Os resultados da seleção de
Sebastião Lazaroni no primeiro semestre foram ruins, e a desconfiança para a
disputa da Copa América era enorme.
No primeiro amistoso do ano,
reunindo só jogadores que estavam atuando no país, uma vitória magra por 1 x 0
sobre o Equador, em Cuiabá. Depois o time embarcou para o exterior, onde perdeu
para a Seleção do Mundo da FIFA por 2 x 1 em Udine, e venceu ao Al Ahli, clube
da Arábia Saudita, por 3 x 1, em Jeddah.
Na seqüência, vitórias sobre o
Paraguai, em Teresina, e o sobre o Peru, em Fortaleza. Depois, um empate com o
Peru em Lima, e uma goleada por 4 x 0 sobre Portugal no Maracanã. Até então um
trabalho ainda sem brilho, mas também sem muita margem para contestações.
Veio então uma excursão à
Escandinávia, na qual o Brasil perdeu por 2 x 1 para a Suécia e foi goleado
pela Dinamarca por 4 a 0. O time dinamarquês tinha a mesma base que havia
brilhado na Copa de 86, com Morten Olsen na defesa e Michael Laudrup comandando
o meio, acrescida do jovem irmão caçula de Michael, o atacante Brian
Laudrup. Eles acabaram com o Brasil naquele dia! Na seqüência, a Seleção
Brasileira ainda perdeu por 1 x 0 para a Suíça (única derrota para os suíços em
toda a história) e empatou sem gols com o Milan, da Itália. Foi uma viagem
catastrófica. Se esta excursão não tivesse sido tão próxima à Copa América, teria custado a cabeça
de Lazaroni.
O time de Lazaroni ainda estava
em formação. O goleiro vinha sendo Acácio, do Vasco. Na lateral direita, as
opções eram Jorginho, do Flamengo, ou Paulo Roberto, do Vasco. Na esquerda,
três opções vinham sendo testadas: Branco, então no Porto, de Portugal,
Mazinho, do Vasco, e Eduardo, do Fluminense. Na zaga, o único titular absoluto
era André Cruz, da Ponte Preta; a seu lado foram testados Aldair, do Flamengo,
Ricardo Gomes, do Benfica, de Portugal, Mauro Galvão, então no Botafogo, e Mozer,
do Olimpique, da França. Destas onze opções para a defesa, dez ou tinham origem
ou estavam no futebol carioca, André Cruz era a única exceção. Esta
concentração nas escolhas atiçou ainda mais as críticas a Lazaroni.
No meio, os titulares até então
eram Bernardo, do São Paulo, Silas, do Sporting, de Portugal, e Edu Manga, do
Palmeiras. Mas foram testados: Cristóvão Borges, do Grêmio, e Zé do Carmo,
Geovani e Bismarck, estes três do Vasco, Valdo, do Benfica, Zinho, do Flamengo,
e Zé Carlos, do Bahia. E no ataque: Renato Gaúcho, da Roma, da Itália, Bebeto,
do Flamengo, Charles Baiano, do Bahia, Gérson, do Atlético Mineiro, e o
ponta-esquerda João Paulo, do Guarani.
Na lista de escolhidos para jogar
a Copa América, algumas mudanças de última hora foram conseqüência desta má
campanha em solo europeu, incluindo pela primeira vez a mudança que seria a
marca de Lazaroni na seleção, a utilização de três zagueiros. Os titulares escolhidos para a competição foram: Taffarel (Internacional), Mazinho (Vasco), Aldair (Flamengo), Mauro
Galvão (Botafogo), Ricardo Gomes (Benfica, Portugal) e Branco (Porto,
Portugal), Dunga (Fiorentina, Itália), Silas (Sporting, Portugal) e Valdo
(Benfica, Portugal), Bebeto (Flamengo) e Romário (PSV Eindhoven, Holanda). Os
reservas eram: Acácio (Vasco), Josimar (Sevilla, Espanha) e André Cruz (Ponte
Preta), Alemão (Napoli, Itália), Cristóvão (Grêmio), Geovani (Vasco) e Tita
(Pescara, Itália), Renato Gaúcho (Roma, Itália), Baltazar (Atlético de Madrid,
Espanha) e Charles (Bahia).
Os três primeiros jogos da
Seleção Brasileira foram em Salvador, com uma vitória por 3 x 1 sobre a Venezuela
(considerada muito magra por mídia e torcedores) e dois empates sem gols com
Peru e Colômbia. Estes jogos acabaram marcados pelas vaias da torcida baiana, que
exigia o centroavante Charles, ídolo local, como titular. Ele não entrou em campo em
nenhum dos três jogos.
A
situação brasileira ficou incômoda. O Paraguai venceu seus três jogos e fez 6
pontos. O Brasil tinha 4, seguido pela Colômbia com 3 e o Peru com 2 pontos.
Peruanos e colombianos se enfrentavam. O Brasil mudava de sede no último jogo,
enfrentando o Paraguai em Recife. Como dois avançavam à fase final, um empate
brasileiro e uma vitória colombiana poderiam eliminar o Brasil logo na 1ª fase.
Sob forte apoio da torcida pernambucana, o Brasil não conseguiu sair do zero a
zero no primeiro tempo. A sorte começou a mudar logo aos 2 minutos do 2º tempo,
quando Bebeto abriu o placar. Ele mesmo ampliou aos 37 e sacramentou a vaga no
Quadrangular Final, no qual Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai se
enfrentariam no Maracanã, no Rio de Janeiro.
O primeiro jogo do quadrangular
já era uma pedreira, a Seleção Brasileira tinha pela frente a Argentina, com
Maradona, Burruchaga e Caniggia. Foi quase uma final antecipada, numa noite de
quarta-feira na qual o Maracanã recebeu 110 mil pessoas para ver uma rodada dupla, que
começou com vitória arrasadora de 3 x 0 do Uruguai sobre o Paraguai. No jogo principal, brasileiros
e argentinos fizeram um primeiro tempo tenso e sem gols, mas bastante
movimentado. Logo no início do segundo tempo, uma obra prima de Bebeto, que, aos três minutos, tem uma bola ajeitada a meia altura, e acerta um lindo voleio, sem
chance para o goleiro Pumpido. Brasil 1 a 0. O jogo ainda assim seguiu duríssimo, Maradona era uma ameaça
constante. O Brasil só respirou aliviado aos 20 minutos, quando Romário fez 2 x
0.
Dois dias depois, numa noite de
sexta-feira, as 64 mil pessoas que estavam no Maracanã viram Maradona acertar o
travessão num chute próximo à linha do meio de campo na preliminar, em que seu
time perdeu por 2 x 0 para o Uruguai, com dois gols de Ruben Sosa. No jogo
principal, Brasil 3 x 0 Paraguai, sem muita dificuldade, dois gols de Bebeto e
um de Romário. A dupla de ataque brasileira estava infernal!
Domingo,
16 de julho, o Maracanã recebeu um público de 133 mil pessoas. No ar, o
fantasma do Maracanazo de 1950. O forte time uruguaio tinha como sua principal
estrela a Enzo Francescoli, também tinha a garra de Hugo De León na zaga, os
craques Ruben Paz e Ruben Sosa, além do perigoso Alzamendi.
Um jogo duríssimo e sofrido, foi se arrastando num tenso empate sem gols. Até que veio a bola do jogo, um contra-golpe que começou pelo lado direito de ataque do Brasil, com o improvisado
Mazinho, lateral-esquerdo de origem. Ele avançou ao fundo e cruzou, o goleiro
Zeoli tentou sair de soco, mas o baixinho Romário se antecipou e, abaixando a
cabeça, tocou para o gol. Explosão de alegria! Jogo sofrido até o minuto final.
O juiz apita o fim de jogo e o Brasil grita “Campeão!”, um grito entalado desde
1970.
Foi tão só a 4ª vez que o Brasil
conquistou o título continental, a última vez tinha sido 40 anos antes, em
1949, quando também foi sede do torneio.
Ficha Técnica
BRASIL 1
x 0 URUGUAI
Gol:
Romário (4'2T)
BRASIL: Taffarel; Mazinho, Aldair, Mauro Galvão, Ricardo Gomes e Branco; Dunga, Silas (Alemão) e Valdo; Bebeto e Romário.
URUGUAI: Zeoli; Nelson Gutiérrez, Hugo De León e
Alfonso Domínguez; José Herrera, José Perdomo, Santiago Ostolaza (Ruben Silva),
Enzo Francescoli e Ruben Paz (Carlos Correa); Alzamendi e Ruben Sosa.
Não houve tempo para respirar.
Duas semanas depois da conquista da Copa América, a Seleção Brasileira iniciava
sua luta nas Eliminatórias. Eram três grupos de três, já que a Argentina, então
campeã do mundo, já estava automaticamente classificada para o Mundial. O grupo
brasileiro tinha Venezuela e Chile.
Os comandados de Sebastião
Lazaroni não tomaram conhecimento da Venezuela, vitórias por 4 x 0 em Caracas e
por 6 x 0 em São Paulo. Já contra o Chile, a parada era bem mais dura. O
atacante Careca, do Napoli, da Itália, substituiu a Romário no comando de
ataque. Em Santiago, empate por 1 x 1. O jogo de volta era no Rio de Janeiro e
para o Brasil o empate bastava. No Maracanã havia um público de 141 mil
pessoas. Careca, aos 4 minutos do segundo tempo, pôs 1 x 0 para o Brasil no
placar.
Vinte minutos após o gol, um
foguete sinalizador caiu dentro de campo, atirado pela torcida brasileira. O
goleiro Rojas caiu na área, e ao se aproximarem, o árbitro e seus companheiros
o encontraram ensangüentado. Os jogadores chilenos o carregaram para fora de
campo e se retiraram da partida, que foi dada por encerrada.
A torcedora responsável pelo
disparo foi imediatamente identificada e detida por policiais, seu nome: Rosenery
Mello. O incidente explicitava uma falta gravíssima de segurança no estádio. Ninguém
sabia quais seriam as conseqüências.
No dia seguinte, uma foto em primeira
página no jornal carioca O Globo mostrava claramente que o rojão sinalizador
havia caído longe do arqueiro chileno. No mesmo dia apareceu uma imagem de
televisão flagrando que Rojas retirou uma lâmina de barbear de dentro da luva e
a passou em seu supercílio, iniciando o sangramento. O tribunal da FIFA recebeu
todas as provas e intimou os envolvidos a deporem. Dois chilenos - ambos jogavam
no Brasil - assumiram a premeditação da farsa: o goleiro Roberto Rojas, do São
Paulo, e o zagueiro Fernando Astengo, do Grêmio, não contavam com o foguete, só
aproveitaram a oportunidade. Segundo os dois, a idéia era simular uma pedrada,
para, sob a alegação de falta de segurança, forçar uma nova partida em campo
neutro. A FIFA declarou WO em favor do Brasil por abandono de campo (placar
oficial de 2 a 0), baniu Rojas e Astengo, e suspendeu o Chile por quatro anos
de competições oficiais.
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