Desde muito cedo surgiram
brasileiros defendendo outras seleções de futebol. Já na Copa de 1934, a
Seleção da Itália foi campeã tendo um brasileiro em seu elenco, Anfilogino
Guarisi, o Filó, jogador que iniciou sua carreira no Corinthians, e era descendente
de italianos. Em 1931, acabou contratado pela Lazio e dois anos depois se naturalizou
italiano. Foi campeão do mundo numa equipe que ainda tinha outros quatro
naturalizados, os argentinos Luisito Monti, Attilio Demaría, Raimundo Orsi e
Enrique Guaita.
Na Copa do Chile, em 1962, mais
uma vez havia um brasileiro com a camisa da Seleção da Itália, o atacante Altafini
Mazzola, campeão do mundo com o Brasil em 1958. O ex-jogador do Palmeiras
também tinha outros dois naturalizados a seu lado no time italiano, os
argentinos Omar Sívori e Humberto Maschio. Mas os brasileiros ainda eram
minoria entre os que defendiam outras seleções. Nesta mesma Copa de 62, a
Espanha tinha três naturalizados defendendo sua camisa, o zagueiro uruguaio
José Santamaria, o argentino Alfredo Di Stéfano e o húngaro Ferenc Puskas.
Na história recente, passou a ser
muito mais freqüente ver brasileiros defendendo outras seleções. Esta história
começou em 1998, quando o atacante Luís Oliveira (nome que os belgas
pronunciavam “Oliverrá”) defendeu a Bélgica na Copa da França. Nascido no
Maranhão, seu único clube no Brasil foi o amador Tupan, onde jogou em 1984.
Chegou ao futebol belga em 1985, com apenas 16 anos, para defender as divisões
de base do Anderlecht, onde ficou até 1992, quando foi contratado pelo futebol
italiano, tendo defendido Cagliari, Fiorentina e Bologna. Não era comum ver um
jogador negro numa seleção do norte da Europa como a Bélgica, ele quebrou esta
barreira.
Esta situação foi se tornando cada
vez mais freqüente. Ela em muito está correlacionada às mudanças pelas quais
passou o futebol nos anos 1990 por conta de uma novidade política na Europa, a
qual provocou uma enorme transformação estrutural no futebol. As bases desta
nova realidade foram semeadas pela implementação da Lei Bosman, que mudou as
regras trabalhistas para jogadores de futebol nascidos na Europa, numa
adequação às condições da União Européia. Até 1995, o limite de jogadores
estrangeiros atuando em clubes europeus era de três por clube, com a nova lei,
jogadores de outros países da Europa não mais constavam como estrangeiros, uma
vez que a União Européia constituía uma união econômica, isto é, um estágio nas
relações internacionais no qual há completa integração de todos os fatores de
produção, incluindo uma moeda comum, o comércio entre países isento de tarifas
e a livre circulação de cidadãos, sejam turistas ou trabalhadores. Com a nova
lei, nenhum trabalhador de origem européia – incluídos os jogadores de futebol
– podia ser impedido, por qualquer lei restritiva, de exercer sua profissão em
outro país que pertencesse à união econômica. O comunicado oficial emitido pelo
bloco, em 1995, não dava margens a interpretações: “A União Européia exige que
as regulamentações sobre transferências e limitações de jogadores estrangeiros
devem ser alteradas imediatamente”.
Houve um grande impacto não só
desportivo, mas também econômico, sobre o futebol europeu. Indiretamente, essa
lei afetou tremendamente o fluxo de jogadores sul-americanos que seguiam para
atuar por clubes da Europa. Os efeitos de uma economia mundial globalizada e
integrada entravam em campo. Dali para frente, muita coisa passaria a ser
diferente. Dentro das quatro linhas, as equipes européias foram se
fortalecendo, usufruindo da opção de ter mais estrangeiros do que até então se
permitia. Os clubes passaram a ter elencos cada vez mais fortes e a arrecadar
cada vez mais. Com a maior demanda, os preços subiram e o espetáculo ficou mais
atrativo, fazendo a capacidade de arrecadação dos clubes também aumentar. O
jogador de futebol virou uma opção de investimento, levando os clubes europeus
a buscarem talentos promissores cada vez mais jovens.
Com isto, o número de jogadores
brasileiros surgindo no futebol europeu explodiu, e se tornou comum aparecerem
por lá nomes desconhecidos no cenário futebolístico do Brasil. Dentre alguns
casos, o mais emblemático para ilustrar este fenômeno talvez seja o caso do meia de
contenção Júlio César. Desconhecido do público brasileiro, ele despontou
algumas vezes entre os titulares do Real Madrid na temporada 1999-2000. Assim
como Luís Oliveira, que no ano anterior jogou a Copa do Mundo pela Bélgica, ele
também era nascido em São Luís, capital do estado do Maranhão. Júlio César
jamais defendeu qualquer clube brasileiro em toda sua carreira, nem nas
divisões de base, na qual jogou pelo Marathon, de Honduras. Em 1996, aos 17
anos, foi adquirido pelo Valladolid, da Espanha, onde ficou por três
temporadas, quando foi então contratado pelo Real Madrid, clube que defendeu
por um ano. Depois ficou seis meses no Milan, e daí para frente virou um cigano
da bola, passando por Portugal, Áustria, Inglaterra, Grécia, Turquia, Romênia,
México e Estados Unidos.
A Seleção Brasileira teve que
aprender a conviver com uma grande quantidade de jogadores emigrando ainda
muito jovens para o futebol europeu, e vindo a defender as cores do país sem
qualquer identidade com clubes do cenário nacional, muitos deles eram
completamente desconhecidos pelo torcedor brasileiro até chegarem à seleção.
O primeiro destes casos, contudo,
foi anterior à Lei Bosman. O atacante Giovane Élber despontou pela Seleção
Brasileira no Mundial Sub-20 de 1990. Ele era jogador do Londrina, tinha então
18 anos quando foi contratado pelo Milan. Nunca vingou no clube italiano,
esteve emprestado para vários clubes europeus até chegar ao Bayern Munique, onde
atuou de 1997 a 2003 e despontou como artilheiro no Campeonato Alemão. Nunca
teve identidade com nenhum clube brasileiro, mesmo tendo defendido o Cruzeiro
no último ano de sua carreira profissional, onde ficou apenas um ano, em 2006,
e não brilhou.
No século XXI, vários casos como
o de Élber se repetiram. O lateral-direito Daniel Alves, formado no Bahia, foi
contratado pelo Sevilla, da Espanha, quando tinha 19 anos. Ficou seis
temporadas no Sevilla, e foi então contratado pelo Barcelona. Já o lateral-esquerdo
Maxwell saiu com 20 anos do Cruzeiro, construiu uma sólida carreira no futebol
europeu, defendendo Ajax, da Holanda, Internazionale, da Itália, Barcelona, da
Espanha, e Paris St-Germain, da França. O lateral-esquerdo Filipe Luís saiu do
Brasil aos 21 anos, trocando o Figueirense pelo Ajax, da Holanda; mas foi no
futebol espanhol que conseguiu destaque, tendo passado por Real Madrid,
Deportivo La Coruña e Atlético de Madrid, passagens de destaque que o levaram a
vestir a camisa canarinho. O atacante Givanildo Vieira de Souza ficou conhecido
no futebol pelo apelido: "Hulk". Saiu do Brasil com 19 anos, quando
trocou o Vitória, da Bahia, pelo futebol japonês; mas ganhou projeção
internacional com a camisa do Porto, de Portugal, com atuações que o levaram à seleção. Um outro caso foi o zagueiro David Luiz, que aos 20 anos trocou o Vitória, da
Bahia, pelo Benfica, de Portugal. Foram inúmeros os casos, é impossível contar
todos, e nem é este o objetivo aqui.
Mais um caso emblemático: o
cabeça de área Thiago Motta. Ele saiu do Juventus, de São Paulo, para o
"time B" do Barcelona com apenas 16 anos. Ficou oito anos no clube,
onde profissionalizou-se. Chegou a defender a Seleção Brasileira Sub-23 que
jogou a Copa Ouro da Concacaf em 2003. Depois do Barça, jogou no Atlético de
Madrid, e foi para o futebol italiano, onde defendeu Genoa e Internazionale.
Naturalizou-se italiano e disputou a Eurocopa de 2012 pela Seleção da Itália.
Já o cabeça-de-área Luiz Gustavo
nasceu no interior do estado de São Paulo, mas jogou a categoria sub-20 no estado
de Alagoas, onde defendeu o Corinthians Alagoano e o CRB. Em 2007, aos 20 anos,
foi jogar no Hoffeinheim, da Alemanha, onde atou por três temporadas.
Destacou-se e foi contratado pelo Bayern Munique, onde jogou duas temporadas e
tornou-se titular. No Bayern, jogou com o zagueiro Dante, outro caso similar.
Ele chegou à Europa com 20 anos para defender o Lille, da França; passou por
clubes a Bélgica e da Alemanha, até ser contratado em 2012, quando então já tinha
28 anos, pelo Bayern Munique. Lá, tornou-se titular, o que lhe alçou à Seleção
Brasileira. Foram inúmeros casos similares. O torcedor brasileiro já não tinha
mais os mesmos laços com vários dos jogadores que vieram a vestir a camisa
canarinho, ele mal os conhecia, não havia vibrado por eles vestindo a camisa de
seu time nem os temido vestindo a camisa de um time adversário. Novos tempos em um mundo cada vez mais globalizado, no qual
as distâncias eram cada vez mais encurtadas pelas tecnologias e a mobilidade
era quase plena.
Não foi só a Seleção Brasileira
que teve que se adaptar a esta nova realidade. Todo o futebol mundial mudou,
eram cada vez mais jogadores naturalizados defendendo outras seleções. Mais do
que nunca questões como identidade étnica e nacional ficavam em voga. Situações
inusitadas surgiram, como o caso dos irmãos Boateng, filhos de pai ganês e mãe
alemã. Os dois irmãos começaram a jogar futebol nas divisões de base do Hertha
Berlin e ambos jogaram torneios sub-17 e sub-20 pela Alemanha. Depois de
profissionalizados, o meia Prince Boateng, que viveu seus maiores momentos na
carreira com a camisa do Milan, decidiu defender a seleção de Gana, enquanto o
zagueiro Jerome Boateng, titular do Bayern Munique, decidiu manter-se na
seleção alemã. Na Copa do Mundo de 2010, Alemanha e Gana se enfrentaram, e pela
primeira vez na história de uma competição da FIFA havia dois irmãos de lados
opostos do campo num torneio entre seleções. Os dois irmãos mais uma vez se enfrentaram, de lados opostos, durante a Copa de 2014.
Perante todas estas mudanças, a
Seleção Brasileira teve que aprender a conviver com uma grande quantidade de
jogadores indo atuar na Europa muito jovens, e o Brasil teve que aprender a
conviver com outra conseqüência deste aumento no fluxo de jogadores indo atuar
no exterior, cada vez passou a ser mais comum ver brasileiros adotando outras
nacionalidades e defendendo outras seleções.
Além dos já citados casos de
Oliveira no ataque da Bélgica na Copa de 98 e de Thiago Motta no meio-campo da
Itália na Eurocopa de 2012, houve outros casos. O zagueiro Donato, que atuou
pelo Vasco entre 1980 e 1986, e se destacou pelo Deportivo La Coruña,
naturalizou-se e entrou em campo doze vezes com a camisa da Espanha, por quem
disputou a Eurocopa de 1996. Daí para frente a incidência só aumentou, o início
do século XXI foi recheado de outros casos.
Houve muitos casos também de
brasileiros jogando pela Seleção do Japão. O primeiro deles foi Ruy Ramos. O meia chegou ao futebol japonês em 1977, quando então tinha 20 anos. Carioca de
nascimento, não tinha qualquer ascendência oriental, sendo mulato, de cabelos
longos e encaracolados. Pelo Japão, jogou as Eliminatórias para a Copa de 94.
Depois, foi a vez do atacante Wágner Lopes, que jogou nos juniores do São Paulo
e foi para o futebol japonês com 18 anos, naturalizou-se e jogou a Copa de
1998. Já o meia Alex Santos jogava no Maringá do Paraná, foi jogar no Japão com
20 anos, também se naturalizou e disputou a Copa de 2006. Por fim, o zagueiro
Marcus Túlio Tanaka, que foi o único dos brasileiros que defenderam a seleção
japonesa que tinha ascendência nipônica. Voltou ao país de seus ancestrais
com 15 anos e se profissionalizou no futebol por lá, tendo jogado a Copa de
2010.
Na África também teve brasileiro.
Clayton defendeu a Tunísia, por quem jogou a Copa de 2002. O lateral-esquerdo,
formado no Moto Clube, do Maranhão, foi jogar no futebol tunisiano,
naturalizou-se, e foi o autor do gol do título da Copa Africana de Nações de
2004, numa equipe que tinha outro brasileiro naturalizado, o atacante
Francileudo Santos, então jogador do Sochaux, da França.
A maior quantidade de casos, no
entanto, está toda relacionada ao futebol europeu. Só nos primeiros anos do século XXI foram 14
brasileiros usando camisas de seleções européias em jogos oficiais da FIFA.
O atacante Catanha é um exemplo clássico e
emblemático deste caso de desconhecidos do cenário futebolístico brasileiro que
despontaram no cenário europeu. Atuou pelo São Cristóvão, do Rio de Janeiro,
pelo União São João, de São Paulo, pelo CSA, de Alagoas, e pelo Paysandu, do
Pará. Foi jogar em Portugal aos 23 anos, mas foi no futebol espanhol onde
brilhou, primeiro pelo Málaga e depois pelo Celta de Vigo. Esteve entre os
líderes da artilharia do Campeonato Espanhol em algumas temporadas, e após a
Eurocopa de 2000 ele se naturalizou, tendo vestido a camisa da Espanha em três
amistosos. Ainda passou sem sucesso pelo Atlético Mineiro em 2005, sem nunca
ter conseguido construir laços com clubes brasileiros.
Com a camisa da Itália, houve o
já citado caso de Thiago Motta, e também o centroavante Amauri. Ele teve rápida
passagem pelas divisões de base do Palmeiras. Aos 20 anos foi para o Parma.
Passou por Napoli, Piacenza, Empoli, Messina, Chievo Verona e Palermo, onde se destacou
a ponto de chamar a atenção da Juventus, de Turim, camisa com a qual veio a figurar algumas
vezes entre os artilheiros da temporada italiana. Em 2009 a seleção italiana
demonstrou interesse em sua naturalização. No fim de janeiro daquele ano, o
técnico Dunga convocou-o e ele teve de fazer a opção de qual selecionado
gostaria de defender, optou pela Itália, por quem jogou uma única vez, um
amistoso preparatório para a Copa de 2010. Acabou fora da lista final e não
jogou o Mundial, não tendo mais voltado a ser lembrado em nenhuma outra convocação.
Até
a Seleção da Alemanha teve brasileiros a defendendo. O primeiro foi Paulo Rink,
meia-armador revelado pelo Atlético Paranaense, que foi para o futebol alemão
quando tinha 24 anos. Depois de algumas temporadas por lá, ele se naturalizou e
jogou dois amistosos defendendo as cores alemãs. O outro caso foi o do atacante
Kevin Kuranyi. Nascido no Rio de Janeiro, seu pai era da Alemanha e sua mãe do
Panamá. Ele começou a jogar futebol no Serrano, time da cidade de Petrópolis,
no Rio. Depois passou três anos defendendo clubes panamenhos. Em 1997, com
apenas 15 anos, foi para as divisões de base do Stuttgart, onde ficou até 2005.
Jogou pela Alemanha a Eurocopa de 2004. O último caso na seleção alemã foi o
atacante Cacau, que aos 18 anos trocou o modesto Nacional, de São Paulo, pelo
futebol alemão, onde jogou várias temporadas. A ascendência de pele negra não
foi uma barreira, ele se naturalizou e defendeu a Seleção da Alemanha entre
2009 e 2012, tendo jogado 23 jogos e feito 6 gols; disputou a Copa de 2010, na
qual marcou um gol.
De todos os brasileiros que
defenderam outras seleções neste período, o que fez mais sucesso foi o meia de
contenção Marcos Senna. No Brasil, sua maior projeção foi no Corinthians, onde
atuou por duas temporadas (1999 e 2000). Ainda passou por Juventude e São
Caetano antes de migrar para o futebol espanhol, em 2002, já aos 26 anos. Foi
contratado pelo Villareal, da Espanha, onde jogou por onze temporadas.
Naturalizou-se espanhol. Negro, mais uma vez a cor de pele não foi barreira de
entrada para jogar pela seleção de um país onde a etnia branca era maioria
absoluta. Defendeu a seleção espanhola de 2006 a 2009, tendo jogado a Copa de
2006 e a Eurocopa de 2008, na qual a Espanha sagrou-se campeã e ele não só foi
titular absoluto, como foi eleito pela UEFA como parte da seleção ideal que
reuniu os onze melhores do torneio. Marcos Senna teve um importante papel no
surgimento do time da Espanha bi-campeão europeu (2008-2012) e campeão mundial
(2010).
Outros três casos: o meia Eduardo da Silva jogou
no Bangu, do Rio de Janeiro, até os 16 anos, quando foi contratado pelo Dínamo
Zagreb, da Croácia. Naturalizou-se croata e disputou a Eurocopa de 2008. Depois
ainda conseguiu destaque jogando pelo Arsenal, da Inglaterra. No fim da
carreira voltou para o Brasil, onde conseguiu algum destaque jogando no
Flamengo. Já o lateral-esquerdo Roger Guerreiro, depois de jogar por São
Caetano, Corinthians, Flamengo e Juventude, foi contratado pelo Legia Varsovia,
da Polônia. Jogou apenas três temporadas lá, entre 2006 e 2009, mas foi o
suficiente para obter a naturalização e jogar a Eurocopa de 2008 pela Polônia.
Neste torneio, além de Marcos Senna, Eduardo da Silva e Roger Guerreiro, ainda
tinha Pepe e Deco com a camisa de Portugal, e um sexto brasileiro que vestiu a
camisa de outra seleção: Marco "Mehmet" Aurélio. Revelado nas
divisões de base do Flamengo, foi jogar no futebol turco em 2001, quando já
estava com 24 anos. Depois de sete temporadas, adotou o nome Mehmet e jogou a
Eurocopa 2008 pela Turquia.
Em Portugal, o zagueiro Pepe era
nascido em Maceió, jogou nas divisões de base do Corinthians Alagoano e migrou para Portugal
em 2001, aos 18 anos. Destacou-se pelo Porto. Naturalizou-se e defendeu
Portugal nas Copas de 2010 e de 2014 e na Eurocopa de 2008, ano em que se transferiu para o
Real Madrid, da Espanha, onde jogou por várias temporadas. O meia Deco jogou
nas divisões de base do Corinthians até 1997, quando, aos 20 anos, foi
contratado pelo modesto Alverca, de Portugal. Após algumas temporadas chegou ao
Porto, onde conseguiu o destaque que o levou à naturalização e a defender Portugal
nas Copas do Mundo de 2006 e 2010 e na Eurocopa de 2008. Fez bela carreira na
Europa, jogando no Barcelona de 2004 a 2008 e no Chelsea, da Inglaterra, de
2008 a 2010. No fim de carreira voltou ao Brasil para defender o Fluminense,
onde jogou de 2010 a 2013, tendo sido campeão brasileiro de 2012. Um terceiro
brasileiro em Portugal foi o centroavante Liédson. Ele defendeu Coritiba,
Flamengo e Corinthians antes de se transferir para o Sporting, de Portugal, em
2003, quando já estava com 25 anos. Jogou oito temporadas pelo time de Lisboa.
Com a Seleção de Portugal, jogou a Copa de 2010. Ainda voltou ao Brasil para
segundas passagens por Corinthians e Flamengo antes de encerrar a carreira.
O caso de Amauri às vésperas da
Copa de 2010 se repetiu com Diego Costa às vésperas da Copa de 2014. O
centroavante nasceu em Lagarto, cidade que fica no estado de Sergipe. Com 17
anos chegou a Portugal para defender o Braga. Um ano depois foi contratado pelo
Atlético de Madrid e passou, por empréstimo, por Celta de Vigo, Albacete,
Valladolid e Rayo Valecano. Na temporada 2013 conseguiu enfim destacar-se com a
camisa do Atlético de Madrid. Em março foi convocado por Luiz Felipe Scolari
para dois amistosos, tendo chegado a entrar em campo nestas oportunidades com a
camisa canarinho. Em outubro a federação espanhola o convidou para defender sua
seleção nacional. Ele então teve que optar se defenderia o Brasil ou a Espanha,
escolheu vestir a camisa espanhola, com a qual fez sua estréia num amistoso em
março de 2014, um ano depois de vestir a camisa verde-amarela. Jogou a
Copa do Mundo de 2014, no Brasil, na qual não brilhou, mas acabou se
transferindo para o Chelsea, do Inglaterra, onde se tornou artilheiro.
Este estouro nos casos de
jogadores se naturalizando e defendendo outras seleções aconteceu pela soma de
dois fatores: o viés econômico-mercantil do futebol após a Lei Bosman, e o
descaso da FIFA e da UEFA em assumir um papel regulador. As regras envolvendo
este assunto sempre estiveram maleáveis, variando de acordo ao volume de
recursos movimentado: pelo tamanho das cifras envolvidas as regras eram sempre passíveis
a mudança.
A regra para os clubes europeus
passou a ser: cada time só poderia ter três jogadores de países não-membros da
União Européia em seus elencos. Obter um passaporte europeu para jogadores,
então, quase virou um negócio. Como exemplo mais simbólico disto: a
Internazionale de Milão na temporada 2004-05 tinha cinco argentinos, dois
brasileiros, um uruguaio, um colombiano e um paraguaio; eram dez
sul-americanos, mas ainda havia um nigeriano, sendo, portanto, onze não-europeus, um time
inteiro (naturalmente só três deles não tinha passaporte europeu). O elenco ainda
tinha dois sérvios, um holandês e um turco, num total de incríveis quinze
estrangeiros no grupo.
A FIFA nunca se preocupou verdadeiramente em impor limites de idade nas transações ou em adotar regras mais rígidas de exigência para que um jogador atuasse por outra seleção que não a de seu país de nascimento. Inicialmente, a única restrição era: se um jogador já atuou por uma seleção não pode atuar por outra. Mas no caso de Diego Costa, por exemplo, ela desconsiderou o fato de ele ter jogado dois amistosos pelo Brasil, afirmando que só competições oficiais eram válidas na regra. Tampouco se preocupou com casos em que o jogador não tinha qualquer vínculo com o país, jogava poucas temporadas, naturalizava-se e defendia a seleção. As regras sempre foram flexíveis e deram margem a esta abundância de casos.
A FIFA nunca se preocupou verdadeiramente em impor limites de idade nas transações ou em adotar regras mais rígidas de exigência para que um jogador atuasse por outra seleção que não a de seu país de nascimento. Inicialmente, a única restrição era: se um jogador já atuou por uma seleção não pode atuar por outra. Mas no caso de Diego Costa, por exemplo, ela desconsiderou o fato de ele ter jogado dois amistosos pelo Brasil, afirmando que só competições oficiais eram válidas na regra. Tampouco se preocupou com casos em que o jogador não tinha qualquer vínculo com o país, jogava poucas temporadas, naturalizava-se e defendia a seleção. As regras sempre foram flexíveis e deram margem a esta abundância de casos.
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