sábado, 12 de julho de 2014

Joga bonito e não ganha troféu

O sentimento do “título moral” não colocou estrela no peito nem trouxe troféu para o país, mas serviu para manter Cláudio Coutinho no posto de treinador para a temporada de 1979, cujo único objetivo no ano era a segunda edição da Copa América, que mantinha os mesmos moldes de disputa de quatro anos antes, em 1975.

Desta vez, o Brasil foi com seu time principal. A Seleção Brasileira de Coutinho começou o ano arrasadora e encheu todos de esperança da conquista da Copa América. Três amistosos entre maio e junho e três goleadas. No Maracanã, o Brasil arrasou ao Paraguai por 6 x 0 e ao Uruguai por 5 x 1. A seguir, no Morumbi, goleou ao Ajax, da Holanda, por 5 x 0. Três jogos e 16 gols, cinco de Zico, quatro de Sócrates e três de Nilton Batata, meia do Santos.

Em junho, o Brasil foi para a Copa América. No seu grupo estavam Argentina e Bolívia. Na primeira rodada, a altitude de 3.650 metros acima do nível do mar em La Paz, capital boliviana, fez a diferença. Os bolivianos venceram Argentina e Brasil, ambos por 2 x 1; foram seus únicos pontos no torneio. Na seqüência, a Seleção Brasileira venceu à Argentina por 2 x 1 no Maracanã e à Bolívia por 2 x 0 no Morumbi. Foi para a rodada final, em Buenos Aires, jogando por um empate para se classificar. Sócrates abriu o marcador logo no primeiro minuto. Passarela empatou ainda no primeiro tempo. Na segunda etapa, Sócrates voltou a marcar. No fim, Ramon Diaz voltou a empatar. 2 x 2. Brasil nas semi-finais e Argentina eliminada.

Na semi-final, o Brasil tinha pela frente o Paraguai, a quem goleara um mês e meio antes com seis no Maracanã. A seleção perdeu em Assunção por 2 x 1, resultado que parecia reversível no Rio de Janeiro. Falcão fez 1 x 0, mas Milcíades Morel empatou. Sócrates fez 2 x 1, mas Romerito voltou a empatar. Sem sair do 2 x 2, o Brasil acabou eliminado. Os paraguaios foram para a final contra o Chile, que eliminou o Peru na outra semi. O Paraguai venceu por 3 x 0 em Assunção, perdeu por 1 x 0 em Santiago e, com a vantagem do jogo desempate em Buenos Aires, campo neutro, foi o campeão. A grande estrela paraguaia era Julio César Romero, o Romerito, jogador que marcou uma época, posteriormente, vestindo a camisa do Fluminense.

A Seleção Brasileira jogou um futebol empolgante em 1979, mas, na hora de decidir, não conseguiu o troféu. Já seria este o prenúncio da triste sina desta geração? Os titulares de Coutinho naquela campanha: Leão (Vasco), Toninho Baiano (Flamengo), Amaral (Corinthians), Edinho (Fluminense) e Júnior (Flamengo), Batista (Internacional), Falcão (Internacional), Sócrates (Corinthians) e Zico (Flamengo), Palhinha (Corinthians) e Zé Sérgio (São Paulo).

O fiasco custou o cargo a Cláudio Coutinho, que dois anos depois viria a falecer prematuramente fazendo mergulho por apneia para pesca submarina. O substituo para assumir a seleção em 1980 foi o então treinador do Palmeiras, Telê Santana. O ex-ponta-esquerda do Fluminense, onde também iniciou a carreira de técnico, tinha tido sua passagem mais marcante a frente do Atlético Mineiro, de quem foi treinador entre 1970 e 1976, e por quem ganhou o Campeonato Brasileiro de 1971.

No primeiro ano de Telê a frente do time, em 1980, a Seleção Brasileira só jogou amistosos, foram nove jogos no Brasil e um no Paraguai. Em terras brasileiras, além dos tradicionais jogos no Maracanã, a camisa canarinho se apresentou em Taguatinga (cidade-satélite de Brasília), Belo Horizonte, Cuiabá, Fortaleza, Goiânia e São Paulo. Nestes 10 jogos, venceu oito, empatou um e perdeu um. A única derrota foi para a União Soviética, por 2 x 1, no Maracanã.

Telê Santana usou 35 jogadores nestes dez jogos. A base dos onze que mais vezes entraram em campo nesta série de jogos era formada por: Raul (Flamengo), Nelinho (Cruzeiro), Amaral (Corinthians), Luizinho (Atlético Mineiro) e Júnior (Flamengo), Batista (Internacional), Toninho Cerezo (Atlético Mineiro), Sócrates (Corinthians) e Zico (Flamengo), Serginho (São Paulo) e Zé Sérgio (São Paulo). Não havia nenhuma mudança radical em relação à base que vinha sendo utilizada por Coutinho. E o eixo central do time já tinha a cara da equipe que jogaria a Copa de 82. Entre os que também foram muito testados: no gol, Carlos, da Ponte Preta, na zaga, Oscar, do São Paulo, Edinho, do Fluminense, e Rondinelli, do Flamengo; no meio, Andrade, do Flamengo, Falcão, do Internacional, e Paulo Isidoro, do Grêmio; e no ataque, Tarciso, do Grêmio, e Reinaldo e Éder, ambos do Atlético Mineiro. Muitos outros também tiveram chance, trinta e cinco entraram em campo com a camisa da seleção naquele ano.


Na temporada de 1981, o primeiro compromisso foi o Mundialito, jogado no Uruguai. O torneio reunia seis seleções, três da Europa e três da América do Sul. No Grupo A estavam Uruguai, Itália e Holanda. No Grupo B estavam Brasil, Argentina e Alemanha. A Seleção Brasileira empatou em 1 x 1 com a Argentina, de Maradona, e goleou a Alemanha por 4 x 1. Cheios de esperança com o excelente futebol apresentado diante dos alemães, os brasileiros avançaram para fazer a final contra os uruguaios e, quem sabe, em plena Montevidéu, vingar a derrota no Maracanã na Copa de 50.


O primeiro tempo terminou sem gols, tudo se decidiria nos 45 minutos finais. Logo aos cinco, Jorge Barrios abriu o placar para os uruguaios. Doze minutos depois Sócrates empatou. Conseguiria o Brasil vingar o “Maracanazo” com uma virada similar? Quem seria o Gigghia canarinho? O time que voltava a jogar bonito como aquelas gerações de 1958 a 1970, tinha a chance de reerguer o carisma do futebol nacional? Faltando cinco minutos para o apito final, no entanto, foi Victorino quem decretou o gol do título. O Uruguai sagrava-se campeão do Mundialito.

Final do Mundialito de 1981

O segundo desafio do ano era as Eliminatórias. A missão brasileira não parecia complicada. Com a Argentina, campeã do mundo, já classificada, nove seleções se dividiram em três grupos, com o campeão de cada grupo classificando-se para o Mundial. O grupo brasileiro tinha Bolívia e Venezuela. O único desafio era jogar em La Paz, na altitude. O Brasil venceu seus quatro jogos e se classificou fácil para a Copa. Venceu aos venezuelanos por 1 x 0 em Caracas; preparou-se para jogar na altitude fazendo um amistoso em que goleou o Equador por 6 x 0 em Quito, e depois venceu a Bolívia por 2 x 1 em La Paz. Na volta, fez 3 x 1 na Bolívia e goleou a Venezuela por 5 x 0. Passaporte carimbado.

Os outros sul-americanos classificados, além de Brasil e Argentina, foram Chile e Peru, este último eliminou o Uruguai, que ficou fora da Copa de 82. Nas Eliminatórias dos outros continentes também houve surpresas. Na Europa, a Holanda, duas vezes finalista nos anos 70, foi eliminada pela Bélgica. Na América Central, mesmo com duas vagas, o México acabou eliminado, com Honduras e El Salvador classificando-se para o Mundial na Espanha.

Em 1981 e 1982, o Brasil seguiu a tradição iniciada em 1980 de levar a Seleção Brasileira para jogar pelo país. A camisa canarinho entrou em campo para jogar em Goiânia, Ribeirão Preto, Porto Alegre, Salvador, Maceió, Natal, São Luís, Uberlândia e Recife. Na seqüência de jogos preparatórios para Copa do Mundo de 82, o Brasil fez uma excursão à Europa na qual venceu a Inglaterra, França e Alemanha. O futebol jogado pelos brasileiros encantou a imprensa européia, que passou a apontar o Brasil como um dos principais favoritos ao título. No Estádio de Wembley, em Londres, com um gol de Zico, vitória sobre a Inglaterra por 1 x 0. Depois fez 3 x 1 na França em Paris, e 2 x 1 na Alemanha em Stuttgart.

Na seqüência, jogando no Brasil, venceu a Espanha, Bulgária e Alemanha Oriental, goleou o Eire por 6 x 0. Empatou com Chile, Tchecoslováquia e Suíça. Mas venceu novamente a Alemanha, desta vez por 1 x 0 no Maracanã, gol de Júnior. Ainda venceu a Portugal, e no último jogo antes da Copa goleou novamente ao Eire, desta vez por 7 x 0. Foram no total 13 amistosos, com 10 vitórias e 3 empates. A Seleção Brasileira estava preparadíssima para embarcar para a Espanha. Estava jogando bonito desde 1979, ainda que houvesse falhado na hora de conquistar o título, como deixou escapar na Copa América de 1979 e no Mundialito de 1981.

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