domingo, 11 de janeiro de 2015

Construindo uma hegemonia na América do Sul

O sonho da conquista da Copa de 98 não se concretizou, mas o futebol brasileiro estava com seu moral elevado. Vários jogadores brasileiros brilhavam nos principais torneios da Europa naquele momento: Ronaldo, Rivaldo, Roberto Carlos e Cafu, em especial. O país colocava toda a culpa da derrota no confuso episódio da convulsão de Ronaldo, a crença era de que se não houvesse ocorrido, a Seleção Brasileira teria sido a campeã. A contusão de Romário também ajudava o país a justificar a si próprio os motivos daquele fracasso.

Nada abalava a confiança do torcedor brasileiro. Na América do Sul, o Brasil começava a construir uma hegemonia nas competições de futebol como nunca havia conseguido antes. Na Taça Libertadores da América, entre 1992 e 1999, em oito edições, os clubes brasileiros foram seis vezes campeões! Nas trinta e duas edições anteriores a 1992, os clubes brasileiros haviam conquistado apenas cinco títulos.

E poderia ter sido ainda mais. O São Paulo, treinado por Telê Santana, e com Raí, Palhinha e Muller, como suas principais estrelas, foi bi-campeão em 1992 e 1993, e por pouco não vence também em 1994, quando perdeu para o Velez Sarsfield, da Argentina, nos pênaltis. Em 1995, o título voltou a ser brasileiro, ficou com o Grêmio. E depois de um título do River Plate em 1996, pela primeira vez o Brasil conseguiu conquistar a Libertadores três vezes seguidas; com o Cruzeiro em 1997, o Vasco da Gama em 1998 e o Palmeiras em 1999.

Em 1999 haveria Copa América. Apenas dois anos antes havia ocorrido o primeiro título continental da Seleção Brasileira fora de seu território, entretanto, a confiança era tanta que o Brasil se julgava favoritíssimo ao título do torneio, que foi disputado no Paraguai.

Depois da derrota para a França, Zagallo se afastou da seleção; para seu lugar foi escolhido Vanderlei Luxemburgo, que vinha acumulando títulos paulistas e nacionais com Bragantino, Palmeiras e Corinthians.

E o trabalho de Luxemburgo começou muito bem. Nos dez amistosos entre a Copa do Mundo de 1998 e a Copa América de 1999, a Seleção Brasileira venceu seis, com direito a goleadas: 5 x 1 no Equador, 5 x 1 na Rússia e 7 x 0 nos Estados Unidos. Ainda venceu a Holanda (3 x 1), Japão e Letônia. Empatou com a Iugoslávia, com a Holanda e com o Barcelona, da Espanha. E sofreu uma derrota surpreendente: 1 x 0 para a Coréia do Sul.

Mas logo na estréia na Copa América, o time do treinador Luxemburgo já mostrou seu cartão de visitas, goleada por 7 x 0 sobre a Venezuela, com direito a gol de um garoto franzino que começava a despontar no Grêmio e conquistaria o mundo: Ronaldinho Gaúcho.

O menino Ronaldinho Gaúcho ao lado de Vanderlei Luxemburgo

O time titular de Vanderlei Luxemburgo: Dida (Lugano, Suiça), Cafu (Roma, Itália), Antônio Carlos Zago (Roma, Itália), João Carlos (Cruzeiro) e Roberto Carlos (Real Madrid, Espanha), Emerson (Bayer Leverkusen, Alemanha), Vampeta (Corinthians), Zé Roberto (Bayer Leverkusen, Alemanha) e Rivaldo (Barcelona, Espanha), Amoroso (Udinese, Itália) e Ronaldo (Internazionale, Itália). A equipe começou a competição com o meia Alex, do Palmeiras, de titular na vaga que depois foi conquistada por Zé Roberto, que havia saído do Brasil como lateral-esquerdo, e no futebol europeu foi deslocado para o meio-campo.

Depois de golear os venezuelanos, a Seleção Brasileira venceu ao México por 2 x 1 e ao Chile por 1 x 0, avançando para às quartas de final para enfrentar a Argentina, de Javier Zanetti, Diego Simeone, Juan Roman Riquelme, Ariel Ortega e Martin Palermo, que na primeira fase terminou em segundo de seu grupo após perder por 3 x 0 para a Colômbia, partida na qual o centroavante argentino Palermo perdeu três pênaltis.

Era o clássico dos clássicos, e, como não poderia deixar de ser, ganhava contornos de uma final antecipada. Certamente foi o jogo mais importante da história do estádio de Ciudad del Este, onde foi jogada a partida.


O jogo começou complicadíssimo para o Brasil. O lateral-esquerdo Juan Pablo Sorin abiu o marcador logo aos 10 minutos do primeiro tempo. Jogo tenso, como sempre é, entre os dois grandes rivais. O time brasileiro teve tranqüilidade, e aos 32 minutos fez o gol de empate através dos pés de Rivaldo. A igualdade no placar tirou a pressão de cima dos onze canários, que aos poucos impunham uma superioridade em campo. Até que aos três minutos do segundo tempo o camisa 9 Ronaldo desempatou. Segura no jogo, a Seleção Brasileira administrou o resultado até o apito final. Uma importantíssima vitória de virada.

Na semi-final, novo duelo contra o México, e nova vitória brasileira, desta vez por 2 x 0. O adversário na final era o jovem time do Uruguai. O Brasil era favoritíssimo. De um lado algumas das principais estrelas dos campeonatos europeus, atletas muitíssimo bem remunerados, do outro uma equipe jovem, em formação, de uma seleção que estava em crise e buscava uma completa reformulação.

Rivaldo balançou duas vezes a rede ainda no primeiro tempo. Ronaldo colocou números finais logo no começo do segundo tempo. Sem dificuldade: Brasil 3 x 0 Uruguai. Pela 6ª vez em sua história, o Brasil era campeão da Copa América, obtendo o segundo título consecutivo. Uruguai e Argentina, com 14 títulos cada, ainda se mantinham com uma larga vantagem de títulos conquistados, mas a partir dos anos 1990 o Brasil foi construindo uma hegemonia no subcontinente.




Nenhum comentário:

Postar um comentário