A preparação da Seleção
Brasileira para a Copa do Mundo de 1990 começou no fim do ano anterior com uma
excursão à Europa, cujos resultados foram promissores.
A Holanda havia voltado a ser
treinada por Rinus Michels, homem responsável pela revolução tática imposta
pelos holandeses em 1974. O resultado não poderia ter sido mais promissor, sua
equipe foi campeã da Eurocopa de 1988, novamente jogando um futebol mágico e
empolgante. O time campeão: Van Breukelen; Van Aerle, Ronald Koeman, Vanenburg
e Van Tiggelen; Rijkaard, Wouters, Muhren e Ruud Gullitt; Erwin Koeman e Van
Basten. Jogavam um futebol envolvente, mas muito técnico. Ronald Koeman era um
tremendo zagueiro, dominava todo o sistema defensivo do time. Frank Rijkaard
era um meio-campista com características tanto defensivas quanto ofensivas.
Ruud Gullitt, com sua vasta cabeleira rastafári, também não tinha uma posição
tática claramente definida, recuava para armar o ataque com a mesma destreza
que se apresentava na área adversária como se fosse um centroavante. Por fim, o
mais genial deles, Marco Van Basten, um homem de área com um poder de conclusão
a gol impressionante e uma visão diferenciada de tudo que acontecia na
construção ofensiva de sua equipe.
Depois do título, Rinus Michels
saiu, foi substituído por Leo Beenhakker. Mesmo sem o mestre do futebol total,
a Holanda era considerada uma das grandes favoritas ao título da Copa do Mundo
de 1990. Na viagem à Europa, o Brasil enfrentaria os holandeses, jogando em
Roterdã, mas antes enfrentaria outra favorita ao título, a seleção que sediaria
o Mundial de 90, a Itália, num confronto em Bologna. A Seleção Brasileira
venceu os dois jogos, ambos por 1 x 0; sobre os italianos com um gol de falta
do zagueiro André Cruz, e sobre os holandeses com um gol de Careca.
Campeão da Copa América e
vitorioso nos amistosos contra duas favoritas ao título da Copa, o Brasil se
sentia no caminho certo. Nos seis meses anteriores à Copa, jogou pouco, foi
derrotado pela Inglaterra por 1 x 0 no Estádio de Wembley, em Londres, e
despediu-se do solo brasileiro com dois jogos, uma vitória por 2 x 1 sobre a
Bulgária, em Campinas, e um empate em 3 x 3 com a Alemanha Oriental no
Maracanã. Resultados nada promissores.
Para piorar, o Brasil perderia a
sua principal arma ofensiva daquele momento. No começo do ano, Romário fraturou
a perna num jogo do Campeonato Holandês, onde defendia o time do PSV. Recuperou-se
a tempo de ser convocado e jogar a Copa do Mundo, mas sem tempo hábil para
obter um perfeito condicionamento físico.
A lista final dos 22 convocados
por Sebastião Lazaroni:
Goleiros: Taffarel (Internacional), Acácio (Vasco) e Zé Carlos
(Flamengo)
Laterais: Jorginho (Bayer Leverkusen, Alemanha), Mazinho (Vasco) e
Branco (Porto, Portugal)
Zagueiros: Ricardo Rocha (São Paulo), Ricardo Gomes (Benfica,
Portugal), Aldair (Benfica, Portugal), Mauro Galvão (Botafogo) e Mozer
(Olimpique de Marselha, França)
Meias: Alemão (Napoli, Itália), Dunga (Fiorentina, Itália), Silas
(Sporting, Portugal), Valdo (Benfica, Portugal), Bismarck (Vasco) e Tita
(Vasco)
Atacantes: Muller (Torino, Itália), Careca (Napoli, Itália), Renato
Gaúcho (Flamengo), Bebeto (Vasco) e Romário (PSV Eindhoven, Holanda).
Era uma seleção já bastante cheia
de jogadores que atuavam na Europa e em campeonatos de cinco países diferentes.
Cinco atuavam em Portugal, quatro na Itália, um na Alemanha, um na Holanda e um
na França. Mais da metade, portanto.
A seleção embarcou. Fez dois
amistosos contra combinados locais, cujos resultados foram preocupantes. Venceu
um combinado de Madrid por 1 x 0, e perdeu pelo mesmo placar para um combinado
da Úmbria, na Itália. Muito preocupante!
A 14ª Copa do Mundo foi disputada
na Itália. A principal ausência foi a França, eliminada pela Escócia nas
Eliminatórias. Outra ausência foi o México, suspenso pela FIFA por ter
utilizado jogadores acima do limite de idade no Mundial Sub-20 de 1989.
O Grupo A tinha Itália,
Tchecoslováquia, Áustria e Estados Unidos. O Grupo B tinha Argentina, União
Soviética, Romênia e Camarões. O Grupo C era formado por Brasil, Suécia,
Escócia e Costa Rica. No Grupo D jogaram Alemanha, Iugoslávia, Colômbia e
Emirados Árabes. O Grupo E tinha Espanha, Uruguai, Bélgica e Coréia do Sul. E
no Grupo F estavam Inglaterra, Holanda, Eire e Egito. A única grande surpresa
aconteceu logo no jogo de estréia, com Camarões vencendo a Argentina por 1 x 0,
gol de Oman Biyik. Os camaroneses conseguiram terminar em primeiro no grupo, os
argentinos se recuperaram e também se classificaram. Aquele time de Camarões
fez história, tendo sido a primeira equipe africana a chegar às quartas de
final na história dos Mundiais. O time, treinado pelo russo Valeri Nepomniachi,
jogava com: N’Kono; Tataw, Kundé, Ndip e Ebwelle; Massing, Mbough, Kana Biyik e
Mfede; Makanaky (Roger Mila) e Omam Biyik. Nas quartas, por muito pouco não superou
a Inglaterra, de Paul Gascoigne e Gary Lineker.
Os titulares de Lazaroni na Copa:
Taffarel no gol, Jorginho e Branco nas laterais, Ricardo Rocha, Mauro Galvão e
Ricardo Gomes formando a linha de três zagueiros, Alemão, Dunga e Valdo no
meio, e Muller e Careca, a mesma dupla titular na Copa de 86, no ataque. O
Brasil iniciou sua campanha vencendo a Suécia. Careca marcou duas vezes, depois
os suecos diminuíram a dez minutos do fim: Brasil 2 x 1. No segundo jogo,
esperava-se um placar elástico diante da Costa Rica. O futebol truncado do time
de Lazaroni não conseguiu. Venceu apertado, por magro 1 x 0, gol de Muller.
Seria dele também o gol da magra vitória por 1 x 0 sobre a Escócia no último
jogo. Três jogos, três vitórias, e um futebol que tecnicamente não agradava a
ninguém.
Brasil vence Costa Rica
A campanha irregular dos
argentinos forçou um confronto Brasil x Argentina logo nas oitavas de final. A
camisa 10 de Diego Armando Maradona no caminho da Seleção Brasileira. O Brasil
dominou amplamente o jogo. Dunga, Careca e Alemão acertaram três bolas na trave
argentina. Mas a dez minutos do fim do segundo tempo, Maradona se livrou de
vários marcadores brasileiros e enfiou para Caniggia entrar sozinho para
driblar Taffarel e fazer o gol. Argentina 1 x 0. O Brasil terminava ali sua pior
campanha desde a Copa de 66.
Nos oito amistosos disputados
pela seleção entre outubro de 1989 e maio de 1990, houve três vitórias por 1 x
0, um empate em 0 x 0, e duas derrotas por 1 x 0. Era o resultado de um padrão
de jogo que abdicava de uma peça a mais na frente para aumentar um zagueiro e
fechar a defesa. O placar magro também seria a tônica do Brasil na Copa de 90,
já que quatro do três jogos brasileiros terminaram 1 x 0, dois a favor e um
contra. E não era exclusividade do time canarinho, pois não foi à toa que a
Copa do Mundo de 1990 registrou a maior quantidade de partidas terminando em 0
x 0 na história de todas as Copas. Nunca antes, e nunca depois, o jogo de
futebol esteve tão truncado.
Os argentinos foram avançando a
base de vitórias em disputas por pênaltis e chegaram à final contra a equipe
que vinha sendo apontada como dona do melhor futebol do torneio, a Alemanha. O
jogo foi duro e acirrado, acabou decidido numa cobrança de pênalti, convertida
pelo lateral-esquerdo Brehme. Alemanha 1 x 0 Argentina. Os alemães vingaram a
derrota na final de quatro anos antes e conquistaram sua terceira Copa do
Mundo.
O time da Alemanha campeão de
1990: Ilgner; Berthold, Augenthaler, Kohler e Brehme; Buchwald, Hassler e
Lottar Mattaus; Littbarski, Rudi Voller e Jurgen Klinsmann. O treinador era
Franz Beckenbauer.
A Seleção dos melhores daquele
Mundial eleita pela FIFA: Goycoechea (Argentina), Jules Onana (Camarões), Franco
Baresi (Itália) e Brehme (Alemanha), Lothar Mattaus (Alemanha), Roberto Donadoni
(Itália), Paul Gascoigne (Inglaterra) e Diego Maradona (Argentina), Roger Milla
(Camarões), Tomas Skuhravy (Tchecoslováquia) e Salvatore Schillaci (Itália).
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