sexta-feira, 1 de março de 2019

DIDI: o primeiro negro a jogar pelo Real Madrid


Valdir Pereira, o “Didí”, foi o primeiro jogador de raça negra a vestir a camiseta do Real Madrid, e o fez na época gloriosa de Puskas e Di Stéfano.

Era o ano de 1958 e o Brasil por fim se havia alçado ao título de uma Copa do Mundo de futebol. Aquela equipe que deslumbrou na Suécia distribuía talento pelos quatro cantos do campo de futebol. Gente como Garrincha, Pelé e Didí enlouqueciam à torcida com a qualidade e a naturalidade para jogar futebol.

Garrincha era como o Buster Keaton do futebol. Era um pesadelo para um lateral-esquerdo rival, que tinha que enfrentar aquele homemzinho manco, com uma perna mais larga que a outra, alcoólatra e com um ligeiro atraso mental, que o humilhava uma e outra vez, para alvoroço das arquibancadas. Nunca será compreensível como naqueles tempos de futebol mais brutalizado, ninguém, nenhum defensor, partiu as pernas a Garrincha por lhes impor tanta humilhação desnecessária.

De Pelé, naquele Mundial de 58, sempre ficará gravada a imagem de um dos gols marcados na final contra a Suécia, depois de dar um balão num defensor e arrematar de primeira junto à trave. Com 18 anos, Edson Arantes do Nascimento marcava um golaço épico, que ficou como um dos melhores de sua vastíssima carreira.

Mas se houve alguém que deslumbrou no Mundial da Suécia foi Didi. Um criador de jogadas genial que orquestou o Brasil naquelas jornadas de futebol que passaram para a história por seu brilhantismo. Didi foi um dos primeiros meias modernos no futebol, uma espécie de Xavi Hernández dos Anos 1950. Não era especialmente rápido, nem fisicamente forte, mas fazia com a bola tudo que tinha vontade de fazer, marcando uma grande quantidade de gols e dando assistências a seus compañeros para que também os fizessem.

Didi era meio-campista, mas tinha números de atacante: 113 gols em 313 jogos por clubes e 21 gols em 74 jogos com a Selecção Brasileira. Estatísticas extraordinárias para um jogador cuja missão primordial não era marcar gols mas dá-los a seus companheiros. Santiago Bernabeu, presidente do Real Madrid, quis colocar uma cereja no bolo naquela magnífica equipe encabeçada por Di Stéfano, e não descansou até conseguir contratar o brasileiro.

Didi chegou a Madrid em 1959, tendo já 30 anos, uma idade limite à época para o jogador de futebol profissional, mas seu curriculum aprovava a aposta. Santiago Bernabeu teve que pagar pela transferência do brasileiro uma cifra altíssima para a época (80.000 dólares). Ainda que o mítico dirigente madrilenho tinha muito olfato para as aquisições e sabia quando assumir riscos por um jogador veterano y quando deixá-lods de correr… daquela vez ele se equivocou. O carioca nunca tinha saído de seu país para jogar futebol e não entendia que haviam filosofias distintas à dele para aquele esporte.

Ainda que seu começo tenha sido bom e a imprensa rasgava elogios após sua estreia contra o Bétis no Bernabeu, lentamente su aura foi diluindo-se numa tempestade de apatia, luta de egos e saudade.

Pouco a pouco foi ficando claro que o brasileiro queria que o Real Madrid se adaptasse a ele e não o oposto. Não corria, não se aplicava e sempre pedia a bola no pé. Se a tudo isto se somar que Didi tinha um enorme ego e que não queria adotar uma posição submissa frente ao “macho alfa” do vestiário merengue (Alfredo Di Stéfano), temos a resposta a porquê Didí, a superestrela mundial, não brilhou no Real Madrid.

Seus números com os merengues são bastante discretos para um jogador de sua categoria: 6 gols em 19 partidas da Liga Espanhola e nenhuma aparição nem na Copa dos Campeões da Europa, nem na Copa do Generalísimo (Copa do Rei). Dom Santiago Bernabeu havia passado um dobrado com aquele brasileiro e acabou reconhecendo isto quando o vendeu na temporada seguinte ao Botafogo, clube do qual o havia contratado antes, por bem menos do que pagou para tê-lo.

No Brasil, voltou a seu baile, deslumbrando com mais “futebol a passo lento”, deixando para trás (como se estivesse lidando com um pesadelo) aquele futebol mais físico praticado na Europa e que lhe era tão estranho. Didí ainda teve oportunidade de reconquistar o título de Campeão Mundial com a Seleção Brasileira no Chile, em 1962, enquanto Santiago Bernabeu seguia se arrependendo daquela contratação falha, que foi uma das poucas manchas que teve o Presidente del Real Madrid ao longo de sua carreira de dirigente.

Fonte: Blog espanhol "Curiosidades do Futebol"
https://curiosidadesdelfutbol.wordpress.com/2012/08/20/didiel-primer-negro-del-real-madrid/

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