domingo, 18 de janeiro de 2015

A Seleção Brasileira reinava soberanamente

Depois de tempos de instabilidade no primeiro ano de trabalho de Carlos Alberto Parreira em sua volta à posição de técnico da Seleção Brasileira, iniciou-se um breve período no qual o Brasil reinou em termos de resultado.

Os dias de glória se iniciaram ainda em 2003 com a conquista dos títulos mundiais nas categorias de base. Com esta conquista, o Brasil unificou o título de todas as principais categorias da FIFA. Foi campeão da Copa do Mundo de 2002, e no ano seguinte levantou os troféus do Mundial Sub-17 e do Mundial Sub-20, em ambos os torneios vencendo a Espanha por 1 x 0 na final.

Foi o quarto título mundial no Sub-20 na história do Brasil. O time, treinado por Marcos Paquetá, jogava com: Jefferson (Botafogo), Daniel Alves (Sevilla, Espanha), Alcides (Schalke 04, Alemanha), Adailton (Vitória) e Adriano Correia (Coritiba), Carlos Alberto (Figueirense), Dudu Cearense (Vitória) e Juninho Arcanjo (Atlético Mineiro), Daniel Carvalho (Internacional), Nilmar (Internacional) e Kleber Gladiador (São Paulo). Uma equipe que teve vários jogadores que conseguiram se destacar e chegar à seleção principal, como foram os casos de Jefferson, Daniel Alves, Adriano Correia e Nilmar.

Já a seleção principal seguia disputando as Eliminatórias para a Copa de 2006 e ainda tinha pela frente a Copa América, que seria disputada no Peru. No começo de 2004 fez quatro amistosos preparatórios na Europa, empatou sem gols com o Eire e com a França, e goleou Hungria (4 x 1) e Catalunha (5 x 2). Já nas Eliminatórias, depois de duas vitórias e dois empates nas quatro primeiras rodadas, o Brasil empatou sem gols com o Paraguai, em Assunção, e venceu a Argentina por 3 x 1 em Belo Horizonte, num dia em que Ronaldo brilhou e marcou três gols. O Fenômeno entrava para o seleto grupo de jogadores que fizeram mais de 60 gols com a camisa canarinho, só Pelé e Zico haviam logrado este feito até então. Na rodada seguinte, a última antes da Copa América, um empate por 1 x 1 com o Chile, em Santiago. A Seleção Brasileira ainda venceria a Bolívia por 3 x 1, em São Paulo, e a Venezuela por 5 x 2, em Maracaíbo. Com cinco vitórias e quatro empates, o time canarinho terminou o turno invicto e com a classificação ao Mundial bem encaminhada, naquela que era a primeira vez na história na qual o campeão participava das Eliminatórias seguintes. E o Brasil mostrava porque era o campeão mundial.

A seleção titular de Parreira em 2004 tinha algumas mudanças em relação ao time titular no ano anterior. O time mais utilizado nas Eliminatórias em 2004: Dida (Milan, Itália), Cafu (Milan, Itália), Juan (Bayer Leverkusen, Alemanha), Roque Júnior (Siena, Itália) e Roberto Carlos (Real Madrid, Espanha), Edmílson (Lyon, França), Juninho Pernambucano (Lyon, França), Zé Roberto (Bayern Munique, Alemanha) e Kaká (Milan, Itália), Ronaldinho Gaúcho (Barcelona, Espanha) e Ronaldo (Real Madrid, Espanha). Kaká, Juninho e Roque Júnior haviam tomado as posições de Rivaldo, Emerson e Lucio, e Edmilson, jogando como cabeça de área e não como zagueiro, como jogou em 2002, barrou Gilberto Silva.

Para a Copa América, o Brasil foi sem seus principais jogadores, jogando com: Júlio César (Flamengo), Maicon (Mônaco, França), Juan (Bayer Leverkusen, Alemanha), Luisão (Benfica, Portugal) e Gustavo Nery (São Paulo), Renato (Santos), Kléberson (Manchester United, Inglaterra), Edu Gaspar (Arsenal, Inglaterra) e Alex (Cruzeiro), Adriano (Internazionale, Itália) e Luís Fabiano (São Paulo).

Na 1ª fase, jogando em Arequipa, o Brasil venceu a Chile (1 x 0) e Costa Rica (4 x 1), mas perdeu do Paraguai (2 x 1), avançando em segundo lugar. Pegou o México nas quartas de final e se impôs, goleando por 4 x 0, no dia em que Adriano, o Imperador, começou a brilhar com a camisa verde e amarela, fazendo dois gols e infernizando a defesa adversária.

Veio a semi-final contra o Uruguai. Jogo muito difícil, como não poderia deixar de ser. Marcelo Sosa abriu o placar para os uruguaios no primeiro tempo. Adriano empatou no início do segundo. A partida terminou empatada e foi para pênaltis, disputa da qual o Brasil já havia se libertado do trauma de eliminações passadas. No gol não estava mais Taffarel, rei da defesa de penalidades, mas Júlio César defendeu a quarta cobrança uruguaia, de Vicente Sánchez, e o Brasil venceu por 5 x 3, avançando para a final.

A final era Brasil x Argentina. E seria mais um duelo épico entre os dois grandes rivais históricos. Brasileiros e argentinos não se enfrentavam na final de um torneio continental desde 1959, no polêmico duelo que fez o Brasil se manter fora da disputa sul-americana por mais de uma década. A Argentina, assim como a Seleção Brasileira, estava desfalcada de seus principais jogadores que atuavam na Europa, mas tinha uma equipe forte, com Javier Zanetti, Javier Mascherano, Andrés D’Alessandro e Carlos Tévez.

Logo aos 21 minutos do primeiro tempo o meia-atacante Kily González colocou 1 x 0 no placar. Aos 46 minutos da primeira etapa, o zagueiro Luisão, de cabeça, empatou para o Brasil. O segundo tempo se arrastou tenso até que aos 42 minutos a zaga brasileira vacilou e César Delgado estufou as redes. Para todos, foi um tiro derradeiro. De imediato os jogadores brasileiros tiveram que ouvir as provocações argentinas, que davam a taça como conquistada.

A Seleção Brasileira construiu sua história provando por diversas vezes que não pode ser menosprezada nunca, ao melhor estilo do lema construído pela recuperação de Ronaldo em 2002: “eu sou brasileiro e não desisto nunca”. Poucos teriam força para reerguer-se emocionalmente depois de levar um gol aos 42 do segundo tempo. Mas aos 48 minutos uma bola foi alçada à área, Adriano dominou e girou, chutando fora do alcance do goleiro Abbondanzieri. Incrível! Quase inacreditável! Brasil 2 x 2 Argentina. Partida a ser decidida mais uma vez nos pênaltis.

Júlio César defendeu logo as duas primeiras cobranças, de D’Alessandro e do zagueiro Gabriel Heinze, decidindo a disputa. Brasil 4 x 2. O Brasil não perdeu nenhum pênalti nos dois jogos decisivos contra Uruguai e Argentina, cobrou nove e marcou nove gols. Brasil Campeão da Copa América 2004. Sétimo título sul-americano que era canarinho.


Envolvido com a disputa das Eliminatórias, o Brasil jogava poucos amistosos, fez só quatro entre a Copa América de 2004 e a Copa das Confederações de 2005, empatando em 1 x 1 com a Alemanha, em Berlim, e goleando a Haiti (6 x 0), Hong Kong (7 x 1) e Guatemala (3 x 0).

Nas Eliminatórias, no returno, a Seleção Brasileira empatou sem gols com a Colômbia, em Maceió, perdeu por 1 x 0 para o Equador na altitude de Quito, venceu o Peru por 1 x 0, em Goiânia, empatou em 1 x 1 com o Uruguai, em Montevidéu, e goleou o Paraguai por 4 x 1 em Porto Alegre. Veio então a segunda derrota, por 3 x 1 para a Argentina, em Buenos Aires. Depois da parada para a Copa das Confederações, o time fez seus três últimos jogos, goleando ao Chile por 5 x 0 em Brasília, empatando em 1 x 1 com a Bolívia na altitude de La Paz, e vencendo a Venezuela por 3 x 0, em Belém, no Pará. Foi uma classificação extremamente tranqüila, sem sustos.

Na Copa das Confederações, o time estava desfalcado de Cafu, Roberto Carlos e Ronaldo. O time titular de Parreira jogou com: Dida (Milan, Itália), Cicinho (São Paulo), Lucio (Bayern Munique, Alemanha), Roque Júnior (Bayer Leverkusen, Alemanha) e Gilberto (Hertha Berlin, Alemanha), Emerson (Juventus, Itália), Zé Roberto (Bayern Munique, Alemanha), Kaká (Milan, Itália) e Ronaldinho Gaúcho (Barcelona, Espanha), Robinho (Santos) e Adriano (Internazionale, Itália).

Foi a Copa das Confederações mais acirrada das disputadas até então, com a presença de três campeões mundiais (Brasil, Alemanha e Argentina). A campanha brasileira na primeira fase não foi nem um pouco boa, fazendo surgirem dúvidas sobre a capacidade da equipe de lutar pelo título. Na estréia, a seleção venceu fácil a Grécia, campeã da Eurocopa 2004, por 3 x 0. Depois perdeu para o México, que havia realmente se tornado uma pedra em seu sapato, por 1 x 0. Na última rodada, empatou em 2 x 2 com o Japão. O empate bastava para garantir a classificação brasileira como segundo colocado do grupo.

O outro grupo tinha Alemanha, Argentina, Tunísia e Austrália. Os alemães empataram em 2 x 2 com os argentinos e ficaram a frente no saldo de gols. Assim o confronto semi-final colocava Brasil e Alemanha frente a frente, reeditando a final da Copa do Mundo de 2002. Desta vez o palco era Nurenberg. Os alemães tentavam fazer a renovação de sua equipe, preparando uma equipe bastante modificada para encarar o desafio de conquistar o Mundial do qual seria sede no ano seguinte.

Logo aos 21 minutos do primeiro tempo o atacante Adriano abriu o placar para a Seleção Brasileira com um chutaço de longa distância numa cobrança de falta, mas a vantagem durou pouco, dois minutos depois foi a vez de Lukas Podolski aproveitar uma cobrança de escanteio para, de cabeça, balançar a rede para os alemães. E ainda havia muitas emoções reservadas para aquele primeiro tempo. Aos 43 minutos, Ronaldinho Gaúcho, cobrando pênalti colocou o time canarinho novamente a frente. Mas novamente a vantagem durou apenas dois minutos, pois aos 45 minutos, também cobrando pênalti, Michael Ballack voltou a colocar números iguais no marcador. O segundo tempo foi acirrado. E foi aos 31 minutos que a partida foi decidida. Adriano pega na intermediária e parte no um contra um para cima da defesa alemã, um corte para a esquerda e um chute cruzado de canhota. Brasil 3 x 2 Alemanha. A equipe de Parreira supera o time treinado por Jürgen Klinsmann. Na outra semi-final, a Argentina venceu o México nos pênaltis. Se um ano antes, em 2004, Brasil e Argentina voltaram a decidir uma Copa América depois de 45 anos, agora era a vez dos dois grandes rivais históricos decidirem um título de um torneio profissional da FIFA pela primeira vez.

Foi um jogo épico. Foi uma atuação de epopéia da Seleção Brasileira. Aos 11 minutos de jogo, o imparável Adriano abre o marcador com um novo chutaço de canhota da entrada da área. Cinco minutos depois é a vez de Kaká, novamente em um chute da entrada da área, este, no entanto, mais com jeito do que com força, fazer o segundo. Logo aos dois minutos da etapa final, Ronaldinho Gaúcho aproveita cruzamento de Cicinho para fazer o terceiro. E aos 18 minutos, novamente é Cicinho quem cruza para a área, e desta vez é Adriano que testa impiedosamente para as redes. Com menos de 20 minutos do segundo tempo, a Seleção Brasileira faz 4 x 0. Goleada histórica! Logo depois, Pablo Aimar desconta. Mas o time argentino, abatido, não teve forças para reagir. Brasil 4 x 1 Argentina!

Novamente é o camisa 9, o Imperador Adriano, quem aniquila a Seleção da Argentina, pelo segundo ano consecutivo, pela segunda final consecutiva. O Brasil dominava o mundo, mesmo desfalcado de importantes peças como Cafu, Roberto Carlos e Ronaldo. Alguém seria capaz de parar aquela máquina ofensiva de fazer gols?     



Ficha Técnica
BRASIL 4 x 1 ARGENTINA
Gols: Adriano (11’1T), Kaká (16’1T), Ronaldinho Gaúcho (2'2T), Adriano (18’2T) e Pablo Aimar (20’2T)

BRASIL: Dida, Cicinho (Maicon), Lucio, Roque Júnior e Gilberto, Emerson, Zé Roberto, Kaká e Ronaldinho Gaúcho, Robinho (Juninho Pernambucano) e Adriano.

ARGENTINA: Germán Lux, Fabricio Coloccini, Gabriel Heinze e Diego Placente, Javier Zanetti e Juan Pablo Sorin, Lucas Bernardi, Esteban Cambiasso (Pablo Aimar) e Juan Roman Riquelme, César Delgado (Luciano Galletti) e Lucho Figueroa (Carlos Tévez).




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