Se tornou algo muito comum de ser
escutado, mais até na boca de estrangeiros do que até propriamente na de
brasileiros, que o time canarinho andou jogando algo que não era o
"verdadeiro futebol brasileiro". Houve mesmo uma mudança? Teria sido
uma evolução natural? Por que mudou? Quando mudou? Como mudou? Qual foi a
mudança, ou foram as mudanças, no estilo de jogo brasileiro?
É muito comum se escutar que a
derrota no Estádio Sarriá em 1982 foi a responsável por tudo. A partir dali
decidiu-se abdicar de se jogar bonito e decidiu-se jogar para ganhar. Não foi
só a perda daquela Copa do Mundo, não foi só aquele jogo, mas inegavelmente a
vitória da Itália por 3 x 2 significou muito e teve importância para o Brasil
sentir a necessidade de mudar. Aquela equipe brasileira era tecnicamente
fantástica, uma máquina de fazer gols, mas não era tão eficiente quanto se
imaginava.
Houve três mudanças muito
significativas no jogo da Seleção Brasileira e do futebol brasileiro como um
todo. Estes três fatores aconteceram na segunda metade dos anos 1980. O primeiro
fator foi a importância de se implementar um padrão tático que deixasse as
equipes brasileiras menos vulneráveis defensivamente. O lado técnico fazia as
equipes serem máquinas ofensivas. Era preciso defender melhor. O segundo fator
era diminuir a leveza do jogo brasileiro. Jogadores franzinos e rápidos, apesar
de ariscos, eram vulneráveis a marcações mais ríspidas da defesa adversária. O
terceiro fator foi imposto pela globalização econômica: houve uma migração
massiva de brasileiros para a Europa e os jogadores que para lá foram, passaram a ser doutrinados
por seus treinadores a um outro estilo de jogo.
Em paralelo, é no final dos anos 80 que se massificam as transmissões televisivas ao vivo do futebol europeu, os brasileiros passam a ver todo fim de semana nas TVs de suas casas o estilo que só costumavam ver durante os Mundiais, e os técnicos brasileiros passaram a ser influenciados por isto. Nos Campeonatos Brasileiros de 1988 e 1989 surgem várias equipes com uma formação tática nova, testando uma formação com três zagueiros e não mais dois. O terceiro zagueiro seria um líbero, atuando na sobra e na proteção da dupla de zaga na hora em que a equipe defendia, e avançando como se fosse um meio-campista na hora em que a equipe atacava. Esta função já era feita por Beckenbauer na Alemanha de 1974, mas foram as transmissões do Campeonato Italiano pela TV Bandeirantes, durante os almoços de domingo, que mexeram com a cabeça dos treinadores brasileiros. Esta novidade foi levada para a Seleção Brasileira por Sebastião Lazaroni em 1989, deu certo na Copa América, mas fracassou na Copa do Mundo de 1990.
Em paralelo, é no final dos anos 80 que se massificam as transmissões televisivas ao vivo do futebol europeu, os brasileiros passam a ver todo fim de semana nas TVs de suas casas o estilo que só costumavam ver durante os Mundiais, e os técnicos brasileiros passaram a ser influenciados por isto. Nos Campeonatos Brasileiros de 1988 e 1989 surgem várias equipes com uma formação tática nova, testando uma formação com três zagueiros e não mais dois. O terceiro zagueiro seria um líbero, atuando na sobra e na proteção da dupla de zaga na hora em que a equipe defendia, e avançando como se fosse um meio-campista na hora em que a equipe atacava. Esta função já era feita por Beckenbauer na Alemanha de 1974, mas foram as transmissões do Campeonato Italiano pela TV Bandeirantes, durante os almoços de domingo, que mexeram com a cabeça dos treinadores brasileiros. Esta novidade foi levada para a Seleção Brasileira por Sebastião Lazaroni em 1989, deu certo na Copa América, mas fracassou na Copa do Mundo de 1990.
O fracasso nas terras italianas naquela Copa serviu para mostrar que a implementação de um estilo mais europeu precisava de
adaptações, mas a tendência de mudança tática havia chegado para ficar. Na Copa
do Mundo de 1994, o técnico Carlos Alberto Parreira iria conseguir maior
sucesso neste processo de integrar o estilo brasileiro e o europeu. Ainda
assim, mesmo vencendo, sofreu severas contestações. O Brasil se perguntava se
queria vencer ou se queria jogar um futebol vistoso. A resposta era vencer,
jogando bonito e sem deixar de ser taticamente eficiente. O trabalho de Zagallo
na continuação ao de Parreira conseguiu caminhar mais na direção de equilibrar
estas forças. O ápice e o equilíbrio talvez tenham sido encontrados no trabalho de
Luiz Felipe Scolari na Copa do Mundo de 2002. A escolha por mudar o estilo
brasileiro de jogar futebol foi uma aposta arriscada. Conseguiu resultados, mas
era mesmo necessária?
Por que implementar um padrão
tático menos vulnerável defensivamente? O Brasil queria voltar a vencer um
Mundial. Depois de ser 3º lugar na Copa de 38, entre 1950 e 1970, em 6 edições
da Copa do Mundo, o Brasil foi 3 vezes campeão e 4 vezes finalista. Naquele
momento da história, em 1989, o Brasil estava prestes a completar 20 anos não
só sem ser campeão como sem ser finalista, num jejum que chegaria a 24 anos. A
referência de sucesso era a Alemanha, que entre 1966 e 1990, em 7 edições da
Copa do Mundo, foi 6 vezes semi-finalista, 5 vezes finalista e 2 vezes campeã
do mundo, tendo sido a primeira seleção na história a jogar três finais
consecutivas em 82, 86 e 90. O "futebol total" do padrão tático
alemão era altamente eficiente em superar a técnica individual de times cheios
de grandes jogadores. O Brasil absorveu a lição e veio a ser a segunda seleção
na história a chegar a três finais consecutivas (1994, 1998 e 2002) e tendo
vencido duas das três, enquanto os alemães venceram uma e perderam duas.
Por que diminuir a leveza do jogo
brasileiro? Porque o futebol brasileiro não conseguia vencer o futebol mais
ríspido de seus adversários na América do Sul. Era hora de perder a pureza,
abdicar de querer se impor só jogando bonito, e vencer. Entre seleções, até
1989, quando o Brasil venceu seu quarto título continental, os uruguaios tinham
treze títulos e os argentinos tinham doze. Na Taça Libertadores da América, até
1989, em 30 edições, haviam sido 15 títulos de clubes argentinos, 8 títulos de
clubes uruguaios e só 5 de clubes brasileiros.
Funcionou! Nas nove edições
seguintes da Copa América, o Brasil venceria quatro. Na Copa Libertadores,
entre 1992 e 2013, em 22 edições, os clubes brasileiros venceram 12 vezes e os
argentinos 7 vezes, sem nenhum título uruguaio.
O futebol brasileiro, sem
dúvidas, mudou. Os times leves e soltos, ingênuos, em que a técnica fazia ter
uma força ofensiva impressionante, mas a tática deixava a defesa vulnerável, ficaram no passado. A partir dali o Brasil teria um sistema defensivo firmemente
postado, com zagueiros mais ríspidos do que técnicos, e que tentaria manter a
força ofensiva quando não comprometesse ou expusesse a defesa.
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