Uma potência agrícola, o
verdadeiro celeiro do planeta, um território fornecedor do abastecimento
alimentar de boa parte da população global. No início do século XXI, o Brasil passou
a acumular os postos de maior produtor mundial de carne bovina, café, açúcar,
soja e laranja, além de ser o segundo maior produtor mundial de algodão e de
leite e o terceiro maior produtor de milho.
E não foi só pelos benefícios da
natureza que a agricultura brasileira prosperou, houve um enorme e notável
progresso em pesquisa agrícola, liderado pela Embrapa. A partir dos anos 1970 o
Brasil teve os maiores ganhos de produtividade agrícola de todo o mundo, e não
por ampliação de sua área de cultivo nem pelo uso de fertilizantes, mas
utilizando a mesma área de cultivo de forma cada vez melhor e mais intensiva.
Mas o destino do país estava
muito além da agro-pecuária. As políticas de desenvolvimento industrial, paulatinamente
implementadas durante o século XX, surtiram bons resultados, e ao se
encontrarem com a estabilidade econômica obtida a partir de 1994 com o
lançamento do Plano Real, produziram mais um ciclo de momentânea prosperidade
econômica para o Brasil.
Com a estabilização da macroeconomia
e o controle da inflação, o Brasil se fortaleceu e trilhou o caminho do
progresso, mas para conseguir isto, também precisou reformar sua estrutura
empresarial. Nos anos 1990, o país passou por um intenso processo de
privatizações, cerca de cem empresas estatais passaram a ser privadas entre
1991 e 2001, o que gerou uma injeção de cerca de noventa bilhões de dólares nos
cofres do governo. A maior de todas foi a do sistema de telefonia, na qual a
Embratel foi fragmentada em diversas empresas e vendida a diferentes donos,
visando garantir uma competitividade no setor que impulsionasse investimentos.
Com estabilidade e perspectiva de
crescimento, o capital estrangeiro imigrou para o Brasil e compôs um importante
pedaço deste ciclo de desenvolvimento, o grande exemplo foi a indústria
automobilística. Durante os anos 90 as montadoras estrangeiras fabricando
veículos no Brasil saltaram de quatro (Volkswagen, General Motors, Ford e Fiat)
para quatorze. A estabilidade fortaleceu também o setor dos bancos, e os gigantes
privados brasileiros Bradesco e Itaú, e o estatal Banco do Brasil, passaram a
ser os únicos bancos latino-americanos entre os vinte maiores do mundo, resistindo
ao que ocorreu no resto da América do Sul, onde os bancos estrangeiros
obtiveram presença dominante nos mercados nacionais de seus vizinhos.
Sem a hiperinflação, as empresas brasileiras
conseguiriam ser altamente competitivas em escala global. Entre os casos que obtiveram maior destaque está a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) – que depois
de passar a mãos privadas passou a ser apenas Vale – ela já era líder mundial
na fabricação de minério de ferro desde 1974, e sobreviveu à disputa de
concentração de capital em seu mercado (na primeira década do século XXI o mercado mundial de minério de
ferro estava concentrado na mão de três empresas que detinham 70% da extração e
fabricação no planeta, a brasileira Vale e as britânicas-australianas Rio Tinto
e BHP Billiton). Outros casos foram a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e a Usiminas,
que no campo da siderurgia também se alçaram ao grupo das empresas
mais competitivas em escala global.
O Brasil, além de líder mundial
na agro-pecuária, tornou-se uma grande força industrial. O maior exemplo desta
força industrial brasileira foi a Embraer, empresa aeronáutica à beira da
falência antes do Plano Real, que no século XXI tornou-se a terceira maior
fabricante de aviões do mundo, atrás apenas da Boeing e da Airbus, e disputando
acirradamente o posto com a canadense Bombardier.
O modelo de gestão empresarial
brasileiro também alçou vôo no mercado de bens de consumo. Entre muitos casos
de sucesso, um em especial se destacou pela grandeza e significância de seu
feito: um trio de banqueiros – Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto
Sicupira, donos do banco de investimentos Garantia – decidiu entrar no mercado
de bens de consumo. Em 1989 eles compraram a cervejaria Brahma, uma das maiores do
país; dez anos depois, em 1999, eles compraram a principal rival, a cervejaria
Antarctica, e formaram a Ambev. A partir daí iniciam uma expansão impressionante
pelo mercado mundial: em 2002 compraram a cervejaria argentina Quilmes e passaram a
ter penetração em todo o mercado da América Latina; em 2004 se associaram à
cervejaria belga Interbrew, e puseram-se com uma participação minoritária na
InBev, resultado da fusão belgo-brasileira no negócio. Não tardou muito e os
três passaram a adquirir ações e se tornaram majoritários no capital da InBev. Em
2008, no vôo mais ousado, adquiriram a tradicional cervejaria norte-americana
Anheuser-Busch, cuja principal marca era a cerveja Budweiser. Assim, formaram a
AB InBev, que tornou-se a maior cervejaria do planeta. Mas a expansão para o
mercado de consumo dos Estados Unidos não parou por aí: em 2010 eles compraram a
rede Burgen King, cadeia de lanches rápidos especializada em hambúrgueres, e em
2013 compraram a tradicional fabricante de alimentos Heinz, dona de algumas das
marcas mais vendidas nos EUA. A trilha inversa de colonização se desenhava, os
empresários oriundos de uma sociedade colonial que viveu sob regime de extorsão
lançam-se ao centro do imperialismo global.
As forças industrial e
agro-pecuária do Brasil se uniram e permitiram ao país alçar-se à vanguarda da
economia mundial. O caso mais clássico desta união, aquele que deriva do encontro
entre a pesquisa agrícola e a capacidade de produção industrial, foi o que gerou a
fabricação de etanol com álcool derivado da cana de açúcar. A experiência,
iniciada no fim dos anos de 1970, após as grandes crises globais do petróleo,
cresceu e tornou o Brasil o terceiro maior produtor de biodiesel do mundo,
atrás apenas de Alemanha e EUA. Na economia ecologicamente alinhada, o país
também obteve um posicionamento estratégico diferenciado.
Apesar dos persistentes problemas de
desigualdade sócio-econômica, a luta por justiça social teve conquistas
paulatinas nos cem primeiros anos de sua república. Apesar de um modelo
educacional ainda restringente, enfrentando dificuldades para chegar a todas as
camadas da sociedade, apesar de todas estas graves distorções, o Brasil
conseguiu rumar sob alguma ordem por seu caminho de progresso. E cada conquista
de alcance global foi um símbolo desta caminhada.
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