O primeiro escândalo referente a
transações suspeitas estourou em outubro de 2000. Trecho de artigo publicado na
revista Veja (ed. 1669, de 04/10/2000): "Os
rolos do treinador com o Fisco ganharam o noticiário há cerca de um mês, quando
surgiram as primeiras denúncias da ex-secretária de Luxemburgo, a estudante de
direito Renata Carla Moura Alves. Profissional especializada em leilões, Renata
diz ter sido contratada pelo treinador para arrematar diversos bens, sempre em
seu nome, mas com dinheiro do técnico. Na lista de Renata tem de tudo: imóveis,
carros importados, jet-ski e elevador. A farra de compras, que durou de 1993 a
1996, terminou no dia em que a Polícia Federal descobriu que a estudante nunca
teve condições financeiras para adquirir um patrimônio tão vasto. A polícia,
então, resolveu perguntar a Renata de onde vinha tanto dinheiro. A moça não
vacilou em apontar Vanderlei Luxemburgo como o beneficiário do esquema. Renata
foi também a primeira pessoa a afirmar, categoricamente, que o técnico recebia
comissões pela compra e venda de jogadores. Em depoimento à polícia, em abril
de 1997, Luxemburgo declarou que simplesmente emprestava dinheiro a uma amiga e
jamais teve com Renata nenhum vínculo profissional. Há porém procurações
assinadas pelo treinador, dando a Renata direito de atuar em leilões judiciais.
Além disso, um dos extratos bancários de Luxemburgo, datado de 1994, traz como
endereço do treinador um apartamento que, à época, era ocupado por Renata".
Durante a investigação, a
ex-secretária de Luxemburgo, Renata, afirmou que durante muitos anos foi sua
amante, e que teria chegado a abortar um filho do qual engravidou na relação
extra-conjugal de Vanderlei Luxemburgo. Ela afirmou ter provas do envolvimento
de Luxemburgo na compra e venda de jogadores, valorizados pela convocação para
a Seleção Brasileira. A investigação da polícia nunca conseguiu provar que o
treinador tenha tirado proveito financeiro na escalação de jogadores para a
seleção através de transações de jogadores que tiveram seu valor de mercado
inflado após serem convocados para a seleção por ele; a única acusação
efetivamente comprovada foi de sonegação fiscal.
O futebol, no Brasil, não é
apenas entretenimento, mas sim uma poderosa expressão dos valores e da índole
nacionais. A Seleção Brasileira conseguiu iluminar os símbolos mais importantes
do Brasil - cores, hino e bandeira - de uma forma que nenhum evento histórico
na formação do país conseguiu antes dela. As vitórias e as derrotas da seleção
afetam de maneira aguda a auto-estima dos brasileiros. A Seleção Brasileira de
futebol está intimamente associada à imagem que o povo brasileiro projeta de si
próprio e da nação brasileira. O técnico da Seleção Brasileira é uma
personalidade pública, e dele, tal qual dos políticos, exige-se idoneidade
singular, como um defensor diferenciado dos símbolos da pátria. Citando
novamente o artigo da revista Veja referente às investigações de eventuais
comissionamentos ilegais recebidos por Vanderlei Luxemburgo, de autoria do
jornalista Marcelo Carneiro: "Ser
técnico da Seleção Brasileira de futebol é como viver entre o céu e o inferno.
Em época de Copa do Mundo ou de Jogos Olímpicos, não há ninguém no país, exceto
talvez o presidente da República, que viva tão intensamente sob os holofotes e
na boca do povo, dividindo opiniões como o personagem-chave da maior paixão
nacional. Com poderes de monarca absolutista, o treinador convoca os jogadores
que quiser, barra ídolos, lança novos craques, pode promover pernas-de-pau,
escala o time ao seu bel-prazer, determina o esquema tático, substitui quem bem
entender, ganha, perde, empata – e continua fazendo tudo isso ora aplaudido
como mestre estrategista, ora xingado de burro, até o dia em que, bem mais
envelhecido e rico, é sucedido por outro semideus dos gramados".
Sobre o sucessor de Luxemburgo no
cargo de técnico da seleção, o ex-goleiro Emerson Leão, também recaíram
acusações graves. Leão chegou à Seleção Brasileira em função do bom trabalho
feito a frente do Santos entre 1998 e 1999. Quando chegou à seleção, para
substituir Luxemburgo, era o treinador do Sport Recife. E partiu exatamente do
presidente do Sport Recife, Luciano Bivar, a acusação de que o Sport teria sido
obrigado a pagar a Leão, em 2001, para que ele convocasse o volante Leomar
para defender a Seleção Brasileira, da qual era treinador. Embora o fato tenha
acontecido muitos anos antes, a acusação feita por Luciano Bivar só veio a
acontecer em 2013. Ninguém jamais conseguiu comprovar a veracidade da acusação
e tudo ficou por isto mesmo, sem que ninguém tenha sido punido. O Superior
Tribunal de Justiça Desportiva encerrou o inquérito sobre o suposto esquema de
pagamento de propina para a convocação de Leomar sem qualquer comprovação da
irregularidade, e ainda sugeriu denúncia contra o ex-presidente do Sport,
Luciano Bivar, por declaração falsa.
Muitas acusações que não foram
comprovadas, mas o fato é que o breve período entre 2000 e 2001, além dos maus
resultados em campo, concentrou as suspeitas de irregularidades mais graves da
história da Seleção Brasileira.
A última denúncia referente ao
período partiu do ex-jogador Catanha. Foi também em 2013 que o ex-atacante -
que brilhou nos gramados espanhóis depois de sair como desconhecido do Brasil e se naturalizou, tendo chegado a entrar em campo com a camisa da Seleção
da Espanha - revelou que foi procurado por empresários que lhe cobraram
aproximadamente US$ 20 mil para que ele fosse convocado para defender o time
canarinho, à época treinado por Vanderlei Luxemburgo. Mais uma vez ficou o dito
pelo não dito, ninguém provou nada, ninguém foi punido, mas diz o ditado
popular que onde há fumaça, há fogo, e nunca, em nenhum outro período da história, a Seleção Brasileira esteve tão envolvida em denúncias e suspeitas.
Fato é o que o mundo do futebol convivia cada vez mais
com a rotina de uma grande diversidade de jogadores surgindo e vários sendo testados
com a camisa canarinho. Mas já havia algum tempo: em 1989, por exemplos, 58
diferentes jogadores entraram em campo com a camisa amarelinha, em 1995 foram
57 jogadores diferentes, em 1999 foram 45, em 2000 foram 41 e em 2001 foram 40
diferentes jogadores. Não houve, neste período, portanto, nenhuma mudança de
tendência de algo que já era uma rotina havia bastante tempo.
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