sábado, 18 de outubro de 2014

O fracasso da “Seleção Brasileira Europeizada”

A preparação da Seleção Brasileira para a Copa do Mundo de 1990 começou no fim do ano anterior com uma excursão à Europa, cujos resultados foram promissores.

A Holanda havia voltado a ser treinada por Rinus Michels, homem responsável pela revolução tática imposta pelos holandeses em 1974. O resultado não poderia ter sido mais promissor, sua equipe foi campeã da Eurocopa de 1988, novamente jogando um futebol mágico e empolgante. O time campeão: Van Breukelen; Van Aerle, Ronald Koeman, Vanenburg e Van Tiggelen; Rijkaard, Wouters, Muhren e Ruud Gullitt; Erwin Koeman e Van Basten. Jogavam um futebol envolvente, mas muito técnico. Ronald Koeman era um tremendo zagueiro, dominava todo o sistema defensivo do time. Frank Rijkaard era um meio-campista com características tanto defensivas quanto ofensivas. Ruud Gullitt, com sua vasta cabeleira rastafári, também não tinha uma posição tática claramente definida, recuava para armar o ataque com a mesma destreza que se apresentava na área adversária como se fosse um centroavante. Por fim, o mais genial deles, Marco Van Basten, um homem de área com um poder de conclusão a gol impressionante e uma visão diferenciada de tudo que acontecia na construção ofensiva de sua equipe.

Depois do título, Rinus Michels saiu, foi substituído por Leo Beenhakker. Mesmo sem o mestre do futebol total, a Holanda era considerada uma das grandes favoritas ao título da Copa do Mundo de 1990. Na viagem à Europa, o Brasil enfrentaria os holandeses, jogando em Roterdã, mas antes enfrentaria outra favorita ao título, a seleção que sediaria o Mundial de 90, a Itália, num confronto em Bologna. A Seleção Brasileira venceu os dois jogos, ambos por 1 x 0; sobre os italianos com um gol de falta do zagueiro André Cruz, e sobre os holandeses com um gol de Careca.

Campeão da Copa América e vitorioso nos amistosos contra duas favoritas ao título da Copa, o Brasil se sentia no caminho certo. Nos seis meses anteriores à Copa, jogou pouco, foi derrotado pela Inglaterra por 1 x 0 no Estádio de Wembley, em Londres, e despediu-se do solo brasileiro com dois jogos, uma vitória por 2 x 1 sobre a Bulgária, em Campinas, e um empate em 3 x 3 com a Alemanha Oriental no Maracanã. Resultados nada promissores.

Para piorar, o Brasil perderia a sua principal arma ofensiva daquele momento. No começo do ano, Romário fraturou a perna num jogo do Campeonato Holandês, onde defendia o time do PSV. Recuperou-se a tempo de ser convocado e jogar a Copa do Mundo, mas sem tempo hábil para obter um perfeito condicionamento físico.  

A lista final dos 22 convocados por Sebastião Lazaroni:

Goleiros: Taffarel (Internacional), Acácio (Vasco) e Zé Carlos (Flamengo)
Laterais: Jorginho (Bayer Leverkusen, Alemanha), Mazinho (Vasco) e Branco (Porto, Portugal)
Zagueiros: Ricardo Rocha (São Paulo), Ricardo Gomes (Benfica, Portugal), Aldair (Benfica, Portugal), Mauro Galvão (Botafogo) e Mozer (Olimpique de Marselha, França)
Meias: Alemão (Napoli, Itália), Dunga (Fiorentina, Itália), Silas (Sporting, Portugal), Valdo (Benfica, Portugal), Bismarck (Vasco) e Tita (Vasco)
Atacantes: Muller (Torino, Itália), Careca (Napoli, Itália), Renato Gaúcho (Flamengo), Bebeto (Vasco) e Romário (PSV Eindhoven, Holanda).



Era uma seleção já bastante cheia de jogadores que atuavam na Europa e em campeonatos de cinco países diferentes. Cinco atuavam em Portugal, quatro na Itália, um na Alemanha, um na Holanda e um na França. Mais da metade, portanto.

A seleção embarcou. Fez dois amistosos contra combinados locais, cujos resultados foram preocupantes. Venceu um combinado de Madrid por 1 x 0, e perdeu pelo mesmo placar para um combinado da Úmbria, na Itália. Muito preocupante!

A 14ª Copa do Mundo foi disputada na Itália. A principal ausência foi a França, eliminada pela Escócia nas Eliminatórias. Outra ausência foi o México, suspenso pela FIFA por ter utilizado jogadores acima do limite de idade no Mundial Sub-20 de 1989.

O Grupo A tinha Itália, Tchecoslováquia, Áustria e Estados Unidos. O Grupo B tinha Argentina, União Soviética, Romênia e Camarões. O Grupo C era formado por Brasil, Suécia, Escócia e Costa Rica. No Grupo D jogaram Alemanha, Iugoslávia, Colômbia e Emirados Árabes. O Grupo E tinha Espanha, Uruguai, Bélgica e Coréia do Sul. E no Grupo F estavam Inglaterra, Holanda, Eire e Egito. A única grande surpresa aconteceu logo no jogo de estréia, com Camarões vencendo a Argentina por 1 x 0, gol de Oman Biyik. Os camaroneses conseguiram terminar em primeiro no grupo, os argentinos se recuperaram e também se classificaram. Aquele time de Camarões fez história, tendo sido a primeira equipe africana a chegar às quartas de final na história dos Mundiais. O time, treinado pelo russo Valeri Nepomniachi, jogava com: N’Kono; Tataw, Kundé, Ndip e Ebwelle; Massing, Mbough, Kana Biyik e Mfede; Makanaky (Roger Mila) e Omam Biyik. Nas quartas, por muito pouco não superou a Inglaterra, de Paul Gascoigne e Gary Lineker.

Os titulares de Lazaroni na Copa: Taffarel no gol, Jorginho e Branco nas laterais, Ricardo Rocha, Mauro Galvão e Ricardo Gomes formando a linha de três zagueiros, Alemão, Dunga e Valdo no meio, e Muller e Careca, a mesma dupla titular na Copa de 86, no ataque. O Brasil iniciou sua campanha vencendo a Suécia. Careca marcou duas vezes, depois os suecos diminuíram a dez minutos do fim: Brasil 2 x 1. No segundo jogo, esperava-se um placar elástico diante da Costa Rica. O futebol truncado do time de Lazaroni não conseguiu. Venceu apertado, por magro 1 x 0, gol de Muller. Seria dele também o gol da magra vitória por 1 x 0 sobre a Escócia no último jogo. Três jogos, três vitórias, e um futebol que tecnicamente não agradava a ninguém.

Brasil vence Costa Rica 

A campanha irregular dos argentinos forçou um confronto Brasil x Argentina logo nas oitavas de final. A camisa 10 de Diego Armando Maradona no caminho da Seleção Brasileira. O Brasil dominou amplamente o jogo. Dunga, Careca e Alemão acertaram três bolas na trave argentina. Mas a dez minutos do fim do segundo tempo, Maradona se livrou de vários marcadores brasileiros e enfiou para Caniggia entrar sozinho para driblar Taffarel e fazer o gol. Argentina 1 x 0. O Brasil terminava ali sua pior campanha desde a Copa de 66.

Nos oito amistosos disputados pela seleção entre outubro de 1989 e maio de 1990, houve três vitórias por 1 x 0, um empate em 0 x 0, e duas derrotas por 1 x 0. Era o resultado de um padrão de jogo que abdicava de uma peça a mais na frente para aumentar um zagueiro e fechar a defesa. O placar magro também seria a tônica do Brasil na Copa de 90, já que quatro do três jogos brasileiros terminaram 1 x 0, dois a favor e um contra. E não era exclusividade do time canarinho, pois não foi à toa que a Copa do Mundo de 1990 registrou a maior quantidade de partidas terminando em 0 x 0 na história de todas as Copas. Nunca antes, e nunca depois, o jogo de futebol esteve tão truncado.

Muller

Os argentinos foram avançando a base de vitórias em disputas por pênaltis e chegaram à final contra a equipe que vinha sendo apontada como dona do melhor futebol do torneio, a Alemanha. O jogo foi duro e acirrado, acabou decidido numa cobrança de pênalti, convertida pelo lateral-esquerdo Brehme. Alemanha 1 x 0 Argentina. Os alemães vingaram a derrota na final de quatro anos antes e conquistaram sua terceira Copa do Mundo.

O time da Alemanha campeão de 1990: Ilgner; Berthold, Augenthaler, Kohler e Brehme; Buchwald, Hassler e Lottar Mattaus; Littbarski, Rudi Voller e Jurgen Klinsmann. O treinador era Franz Beckenbauer.

A Seleção dos melhores daquele Mundial eleita pela FIFA: Goycoechea (Argentina), Jules Onana (Camarões), Franco Baresi (Itália) e Brehme (Alemanha), Lothar Mattaus (Alemanha), Roberto Donadoni (Itália), Paul Gascoigne (Inglaterra) e Diego Maradona (Argentina), Roger Milla (Camarões), Tomas Skuhravy (Tchecoslováquia) e Salvatore Schillaci (Itália).

Nenhum comentário:

Postar um comentário