quarta-feira, 23 de julho de 2014

A tragédia do Sarriá - parte 2

A Seleção Brasileira foi arrasadora na primeira fase daquele Mundial, jogou um futebol de espetáculo, altamente ofensivo, com muita movimentação e qualidade no toque de bola, e esbanjando muita técnica. Mas a estréia foi uma pedreira. O Brasil enfrentava a URSS, do goleiro Dasaev. E o Brasil começou perdendo, gol de Andriy Bal aos 33 do primeiro tempo. O Brasil jogava bem, porém enfrentava um adversário muito duro, bem postado em campo. O empate veio só aos 30 minutos da segunda etapa, gol de Sócrates. Ainda assim, foi sufoco até o final. Só aos 43 minutos do segundo tempo que um petardo do ponta-esquerda Éder superou Dasaev e decretou a vitória canarinho. Foi um 2 x 1 extremamente sofrido.

Mas o restante da primeira fase foi um passeio verde e amarelo. No segundo jogo, o Brasil novamente saiu atrás no marcador, mas Zico, com um golaço, empatou ainda no primeiro tempo. Na volta do vestiário, o zagueiro Oscar desempatou e abriu a porteira, com gols de Éder e Falcão a Seleção Brasileira impôs uma goleada de 4 x 1 sobre a sempre difícil e retrancada seleção da Escócia. Mesmo classificado, o time não tirou o pé do acelerador na última rodada e voltou a golear, desta vez a frágil Nova Zelândia, com 4 x 0 no placar, dois gols de Zico, com Falcão e Serginho Chulapa fechando a chuva de gols.

Prontamente a imprensa mundial apontou o Brasil como o time de melhor futebol da primeira fase e principal candidato ao título. Restava superar o dificílimo grupo que tinha pela frente na segunda fase, duelos contra Argentina e Itália para garantir presença na semi-final.

Os duelos seriam em Barcelona, no Estádio Sarriá. Na primeira rodada, os italianos venceram aos argentinos por 2 x 1, gols de Tardelli e Cabrini, com Passarela descontando para o time de Maradona. A Argentina não podia nem empatar com o Brasil na segunda rodada ou decretaria sua eliminação. E o time de Fillol, Daniel Passarela, Osvaldo Ardiles, Diego Armando Maradona e Mário Kempes tomou uma varada do Brasil, em atuação de gala de Zico, Júnior, Sócrates e Falcão. A vitória brasileira começou a ser desenhada logo aos 12 minutos do primeiro tempo, gol de Zico. E com 1 x 0, mas jogando bem melhor do que os argentinos, os brasileiros foram para o intervalo. Na segunda etapa, Serginho ampliou aos 22 minutos e Júnior fechou o caixão aos 27. Descontrolados, os argentinos, como sempre, apelaram, e Maradona acabou expulso de campo. No fim, Ramon Diaz fez o gol de honra e pôs números finais no marcador. Brasil 3 x 1 Argentina.

Cerezo, Falcão, Zico e Sócrates - um dos maiores senão o maior meio-campo da história

Depois de eliminar a Argentina no primeiro duelo entre as duas seleções numa Copa do Mundo, em 1974, e ver o adversário campeão em 1978, mas sem vencer o Brasil, num jogo sem gols que custou caríssimo, o Brasil voltava a mandar a Argentina de volta para casa em 1982. Em 1986 os destinos dos históricos adversários não se cruzariam, mas os brasileiros teriam que amargar novamente um título da Argentina. E na Copa seguinte, em 1990, o Brasil acabou eliminado pelo seu maior rival. Entre 1974 e 1990, em cinco Mundiais foram quatro confrontos diretos, com cada um levando a melhor duas vezes.

Empolgadíssimo com a vitória sobre os argentinos, o Brasil entrou em campo contra a Itália com a vantagem de jogar por um empate, já que tinha conseguido uma vitória mais ampla sobre os argentinos do que os italianos. O nível de confiança estava muito alto. Desde 1970 não se via a camisa canarinho jogando um futebol de tanta qualidade como aquele. Do outro lado a defensiva Itália, que empatara três de seus quatro jogos até ali. E bastava um empate para a Seleção Brasileira!

Logo aos cinco minutos de jogo o centroavante italiano Paolo Rossi balançou as redes de Valdir Peres. Mas sete minutos depois Sócrates empatou. Tudo parecia estar sob o mais absoluto controle. O jogo era tenso, nervoso, mas a confiança de que a habilidade e técnica brasileiras se sobressairiam era enorme. Mas não tardou muito para as coisas mudarem. Aos vinte e cinco minutos, Rossi colocou a Azzurra novamente à frente no marcador, vantagem conservada até a ida das duas equipes para o vestiário no intervalo de jogo. Tensão total em todo o país. O segundo tempo seria de nervos à flor da pele.

O Brasil voltou do vestiário pressionando o time italiano. Levou vinte e três minutos até Falcão voltar a empatar a partida e recolocar a classificação à semi-final nas mãos da Seleção Brasileira. Uma sensação misturando alívio e apreensão, todos os brasileiros estavam agarrados ao monitor de televisão, mal piscavam.

O time italiano não permitia qualquer vacilo. O time brasileiro tocava a bola e buscava o gol de desempate, nada de se retrancar, Telê Santana mandava o time em busca da vitória. Leandro e Júnior mantinham os avanços constantes pelas laterais do campo. Falcão, Sócrates e Zico buscavam triangulações. O jogo era aberto, e um gol estava prestes a se materializar para qualquer um dos lados.

Foi então, quando o relógio marcava trinta minutos do segundo tempo, sete minutos apenas após o gol de Falcão, que Toninho Cerezo errou o passe numa saída de bola, o time italiano aproveitou e partiu com tudo para cima da defesa brasileira que, acuada, deu o espaço para Paolo Rossi, e ele não perdoou, o camisa 20 da Itália fez seu terceiro gol no jogo, o gol que seria fatal às pretensões brasileiras, acabando com o sonho daquele futebol magicamente bem jogado. Itália 3 x 2 Brasil. Ninguém acreditava no que havia acontecido no estádio Sarriá. A derrota para a Itália encerrou uma série de 24 jogos de invencibilidade da Seleção Brasileira.

Ficha Técnica
BRASIL 2 x 3 ITÁLIA
Gols: Paolo Rossi (5'1T), Sócrates (12'1T), Paolo Rossi (25'1T), Falcão (23'2T) e Paolo Rossi (30'2T)

BRASIL: Valdir Peres; Leandro, Oscar, Luisinho e Júnior; Toninho Cerezo, Falcão, Sócrates e Zico; Serginho (Paulo Isidoro) e Éder.

ITÁLIA: Dino Zoff; Claudio Gentile, Gaetano Scirea, Fulvio Colovatti (Giuseppe Bergomi) e Antonio Cabrini; Marco Tardelli (Giampiero Marini), Gabriele Oriali, Giancarlo Antognoni e Francesco Graziani; Bruno Conti e Paolo Rossi.


Na semi-final, a Itália venceu a Polônia por 2 x 0, e avançou para fazer a final contra a Alemanha, de Breitner, Briegel e Rummenigge, que batera na outra semi a França, de Giresse, Tiganá, Platini e Rocheteau, na primeira decisão por pênaltis da história das Copas do Mundo. Depois de um jogaço no qual alemães e franceses empataram em três a três, foi a Alemanha quem venceu nas penalidades por 5 x 4, com Bossis perdendo a cobrança para os franceses.

Na final, a Itália venceu por 3 x 1, com gols de Paolo Rossi, Tardelli e Altobelli. O Brasil já não era mais o único tri-campeão das Copas. A Itália, campeã de 1934 e 1938, alcançava sua terceira conquista. O time campeão: Dino Zoff, Bergomi, Gentile, Collovati e Scirea; Cabrini, Oriali e Marco Tardelli; Bruno Conti, Paolo Rossi e Graziani, treinados por Enzo Bearzot.

A seleção da Copa eleita pela FIFA: Zoff (Itália), Collovati (Itália), Gentile (Itália), Luizinho (Brasil) e Júnior (Brasil), Falcão (Brasil), Boniek (Polônia), Michel Platini (França) e Zico (Brasil), Paolo Rossi (Itália) e Rummenigge (Alemanha).

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