domingo, 1 de setembro de 2013

Uma primeira leva de “foras de série”

Se nos anos de 1920 o futebol brasileiro ainda se deparava envolvido com temas raciais e de preconceitos contra a presença dos negros no meio futebolístico, já nos anos de 1930 a presença de negros não tinha mais qualquer sinal de tabu.

Jogadores negros despontavam com grande qualidade futebolística. Foi um jogador negro o principal destaque da seleção do Uruguai na conquista da primeira Copa do Mundo: o meio-campista Leandro Andrade.

No Brasil, três negros despontaram como brilhantes jogadores de futebol. Dois deles – Leônidas da Silva e Domingos da Guia – foram os primeiros brasileiros a serem eleitos para o “time ideal” de uma Copa, na França, em 1938. E um outro foi o primeiro a brilhar com a camisa do Barcelona, na Espanha: Fausto dos Santos. Fausto jogou a Copa do Mundo de 1930, depois brilhou nos gramados uruguaios e depois nos espanhóis, e esta andança internacional o afastou da Seleção Brasileira (é sempre válido lembrar que naqueles tempos a travessia da América do Sul à Europa só podia ser feita por navio, e uma viagem de ida e volta alcançava quase um mês inteiro de duração).

Os três ganharam os apelidos de o Maravilha Negra (Fausto), o Diamante Negro (Leônidas) e o Divino Mestre (Domingos). Juntos, eles foram o Trio Maravilha.

Fausto dos Santos, o Maravilha Negra, foi revelado pelo Bangu no final dos anos 1920, mas foi com a camisa do Vasco que alcançou o estrelato. Chegou à Seleção Brasileira em 1929. Em 1931, durante uma excursão do clube cruzmaltino à Europa, ele e o goleiro Jaguaré impressionaram tanto que o Barcelona, da Espanha, contratou a ambos. Passou pelo Nacional, do Uruguai, voltou ao Rio, onde jogou pela primeira vez com Domingos e Leônidas. Os três formaram o trio que deslumbrou o Rio de Janeiro em 1934 com a camisa do Vasco da Gama. Reeditou o trio com a camisa do Flamengo, onde ficou até 1938, ano que foi seu último no Flamengo e no futebol. No final do ano lhe foi diagnosticada uma tuberculose. Meses depois, em março de 1939, a doença levou Fausto à morte, aos 33 anos.

Domingos da Guia foi revelado pelo Bangu, passou pelo Vasco e seguiu para o Nacional, do Uruguai e depois voltou para o Vasco. Chegou à Seleção Brasileira em 1931, quando ainda vestia a camisa do Bangu. Depois da segunda passagem pelo Vasco, brilhou pelo Boca Juniors, da Argentina, onde recebeu o apelido de Divino Meste. Do futebol argentino transferiu-se para o Flamengo, onde permaneceu a maior parte de sua carreira. Após o bicampeonato carioca de 1942-43 com o Flamengo transferiu-se para o Corinthians. Em sua carreira, foi Campeão Uruguaio de 1933 pelo Nacional, Campeão Argentino de 1935 pelo Boca Juniors, e foi Campeão Carioca de 1934 (pelo Vasco), 1939, 1942 e 1943 (estes três pelo Flamengo).

Leônidas da Silva começou a carreira no São Cristóvão, depois jogou no Bonsucesso, e foi com a camisa do time do bairro do subúrbio do Rio de Janeiro que defendeu a Seleção Brasileira em 1931 e 1932. Em 1933 foi adversário de Domingos da Guia no campeonato uruguaio, quando vestiu a camisa do Peñarol. Depois jogou por Vasco, Botafogo e Flamengo. Leônidas se tornou celebridade no Rio de Janeiro. Não é exagero dizer que ele foi o primeiro jogador de futebol a ganhar status de celebridade no Brasil. Ainda que Friedenreich já tivesse sido deveras exaltado, Leônidas viveu dias explícitos de tietagem que nenhum futebolista vivenciara no país até então.

Leônidas ganhou fama por ser o suposto inventor da jogada chamada "bicicleta", que internacionalmente é chamada de “chilena”. A primeira vez que a executou foi no Campeonato Carioca de 1932. Na Copa do Mundo de 1938 ele também deu sua bicicleta. Mas fora do Brasil a jogada é chamada de chilena, e seu inventor é considerado o espanhol naturalizado chileno Ramón Unzaga, que a teria executado em 1914 na cidade de Talcahuano.

Em 1941, Leônidas trocou o Flamengo pelo São Paulo. Ele havia sido preso no início daquele ano, acusado de ter, anos antes, forjado documentos para evitar o serviço militar. Ficou sete meses na cadeia. Quando saiu, não quis mais saber de continuar no Rio de Janeiro. Não houve quem o fizesse mudar de ideia. Desgostoso, quis se afastar do governo federal e do comando das Forças Armadas, ambos estabelecidos no Rio.

Leônidas foi Campeão Carioca de 1934 (pelo Vasco), 1935 (pelo Botafogo) e 1939 (pelo Flamengo), mas foi no Campeonato Paulista, com a camisa do São Paulo, que ele conquistou mais títulos, foi Campeão Paulista em 1943, 1945, 1946, 1948 e 1949.


Leônidas da Silva
Carreira: 1929-1930 São Cristóvão; 1931-1932 Bonsucesso; 1933 Peñarol (Uruguai); 1934 Vasco; 1935-1936 Botafogo; 1936-1940 Flamengo; 1942-1950 São Paulo.

Domingos da Guia
Carreira: 1929-1932 Bangu; 1932 Vasco; 1933 Nacional (Uruguai); 1934-1935 Vasco; 1935-1936 Boca Juniors (Argentina); 1936-1943 Flamengo; 1944-1948 Corinthians; 1948-1949 Bangu.

Fausto dos Santos
Carreira: 1926-28 Bangu; 1929-31 Vasco; 1931-32 Barcelona (Espanha); 1933 Young Fellows (Suiça); 1934 Nacional (Uruguai); 1934-35 Vasco e 1936-38 Flamengo


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