 2010.
Na lista final para o Mundial, a
grande crítica da mídia esportiva era pela ausência das duas jovens revelações
do Santos, o meia Paulo Henrique Ganso e o atacante Neymar. O treinador
preferiu optar por jogadores mais experientes. E assim foram definidos os 23 convocados por Dunga
para a Copa 2010:
Goleiros: Júlio César (Internazionale, Itália), Doni (Roma, Itália)
e Gomes (Tottenham, Inglaterra)
Laterais: Maicon (Internazionale, Itália), Daniel Alves (Barcelona,
Espanha), Michel Bastos (Lyon, França) e Gilberto (Cruzeiro)
Zagueiros: Lúcio (Internazionale, Itália), Juan (Roma, Itália), Thiago
Silva (Milan, Itália) e Luisão (Benfica, Portugal)
Meias: Gilberto Silva (Panathinaikos, Grécia), Josué (Wolfsburg,
Alemanha), Felipe Melo (Juventus, Itália), Kléberson (Flamengo), Elano
(Galatasaray, Turquia), Ramires (Benfica, Portugal), Kaká (Real Madrid, Espanha)
e Júlio Baptista (Roma, Itália)
Atacantes: Robinho (Santos), Luís Fabiano (Sevilla, Espanha), Nilmar
(Villarreal, Espanha) e Grafite (Wolfsburg, Alemanha).
A estréia da Seleção Brasileira
foi com uma vitória absolutamente sem brilho sobre os norte-coreanos. Os onze
titulares de Dunga estiveram definidos desde o início: Júlio César, Maicon,
Lúcio, Juan e Michel Bastos, Gilberto Silva, Felipe Melo, Elano e Kaká, Robinho
e Luís Fabiano. Apesar do frágil adversário, o primeiro tempo da estréia não teve gols, que só vieram no
segundo tempo. O primeiro foi um golaço. Aos 10 minutos, Maicon recebeu em
profundidade e quase sobre a linha de fundo acertou um tirambaço, que passou
entre o goleiro e a trave. Aos 27, Robinho fez lançamento preciso para Elano
por trás da zaga, ele penetrou e tocou na saída do goleiro. No último minuto,
Ji Yun Nam entrou com facilidade driblando a defesa brasileira e fez um bonito
gol, descontando e pondo o 2 x 1 definitivo no marcador.
O segundo jogo era com a sempre
difícil Costa do Marfim. O Brasil quase repetiu o tradicional placar de 3 x 0
sobre países africanos em Copas do Mundo. Fez três, duas vezes com Luís
Fabiano, e outra com Elano. Aos 17 do segundo tempo, os 3 x 0 já estavam postos
no placar. Mas Didier Drogba fez o gol de honra aos 34. Brasil 3 x 1. No outro
jogo da rodada, Portugal impôs à Coréia do Norte a maior goleada daquele
Mundial, com uma vitória por 7 x 0.
Com duas vitórias, a Seleção
Brasileira já estava classificada, mantendo a tradição, afinal no período
pós-Segunda Guerra Mundial, em 16 edições da Copa do Mundo até então, o Brasil só havia sido eliminado na primeira fase uma única vez, em 1966.
Na última rodada, brasileiros e
portugueses avançavam com um empate. Sem motivações de parte a parte para
assumir riscos, o jogo ficou no empate sem gols. O time canarinho avançou em
primeiro lugar, mas jogando um futebol bucólico e sem brilho. O adversário nas
oitavas de final era mais uma vez o Chile, a quem a seleção também havia enfrentado
na mesma fase na Copa de 98. E como daquela vez, avançou sem muita resistência,
3 x 0, gols de Juan, Luís Fabiano e Robinho.
Nas quartas de final, só haveria
grandes jogos: Brasil x Holanda, Alemanha x Argentina, Espanha x Paraguai, e
Uruguai x Gana. Os espanhóis eram os campeões europeus, mas os dois considerados
favoritos àquela altura, por estarem jogando um futebol mais vistoso, eram argentinos
e alemães, o duelo mais aguardado daquelas quartas. De um lado, o time treinado
por Diego Armando Maradona, e com um poderoso comando de ataque, com Di Maria,
Tévez, Messi e Higuain. Do outro, um time que vinha jogando um futebol
compacto, rápido, tecnicamente refinado e bastante eficiente. A Alemanha,
treinada por Joachim Low, e cuja formação titular era: Neuer; Philipp Lahm,
Mertesacker, Friedrich e Jerome Boateng; Khedira, Schweinsteiger, Ozil e Thomas
Muller; Podolski e Miroslav Klose. Os alemães mostraram porque eram a sensação
do torneio e golearam implacavelmente por 4 x 0 aos argentinos.
Já a Seleção Brasileira tinha
pela frente o fortíssimo time holandês, com Wesley Sneijder brilhando no
meio-campo como um clássico camisa 10, e uma forte dupla de ataque, com Robben e
Van Persie. Historicamente, o duelo teve a Holanda derrubando o Brasil nas
semi-finais da Copa de 1974, e o Brasil derrubando os holandeses duas vezes
seguidas, nas quartas da Copa de 1994 e na semi-final da Copa de 1998.
O jogo, como não poderia deixar
de ser, foi disputadíssimo. Robinho abriu o marcador logo aos 10 minutos do
primeiro tempo, quando um lançamento preciso de Felipe Melo o pôs frente a
frente ao goleiro para completar de primeira e superá-lo. O time
brasileiro fez um bom primeiro tempo e parecia caminhar para a vaga.
Veio o segundo tempo. E logo aos
sete minutos tudo mudou. Mudança que começou num lance despretensioso. Sneijder
cruzou para a área, Júlio César saiu muito mal do gol, chocando-se com Felipe
Melo, que subia para tentar cortar. A bola chegou a dar uma leve resvalada na cabeça
do meio-campista brasileiro. Com a trapalhada defensiva do Brasil, o
cruzamento de Sneijder foi direto para dentro das redes. Tudo igual.
A partir daí, a seleção
demonstrou nervosismo e rispidez, deixando de lado o bom futebol do primeiro
tempo e passando a fazer um jogo mais truculento e feio, recheado de faltas. O
controle do jogo passou a ser todo holandês. Treze minutos depois de obter o
empate, o time laranja virou. Após cobrança de escanteio, Sneijder, novamente
ele, testou para as redes. Holanda 2 x 1 Brasil. A Seleção Brasileira teve
vinte e dois minutos para empatar o jogo, mas emocionalmente abalada, foi
incapaz de reagir.
A Holanda avançou e superou o
Uruguai na semi-final. Foi para a final contra a Espanha, que bateu a Alemanha
por 1 x 0. Depois de 80 anos desde a realização da primeira Copa do Mundo, pela
primeira vez outro país que não o Brasil saberia o que seria ganhar um Mundial fora
de seu continente, e numa final inédita, entre duas seleções que nunca haviam
sido campeãs antes. A Espanha venceu na prorrogação, após empate sem gols no
tempo normal. Foi de Andrés Iniesta, a quatro minutos do fim do segundo tempo
da prorrogação, o gol que selou o título espanhol.
Os escolhidos pela FIFA como time
ideal daquele Mundial: Iker Casillas (Espanha), Maicon (Brasil), Sérgio Ramos (Espanha),
Carles Puyol (Espanha) e Philipp Lahn (Alemanha), Schweinsteiger (Alemanha), Iniesta
(Espanha), Sneijder (Holanda) e Thomas Muller (Alemanha), Diego Forlán (Uruguai)
e David Villa (Espanha).
A Copa de 2010 consagrou
definitivamente a “Revolução Espanhola”, o "tiki-taka", um novo estilo de jogar futebol aperfeiçoado no Barcelona a partir de 2007 pelo treinador Pep Guardiola e que rendeu
muito bons resultados à equipe catalã. Como metade da seleção espanhola era
composta por jogadores do Barcelona, foi inevitável que aos poucos este estilo
fosse transmitido para o selecionado nacional. E rendeu bons frutos, pois a
Espanha foi Bi-campeã da Eurocopa em 2008 e 2012 e campeã da Copa do Mundo de
2010.
O estilo de jogo trazido pelo
espanhóis consistia em intensa movimentação e troca de posições entre o meio de
campo e o ataque. A figura de um centroavante, preso à área adversária,
praticamente desapareceu, com o time adotando uma formação em 4-6-0. A
principal característica era ter intensamente a posse de bola, trocando passes
pacientemente até encontrar espaços na formação defensiva do adversário. O meio
de campo também praticamente perdia a figura de especialistas apenas em contenção,
todos marcavam e atacavam. O futebol mundial vinha sendo dominado pela força física
e por jogadores fortes, mas a Espanha reverteu isto, jogando um futebol de mais
leveza, onde predominavam jogadores habilidosos e de estatura mais baixa.
Em 2008, venceram a Eurocopa com Luis
Aragonês como treinador, e tendo como time tuitular a: Casillas; Sérgio Ramos, Puyol,
Marchena e Capdevila; Marcos Senna, Xavi, Iniesta e Fábregas; David Villa e
Fernando Torres. Xavi, Iniesta e Fábregas eram a chave, com um estilo de jogo
que os fazia ora serem cabeças de área, ora serem meias armadores, e ainda com
desenvoltura para chegar ao ataque e concluir a gol. Neste time, Fernando Torres
ainda fazia o típico centroavante. E a equipe ainda tinha a David Silva - que
constantemente se revezava com Cesc Fábregas - como um tradicional camisa 10.
Na Copa de 2010, o time era
treinado por Vicente Del Bosque, e os onze titulares campeões: Casillas; Sérgio
Ramos, Puyol, Piqué e Capdevila; Busquets, Xavi, Iniesta e Xabi Alonso; Pedro e
David Villa. A equipe ainda tinha Fernando Torres se revezando com David Villa
no comando de ataque, e ainda mantendo a figura de um homem de área,
especialista apenas em concluir a gol.
Na Euro 2012, ainda com Del Bosque como treinador, o
time foi campeão jogando com: Casillas;
Arbeloa, Sérgio Ramos, Piqué e Jordi Alba; Busquets, Xavi, Iniesta, Xabi Alonso,
David Silva e Fábregas. Não havia atacantes. Busquets era o único a só marcar,
os demais defendiam, armavam, atacavam e invertiam posições constantemente.
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