A Seleção Brasileira foi
arrasadora na primeira fase daquele Mundial, jogou um futebol de espetáculo,
altamente ofensivo, com muita movimentação e qualidade no toque de bola, e
esbanjando muita técnica. Mas a estréia foi uma pedreira. O Brasil enfrentava a
URSS, do goleiro Dasaev. E o Brasil começou perdendo, gol de Andriy Bal aos 33
do primeiro tempo. O Brasil jogava bem, porém enfrentava um adversário muito
duro, bem postado em campo. O empate veio só aos 30 minutos da segunda etapa,
gol de Sócrates. Ainda assim, foi sufoco até o final. Só aos 43 minutos do
segundo tempo que um petardo do ponta-esquerda Éder superou Dasaev e decretou a
vitória canarinho. Foi um 2 x 1 extremamente sofrido.
Mas o restante da primeira fase
foi um passeio verde e amarelo. No segundo jogo, o Brasil novamente saiu atrás
no marcador, mas Zico, com um golaço, empatou ainda no primeiro tempo. Na volta
do vestiário, o zagueiro Oscar desempatou e abriu a porteira, com gols de Éder
e Falcão a Seleção Brasileira impôs uma goleada de 4 x 1 sobre a sempre difícil
e retrancada seleção da Escócia. Mesmo classificado, o time não tirou o pé do
acelerador na última rodada e voltou a golear, desta vez a frágil Nova
Zelândia, com 4 x 0 no placar, dois gols de Zico, com Falcão e Serginho Chulapa
fechando a chuva de gols.
Prontamente a imprensa mundial
apontou o Brasil como o time de melhor futebol da primeira fase e principal
candidato ao título. Restava superar o dificílimo grupo que tinha pela frente
na segunda fase, duelos contra Argentina e Itália para garantir presença na
semi-final.
Os duelos seriam em Barcelona, no
Estádio Sarriá. Na primeira rodada, os italianos venceram aos argentinos por 2 x
1, gols de Tardelli e Cabrini, com Passarela descontando para o time de
Maradona. A Argentina não podia nem empatar com o Brasil na segunda rodada ou
decretaria sua eliminação. E o time de Fillol, Daniel Passarela, Osvaldo
Ardiles, Diego Armando Maradona e Mário Kempes tomou uma varada do Brasil, em
atuação de gala de Zico, Júnior, Sócrates e Falcão. A vitória brasileira
começou a ser desenhada logo aos 12 minutos do primeiro tempo, gol de Zico. E
com 1 x 0, mas jogando bem melhor do que os argentinos, os brasileiros foram
para o intervalo. Na segunda etapa, Serginho ampliou aos 22 minutos e Júnior
fechou o caixão aos 27. Descontrolados, os argentinos, como sempre, apelaram, e
Maradona acabou expulso de campo. No fim, Ramon Diaz fez o gol de honra e pôs
números finais no marcador. Brasil 3 x 1 Argentina.
Depois de eliminar a Argentina no
primeiro duelo entre as duas seleções numa Copa do Mundo, em 1974, e ver o
adversário campeão em 1978, mas sem vencer o Brasil, num jogo sem gols que
custou caríssimo, o Brasil voltava a mandar a Argentina de volta para casa em
1982. Em 1986 os destinos dos históricos adversários não se cruzariam, mas os brasileiros
teriam que amargar novamente um título da Argentina. E na Copa seguinte, em
1990, o Brasil acabou eliminado pelo seu maior rival. Entre 1974 e 1990, em
cinco Mundiais foram quatro confrontos diretos, com cada um levando a melhor duas
vezes.
Empolgadíssimo com a vitória
sobre os argentinos, o Brasil entrou em campo contra a Itália com a vantagem de
jogar por um empate, já que tinha conseguido uma vitória mais ampla sobre os
argentinos do que os italianos. O nível de confiança estava muito alto. Desde
1970 não se via a camisa canarinho jogando um futebol de tanta qualidade como
aquele. Do outro lado a defensiva Itália, que empatara três de seus quatro
jogos até ali. E bastava um empate para a Seleção Brasileira!
Logo aos cinco minutos de jogo o
centroavante italiano Paolo Rossi balançou as redes de Valdir Peres. Mas sete
minutos depois Sócrates empatou. Tudo parecia estar sob o mais absoluto
controle. O jogo era tenso, nervoso, mas a confiança de que a habilidade e
técnica brasileiras se sobressairiam era enorme. Mas não tardou muito para as
coisas mudarem. Aos vinte e cinco minutos, Rossi colocou a Azzurra novamente à
frente no marcador, vantagem conservada até a ida das duas equipes para o
vestiário no intervalo de jogo. Tensão total em todo o país. O segundo tempo
seria de nervos à flor da pele.
O Brasil voltou do vestiário
pressionando o time italiano. Levou vinte e três minutos até Falcão voltar a
empatar a partida e recolocar a classificação à semi-final nas mãos da Seleção
Brasileira. Uma sensação misturando alívio e apreensão, todos os brasileiros
estavam agarrados ao monitor de televisão, mal piscavam.
O time italiano não permitia
qualquer vacilo. O time brasileiro tocava a bola e buscava o gol de desempate,
nada de se retrancar, Telê Santana mandava o time em busca da vitória. Leandro
e Júnior mantinham os avanços constantes pelas laterais do campo. Falcão,
Sócrates e Zico buscavam triangulações. O jogo era aberto, e um gol estava
prestes a se materializar para qualquer um dos lados.
Foi então, quando o relógio
marcava trinta minutos do segundo tempo, sete minutos apenas após o gol de
Falcão, que Toninho Cerezo errou o passe numa saída de bola, o time italiano
aproveitou e partiu com tudo para cima da defesa brasileira que, acuada, deu o
espaço para Paolo Rossi, e ele não perdoou, o camisa 20 da Itália fez seu
terceiro gol no jogo, o gol que seria fatal às pretensões brasileiras, acabando
com o sonho daquele futebol magicamente bem jogado. Itália 3 x 2 Brasil.
Ninguém acreditava no que havia acontecido no estádio Sarriá. A derrota para a
Itália encerrou uma série de 24 jogos de invencibilidade da Seleção Brasileira.
Ficha Técnica
BRASIL 2
x 3 ITÁLIA
Gols:
Paolo Rossi (5'1T), Sócrates (12'1T), Paolo Rossi (25'1T), Falcão (23'2T) e
Paolo Rossi (30'2T)
BRASIL: Valdir Peres; Leandro, Oscar, Luisinho e Júnior; Toninho Cerezo, Falcão, Sócrates e Zico; Serginho (Paulo Isidoro) e Éder.
ITÁLIA: Dino Zoff; Claudio Gentile, Gaetano Scirea,
Fulvio Colovatti (Giuseppe Bergomi) e Antonio Cabrini; Marco Tardelli (Giampiero
Marini), Gabriele Oriali, Giancarlo Antognoni e Francesco Graziani; Bruno Conti
e Paolo Rossi.
Na semi-final, a Itália venceu a
Polônia por 2 x 0, e avançou para fazer a final contra a Alemanha, de Breitner,
Briegel e Rummenigge, que batera na outra semi a França, de Giresse, Tiganá,
Platini e Rocheteau, na primeira decisão por pênaltis da história das Copas do
Mundo. Depois de um jogaço no qual alemães e franceses empataram em três a
três, foi a Alemanha quem venceu nas penalidades por 5 x 4, com Bossis perdendo
a cobrança para os franceses.
Na final, a Itália venceu por 3 x
1, com gols de Paolo Rossi, Tardelli e Altobelli. O Brasil já não era mais o
único tri-campeão das Copas. A Itália, campeã de 1934 e 1938, alcançava sua
terceira conquista. O time campeão: Dino Zoff, Bergomi, Gentile, Collovati e
Scirea; Cabrini, Oriali e Marco Tardelli; Bruno Conti, Paolo Rossi e Graziani,
treinados por Enzo Bearzot.
A seleção da Copa eleita pela FIFA: Zoff (Itália), Collovati
(Itália), Gentile (Itália), Luizinho (Brasil) e Júnior (Brasil), Falcão (Brasil),
Boniek (Polônia), Michel Platini (França) e Zico (Brasil), Paolo Rossi (Itália)
e Rummenigge (Alemanha).
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