segunda-feira, 3 de novembro de 2014

A ilusão com o Bi das Confederações em 2009

Depois de sagrar-se campeão da Copa América 2007, todas as atenções do futebol brasileiro estavam voltadas para as Eliminatórias. Antes da estréia, o time fez uma série de três amistosos em que venceu Argélia, Estados Unidos e México, tendo Dunga feito os últimos ajustes para a estréia, que foi contra a Colômbia, em Bogotá. Ronaldinho Gaúcho e Kaká estavam de volta ao time de Dunga.

Na primeira rodada o time não saiu de um empate sem gols com os colombianos. O segundo jogo era contra o Equador no Maracanã. Foi a primeira grande atuação nas Eliminatórias, com uma goleada por 5 x 0, com atuações espetaculares de Robinho, Kaká, autor de dois gols, e Ronaldinho.

Na seqüência, um empate em 1 x 1 com o Peru em Lima, e uma vitória por 2 x 1 no clássico contra o Uruguai, no Morumbi, com grande atuação do goleiro Júlio César, que começou naquela noite a selar o posto de titular na Copa do Mundo de 2010.

No começo de 2008, o Brasil fez uma série de amistosos antes de retomar a disputa pela classificação à Copa. Venceu Eire, Suécia e Canadá. O trabalho de Dunga a frente da Seleção Brasileira vinha alcançando excelentes resultados. Antes da Copa América ele obteve sete vitórias em onze jogos, tendo sido derrotado apenas uma vez. Na competição continental sagrou-se campeão, vencendo quatro dos seis jogos. E após o torneio, até ali, tinham sido oito vitórias em dez jogos. No total, em vinte e sete jogos comandando a camisa canarinho, tinham sido dezenove vitórias, seis empates e apenas duas derrotas, um ótimo retrospecto, deixando muito pouca margem para contestações.

Vieram então duas derrotas seguidas que chacoalharam qualquer excesso de confiança. A primeira delas foi bastante simbólica. Em 6 de junho de 2008, jogando amistosamente em Boston, nos Estados Unidos, o Brasil perdeu por 2 x 0 para a Venezuela. Foi a primeira vez na história que a seleção venezuelana conseguiu uma vitória sobre a Seleção Brasileira. Até aquele dia, em 23 confrontos, haviam sido 22 vitórias brasileiras e um único empate, em 1992. A seleção tinha feito 96 gols sobre os venezuelanos (média superior a quatro por jogo) e sofrido apenas seis gols. Naquele dia, os gols de Giancarlo Maldonado e Ronald Vargas acabaram com a histórica supremacia. O único país sul-americano onde o futebol não era o esporte mais popular, onde o beisebol, o ciclismo e o basquete dominavam as paixões desportivas populares, agora também sabia o que era vencer o Brasil.

No jogo seguinte, contra o Paraguai, no Estádio Defensores del Chaco, em Assunção, a seleção sofreu sua primeira derrota nas Eliminatórias 2010, naquela que era a quinta rodada do turno de classificação. Na sexta rodada, empate sem gols contra a Argentina no Mineirão, em Belo Horizonte. A sétima rodada aconteceria somente três meses depois. Com duas vitórias, três empates e uma derrota, os selecionados de Dunga começavam a dar margem a críticas. Antes de voltar à competição, no entanto, o desafio era lutar pelo inédito ouro olímpico.

Os titulares de Dunga na seleção olímpica foram: Renan (Internacional); Rafinha (Schalke 04, Alemanha), Alex Silva (São Paulo), Breno (São Paulo) e Marcelo (Real Madrid, Espanha); Lucas Leiva (Liverpool, Inglaterra), Hernanes (São Paulo), Anderson (Manchester United, Inglaterra) e Diego (Werder Bremen, Alemanha); Ronaldinho Gaúcho (Milan, Itália) e Rafael Sóbis (Bétis, Espanha). O elenco levado pelo treinador brasileiro ainda tinha o zagueiro Thiago Silva, do Fluminense, o meia Thiago Neves, também do Fluminense, e os atacantes Jô, do Manchester City, da Inglaterra, e Alexandre Pato, do Milan, da Itália.

Na primeira fase, vitórias sobre Bélgica, Nova Zelândia e China, primeiro lugar sem sustos, e pela frente o fantasma do duelo com Camarões, algoz nas Olimpíadas de 2000 e adversário nas quartas de final. Desta vez, vitória sem sustos, por 2 x 0.

Na semi-final, o destino colocou Brasil e Argentina frente a frente. O time argentino tinha uma poderosa linha de frente, com Riquelme, Angel Di Maria, Lionel Messi e Kun Aguero. A Seleção Brasileira não viu a cor da bola naquele confronto, sofrendo uma implacável derrota por 3 x 0, com três gols no segundo tempo, dois marcados por Aguero e um por Riquelme. Os argentinos avançaram para a final contra a Nigéria, a quem venceram por 1 x 0, ficando com a medalha de ouro.

O Brasil venceu a Bélgica na decisão do bronze, e desta vez, diferentemente de 1996, teve a dignidade de ir ao pódio receber as medalhas. Era a quarta medalha olímpica do futebol masculino brasileiro, duas pratas em 1984 e 1988, e dois bronzes, em 1996 e 2008. Mais uma vez Ronaldinho Gaúcho fracassava na tentativa de levar o Brasil a uma grande conquista, como acontecera dois anos antes no Mundial da Alemanha. E Dunga mais uma vez dava margem a críticas às suas escolhas.

De volta à luta por classificação para a Copa 2010, duas vitórias fora de casa, por 3 x 0 sobre o Chile em Santiago, e por 4 x 0 sobre a Venezuela em San Cristóbal. Jogando em solo brasileiro, duas vezes no Rio de Janeiro, dois empates sem gols, um contra a Bolívia no novo estádio da cidade, o Engenhão, e outro contra a Colômbia, no Maracanã, na abertura do returno.

As críticas ao trabalho de Dunga aumentavam, e isto levava a equipe canarinho a entrar em campo cada vez carregando mais ansiedade. Para fechar o ano de 2008, uma convincente goleada por 6 x 2 sobre Portugal, de Cristiano Ronaldo, em amistoso disputado em Gama, cidade-satélite de Brasília, no Distrito Federal.

Os titulares de Dunga no ano de 2008 foram: Júlio César (Internazionale, Itália), Maicon (Internazionale, Itália), Lúcio (Bayern Munique, Alemanha), Juan (Roma, Itália) e Gilberto (Tottenham, Inglaterra), Gilberto Silva (Panathinaikos, Grécia), Josué (Wolfsburg, Alemanha), Elano (Manchester City, Inglaterra) e Diego (Werder Bremen, Alemanha), Robinho (Manchester City, Inglaterra) e Luís Fabiano (Sevilla, Espanha). O técnico vinha fazendo experiências, tanto que usou 38 jogadores ao longo do ano nos jogos da seleção principal, mas a espinha dorsal da seleção ainda tinha semelhanças com a da Copa de 2006, até porque Kaká e Ronaldinho Gaúcho, apesar de não terem estado entre os que mais vezes foram utilizados ao longo daquele ano, entraram em campo diversas vezes. O time tinha um trio de marcação no meio-campo, e o treinador tinha enfim encontrado seu centroavante, diminuindo as experiências no comando de ataque.

O ano de 2009 era extremamente importante, pois o time tinha pela frente a definição da classificação para a Copa do Mundo, e jogaria a Copa das Confederações. Começou o ano bem, vencendo a Itália por 2 x 0 em amistoso em Londres, na Inglaterra. Na seqüência, uma série de bons resultados, com três vitórias em quatro partidas pelas Eliminatórias. Depois de empatar com o Equador na altitude de Quito, onde sempre é dificílimo jogar, pelas condições de ar rarefeito, a Seleção Brasileira bateu por 3 x 0 ao Peru, jogando em Porto Alegre, e obteve uma importante goleada de 4 x 0 sobre o Uruguai em plena Montevidéu. Fechando a série, venceu o Paraguai por 2 x 1 em Recife, deixando a classificação para o Mundial muito bem encaminhada. Dunga novamente calava os críticos, tendo mais tranqüilidade para jogar a Copa das Confederações na África do Sul.

Na estréia, em Bloemfontein, uma vitória não muito convincente sobre o Egito. Kaká abriu o marcador logo aos cinco minutos, mas quatro minutos depois o Brasil sofreu o empate. Levou apenas três minutos para que Luís Fabiano colocasse a seleção de novo a frente do marcador. Juan, de cabeça, escorando cobrança de escanteio, ainda ampliou antes do intervalo. Vitória tranqüila? Não! No segundo tempo, o Brasil sofreu dois gols em dois minutos, e aos 10 minutos do segundo tempo o placar já indicava em impensado empate por 3 x 3. Que sufoco! Aos 44 minutos do segundo tempo, Lucio teria feito o gol da vitória, mas o zagueiro egípcio impediu, porém, tirando sobre a linha do gol com a mão! Pênalti que o árbitro marcou, e no minuto seguinte Kaká converteu: Brasil 4 x 3 Egito. Vitória, mas muitas críticas e questionamentos ao time e a seu técnico.

Os dois últimos jogos da primeira fase foram em Pretória, e a seleção obteve duas vitórias convincentes, voltando a calar os críticos. Primeiro superou os Estados Unidos por 3 x 0, depois venceu pelo mesmo placar à Itália, deixando os campeões da Copa de 2006 eliminados nos critérios de desempate, por terem feito um gol a menos que os norte-americanos. Com um gol a menos da seleção, os italianos teriam avançado, e tiveram todo o segundo tempo para descontar, pois os 3 x 0 do Brasil foram construídos inteiros no primeiro tempo.

Na semi-final, o Brasil enfrentou a África do Sul, treinada pelo brasileiro Joel Santana, venceu por 1 x 0, gol do lateral-direito Daniel Alves aos 43 minutos do segundo tempo. Na outra semi, a surpresa, os Estados Unidos venceram a Espanha por 2 x 0, postulando-se a enfrentar o Brasil na final.

Mais um dia de fortes emoções. Com 10 minutos da etapa inicial, Clint Dempsey pôs os norte-americanos a frente. Aos 27 foi a vez do craque do time, o camisa 10 Landon Donovan, fazer o segundo. Placar de primeiro tempo: Estados Unidos 2 x 0 Brasil.

O time canarinho voltou para o segundo tempo querendo jogo. Antes do primeiro minuto estar completo, Luís Fabiano diminuiu. Foi também dele o gol que os 28 minutos colocou números iguais no placar. A virada brasileira veio dez minutos depois, com certeira cabeçada de Lucio após cobrança de escanteio de Elano. Virada espetacular! Brasil 3 x 2 Estados Unidos!

O filme de quatro anos antes se repetia: o time altamente questionado chegava um ano antes ao país-sede da Copa do Mundo e era campeão da Copa das Confederações, saindo do torneio novamente com o status de aspirante ao título do Mundial. Se em 2006 o Brasil era hegemônico e chegava à Copa como favorito absoluto, em 2010 só passou a constar entre os potenciais favoritos depois de erguer aquele Bi-campeonato.

O time de Dunga que faturou o título: Júlio César (Internazionale, Itália), Maicon (Internazionale, Itália), Lúcio (Bayern Munique, Alemanha), Luisão (Benfica, Portugal) e André Santos (Corinthians), Gilberto Silva (Panathinaikos, Grécia), Felipe Melo (Fiorentina, Itália), Ramires (Cruzeiro) e Kaká (Milan, Itália), Robinho (Manchester City, Inglaterra) e Luís Fabiano (Sevilla, Espanha).


O time que viria a jogar a Copa da África do Sul estava cada vez mais próximo da definição final. Júlio César, Maicon, Lúcio e Juan, a defesa estava quase toda definida, só a lateral-esquerda ainda estava vaga, com Gilberto, André Santos, Filipe Luís, Marcelo e Kleber brigando pelo lugar. Mas Daniel Alves, que era o reserva imediato de Maicon na lateral-direita, podia vir a fazer esta função também. No meio, Gilberto Silva era titular inquestionável. Felipe Melo emergiu surpreendentemente, transferiu-se da Fiorentina para a Juventus, e após a Copa das Confederações de 2009 ganhou status de titular. A terceira peça de marcação estava sendo disputada por Elano, Josué e Ramires. O homem de ligação era Kaká, o camisa 10. Ronaldinho Gaúcho havia caído em descrédito com Dunga. Ademais, o treinador não tinha a intenção de colocar dois homens de armação jogando juntos, como poderia ter feito com Kaká e Diego, suas convicções de jogador de marcação davam preferência a um meio-campo com três jogadores de contenção e só um de armação. O ataque estava definido também, só uma fatalidade impediria que fosse formado por Robinho e Luís Fabiano.

O Brasil, como Bi-campeão da Copa das Confederações, ganhou confiança, e os jogos seguintes, nas Eliminatórias, só fizeram esta confiança crescer. A Seleção Brasileira venceu a Argentina por 3 x 1 em Rosário. Depois, venceu ao Chile por 4 x 2 em Salvador e classificou-se para a Copa do Mundo por antecipação. Nas últimas rodadas, dois resultados negativos, com derrota por 2 x 1 para a Bolívia na altitude de La Paz, e empate sem gols com a Venezuela em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Mas quase ninguém deu importância a estes tropeços, a missão estava cumprida.

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