sexta-feira, 27 de junho de 2014

1983-1984-1985: um técnico diferente para cada ano

Depois da Copa de 1982 houve uma debandada de brasileiros rumo ao futebol europeu. Daquele time, os reservas Edinho e Dirceu já estavam por lá. O primeiro na Udinese e o segundo depois da Copa trocou o Atlético de Madrid pelo Hellas Verona. Depois, Dirceu ainda viria a defender Napoli, Ascoli, Como e Avelino.

Também foram para o Campeonato Italiano Cerezo, Falcão e Zico, os dois primeiros foram defender à Roma e o outro à Udinese. Pouco depois Sócrates e Júnior teriam o mesmo destino, o primeiro para defender à Fiorentina, e o outro para o Torino. Na Itália já estavam Edinho e Dirceu. Eram 7 brasileiros no Campeonato Italiano. Nenhum outro país tinha tantos jogadores, era a maior legião de estrangeiros daquele que era o principal e mais rico torneio de futebol do mundo naquela década.


O futebol mundial começava a dar os primeiros passos em uma nova era, globalizada, que começava a movimentar uma maior quantidade de recursos financeiros. Ainda havia restrições à presença de estrangeiros nos principais campeonatos europeus, o limite máximo por equipe era de três jogadores. As coisas estavam prestes a mudar muito. O futebol logo em breve se tornaria um grande negócio.

Desnorteados com o revés na Copa de 82, os dirigentes do futebol brasileiros pareciam perdidos e sem saber que rumo dar à Seleção Brasileira. Talvez pelo novo vôo solo, afinal, em 1979, a Confederação Brasileira de Desportos (CBD) foi desmembrada em duas entidades, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e o Comitê Olímpico Brasileiro (COB). Um sinal desta dificuldade de dar um rumo para o trabalho fica explicitado no fato de que entre 1983 e 1985 três treinadores diferentes estiveram à frente da seleção, um técnico novo a cada ano.

Após o Mundial da Espanha, a Seleção Brasileira retomou suas atividades só em 1983. E o treinador escolhido para comandar a equipe foi Carlos Alberto Parreira, que estava treinando a Seleção do Kuwait. Parreira tinha tido um único trabalho no futebol brasileiro, havia sido o técnico do Fluminense em 1975, a frente da equipe chamada de “Máquina Tricolor”. A pouca experiência a frente de grandes projetos gerou uma natural dúvida a respeito de sua capacidade de comandar a seleção.

O desafio daquele ano era a Copa América. A campanha brasileira não foi ruim, mas mais uma vez o troféu não foi conquistado. O time titular de Parreira tinha alguma variação em relação à equipe que jogou na Espanha em 82. O gol voltou a ser defendido pelo titular nas Copas de 74 e 78, e os zagueiros foram modificados. As demais mudanças foram impostas pela não convocação dos jogadores que atuavam na Europa. O time titular foi: Leão (Corinthians), Leandro (Flamengo), Márcio Rossini (Santos), Mozer (Flamengo) e Júnior (Flamengo), Andrade (Flamengo), Sócrates (Corinthians) e Jorginho Putinatti (Palmeiras), Tita (Grêmio), Careca (São Paulo) e Éder (Atlético MG).

Nos jogos preparatórios, três vitórias (Chile, Portugal e Suíça) e três empates (País de Gales, Suécia e Chile), e um desempenho não muito convincente, apesar da ausência de derrotas nas seis partidas.

Na Copa América, logo na primeira fase teve um duelo direto com a Argentina, e o Brasil mais uma vez eliminaria seu principal rival logo de cara. O grupo ainda tinha o Equador. A Seleção Brasileira venceu os equatorianos em Quito por 1 x 0 e perdeu para os argentinos em Buenos Aires pelo mesmo placar. Depois venceu os equatorianos com uma goleada por 5 x 0 no estádio Serra Dourada, em Goiânia. Os argentinos tropeçaram nos equatorianos dentro de Buenos Aires (empate em 2 x 2) e, com isto, bastava um empate com a Argentina no Maracanã para colocar o Brasil na semi-final. Num jogo tenso, como não poderia deixar de ser, ninguém balançou as redes.

O adversário na semi-final era o Paraguai, de Romerito e Morel, que tinha o mesmo time que fora campeão sul-americano quatro anos antes. Empate em 1 x 1 em Assunção e em 0 x 0 na cidade mineira de Uberlândia. Com melhor campanha, o Brasil avançou para a final para enfrentar o Uruguai, do goleiro Rodolfo Rodríguez, do meia Enzo Francescoli e do atacante Carlos Aguilera.

No primeiro jogo da final, em Montevidéu, vitória uruguaia por 2 x 0, com um show de bola do camisa 10 da celeste, o craque Francescoli, ídolo do River Plate, da Argentina. A decisão seria em Salvador, e a missão brasileira dificílima. O camisa 10 do Brasil, Jorginho Putinatti, abriu o placar aos 23 minutos do primeiro tempo. O Brasil manteve-se vivo no jogo até os 27 minutos do segundo tempo, quando Aguilera marcou o gol que garantiu o título para os uruguaios.


O vice-campeonato derrubou Parreira, que depois de deixar a Seleção Brasileira voltou a treinar o Fluminense, conquistando o Campeonato Brasileiro de 1984. Depois do título, voltou para o Oriente Médio, onde foi treinador das seleções dos Emirados Árabes e da Arábia Saudita.

Flávio Costa, Zezé Moreira, Vicente Feola, Aymoré Moreira, João Saldanha, Zagallo, Osvaldo Brandão, Cláudio Coutinho e Telê Santana. Os técnicos da Seleção Brasileira ao longo da história tinham sempre alguns anos de experiência acumulados a frente dos principais clubes de futebol do país. Carlos Alberto Parreira, em 1983, foi o primeiro nome a de certa forma se afastar desta linha. O escolhido como treinador do Brasil em 1984 se afastava ainda mais. Edu Antunes, irmão de Zico, treinou a seleção num ano de agenda vazia, no qual a camisa canarinho entrou em campo apenas três vezes. Edu, ex-jogador e ídolo do América, do Rio de Janeiro, nos anos 1960 e 1970, tinha uma única experiência como técnico, a frente do próprio América, com quem conquistou a Taça Rio, segundo turno do Campeonato Carioca, em 1982.

O Brasil jogou apenas três jogos em 84, perdeu por 2 x 0 para a Inglaterra no Maracanã, empatou sem gols com a Argentina em São Paulo, e venceu ao Uruguai por 1 x 0 em Curitiba. Três amistosos, uma vitória, um empate e uma derrota, esta foi a breve vida de Edu como técnico da Seleção Brasileira. Seus titulares: Roberto Costa (Vasco), Édson Boaro (Ponte Preta), Oscar (São Paulo), Mozer (Flamengo) e Wladimir (Corinthians), Pires (Vasco), Zenon (Corinthians) e Tita (Flamengo), Renato Gaúcho (Grêmio), Roberto Dinamite (Vasco) e Marquinho (Vasco).

O ano de 1985 era de disputa das Eliminatórias para a Copa. A CBF marcou uma série de amistosos antes da estréia e escolheu Evaristo de Macedo, ex-jogador de Flamengo, Real Madrid e Barcelona, para ser o treinador da equipe. Suas únicas experiências como treinador de uma equipe de futebol tinham sido com Bahia e Santa Cruz.

O Brasil fez uma série de seis amistosos, venceu três (Colômbia, Uruguai e Argentina) e perdeu três (Peru, Colômbia e Chile). As duas derrotas seguidas, para colombianos em Bogotá, e para chilenos em Santiago, custaram o cargo de Evaristo. O jogo seguinte era a estréia nas Eliminatórias, neste jogo Telê Santana voltou a ocupar o banco de reservas.

O time de Evaristo nesta série de seis amistosos: Paulo Victor (Fluminense), Édson Boaro (Ponte Preta), Oscar (São Paulo), Mozer (Flamengo) e Branco (Fluminense), Dema (Santos), Alemão (Botafogo) e Jorginho Putinatti (Palmeiras), Bebeto (Flamengo), Careca (São Paulo) e Éder (Atlético Mineiro).

O time de Telê nas Eliminatórias jogou com: Carlos (Corinthians), Leandro (Flamengo), Oscar (São Paulo), Edinho (Udinese, Itália) e Júnior (Torino, Itália), Toninho Cerezo (Roma, Itália), Sócrates (Fiorentina, Itália) e Zico (Udinese, Itália), Renato Gaúcho (Grêmio), Casagrande (Corinthians) e Éder (Atlético Mineiro). Ele voltou a escalar a base com quem havia jogado a Copa de 1982, e escalou cinco jogadores que atuavam no futebol italiano. Pela primeira vez, o Brasil convivia com uma escalação massiva de jogadores que atuavam fora do país.

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