A FIFA escolheu o Brasil como
sede da 20ª Copa do Mundo de futebol de 2014. Depois das eliminações nas
quartas de final da Copa de 2006 para a França e na Copa de 2010 para a
Holanda, ruiu a soberba do futebol brasileiro, que após um período intenso em
conquistas entre 1994 e 2002, havia se julgado insuperável.
As derrotas deram um choque de
realidade, mostrando, ou relembrando, o quão difícil era chegar ao degrau
máximo de um Mundial. Não havia otimismo no país para 2014. O peso da
eventualidade de perder outra Copa em seu território, como em 1950, era um
fantasma no subconsciente brasileiro; ainda mais quando o melhor jogador do
mundo daquele momento vestia a camisa da Argentina: Lionel Messi. Depois do Maracanazo perante o Uruguai, a história
se repetiria com uma derrota para a Argentina? A maioria acreditava que não,
porque o que se escutava pelas ruas é que o Brasil desta vez não tinha um time
de qualidade suficiente para sequer estar presente novamente numa final.
Dunga não resistiu ao mau
resultado na África do Sul, a CBF decidiu trocar o treinador. A intenção era
contar com Muricy Ramalho, treinador tri-campeão brasileiro com o São Paulo em
2006-2007-2008, mas ele recusou o convite, pois não queria romper o contrato
com o clube onde estava então trabalhando, o Fluminense. O escolhido, então,
foi novamente um gaúcho, Mano Menezes, que havia feito bons trabalhos a frente
de Grêmio e Corinthians.
Mais uma vez a escola de jogo que
comandaria a seleção seria a gaúcha, que reinava soberana no cenário nacional
desde que Luiz Felipe Scolari conquistou a Copa do Mundo de 2002. Uma escola
tradicionalmente adepta de um sistema defensivo forte, de um meio-campo sobrecarregado
de marcadores, e de uma menor força ofensiva. Sempre foi assim que jogaram os
times do Rio Grande do Sul. E como desde a conquista da Copa de 1994, a
corrente dominante de pensamento no futebol brasileiro era a de que o
importante era vencer, fosse jogando feio ou bonito, o pragmatismo deste estilo
de jogo era o que prevalecia nos clubes brasileiros e na seleção.
O trabalho de Mano Menezes
arrancou com uma seqüência de bons resultados no segundo semestre de 2010, a
Seleção Brasileira venceu três amistosos: 2 x 0 nos Estados Unidos, 3 x 0 em
Omã, e 2 x 0 na Ucrânia. Seus titulares nesta arrancada rumo à Copa de 2014:
Victor (Grêmio), Daniel Alves (Barcelona, Espanha), Thiago Silva (Milan,
Itália), David Luiz (Benfica, Portugal) e André Santos (Fenerbahce, Turquia),
Lucas Leiva (Liverpool, Inglaterra), Ramires (Chelsea, Inglaterra) e Elias
(Corinthians), Robinho (Milan, Itália), Alexandre Pato (Milan, Itália) e Neymar
(Santos). Uma equipe com uma média de idade bem inferior à do time titular na Copa
de 2010.
Os dois primeiros revés vieram
nos dois amistosos seguintes, com duas derrotas por 1 x 0, para a Argentina,
jogando em Doha, no Qatar, e para a França, jogando em Paris. Os primeiros
questionamentos logo surgiram: o time só vencia adversários que não estavam nas
primeiras posições do ranking da FIFA.
E os resultados nos amistosos
seguintes não reverteram esta impressão: vitórias por 2 x 0 sobre a Escócia e
por 1 x 0 sobre a Romênia, e um empate sem gols com a Holanda. O fato de não
vencer os adversários de ponta do futebol mundial alimentava o fantasma de ser derrotado
em uma Copa do Mundo em pleno Brasil. Seguindo o rumo destes resultados, o desempenho
em 2014 repetiria o que foi visto nas Copas de 2006 e 2010.
Antes de seguir adiante com o projeto,
uma parada para disputar a Copa América 2011, na Argentina. E o desempenho na
primeira fase indicava que o resultado que estava por vir não deveria ser bom. O
time que jogou a competição era a mesma base que jogou os primeiros amistosos com
Mano, acrescida de dois novos titulares: o experiente Lúcio estava de volta
para formar a dupla de zaga com Thiago Silva, e Paulo Henrique Ganso ganhou a
camisa 10. Estava em campo o time que imprensa e torcida cobravam que gostariam
de ter visto como sendo o titular na Copa de 2010.
Na estréia, o Brasil empatou sem
gols com a Venezuela. No segundo jogo, saiu na frente do Paraguai, mas tomou a
virada. Aos 44 minutos do segundo tempo, porém, o centroavante Fred, do
Fluminense, que havia entrado na etapa final, empatou e salvou a seleção. No
último jogo, vitória sobre o Equador por 4 x 2 e a classificação, mas ainda
jogando um futebol que deixava a desejar.
O Brasil avançou e voltou a se
deparar com o Paraguai, agora pelas quartas de final. Mais uma vez não teve uma
grande atuação, terminando o jogo num empate sem gols que levava a decisão para
a cobrança de pênaltis.
O histórico do Brasil em disputas
de penalidades era positivo. Haviam sido até ali dez disputas na história e
sete vitórias, e a última derrota havia sido dezesseis anos antes, na final da
Copa América de 1995 para a Uruguai. Desde então a seleção havia disputado
quatro vezes e vencido todas, duas delas com Júlio César no gol.
Só que naquele dia os jogadores
brasileiros estavam fadados a conseguir uma façanha. Elano perdeu a primeira
cobrança, mas o Paraguai também perdeu. Mas na seqüência, Thiago Silva, André
Santos e Fred também perderam suas cobranças, com os paraguaios convertendo as
suas e vencendo por incríveis 2 x 0!
Os donos da casa, a Argentina,
também não faziam boa campanha. O time de Lionel Messi, Carlos Tévez, Aguero,
Di Maria e Higuaín empatou com Bolívia e Colômbia na primeira fase, terminando
em segundo em seu grupo, e forçando um encontro com o Uruguai já nas quartas de
final. Depois de um empate no tempo normal, os uruguaios eliminaram os
argentinos nos pênaltis. Na final, a Celeste, de Diego Forlán e Luís Suarez,
venceu o Paraguai por 3 x 0 e se sagrou campeã novamente após 16 anos sem
título.
Apesar do fracasso na competição
continental, Mano Menezes fez poucas mudanças na equipe que seguia sua
preparação visando 2014. Ganso, porém, cedeu a titularidade no meio para
Jádson, jogador do Shakhtar Donetsk, da Ucrânia.
Mas os resultados ainda eram
pouco convincentes. No primeiro amistoso após a Copa América, a seleção perdeu
por 3 x 2 para a Alemanha, em Stuttgart. Depois venceu a Gana, Costa Rica,
México, Gabão e Egito. A sina continuava, o time de Mano Menezes não conseguia
vencer as seleções melhores colocadas no ranking mundial, e só obtinha vitórias
contra aquelas que se encontravam em posição intermediária.
Para minimizar um pouco a impressão de que o time era
incapaz de vencer adversários do topo do ranking da FIFA, houve a conquista da
primeira edição do Superclássico das Américas, uma versão modernizada da Copa
Roca, mas na qual as duas seleções, brasileira e argentina, só utilizavam
jogadores que atuavam na América do Sul, sem suas principais estrelas que
atuavam no futebol da Europa. O Brasil empatou sem gols em Córdoba e venceu por
2 x 0 em Belém.
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