Após a frustração com a
eliminação na Copa de 2006, a CBF decidiu fazer uma completa reformulação. O
diagnóstico era que o excesso de festas atrapalhou o desempenho verde-amarelo.
Teria faltado pulso à dupla Parreira-Zagallo para repetir o sucesso na Copa de
1994. E quem tinha pulso dentro de campo naquele Mundial era exatamente o
capitão daquele time de 94, Dunga. Pois foi a ele que a CBF recorreu para sustentar o
trabalho que se iniciava para o ciclo preparatório para a Copa de 2010. Ele
nunca tinha tido nenhuma experiência como treinador, mas os dirigentes
brasileiros confiavam em sua capacidade de liderança para pôr a Seleção
Brasileira novamente nos trilhos.
O treinador fez uma forte
renovação em suas convocações. A geração que comandou as Copas de 1998, 2002 e
2006 foi renegada. Cafu, Roberto Carlos, Emerson e Ronaldo deixavam a Seleção
Brasileira. Foram apenas seis jogos entre a eliminação na Copa da Alemanha e o
fim do ano, mas Dunga utilizou 30 diferentes jogadores, muitos dos quais
estavam tendo sua primeira experiência com a camisa do Brasil.
Os resultados nestes amistosos
foram positivos. Inauguraram também uma nova fase na seleção, pois como a
maioria dos jogadores convocados atuava na Europa, os amistosos passaram a ser
em solo europeu, teve Brasil x Argentina em Londres, na Inglaterra, e Brasil x
Equador em Estocolmo, na Suécia. Fato é que o Brasil venceu cinco destes jogos,
incluindo um convincente 3 x 0 sobre a Argentina, convencendo os críticos (as
outras vitórias foram sobre Kuwait Sport Club, País de Gales, Equador e Suíça),
o único duelo que não terminou com vitória brasileira foi a estréia de Dunga,
um empate com a Noruega, confirmando a dificuldade histórica da Seleção
Brasileira com o futebol nórdico jogado por noruegueses e dinamarqueses.
Os titulares de Dunga nestas seis
partidas: Gomes (PSV Eindhoven, Holanda), Maicon (Internazionale, Itália), Lúcio
(Bayern Munique, Alemanha), Juan (Bayer Leverkusen, Alemanha), e Gilberto (Hertha
Berlin, Alemanha); Gilberto Silva (Arsenal, Inglaterra), Dudu Cearense (CSKA
Moscou, Rússia), Elano (Shaktar Donetsk, Ucrânia) e Kaká (Milan, Itália);
Robinho (Real Madrid, Espanha) e Fred (Lyon, França). Ronaldinho Gaúcho chegou
a ser chamado, mas perdeu o status de titular absoluto após o fracasso na Copa
do Mundo. Já Adriano, foi para a geladeira. O “Quadrado Mágico” estava
desfeito!
Em 2007 haveria Copa América, mas
Dunga mantinha seu foco em preparar a equipe para as Eliminatórias, que se
iniciavam no último trimestre do ano. Os cinco primeiros amistosos do ano,
todos jogados em solo europeu, levantaram os primeiros questionamentos sobre
seu trabalho. O Brasil empatou com Inglaterra e Turquia, perdeu para Portugal,
e venceu a Chile e Gana. Ele mantinha a base titular do início do seu trabalho,
mas com o goleiro Doni, ex-Corinthians e titular da Roma na Itália, no lugar de
Gomes, e com Mineiro, ex-São Paulo e jogando no Hertha Berlin, no lugar de Dudu
Cearense. Na lateral direita, Maicon e Daniel Alves se revezavam, ora um
titular, ora o outro. Sua maior dúvida era quanto ao centroavante titular, Fred
perdeu espaço, Adriano teve chances e não aproveitou, as apostas dele se
concentraram em Vagner Love, ex-Palmeiras que defendia o CSKA Moscou, e no
desconhecido Afonso Alves, que brigava pela artilharia do Campeonato Holandês
jogando pelo modesto Heerenveen. O mineiro Afonso fora formado nas divisões de
base do Atlético Mineiro, onde não conseguiu encontrar espaço, foi jogar no
futebol sueco quando tinha 21 anos, em 2002. Migrou para o futebol holandês e,
aos 26 anos chegava à seleção. Conseguiu contrato com o Middlesbrough, da
Inglaterra, onde não se firmou, indo em seguida jogar no futebol do Catar.
Certamente foi o jogador com currículo menos expressivo a passar pela seleção
na história pós-Segunda Guerra Mundial, nunca foi titular em um clube
brasileiro e nunca jogou em clubes de ponta do futebol europeu. A aposta feita
por Dunga nele não deu frutos.
Os titulares de Dunga na Copa
América: Doni (Roma, Itália), Maicon (Internazionale, Itália), Alex Costa (PSV
Eidhoven, Holanda), Juan (Bayer Leverkusen, Alemanha) e Gilberto (Hertha
Berlin, Alemanha); Gilberto Silva (Arsenal, Inglaterra), Mineiro (Hertha
Berlin, Alemanha), Josué (São Paulo) e Júlio Baptista (Arsenal, Inglaterra);
Robinho (Real Madrid, Espanha) e Vagner Love (CSKA Moscou, Rússia).
O time perdeu na estréia, em
Puerto Ordaz, para o México, contra quem seguia tendo dificuldades. Derrota por
2 x 0. Mas depois se recuperou, batendo o Chile por 3 x 0 e o Equador por 1 x
0, e se classificou sem muita dificuldade. Nas quartas de final, enfrentou o
Chile e goleou implacavelmente: 6 x 1. Na semi-final um duríssimo duelo contra
o Uruguai. Maicon abriu o marcador, Diego Forlán empatou, mas ainda no primeiro
tempo Júlio Baptista pôs o Brasil de novo na frente. Os uruguaios não se
renderam e Loco Abreu empatou novamente na etapa final. 2 x 2 e decisão nos
pênaltis. Disputa acirrada e tensa. Forlán perdeu logo a primeira cobrança
uruguaia, com Doni defendendo com o pé, mas Afonso Alves perdeu a quarta para o
Brasil, chutando na trave. Decisão nas cobranças alternadas. O volante Fernando
Menegazzo também chutou na trave. Bastava o volante Pablo Garcia, jogador do
Real Madrid, acertar para o Uruguai e tudo acabaria. Ele foi para a cobrança,
cobrou a meia altura, longe do alcance de Doni, mas a bola também achou a
trave. Ele perdeu. Brasil de volta à disputa. Gilberto converteu e pôs 5 x 4.
Era a vez do zagueiro Diego Lugano. Ele cobrou no meio e Doni fez a defesa. Desde
1995, na final da Copa América contra o Uruguai, o Brasil não perdia uma
decisão por pênaltis, era a quarta vitória seguida.
Na outra semi-final, os
argentinos venceram os mexicanos por 3 x 0. Brasil x Argentina. Pela segunda
vez seguida os grandes rivais se enfrentavam numa decisão de Copa América. O time
argentino tinha um meio de campo com Javier Zanetti, Mascherano, Cambiasso,
Verón e Riquelme; tecnicamente muito superior ao meio-campo brasileiro que
jogaria com Mineiro, Josué, Elano e Júlio Baptista. Gilberto Silva, suspenso,
ficou fora da final. O meio brasileiro era forte na marcação, mas fraco
ofensivamente. Se já não bastasse isto, o ataque argentino tinha Lionel Messi e
Carlos Tévez. A Argentina era favoritíssima ao título!
Mas a sorte brasileira começou a
mudar logo aos 4 minutos de jogo, quando Júlio Baptista recebeu lançamento de
Elano, entrou pela área no um contra um contra a zaga argentina, cortou para o
meio e acertou um chutaço no ângulo. Um golaço que mudou a cara do jogo em
Caracas.
O jogo seguiu equilibrado, mas
com a Seleção Brasileira mais tranqüila, aproveitando a vantagem no marcador.
Os argentinos sofreram então um duro golpe do destino aos 39 minutos, novamente
pelos pés de Júlio Baptista, responsável por puxar um contra-ataque pela
direita e cruzar para a área buscando Robinho e Vagner Love, que penetravam
pelo meio. O zagueiro Roberto Ayala foi tentar cortar o cruzamento e tocou para
as próprias redes, gol contra, e Brasil com 2 x 0 no placar.
A seleção seguiu administrando o
jogo. O lateral-direito Daniel Alves entrou no meio-campo no lugar de Elano,
que se contundiu, e o time com isto conseguiu ficar mais forte nos
contra-golpes. Com um meio-campo bastante marcador, o jogo ficou com a cara que
o Brasil queria: time fechado na defesa, roubando bolas e contra-atacando. E
foi assim que a seleção conseguiu seu terceiro gol aos 23 minutos do segundo
tempo. Numa saída rápida da defesa para o ataque, Vagner Love lançou Daniel
Alves nas costas da zaga argentina, ele penetrou pelo lado direito da área e
bateu cruzado, fechando a conta: Brasil 3 x 0 Argentina.
O Brasil consolidava um período
de hegemonia na América do Sul, a dificuldade de conquistar o torneio fora do
seu território nacional era coisa do passado. Campeão em 1997 na Bolívia, em
1999 no Paraguai, em 2004 no Peru e em 2007 na Venezuela. A Seleção Brasileira
conquistava quatro das cinco últimas edições da Copa América e consolidava uma
supremacia no continente.
Mas para torcida e mídia, conquistar o continente já
não era mais parâmetro de qualidade. A derrota na Copa de 2006 ainda estava
viva na memória, e depois de ter disputado três finais de Mundial consecutivas
entre 1994 e 2002, só importava ao Brasil voltar ao topo do futebol mundial. E
as dúvidas sobre o trabalho de renovação conduzido por Carlos Dunga ainda eram
muitas. O país, naquele momento, estava bastante pessimista quanto às chances
de conquistar a Copa de 2010.
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