O ano de 1996 foi todo ele
dedicado à seleção que jogaria as Olimpíadas em Atlanta. O foco total era o de
conquistar o único título que o futebol brasileiro jamais havia conquistado em
sua rica história em títulos.
A seleção só podia reunir
jogadores com menos de 23 anos de idade nas partidas de preparação e no Torneio
Pré-Olímpico. Nos Jogos Olímpicos seriam permitidos três jogadores acima desta
faixa de idade. O Brasil preparou sua seleção olímpica como nunca, fez uma
série de amistosos, vencendo duas vezes a Bulgária, uma vez a Colômbia e
empatando com a Romênia.
Foi então convidado para jogar a Copa
Ouro, principal torneio reunindo seleções das Américas Central e do Norte, e
enviou seu time sub 23, que goleou Canadá (4 x 1) e Honduras (5 x 0), venceu os
Estados Unidos (mais uma vez 1 x 0, como na Copa do Mundo de 1994 e na Copa
América de 1995) e foi para a final contra o México. Mas o time sub 23 do Brasil
não foi páreo para a seleção principal dos mexicanos, acabou derrotado por 2 x
0, ficando com o vice-campeonato.
Em seguida jogou o Pré-Olímpico,
em Tandil, na Argentina. Venceu a Peru, Bolívia, Paraguai, Venezuela e Uruguai. Já garantido nas Olimpíadas, foi para a final contra a Argentina, na qual tinha
a vantagem do empate para conquistar o título. Tomou dois gols no primeiro
tempo, mas Beto diminuiu aos 27 minutos do segundo tempo, e Sávio empatou aos
39 minutos. Uma reação sensacional. Estava muito difícil vencer o Brasil!
O time que faturou o Pré-Olímpico
jogava com: Dida (Cruzeiro), Zé Maria (Portuguesa de Desportos), Carlinhos
(Guarani), Narciso (Santos) e Roberto Carlos (Internazionale, Itália), Flávio
Conceição (Palmeiras), Amaral (Palmeiras), Beto (Botafogo) e Juninho Paulista
(Middlesbrough, Inglaterra), Caio Ribeiro (Internazionale, Itália) e Sávio
(Flamengo).
A este time se somaram os três
jogadores acima de 23 anos escolhidos por Zagallo: o zagueiro Aldair, o meia
Rivaldo e o atacante Bebeto. O time foi reforçado ainda com o centroavante
Ronaldo, que já brilhava intensamente com a camisa 9 do Barcelona no Campeonato
Espanhol.
Na seqüência, mais uma bateria de amistosos, com
quatro vitórias em cinco jogos, começando com uma impressionante goleada de 8 x
2 aplicada sobre Gana. Depois vitórias sobre África do Sul, Polônia e
Dinamarca (implacáveis 5 x 1), e um empate com a Croácia. Julgava-se que a
seleção estava prontíssima para faturar o ouro.
Mas logo na estréia em Atlanta, o
Brasil descobriu o gosto amargo da derrota, perdendo surpreendentemente para o
Japão por 1 x 0. Mas nos jogos seguintes vieram vitórias sobre Hungria e
Nigéria e a classificação. O adversário nas quartas de final era Gana, a quem o
Brasil havia atropelado e feito oito gols quatro meses antes. Não foi tão fácil
quanto daquela vez, mas o Brasil venceu com autoridade: 4 x 2.
Na semi-final, o Brasil voltou a
encontrar a Nigéria, a quem na primeira fase vencera por 1 x 0. Desta vez as
circunstâncias eram outras, ainda assim o clima era de total otimismo.
A Nigéria havia sido a grande
surpresa da Copa de 94, jogando um futebol forte, técnica e taticamente
apurado, muito ofensivo e competitivo. O time na Copa, dois anos antes, era
formado por Rufai; Nwanu, Eguavoen, Okechukwo e Emanalo; Oliseh, Amunike,
Finidi George e Okocha; Amokachi e Yekini, treinados pelo holandês Clemens
Westerhof. Desta vez o time nigeriano era o sub 23, e treinado também por
holandês, Jo Bonfrere. O time nigeriano jogava com: Dosu; Celestine Babayaro,
Taribo West, Okechukwo e Oparaku; Oliseh, Babangida, Okocha e Ikpeba; Amokachi
e Kanu. Trazia quatro jogadores do time de 94.
Os titulares do Brasil nas
Olimpíadas eram: Dida (Cruzeiro), Zé Maria (Portuguesa de Desportos), Aldair
(Roma, Itália), Ronaldo Guiaro (Atlético Mineiro) e Roberto Carlos
(Internazionale, Itália), Flávio Conceição (Palmeiras), Amaral (Palmeiras),
Juninho Paulista (Middlesbrough, Inglaterra) e Rivaldo (Palmeiras), Bebeto
(Deportivo La Coruña, Espanha) e Ronaldo (Barcelona, Espanha).
Flávio Conceição abriu o placar
logo no primeiro minuto de jogo, mas Roberto Carlos fez um gol contra aos 20.
Mas não demorou para o Brasil tomar conta do jogo. Bebeto aos 28 e Flávio
Conceição, novamente, aos 38, definiram o placar do primeiro tempo: Brasil 3 x
1. A vaga na final estava a um passo.
A Nigéria ainda perdeu um
pênalti, defendido por Dida. E no segundo tempo o Brasil teve a oportunidade de
liquidar, Ronaldo driblou o goleiro Dosu e chutou na trave. As coisas pareciam
tranqüilas. Até que aos 33 minutos do segundo tempo, Victor Ikpeba diminuiu a
vantagem brasileira e colocou os nigerianos de novo no jogo. A vantagem durou
até os 45 minutos do segundo tempo, quando Nwankwo Kanu chutou a bola para
dentro das redes brasileiras. Inacreditavelmente a partida iria para a
prorrogação, que era disputada àquele tempo no sistema de “morte súbita”, no
qual a partida terminava assim que uma das equipes fizesse um gol. Bastaram
quatro minutos de prorrogação para que Nwankwo Kanu balançasse novamente as
redes do time brasileiro, visivelmente abalado emocionalmente, desconcentrado pela inesperada
reação. Nigéria 4 x 3 Brasil.
Foi a derrota mais desconcertante
e desmoralizante da história da Seleção Brasileira até então. Todos estavam incrédulos. A
Nigéria foi para a final e voltou a surpreender, batendo a Argentina também de
virada e ficando com a medalha de ouro. O Brasil ainda encontrou forças para
golear Portugal por 5 x 0 e faturar a medalha de bronze.
Mas se como o vexame da derrota
para os nigerianos já não houvesse bastado, o Brasil fez questão de fazer ainda
pior. Numa atitude da mais plena arrogância e prepotência, sem qualquer
humildade em aceitar a derrota, e num julgamento medíocre de superioridade
perante a todos os demais, a Seleção Brasileira não apareceu para subir no
pódio e receber a medalha de bronze, que “não estaria à sua altura”, retirou-se
do estádio sem esperar a decisão entre nigerianos e argentinos, tomando o rumo
do aeroporto.
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