Com a moral inflada pelo grande resultado obtido na Copa do Mundo do ano anterior, a Seleção Brasileira só teve um compromisso em 1939. A Argentina foi convidada para vir ao Brasil para dois jogos no Rio de Janeiro. Após os episódios de agressão aos jogadores brasileiros em Buenos Aires nos confrontos válidos pelos Campeonatos Sul-Americanos de 1925 e 1937, o ato de disputa da Copa Roca era mais do que tudo político e diplomático. Assim como do outro lado, era um suposto aceno de paz dos argentinos.
O time brasileiro que entrou em campo no Estádio de São Januário era quase o mesmo que havia triunfado na França. Logo, havia grande otimismo para reverter a certa freguesia que a Seleção Brasileira acumulava diante da Argentina. Porém, a equipe alvi-celeste tratou de provar logo toda a sua força técnica. Terminou o 1º tempo vencendo por 3 x 0, deixando o estádio mudo. Nos quinze minutos iniciais da etapa final, marcou mais dois: 5 a 0! Leônidas ainda descontou logo em seguida, mas o gol de honra não aliviou a derrota vexatória. Era a mais sofrida derrota da Seleção Brasileira em sua história até então. Tinha havido os 6 a 0 sofridos para o Uruguai em 1920, mas aqueles 5 a 1 diante de sua torcida, tinha sido um golpe na alma brasileira. Masantonio e Moreno foram os destaques, marcando duas vezes cada um.
Uma semana depois estava programado o segundo jogo. Não estava planejado haver diferença de saldo de gols - como ainda não era costume em nenhum lugar naquela época - assim aos argentinos lhes bastava um empate para levar o troféu. A Seleção Brasileira foi quase que inteiramente modificada, apenas quatro jogadores do time que havia sido goleado foram mantidos para o segundo duelo: Domingos da Guia, Brandão, Romeu e Leônidas.
A vitória era vista como questão de honra. E Leônidas marcou logo no começo, animando o público presente. Mas em poucos minutos, a seleção tomou a virada que ia dando o título à equipe portenha. O jogo se arrastou com o 2-1 até os 33 minutos do 2º tempo, quando o ponta Adílson, jogador do Madureira, conseguiu marcar um gol de empate. O título ainda era argentino, até que Perácio marcou um gol heroico quando faltavam cinco minutos para o fim, gol celebrado com ufanismos nacionalistas.
Com uma vitória para cada lado, não houve campeão, tendo ficado decidido que os dois países se reencontrariam no ano seguinte para um jogo desempate, que foi marcado para ser jogado em São Paulo, no Parque Antárctica.
Em 1939 houve a disputa de mais um Campeonato Sul-Americano. Em função da briga ocorrida na final da edição de 1937, nem Argentina nem Brasil disputaram o torneio. Foi a primeira vez que os argentinos ficaram de fora de uma edição, enquanto o Brasil estava ausente pela sexta vez. O torneio foi um pentagonal jogado em Lima reunindo Chile, Equador, Paraguai, Peru e Uruguai. Os uruguaios eram considerados amplos favoritos. Eles e os peruanos venceram todos os seus jogos e chegaram à rodada final para jogar pelo título. Numa tarde histórica para o futebol do país, o time do Peru, no qual se destacavam Teodoro "Lolo" Fernández e Jorge Alcalde, venceu por 2 a 1, sendo a primeira a conseguir quebrar o tripé Uruguai, Argentina e Brasil na conquista do troféu continental.
JOGOS NO ANO:
15/01/1939 - BRASIL 1 x 5 ARGENTINA
Copa Roca - Estádio de São Januário, Rio de Janeiro
Gols: García (9'1T), Masantonio (20'1T), Moreno (34'1T), Masantonio (11'2T), Moreno (15'2T) e Leônidas da Silva (16'2T)
Brasil: Batatais (Fluminense), Domingos da Guia (Flamengo) e Machado (Fluminense); Bioró (Fluminense), Brandão (Corinthians) e Médio da Guia (Flamengo); Luisinho Mesquita (Palestra Itália/SP), Romeu Pelliciari (Fluminense), Leônidas da Silva (Flamengo), Tim (Fluminense) e Hércules (Fluminense).
Téc: Carlos Nascimento
Argentina: Sebastián Gualco (San Lorenzo), Oscar Montañéz (Gimnasia y Esgrima La Plata) e Sabino Coletta (Independiente); Arcádio López (Boca Juniors), Bruno Rodolfi (River Plate) e Perico Suárez (Boca Juniors); Carlos Peucelle (River Plate), Antonio Sastre (Independiente), Herminio Masantonio (Huracán), Manuel Moreno (River Plate) e Enrique García (Racing).
Téc: Ángel Fernández Roca
22/01/1939 - BRASIL 3 x 2 ARGENTINA
Copa Roca - Estádio de São Januário, Rio de Janeiro
Gols: Leônidas da Silva (15'1T), Rodolfi (16'1T), García (23'1T), Adílson (33'2T) e Perácio (40'2T)
Brasil: Thadeu (América), Domingos da Guia (Flamengo) e Florindo (Vasco); Zezé Procópio (Botafogo), Brandão (Corinthians) e Afonsinho (São Cristóvão); Adílson (Madureira), Romeu Pelliciari (Fluminense), Leônidas da Silva (Flamengo), Perácio (Botafogo) e Carreiro (São Cristóvão).
Téc: Carlos Nascimento
Argentina: Sebastián Gualco (San Lorenzo), Oscar Montañéz (Gimnasia y Esgrima La Plata) e Sabino Coletta (Independiente); Arcádio López (Boca Juniors), Bruno Rodolfi (River Plate) e Perico Suárez (Boca Juniors); Carlos Peucelle (River Plate), Antonio Sastre (Independiente), Herminio Masantonio (Huracán), Manuel Moreno (River Plate) e Enrique García (Racing).
Téc: Ángel Fernández Roca
RESUMO:
Seleção Brasileira de 1939:
Batatais (Fluminense) (Thadeu (América/RJ)), Domingos da Guia (Flamengo) e Machado (Fluminense) (Florindo (Vasco)); Zezé Procópio (Botafogo) (Bioró (Fluminense)), Brandão (Corinthians) e Afonsinho (São Cristóvão/RJ) (Médio da Guia (Flamengo)); Luisinho Mesquita (Palestra Itália/SP) (Adílson (Madureira/RJ)), Romeu Pelliciari (Fluminense), Leônidas da Silva (Flamengo), Perácio (Botafogo) (Tim (Fluminense)) e Hércules (Fluminense) (Carreiro (São Cristóvão/RJ)).
Artilharia: Leônidas da Silva (2), Adílson (1) e Perácio (1)
Participação:
2 jogos: Domingos da Guia, Brandão, Romeu Pelliciari e Leônidas da Silva
1 jogo: Batatais, Thadeu, Machado, Florindo, Zezé Procópio, Bioró, Afonsinho, Médio da Guia, Luisinho Mesquita, Adílson, Perácio, Tim, Carreiro e Hércules
Nenhum comentário:
Postar um comentário