domingo, 25 de janeiro de 2015

Vexame Olímpico em 1996

O ano de 1996 foi todo ele dedicado à seleção que jogaria as Olimpíadas em Atlanta. O foco total era o de conquistar o único título que o futebol brasileiro jamais havia conquistado em sua rica história em títulos.

A seleção só podia reunir jogadores com menos de 23 anos de idade nas partidas de preparação e no Torneio Pré-Olímpico. Nos Jogos Olímpicos seriam permitidos três jogadores acima desta faixa de idade. O Brasil preparou sua seleção olímpica como nunca, fez uma série de amistosos, vencendo duas vezes a Bulgária, uma vez a Colômbia e empatando com a Romênia.

Foi então convidado para jogar a Copa Ouro, principal torneio reunindo seleções das Américas Central e do Norte, e enviou seu time sub 23, que goleou Canadá (4 x 1) e Honduras (5 x 0), venceu os Estados Unidos (mais uma vez 1 x 0, como na Copa do Mundo de 1994 e na Copa América de 1995) e foi para a final contra o México. Mas o time sub 23 do Brasil não foi páreo para a seleção principal dos mexicanos, acabou derrotado por 2 x 0, ficando com o vice-campeonato.

Em seguida jogou o Pré-Olímpico, em Tandil, na Argentina. Venceu a Peru, Bolívia, Paraguai, Venezuela e Uruguai. Já garantido nas Olimpíadas, foi para a final contra a Argentina, na qual tinha a vantagem do empate para conquistar o título. Tomou dois gols no primeiro tempo, mas Beto diminuiu aos 27 minutos do segundo tempo, e Sávio empatou aos 39 minutos. Uma reação sensacional. Estava muito difícil vencer o Brasil!

O time que faturou o Pré-Olímpico jogava com: Dida (Cruzeiro), Zé Maria (Portuguesa de Desportos), Carlinhos (Guarani), Narciso (Santos) e Roberto Carlos (Internazionale, Itália), Flávio Conceição (Palmeiras), Amaral (Palmeiras), Beto (Botafogo) e Juninho Paulista (Middlesbrough, Inglaterra), Caio Ribeiro (Internazionale, Itália) e Sávio (Flamengo).

A este time se somaram os três jogadores acima de 23 anos escolhidos por Zagallo: o zagueiro Aldair, o meia Rivaldo e o atacante Bebeto. O time foi reforçado ainda com o centroavante Ronaldo, que já brilhava intensamente com a camisa 9 do Barcelona no Campeonato Espanhol.

Na seqüência, mais uma bateria de amistosos, com quatro vitórias em cinco jogos, começando com uma impressionante goleada de 8 x 2 aplicada sobre Gana. Depois vitórias sobre África do Sul, Polônia e Dinamarca (implacáveis 5 x 1), e um empate com a Croácia. Julgava-se que a seleção estava prontíssima para faturar o ouro.

Mas logo na estréia em Atlanta, o Brasil descobriu o gosto amargo da derrota, perdendo surpreendentemente para o Japão por 1 x 0. Mas nos jogos seguintes vieram vitórias sobre Hungria e Nigéria e a classificação. O adversário nas quartas de final era Gana, a quem o Brasil havia atropelado e feito oito gols quatro meses antes. Não foi tão fácil quanto daquela vez, mas o Brasil venceu com autoridade: 4 x 2.

Na semi-final, o Brasil voltou a encontrar a Nigéria, a quem na primeira fase vencera por 1 x 0. Desta vez as circunstâncias eram outras, ainda assim o clima era de total otimismo.

A Nigéria havia sido a grande surpresa da Copa de 94, jogando um futebol forte, técnica e taticamente apurado, muito ofensivo e competitivo. O time na Copa, dois anos antes, era formado por Rufai; Nwanu, Eguavoen, Okechukwo e Emanalo; Oliseh, Amunike, Finidi George e Okocha; Amokachi e Yekini, treinados pelo holandês Clemens Westerhof. Desta vez o time nigeriano era o sub 23, e treinado também por holandês, Jo Bonfrere. O time nigeriano jogava com: Dosu; Celestine Babayaro, Taribo West, Okechukwo e Oparaku; Oliseh, Babangida, Okocha e Ikpeba; Amokachi e Kanu. Trazia quatro jogadores do time de 94.

Os titulares do Brasil nas Olimpíadas eram: Dida (Cruzeiro), Zé Maria (Portuguesa de Desportos), Aldair (Roma, Itália), Ronaldo Guiaro (Atlético Mineiro) e Roberto Carlos (Internazionale, Itália), Flávio Conceição (Palmeiras), Amaral (Palmeiras), Juninho Paulista (Middlesbrough, Inglaterra) e Rivaldo (Palmeiras), Bebeto (Deportivo La Coruña, Espanha) e Ronaldo (Barcelona, Espanha).           

Flávio Conceição abriu o placar logo no primeiro minuto de jogo, mas Roberto Carlos fez um gol contra aos 20. Mas não demorou para o Brasil tomar conta do jogo. Bebeto aos 28 e Flávio Conceição, novamente, aos 38, definiram o placar do primeiro tempo: Brasil 3 x 1. A vaga na final estava a um passo.

A Nigéria ainda perdeu um pênalti, defendido por Dida. E no segundo tempo o Brasil teve a oportunidade de liquidar, Ronaldo driblou o goleiro Dosu e chutou na trave. As coisas pareciam tranqüilas. Até que aos 33 minutos do segundo tempo, Victor Ikpeba diminuiu a vantagem brasileira e colocou os nigerianos de novo no jogo. A vantagem durou até os 45 minutos do segundo tempo, quando Nwankwo Kanu chutou a bola para dentro das redes brasileiras. Inacreditavelmente a partida iria para a prorrogação, que era disputada àquele tempo no sistema de “morte súbita”, no qual a partida terminava assim que uma das equipes fizesse um gol. Bastaram quatro minutos de prorrogação para que Nwankwo Kanu balançasse novamente as redes do time brasileiro, visivelmente abalado emocionalmente, desconcentrado pela inesperada reação. Nigéria 4 x 3 Brasil.

Roberto Carlos vs Nwankwo Kanu

Foi a derrota mais desconcertante e desmoralizante da história da Seleção Brasileira até então. Todos estavam incrédulos. A Nigéria foi para a final e voltou a surpreender, batendo a Argentina também de virada e ficando com a medalha de ouro. O Brasil ainda encontrou forças para golear Portugal por 5 x 0 e faturar a medalha de bronze.

Mas se como o vexame da derrota para os nigerianos já não houvesse bastado, o Brasil fez questão de fazer ainda pior. Numa atitude da mais plena arrogância e prepotência, sem qualquer humildade em aceitar a derrota, e num julgamento medíocre de superioridade perante a todos os demais, a Seleção Brasileira não apareceu para subir no pódio e receber a medalha de bronze, que “não estaria à sua altura”, retirou-se do estádio sem esperar a decisão entre nigerianos e argentinos, tomando o rumo do aeroporto.

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