domingo, 14 de setembro de 2014

Trilogia de Grandes Fiascos: Olimpíadas 2000

Depois de perder o título para o México em 1999, a Seleção Brasileira comandada por Vanderlei Luxemburgo fez poucos jogos com o time principal, perdeu para a Argentina por 2 x 0 em Buenos Aires, depois venceu os argentinos por 4 x 2 em Porto Alegre, em seguida empatou com a Holanda em Amsterdã (2 x 2) e com a Espanha em Vigo (0 x 0).

O foco mudou totalmente para a seleção sub 23, que jogaria o Pré-Olímpico em Londrina, no Paraná. Apesar de jovem, o Brasil tinha uma equipe rodada e muito experiente, que mais uma vez era dada como favorita para obter a tão sonhada medalha de ouro que o futebol brasileiro jamais havia conquistado.

O time olímpico: Fábio Costa (Vitória), Baiano (Vitória), Álvaro (São Paulo), Fábio Bilica (Venezia, Itália) e Fábio Aurélio (São Paulo), Marcos Paulo (Cruzeiro), Mozart (Coritiba), Fabiano (São Paulo) e Alex (Palmeiras), Ronaldinho Gaúcho (Grêmio) e Fábio Júnior (Roma, Itália).

A equipe fez seis amistosos preparatórios sem sofrer derrotas, venceu quatro (Austrália, Bolívia, e goleadas de 7 x 0 em Trinidad e Tobago e de 4 x 1 na Costa Rica), e empatou dois (Paraguai e Austrália).

Iniciou a campanha no Torneio Pré-Olímpico com um empate em 1 x 1 com o Chile, depois venceu o Equador por 2 x 0 e a Venezuela por 3 x 0. No último jogo da primeira fase, Brasil e Colômbia se enfrentavam numa situação em que ambos estavam praticamente classificados, só uma derrota por seis gols eliminaria os colombianos. O Chile, já se dando como eliminado já estava a caminho do aeroporto. Pois a Seleção Brasileira escreveu mais um belíssimo capítulo de sua história: o primeiro tempo terminou 5 x 0 para o Brasil, no segundo tempo, mais quatro gols: Brasil 9 x 0 Colômbia!

O Chile, que estava virtualmente eliminado, avançou à segunda fase, ficou com o vice-campeonato, classificando-se às Olimpíadas de Sidney, e voltou de lá com uma histórica medalha de bronze no peito.

Já o Brasil, na segunda fase, com brilho intenso das jovens promessas Alex e Ronaldinho Gaúcho, venceu à Argentina por 4 x 2 e ao Chile por 3 x 1, no último jogo obteve um empate em 2 x 2 com o Uruguai que lhe garantiu o título da competição.

Antes de pensar em Olimpíadas, porém, Vanderlei Luxemburgo tinha que pensar nas Eliminatórias para a Copa de 2002. Era a primeira vez que o Brasil jogava o torneio no novo formato, no qual as dez seleções se enfrentavam todas contra todas em turno e returno. Como campeão da Copa de 94, o Brasil não havia jogado a primeira edição das Eliminatórias neste formato. O time ainda teria que conviver com a ausência de sua principal estrela no futebol mundial, Ronaldo havia rompido os ligamentos do joelho e estava fora de combate.

O time fez um amistoso preparatório, no qual goleou a Tailândia por 7 x 0. A Seleção Brasileira fez sua estréia nas Eliminatórias em março de 2000 empatando em 0 x 0 com a Colômbia em Bogotá. Depois venceu ao Equador por 3 x 2 no Morumbi, em São Paulo. Na seqüência, venceu ao Peru por 1 x 0 em Lima e empatou em 1 x 1 com o Uruguai no Maracanã. A equipe sofreu então sua primeira derrota, por 2 x 1 para o Paraguai, em Assunção.

A derrota para os paraguaios teve uma enorme repercussão sobre a mídia esportiva e a opinião pública, afinal em 43 jogos pelas Eliminatórias entre 1954 e 2000, aquela era tão só a segunda derrota brasileira, a única até então havia sido para a Bolívia, em 1993, na altitude de 3.500 metros de La Paz. Era o nono confronto contra os paraguaios valendo por Eliminatórias, e nos oito anteriores haviam sido seis vitórias e dois empates.

Aumentava a tensão ainda mais porque o jogo seguinte era contra a Argentina, no primeiro confronto da história entre os dois principais rivais do continente válido por uma fase Eliminatória para a Copa do Mundo. O jogo era mais uma vez no Morumbi, em São Paulo. O Brasil venceu por 3 x 1, numa noite inspirada do cabeça de área Vampeta, que marcou dois gols.

A vitória diminuiu um pouco da pressão, mas não demorou muito para tudo ferver de novo. Na sétima rodada o Brasil foi a Santiago, no Chile, para enfrentar a seleção local, pela qual jogava uma dupla de ataque que brilhava na Europa: Marcelo Salas e Ivan “Bambam” Zamorano. A Seleção Brasileira sofreu uma derrota implacável por 3 x 0. Foi a terceira pior derrota sofrida para os chilenos na história, superada apenas pelos 4 x 1 sofridos no Sul-Americano de 1956 e pelos 4 x 0 sofridos na Copa América de 1987.

Na rodada seguinte o time de Vanderlei Luxemburgo se recuperou, aplicando uma goleada de 5 x 0 sobre a Bolívia no Maracanã, no Rio de Janeiro. A equipe vinha fazendo uma campanha que parecia ser suficiente para conseguir a classificação para o Mundial. Entretanto, as duas derrotas e a lembrança do sufoco passado em 1993, quando só uma vitória sobre os uruguaios no Maracanã salvava o Brasil, eram um fantasma para imprensa e opinião pública, que pressionavam muito por resultados melhores.

Sem poder ter Ronaldo como seu camisa 9, os titulares do treinador nas Eliminatórias, num resumo daqueles que mais vezes entraram em campo iniciando as partidas, foram: Dida (Corinthians), Cafu (Roma, Itália), Antônio Carlos Zago (Roma, Itália), Aldair (Roma, Itália) e Roberto Carlos (Real Madrid, Espanha), Emerson (Bayer Leverkusen, Alemanha), Vampeta (Corinthians), Zé Roberto (Bayer Leverkusen, Alemanha) e Rivaldo (Barcelona, Espanha), Ronaldinho Gaúcho (Grêmio) e França (São Paulo). Era o time titular de 1999 com um ataque mudado; metade pela ascensão de Ronaldinho como novo craque, e metade pela lesão de seu xará Ronaldo Fenômeno.

Vanderlei Luxemburgo poderia ter levado três jogadores acima de 23 anos para jogar as Olimpíadas, mas ele escolheu manter o time que havia conseguido a classificação no Pré-Olímpico. Oficialmente, o discurso da CBF era de que a baliza de avaliação de seu trabalho era a campanha nas Eliminatórias, e que o desempenho olímpico não afetaria em nada. Vanderlei resolveu arriscar.

O time olímpico que jogou em Sidney teve ligeiras mudanças frente ao do Pré-Olímpico, os titulares na Olimpíada: Hélton (Vasco), Baiano (Las Palmas, Espanha), Álvaro (São Paulo), Fábio Bilica (Venezia, Itália) e Fábio Aurélio (São Paulo), Marcos Paulo (Cruzeiro), Fabiano (São Paulo), Edu Schmidt (São Paulo) e Alex (Parma, Itália), Ronaldinho Gaúcho (Grêmio) e Geovanni (Cruzeiro).

O time venceu na estréia, 3 x 1 sobre a Eslováquia, de virada, depois de sair atrás no placar. Na segunda rodada, as limitações defensivas ficaram explícitas numa derrota por 3 x 1 para a África do Sul, que obrigava o time a vencer na última rodada para avançar. Num jogo duríssimo frente ao Japão, o Brasil venceu por 1 x 0. O sonho da medalha sobreviveu. Restava superar a Camarões nas quartas de final, e a seleção Brasileira já havia vivido um trauma africano em 1996, na sua última participação olímpica, com a derrota de virada para a Nigéria na semi-final.

Os camaroneses saíram na frente com um gol de falta de Mboma logo no início do jogo. No segundo tempo, Geremi foi expulso, mas mesmo com um jogador a mais o Brasil tinha dificuldades para empatar. Conseguiu aos 48 minutos do segundo tempo, em cobrança de falta magistral de Ronaldinho Gaúcho. Levando a partida para a prorrogação, com a vantagem emocional da obtenção do empate no último instante, e a vantagem física de ter um jogador a mais, a classificação às semi-finais parecia bem encaminhada. Ainda mais depois que Nguimbat foi expulso e a Seleção Brasileira passou a ter dois jogadores a mais em campo. Mas foi MBami quem balançou as redes, causando a eliminação do Brasil.


Vanderlei Luxemburgo não sobreviveu no cargo às conseqüências da derrota tão ultrajante, foi demitido.


A Seleção Brasileira jogou a partida seguinte pelas Eliminatórias com um treinador interino, Candinho. E venceu de goleada, 6 x 0 sobre a Venezuela, em Maracaíbo, na última partida do turno.

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