Se nos anos de 1920 o futebol
brasileiro ainda se deparava envolvido com temas raciais e de preconceitos
contra a presença dos negros no meio futebolístico, já nos anos de 1930 a
presença de negros não tinha mais qualquer sinal de tabu.
Jogadores negros despontavam com
grande qualidade futebolística. Foi um jogador negro o principal destaque da
seleção do Uruguai na conquista da primeira Copa do Mundo: o meio-campista
Leandro Andrade.
No Brasil, três negros
despontaram como brilhantes jogadores de futebol. Dois deles – Leônidas da
Silva e Domingos da Guia – foram os primeiros brasileiros a serem eleitos para
o “time ideal” de uma Copa, na França, em 1938. E um outro foi o primeiro a
brilhar com a camisa do Barcelona, na Espanha: Fausto dos Santos. Fausto jogou
a Copa do Mundo de 1930, depois brilhou nos gramados uruguaios e depois nos
espanhóis, e esta andança internacional o afastou da Seleção Brasileira (é
sempre válido lembrar que naqueles tempos a travessia da América do Sul à
Europa só podia ser feita por navio, e uma viagem de ida e volta alcançava
quase um mês inteiro de duração).
Os três ganharam os apelidos de o
Maravilha Negra (Fausto), o Diamante Negro (Leônidas) e o Divino Mestre
(Domingos). Juntos, eles foram o Trio Maravilha.
Fausto dos Santos, o Maravilha
Negra, foi revelado pelo Bangu no final dos anos 1920, mas foi com a camisa do
Vasco que alcançou o estrelato. Chegou à Seleção Brasileira em 1929. Em 1931, durante
uma excursão do clube cruzmaltino à Europa, ele e o goleiro Jaguaré
impressionaram tanto que o Barcelona, da Espanha, contratou a ambos. Passou
pelo Nacional, do Uruguai, voltou ao Rio, onde jogou pela primeira vez com
Domingos e Leônidas. Os três formaram o trio que deslumbrou o Rio de Janeiro em
1934 com a camisa do Vasco da Gama. Reeditou o trio com a camisa do Flamengo,
onde ficou até 1938, ano que foi seu último no Flamengo e no futebol. No final
do ano lhe foi diagnosticada uma tuberculose. Meses depois, em março de 1939, a
doença levou Fausto à morte, aos 33 anos.
Domingos da Guia foi revelado
pelo Bangu, passou pelo Vasco e seguiu para o Nacional, do Uruguai e depois voltou
para o Vasco. Chegou à Seleção Brasileira em 1931, quando ainda vestia a camisa
do Bangu. Depois da segunda passagem pelo Vasco, brilhou pelo Boca Juniors, da
Argentina, onde recebeu o apelido de Divino Meste. Do futebol argentino transferiu-se
para o Flamengo, onde permaneceu a maior parte de sua carreira. Após o
bicampeonato carioca de 1942-43 com o Flamengo transferiu-se para o Corinthians.
Em sua carreira, foi Campeão Uruguaio de 1933 pelo Nacional, Campeão Argentino
de 1935 pelo Boca Juniors, e foi Campeão Carioca de 1934 (pelo Vasco), 1939,
1942 e 1943 (estes três pelo Flamengo).
Leônidas da Silva começou a
carreira no São Cristóvão, depois jogou no Bonsucesso, e foi com a camisa do time do bairro do subúrbio do Rio de
Janeiro que defendeu a Seleção Brasileira em 1931 e 1932. Em 1933 foi
adversário de Domingos da Guia no campeonato uruguaio, quando vestiu a camisa do
Peñarol. Depois jogou por Vasco, Botafogo e Flamengo. Leônidas se tornou
celebridade no Rio de Janeiro. Não é exagero dizer que ele foi o primeiro
jogador de futebol a ganhar status de celebridade no Brasil. Ainda que
Friedenreich já tivesse sido deveras exaltado, Leônidas viveu dias explícitos
de tietagem que nenhum futebolista vivenciara no país até então.
Leônidas ganhou fama por ser o
suposto inventor da jogada chamada "bicicleta", que
internacionalmente é chamada de “chilena”. A primeira vez que a executou foi no
Campeonato Carioca de 1932. Na Copa do Mundo de 1938 ele também deu sua
bicicleta. Mas fora do Brasil a jogada é chamada de chilena, e seu inventor é considerado o espanhol
naturalizado chileno Ramón Unzaga, que a teria executado em 1914 na cidade de Talcahuano.
Em 1941, Leônidas trocou o
Flamengo pelo São Paulo. Ele havia sido preso no início daquele ano, acusado de
ter, anos antes, forjado documentos para evitar o serviço militar. Ficou sete
meses na cadeia. Quando saiu, não quis mais saber de continuar no Rio de
Janeiro. Não houve quem o fizesse mudar de ideia. Desgostoso, quis se afastar
do governo federal e do comando das Forças Armadas, ambos estabelecidos no Rio.
Leônidas foi Campeão Carioca de
1934 (pelo Vasco), 1935 (pelo Botafogo) e 1939 (pelo Flamengo), mas foi no
Campeonato Paulista, com a camisa do São Paulo, que ele conquistou mais
títulos, foi Campeão Paulista em 1943, 1945, 1946, 1948 e 1949.
Leônidas da Silva
Carreira: 1929-1930 São
Cristóvão; 1931-1932 Bonsucesso; 1933 Peñarol (Uruguai); 1934 Vasco; 1935-1936
Botafogo; 1936-1940 Flamengo; 1942-1950 São Paulo.
Domingos da Guia
Carreira: 1929-1932 Bangu; 1932
Vasco; 1933 Nacional (Uruguai); 1934-1935 Vasco; 1935-1936 Boca Juniors
(Argentina); 1936-1943 Flamengo; 1944-1948 Corinthians; 1948-1949 Bangu.
Fausto dos Santos
Carreira: 1926-28 Bangu; 1929-31
Vasco; 1931-32 Barcelona (Espanha); 1933 Young Fellows (Suiça); 1934 Nacional
(Uruguai); 1934-35 Vasco e 1936-38 Flamengo
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