quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Escândalos e mais escândalos na Seleção Brasileira

O primeiro escândalo referente a transações suspeitas estourou em outubro de 2000. Trecho de artigo publicado na revista Veja (ed. 1669, de 04/10/2000): "Os rolos do treinador com o Fisco ganharam o noticiário há cerca de um mês, quando surgiram as primeiras denúncias da ex-secretária de Luxemburgo, a estudante de direito Renata Carla Moura Alves. Profissional especializada em leilões, Renata diz ter sido contratada pelo treinador para arrematar diversos bens, sempre em seu nome, mas com dinheiro do técnico. Na lista de Renata tem de tudo: imóveis, carros importados, jet-ski e elevador. A farra de compras, que durou de 1993 a 1996, terminou no dia em que a Polícia Federal descobriu que a estudante nunca teve condições financeiras para adquirir um patrimônio tão vasto. A polícia, então, resolveu perguntar a Renata de onde vinha tanto dinheiro. A moça não vacilou em apontar Vanderlei Luxemburgo como o beneficiário do esquema. Renata foi também a primeira pessoa a afirmar, categoricamente, que o técnico recebia comissões pela compra e venda de jogadores. Em depoimento à polícia, em abril de 1997, Luxemburgo declarou que simplesmente emprestava dinheiro a uma amiga e jamais teve com Renata nenhum vínculo profissional. Há porém procurações assinadas pelo treinador, dando a Renata direito de atuar em leilões judiciais. Além disso, um dos extratos bancários de Luxemburgo, datado de 1994, traz como endereço do treinador um apartamento que, à época, era ocupado por Renata".

Durante a investigação, a ex-secretária de Luxemburgo, Renata, afirmou que durante muitos anos foi sua amante, e que teria chegado a abortar um filho do qual engravidou na relação extra-conjugal de Vanderlei Luxemburgo. Ela afirmou ter provas do envolvimento de Luxemburgo na compra e venda de jogadores, valorizados pela convocação para a Seleção Brasileira. A investigação da polícia nunca conseguiu provar que o treinador tenha tirado proveito financeiro na escalação de jogadores para a seleção através de transações de jogadores que tiveram seu valor de mercado inflado após serem convocados para a seleção por ele; a única acusação efetivamente comprovada foi de sonegação fiscal.

O futebol, no Brasil, não é apenas entretenimento, mas sim uma poderosa expressão dos valores e da índole nacionais. A Seleção Brasileira conseguiu iluminar os símbolos mais importantes do Brasil - cores, hino e bandeira - de uma forma que nenhum evento histórico na formação do país conseguiu antes dela. As vitórias e as derrotas da seleção afetam de maneira aguda a auto-estima dos brasileiros. A Seleção Brasileira de futebol está intimamente associada à imagem que o povo brasileiro projeta de si próprio e da nação brasileira. O técnico da Seleção Brasileira é uma personalidade pública, e dele, tal qual dos políticos, exige-se idoneidade singular, como um defensor diferenciado dos símbolos da pátria. Citando novamente o artigo da revista Veja referente às investigações de eventuais comissionamentos ilegais recebidos por Vanderlei Luxemburgo, de autoria do jornalista Marcelo Carneiro: "Ser técnico da Seleção Brasileira de futebol é como viver entre o céu e o inferno. Em época de Copa do Mundo ou de Jogos Olímpicos, não há ninguém no país, exceto talvez o presidente da República, que viva tão intensamente sob os holofotes e na boca do povo, dividindo opiniões como o personagem-chave da maior paixão nacional. Com poderes de monarca absolutista, o treinador convoca os jogadores que quiser, barra ídolos, lança novos craques, pode promover pernas-de-pau, escala o time ao seu bel-prazer, determina o esquema tático, substitui quem bem entender, ganha, perde, empata – e continua fazendo tudo isso ora aplaudido como mestre estrategista, ora xingado de burro, até o dia em que, bem mais envelhecido e rico, é sucedido por outro semideus dos gramados".

Sobre o sucessor de Luxemburgo no cargo de técnico da seleção, o ex-goleiro Emerson Leão, também recaíram acusações graves. Leão chegou à Seleção Brasileira em função do bom trabalho feito a frente do Santos entre 1998 e 1999. Quando chegou à seleção, para substituir Luxemburgo, era o treinador do Sport Recife. E partiu exatamente do presidente do Sport Recife, Luciano Bivar, a acusação de que o Sport teria sido obrigado a pagar a Leão, em 2001, para que ele convocasse o volante Leomar para defender a Seleção Brasileira, da qual era treinador. Embora o fato tenha acontecido muitos anos antes, a acusação feita por Luciano Bivar só veio a acontecer em 2013. Ninguém jamais conseguiu comprovar a veracidade da acusação e tudo ficou por isto mesmo, sem que ninguém tenha sido punido. O Superior Tribunal de Justiça Desportiva encerrou o inquérito sobre o suposto esquema de pagamento de propina para a convocação de Leomar sem qualquer comprovação da irregularidade, e ainda sugeriu denúncia contra o ex-presidente do Sport, Luciano Bivar, por declaração falsa.

Muitas acusações que não foram comprovadas, mas o fato é que o breve período entre 2000 e 2001, além dos maus resultados em campo, concentrou as suspeitas de irregularidades mais graves da história da Seleção Brasileira.

A última denúncia referente ao período partiu do ex-jogador Catanha. Foi também em 2013 que o ex-atacante - que brilhou nos gramados espanhóis depois de sair como desconhecido do Brasil e se naturalizou, tendo chegado a entrar em campo com a camisa da Seleção da Espanha - revelou que foi procurado por empresários que lhe cobraram aproximadamente US$ 20 mil para que ele fosse convocado para defender o time canarinho, à época treinado por Vanderlei Luxemburgo. Mais uma vez ficou o dito pelo não dito, ninguém provou nada, ninguém foi punido, mas diz o ditado popular que onde há fumaça, há fogo, e nunca, em nenhum outro período da história, a Seleção Brasileira esteve tão envolvida em denúncias e suspeitas.

Fato é o que o mundo do futebol convivia cada vez mais com a rotina de uma grande diversidade de jogadores surgindo e vários sendo testados com a camisa canarinho. Mas já havia algum tempo: em 1989, por exemplos, 58 diferentes jogadores entraram em campo com a camisa amarelinha, em 1995 foram 57 jogadores diferentes, em 1999 foram 45, em 2000 foram 41 e em 2001 foram 40 diferentes jogadores. Não houve, neste período, portanto, nenhuma mudança de tendência de algo que já era uma rotina havia bastante tempo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário