Desiludido com a pior campanha em
24 anos numa Copa do Mundo, o Brasil decidiu partir para uma reformulação
total, buscando novos talentos.
Sebastião Lazaroni saiu, e para seu lugar foi
escolhido Paulo Roberto Falcão. O ídolo das torcidas do Internacional e da
Roma, da Itália, não tinha nenhuma experiência como treinador, aquela seria sua
primeira. O excesso de jogadores de Flamengo e Vasco nas convocações de
Lazaroni, os dois clubes que ele treinou, tinha provocado um incômodo, e
buscava-se um treinador sem um viés específico. A diretriz inicial era esquecer
temporariamente os jogadores que atuavam na Europa, e convocar jogadores que
atuavam no país e não tinham tido experiência na seleção.
Falcão fez uma completa
reformulação já a partir de setembro de 1990, menos de três meses após a
eliminação para a Argentina. Os seus convocados: os goleiros Sérgio (Santos),
Veloso (Palmeiras) e Ronaldo (Corinthians), os laterais Gil Baiano
(Bragantino-SP), Odair (Palmeiras), Balu (Cruzeiro) e Lira (Goiás), os
zagueiros Paulão (Cruzeiro), Adílson Batista (Cruzeiro), Cléber (Atlético
Mineiro) e Márcio Santos (Novorizontino-SP), os meias de contenção Mauro Silva
(Bragantino-SP), Moacir (Atlético Mineiro), Donizete Oliveira (Grêmio) e César
Sampaio (Santos), os meias de armação Neto (Corinthians), Cafu (São Paulo),
Luís Henrique (Bahia), Valdir (Atlético Paranaense) e Edu Marangon (Santos), e
os atacantes Mazinho Oliveira (Bragantino-SP), Careca Bianchesi (Palmeiras),
Silvio (Bragantino-SP), Rinaldo (Fluminense), Túlio (Goiás), Charles (Bahia) e Nilson
(Grêmio).
Os resultados no começo do
trabalho foram péssimos. No primeiro jogo, o Brasil perdeu de 3 x 0 para a
Espanha, em Gijón. Depois três empates sem gols, dois contra o Chile e um
diante do México.
Importante notar que, dos 27
jogadores da renovação imposta pelo trabalho de Falcão, apenas quatro deles
vieram a jogar uma Copa do Mundo com a seleção: Cafu, Márcio Santos, Mauro
Silva e César Sampaio. A Seleção Brasileira se transformou num grande
laboratório de testes, e não mais no resultado final de jogadores testados ao
limite nos seus respectivos clubes.
O trabalho continuou em 1991,
ano de disputa de mais uma Copa América, jogada no Chile. Houve cinco jogos
preparatórios. Duas vitórias, sobre Romênia e Bulgária, nas cidades de Londrina
e Uberlândia, e três empates, um com o Paraguai e dois contra a Argentina. O
regente da equipe, e então dono da camisa 10 no time de Falcão, era o corintiano
Neto, autor de quatro dos nove gols feitos nestes jogos.
Os titulares de Falcão para a
Copa América: Taffarel (Parma, Itália), Mazinho (Lecce, Itália), Ricardo Rocha
(São Paulo), Márcio Santos (Internacional) e Branco (Genoa, Itália), Mauro Silva
(Bragantino), Luís Henrique (Bahia) e Neto (Corinthians), Renato Gaúcho
(Botafogo), Mazinho Oliveira (Bragantino) e João Paulo (Bari, Itália).
O time havia abandonado o sistema
de jogo europeizado trazido por Lazaroni, jogava num 4-3-3 bem definido, com
Renato Gaúcho aberto na ponta-direita e João Paulo aberto na ponta-esquerda. O
time tinha muitos jogadores jovens, mas estava já reforçado com a
experiência de alguns dos nomes que figuravam no Campeonato Italiano daquele
ano, onde havia diversos brasileiros atuando. O próprio goleiro Cláudio
Taffarel, que no ano anterior havia se transferido do Internacional para o
Parma e se tornado o primeiro goleiro estrangeiro a atuar na Liga Italiana.
O time brasileiro tomou um susto
na primeira fase e quase foi eliminado de forma prematura. Jogou mais uma vez
em sua história em Viña del Mar e na estréia venceu a Bolívia por 2 x 1. No
segundo jogo empatou em 1 x 1 com o Uruguai, o que era um resultado normal
entre os dois favoritos a avançarem à semi-final naquele grupo. Veio o terceiro
jogo e o Brasil sucumbiu surpreendentemente para a Colômbia por 2 x 0. No
último jogo, venceu o Equador por 3 x 1, e teve que rezar, pois no outro jogo
os uruguaios batiam os colombianos por 1 x 0. Mais um gol uruguaio e o Brasil teria
sido eliminado, mas não foi.
Na fase final, um quadrangular
entre Brasil, Argentina, Colômbia e Chile definiria o campeão. Logo na estréia,
um Brasil x Argentina abriria a disputa com cara de final antecipada. O Brasil
lutou no limite de forças das limitações técnicas daquele grupo. Logo no
primeiro minuto, Dario Franco balançou as redes do Estádio Nacional de
Santiago. Branco ainda empatou logo a seguir, mas o próprio Dario Franco iria
desempatar antes ainda do intervalo. No segundo tempo, Gabriel Batistuta fez o
terceiro. João Paulo ainda descontou, mas a vitória foi mesmo argentina.
Na segunda rodada do quadrangular
final o Brasil devolveu os 2 x 0 sobre a Colômbia e se manteve vivo na luta
pelo título. Renato Gaúcho e Branco fizeram os gols brasileiros. A Argentina
empatou com o Chile e manteve um fio de esperança brasileiro. Na rodada final,
o Brasil fez 2 x 0 no Chile, mas os colombianos não fizeram frente aos argentinos,
que acabaram campeões. Desde 1959 a Argentina não conquistava o título continental,
um jejum de trinta e dois anos, no meio dos quais havia vencido duas vezes a
Copa do Mundo.
O Brasil acabou com um honroso vice-campeonato, mas
isto não foi suficiente para manter o cargo de treinador de Paulo Roberto
Falcão, que acabou destituído da função após o término do torneio.
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