O sentimento do “título moral”
não colocou estrela no peito nem trouxe troféu para o país, mas serviu para
manter Cláudio Coutinho no posto de treinador para a temporada de 1979, cujo
único objetivo no ano era a segunda edição da Copa América, que mantinha os
mesmos moldes de disputa de quatro anos antes, em 1975.
Desta vez, o Brasil foi com seu
time principal. A Seleção Brasileira de Coutinho começou o ano arrasadora e
encheu todos de esperança da conquista da Copa América. Três amistosos entre
maio e junho e três goleadas. No Maracanã, o Brasil arrasou ao Paraguai por 6 x
0 e ao Uruguai por 5 x 1. A seguir, no Morumbi, goleou ao Ajax, da Holanda, por
5 x 0. Três jogos e 16 gols, cinco de Zico, quatro de Sócrates e três de Nilton
Batata, meia do Santos.
Em junho, o Brasil foi para a
Copa América. No seu grupo estavam Argentina e Bolívia. Na primeira rodada, a
altitude de 3.650 metros acima do nível do mar em La Paz, capital boliviana,
fez a diferença. Os bolivianos venceram Argentina e Brasil, ambos por 2 x
1; foram seus únicos pontos no torneio. Na seqüência, a Seleção Brasileira
venceu à Argentina por 2 x 1 no Maracanã e à Bolívia por 2 x 0 no Morumbi. Foi
para a rodada final, em Buenos Aires, jogando por um empate para se
classificar. Sócrates abriu o marcador logo no primeiro minuto. Passarela
empatou ainda no primeiro tempo. Na segunda etapa, Sócrates voltou a marcar. No
fim, Ramon Diaz voltou a empatar. 2 x 2. Brasil nas semi-finais e Argentina
eliminada.
Na semi-final, o Brasil tinha
pela frente o Paraguai, a quem goleara um mês e meio antes com seis no
Maracanã. A seleção perdeu em Assunção por 2 x 1, resultado que parecia
reversível no Rio de Janeiro. Falcão fez 1 x 0, mas Milcíades Morel empatou.
Sócrates fez 2 x 1, mas Romerito voltou a empatar. Sem sair do 2 x 2, o Brasil
acabou eliminado. Os paraguaios foram para a final contra o Chile, que eliminou
o Peru na outra semi. O Paraguai venceu por 3 x 0 em Assunção, perdeu por 1 x 0
em Santiago e, com a vantagem do jogo desempate em Buenos Aires, campo neutro,
foi o campeão. A grande estrela paraguaia era Julio César Romero, o Romerito,
jogador que marcou uma época, posteriormente, vestindo a camisa do Fluminense.
A Seleção Brasileira jogou um
futebol empolgante em 1979, mas, na hora de decidir, não conseguiu o troféu. Já
seria este o prenúncio da triste sina desta geração? Os titulares de Coutinho
naquela campanha: Leão (Vasco), Toninho Baiano (Flamengo), Amaral
(Corinthians), Edinho (Fluminense) e Júnior (Flamengo), Batista (Internacional),
Falcão (Internacional), Sócrates (Corinthians) e Zico (Flamengo), Palhinha
(Corinthians) e Zé Sérgio (São Paulo).
O fiasco custou o cargo a Cláudio
Coutinho, que dois anos depois viria a falecer prematuramente fazendo mergulho
por apneia para pesca submarina. O substituo para assumir a seleção em 1980 foi o
então treinador do Palmeiras, Telê Santana. O ex-ponta-esquerda do Fluminense,
onde também iniciou a carreira de técnico, tinha tido sua passagem mais marcante a
frente do Atlético Mineiro, de quem foi treinador entre 1970 e 1976, e por quem
ganhou o Campeonato Brasileiro de 1971.
No primeiro ano de Telê a frente
do time, em 1980, a Seleção Brasileira só jogou amistosos, foram nove jogos no
Brasil e um no Paraguai. Em terras brasileiras, além dos tradicionais jogos no
Maracanã, a camisa canarinho se apresentou em Taguatinga (cidade-satélite de
Brasília), Belo Horizonte, Cuiabá, Fortaleza, Goiânia e São Paulo. Nestes 10
jogos, venceu oito, empatou um e perdeu um. A única derrota foi para a União
Soviética, por 2 x 1, no Maracanã.
Telê Santana usou 35 jogadores
nestes dez jogos. A base dos onze que mais vezes entraram em campo nesta série
de jogos era formada por: Raul (Flamengo), Nelinho (Cruzeiro), Amaral
(Corinthians), Luizinho (Atlético Mineiro) e Júnior (Flamengo), Batista
(Internacional), Toninho Cerezo (Atlético Mineiro), Sócrates (Corinthians) e
Zico (Flamengo), Serginho (São Paulo) e Zé Sérgio (São Paulo). Não havia
nenhuma mudança radical em relação à base que vinha sendo utilizada por
Coutinho. E o eixo central do time já tinha a cara da equipe que jogaria a Copa
de 82. Entre os que também foram muito testados: no gol, Carlos, da Ponte
Preta, na zaga, Oscar, do São Paulo, Edinho, do Fluminense, e Rondinelli, do
Flamengo; no meio, Andrade, do Flamengo, Falcão, do Internacional, e Paulo
Isidoro, do Grêmio; e no ataque, Tarciso, do Grêmio, e Reinaldo e Éder, ambos do
Atlético Mineiro. Muitos outros também tiveram chance, trinta e cinco
entraram em campo com a camisa da seleção naquele ano.
Na temporada de 1981, o primeiro
compromisso foi o Mundialito, jogado no Uruguai. O torneio reunia seis seleções,
três da Europa e três da América do Sul. No Grupo A estavam Uruguai, Itália e
Holanda. No Grupo B estavam Brasil, Argentina e Alemanha. A Seleção Brasileira
empatou em 1 x 1 com a Argentina, de Maradona, e goleou a Alemanha por 4 x 1.
Cheios de esperança com o excelente futebol apresentado diante dos alemães, os
brasileiros avançaram para fazer a final contra os uruguaios e, quem sabe, em
plena Montevidéu, vingar a derrota no Maracanã na Copa de 50.
O primeiro tempo terminou sem
gols, tudo se decidiria nos 45 minutos finais. Logo aos cinco, Jorge Barrios
abriu o placar para os uruguaios. Doze minutos depois Sócrates empatou.
Conseguiria o Brasil vingar o “Maracanazo” com uma virada similar? Quem seria o
Gigghia canarinho? O time que voltava a jogar bonito como aquelas gerações de
1958 a 1970, tinha a chance de reerguer o carisma do futebol nacional? Faltando
cinco minutos para o apito final, no entanto, foi Victorino quem decretou o gol
do título. O Uruguai sagrava-se campeão do Mundialito.
O segundo desafio do ano era as
Eliminatórias. A missão brasileira não parecia complicada. Com a Argentina,
campeã do mundo, já classificada, nove seleções se dividiram em três grupos,
com o campeão de cada grupo classificando-se para o Mundial. O grupo brasileiro
tinha Bolívia e Venezuela. O único desafio era jogar em La Paz, na altitude. O
Brasil venceu seus quatro jogos e se classificou fácil para a Copa. Venceu aos
venezuelanos por 1 x 0 em Caracas; preparou-se para jogar na altitude fazendo
um amistoso em que goleou o Equador por 6 x 0 em Quito, e depois venceu a
Bolívia por 2 x 1 em La Paz. Na volta, fez 3 x 1 na Bolívia e goleou a
Venezuela por 5 x 0. Passaporte carimbado.
Os outros sul-americanos
classificados, além de Brasil e Argentina, foram Chile e Peru, este último eliminou o Uruguai, que ficou fora da Copa de 82. Nas Eliminatórias dos
outros continentes também houve surpresas. Na Europa, a Holanda, duas vezes
finalista nos anos 70, foi eliminada pela Bélgica. Na América Central, mesmo
com duas vagas, o México acabou eliminado, com Honduras e El Salvador
classificando-se para o Mundial na Espanha.
Em 1981 e 1982, o Brasil seguiu a
tradição iniciada em 1980 de levar a Seleção Brasileira para jogar pelo país. A
camisa canarinho entrou em campo para jogar em Goiânia, Ribeirão Preto, Porto
Alegre, Salvador, Maceió, Natal, São Luís, Uberlândia e Recife. Na seqüência de
jogos preparatórios para Copa do Mundo de 82, o Brasil fez uma excursão à
Europa na qual venceu a Inglaterra, França e Alemanha. O futebol jogado pelos
brasileiros encantou a imprensa européia, que passou a apontar o Brasil como um
dos principais favoritos ao título. No Estádio de Wembley, em Londres, com um
gol de Zico, vitória sobre a Inglaterra por 1 x 0. Depois fez 3 x 1 na França em
Paris, e 2 x 1 na Alemanha em Stuttgart.
Na seqüência, jogando no Brasil, venceu a Espanha,
Bulgária e Alemanha Oriental, goleou o Eire por 6 x 0. Empatou com Chile,
Tchecoslováquia e Suíça. Mas venceu novamente a Alemanha, desta vez por 1 x 0
no Maracanã, gol de Júnior. Ainda venceu a Portugal, e no último jogo antes da
Copa goleou novamente ao Eire, desta vez por 7 x 0. Foram no total 13
amistosos, com 10 vitórias e 3 empates. A Seleção Brasileira estava
preparadíssima para embarcar para a Espanha. Estava jogando bonito desde 1979,
ainda que houvesse falhado na hora de conquistar o título, como deixou escapar
na Copa América de 1979 e no Mundialito de 1981.
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