terça-feira, 10 de setembro de 2013

A Copa do Mundo de 1954

Em 1954, o Brasil disputava as Eliminatórias da Copa do Mundo pela primeira vez em sua história. Iniciava-se ali uma impressionante seqüência de 39 anos sem ser derrotado em jogos de Eliminatória, já que o primeiro revés veio a ocorrer só em 1993.

Naquelas Eliminatórias da América do Sul houve apenas um grupo, classificando apenas uma única seleção. O Uruguai, campeão da Copa de 50, já estava classificado. A Argentina, mais uma vez, não participou; os argentinos se negaram a jogar as Copas de 1934, 1938, 1950 e 1954, por razões políticas das mais variadas. O grupo eliminatório reuniu Brasil, Paraguai e Chile, que se enfrentavam em partidas de ida e volta, com o que obtivesse melhor desempenho, indo ao Mundial.

Pela primeira vez em sua história trajando a camisa amarela, a Seleção Brasileira no primeiro jogo pegava o Chile, que já vinha de duas derrotas para o Paraguai, o Brasil venceu, em Santiago, por 2 x 0, gols de Baltazar. O centroavante também fez o gol único da vitória sobre o Paraguai em Assunção. Restavam dois jogos no Maracanã, mas a classificação estava praticamente assegurada. A seleção venceu ao Chile por 1 x 0, com mais um gol de Baltazar, e ao Paraguai por 4 x 1, dois de Julinho Botelho, um de Baltazar e outro de Maurinho.

Para a Copa, os escolhidos de Zezé Moreira foram:

Goleiros: Castilho (Fluminense), Veludo (Fluminense) e Cabeção (Corinthians)
Zagueiros: Djalma Santos (Portuguesa de Desportos), Pinheiro (Fluminense), Nilton Santos (Botafogo), Paulinho (Internacional), Alfredo (São Paulo) e Mauro (São Paulo)
Meias: Bauer (São Paulo), Brandãozinho (Portuguesa de Desportos), Ely (Vasco), Dequinha (Flamengo) e Didi (Fluminense)
Atacantes: Julinho Botelho (Portuguesa de Desportos), Humberto Tozzi (Palmeiras), Baltazar (Corinthians), Maurinho (São Paulo), Pinga (Vasco), Rubens (Flamengo), Indio (Flamengo) e Rodrigues (Palmeiras).


A 5ª Copa do Mundo foi realizada na Suíça. Eram quatro grupos com quatro seleções, e os dois primeiros avançavam às quartas de final. O Grupo 1 tinha Brasil, França, Iugoslávia e México. O Grupo 2 tinha Alemanha Ocidental, Hungria, Turquia e Coréia do Sul. O Grupo 3 tinha Uruguai, Tchecoslováquia, Áustria e Escócia. E o Grupo 4 tinha Itália, Inglaterra, Suíça e Bélgica. Outra vez 75% das seleções eram da Europa, só Brasil, Uruguai, México e Coréia do Sul não eram. O formato de disputa na primeira fase sofreu uma modificação: os vencedores da primeira rodada se enfrentavam na segunda, assim, apesar de estar no mesmo grupo, o Brasil acabou não enfrentando a França naquela Copa, pois os franceses perderam para os iugoslavos na estréia.

A grande surpresa da primeira fase foi a eliminação da Itália pelos donos da casa, a Suíça, que aplicou implacáveis e surpreendentes 4 x 1 sobre os italianos. Já a sensação foi a Hungria. O “Time de Ouro”, como ficou conhecido, fez história naqueles tempos. Eles foram Bi-campeões olímpicos em 1952 e 1956. Em 1953, venceram a Inglaterra por implacáveis 6 x 3 no Estádio de Wembley, tornando-se o primeiro time na história a vencer os ingleses dentro de seu próprio território. A seguir, em Budapeste, foram ainda mais implacáveis, goleando os ingleses por 7 x 1. Também foram o primeiro time a vencer a União Soviética dentro de Moscou. O time, treinado por Gusztáv Sebes, jogava com: Grosics; Buzansky e Lantos; Bozsik, Lorant e Zakarias; Jozsef Toth, Kocsis, Puskas, Hidegkuti e Czibor. Com a Revolução Húngara de 1956, o time foi desfeito, com a maioria dos jogadores, que estavam fazendo um amistoso na Europa Ocidental, fugindo e não regressando nunca mais ao país. O craque do time, Ferenc Puskas, naturalizou-se espanhol e jogou a Copa de 1962 pela Espanha.   

Na Copa de 54 eles estiveram arrasadores. Até a final, foram quatro jogos e quatro goleadas: 9 x 1 na Coréia do Sul, 8 x 3 na Alemanha Ocidental, 4 x 2 no Brasil e 4 x 2 no Uruguai. Foram à final contra a Alemanha, a quem já haviam goleado na primeira fase e eram amplos favoritos. Com 8 minutos do primeiro tempo, a Hungria já vencia por 2 x 0, com gols de Puskas e Czibor. Mas os alemães não se entregaram. Aos 10 do primeiro tempo, Max Morlock diminuiu, e aos 18 minutos Helmut Rahn empatou o jogo. Um duelo épico, decidido somente aos 39 minutos do segundo tempo, quando Rahn voltou a marcar e surpreender o mundo futebolístico. Caía a Hungria. O Time de Ouro não escreveu seu nome na galeria dos campeões mundiais.

Nascia, naquele dia, outra potência da história do futebol, a Alemanha. Os campeões de 1954: Turek; Posipal e Kohlmeyer; Horst Eckel, Liebrich e Karl Mai; Helmut Rahn, Max Morlock, Fritz Walter, Ottmar Walter e Schafer, treinados por Sepp Herberger.

Naquela Copa do Mundo, a Seleção Brasileira fez sua estréia contra o México, em 16 de julho, e venceu fácil, goleada por 5 x 0, com dois gols de Pinga e Didi, Baltazar e Julinho completando o marcador. O time titular do Brasil naquela Copa teve: Castilho, Djalma Santos, Pinheiro e Nilton Santos, Bauer, Didi e Brandãozinho, Julinho, Humberto, Baltazar e Rodrigues. Na segundo rodada, jogo diante da Iugoslávia, que vinha de vitória sobre a França. Um empate em 1 x 1, com gol brasileiro feito por Didi, garantiu o avanço às quartas, onde o adversário seria a Hungria, que vinha de duas goleadas implacáveis, a última delas sobre a Alemanha. Os jogadores brasileiros não queriam repetir tal desonra.

Com 7 minutos do primeiro tempo, a Hungria já vencia por 2 x 0, gols de Hidegkuti e Kocsis. A partida transformou-se a partir daí numa disputa extremamente violenta, com muitas faltas (foram 42 no total durante aquele jogo). Aos 18 minutos, pênalti marcado para o Brasil, que Djalma Santos converteu, diminuindo a vantagem húngara. No 2º tempo, Lantos ampliou aos 15 e Julinho voltou a diminuir aos 20. Logo depois do placar apontar 3 a 2, Boszik e Nilton Santos discutiram asperamente e acabaram expulsos. Formou-se uma confusão, no meio da qual Humberto deu um chute na canela de Buzanski e também acabou expulso. Daí para frente, a Seleção Brasileira jogou com um a menos, o que praticamente matou qualquer possibilidade de empate. A vitória húngara foi sacramentada com um gol de Kocsis aos 43 do segundo tempo. Final: 4 x 2 para aquele revolucionário futebol jogado pela Hungria.

Copa do Mundo de 1954: Hungria 4 x 2 Brasil

Após o apito final, houve uma verdadeira batalha campal entre brasileiros e húngaros. A briga generalizada começou no gramado, mas desceu para o vestiário, onde ficou ainda mais feia. Zezé Moreira arremessou uma chuteira em cima do Ministro de Esportes da Hungria. Maurinho agrediu Czibor com socos. Pinheiro tomou uma garrafada na cabeça e sofreu um corte profundo. Um guarda suíço tomou uma rasteira de um brasileiro e acabou no chão. O técnico húngaro, Gusztáv Sebes, também recebeu uma garrafada e precisou levar quatro pontos. Um episódio triste e lamentável, mas cuja “macheza” foi exaltada por boa parte da imprensa brasileira da época, naquilo que ficou sendo chamado de ‘A Batalha de Berna’. Os jornais da época, repletos de discursos nacionalistas, colocam os brasileiros como vítimas das provocações adversárias. É muito difícil, de uma ótica contemporânea, discernir até que ponto o descontrole emocional não tenha sido insuflado pelo risco de uma derrota eventualmente tachada de humilhante.


Na semi-final, os húngaros bateram o Uruguai, que jogando praticamente com o mesmo time campeão em 1950, mais uma vez provava ser uma equipe fortíssima, ainda mais com Juan Alberto Schiaffino jogando um futebol tecnicamente ainda mais exuberante do que o apresentado quatro anos antes. A Hungria não foi a campeã, mas ainda assim seus jogadores dominaram a seleção de melhores daquela Copa do Mundo, cujos escolhidos foram: Grosics (Hungria), Bozsik (Hungria), José Santamaría (Uruguai) e Ernst Ocwirk (Áustria), Bauer (Brasil) e Fritz Walter (Alemanha), Helmut Rahn (Alemanha), Kocsis (Hungria), Hidegkuti (Hungria), Puskas (Hungria) e Czibor (Hungria).

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