domingo, 28 de dezembro de 2014

A fracassada reformulação pós Copa de 90

Desiludido com a pior campanha em 24 anos numa Copa do Mundo, o Brasil decidiu partir para uma reformulação total, buscando novos talentos.

Sebastião Lazaroni saiu, e para seu lugar foi escolhido Paulo Roberto Falcão. O ídolo das torcidas do Internacional e da Roma, da Itália, não tinha nenhuma experiência como treinador, aquela seria sua primeira. O excesso de jogadores de Flamengo e Vasco nas convocações de Lazaroni, os dois clubes que ele treinou, tinha provocado um incômodo, e buscava-se um treinador sem um viés específico. A diretriz inicial era esquecer temporariamente os jogadores que atuavam na Europa, e convocar jogadores que atuavam no país e não tinham tido experiência na seleção.

Falcão fez uma completa reformulação já a partir de setembro de 1990, menos de três meses após a eliminação para a Argentina. Os seus convocados: os goleiros Sérgio (Santos), Veloso (Palmeiras) e Ronaldo (Corinthians), os laterais Gil Baiano (Bragantino-SP), Odair (Palmeiras), Balu (Cruzeiro) e Lira (Goiás), os zagueiros Paulão (Cruzeiro), Adílson Batista (Cruzeiro), Cléber (Atlético Mineiro) e Márcio Santos (Novorizontino-SP), os meias de contenção Mauro Silva (Bragantino-SP), Moacir (Atlético Mineiro), Donizete Oliveira (Grêmio) e César Sampaio (Santos), os meias de armação Neto (Corinthians), Cafu (São Paulo), Luís Henrique (Bahia), Valdir (Atlético Paranaense) e Edu Marangon (Santos), e os atacantes Mazinho Oliveira (Bragantino-SP), Careca Bianchesi (Palmeiras), Silvio (Bragantino-SP), Rinaldo (Fluminense), Túlio (Goiás), Charles (Bahia) e Nilson (Grêmio).

Seleção Brasileira na Festa de 50 Anos de Pelé 

Os resultados no começo do trabalho foram péssimos. No primeiro jogo, o Brasil perdeu de 3 x 0 para a Espanha, em Gijón. Depois três empates sem gols, dois contra o Chile e um diante do México.

Importante notar que, dos 27 jogadores da renovação imposta pelo trabalho de Falcão, apenas quatro deles vieram a jogar uma Copa do Mundo com a seleção: Cafu, Márcio Santos, Mauro Silva e César Sampaio. A Seleção Brasileira se transformou num grande laboratório de testes, e não mais no resultado final de jogadores testados ao limite nos seus respectivos clubes.

O trabalho continuou em 1991, ano de disputa de mais uma Copa América, jogada no Chile. Houve cinco jogos preparatórios. Duas vitórias, sobre Romênia e Bulgária, nas cidades de Londrina e Uberlândia, e três empates, um com o Paraguai e dois contra a Argentina. O regente da equipe, e então dono da camisa 10 no time de Falcão, era o corintiano Neto, autor de quatro dos nove gols feitos nestes jogos.

Os titulares de Falcão para a Copa América: Taffarel (Parma, Itália), Mazinho (Lecce, Itália), Ricardo Rocha (São Paulo), Márcio Santos (Internacional) e Branco (Genoa, Itália), Mauro Silva (Bragantino), Luís Henrique (Bahia) e Neto (Corinthians), Renato Gaúcho (Botafogo), Mazinho Oliveira (Bragantino) e João Paulo (Bari, Itália).

O time havia abandonado o sistema de jogo europeizado trazido por Lazaroni, jogava num 4-3-3 bem definido, com Renato Gaúcho aberto na ponta-direita e João Paulo aberto na ponta-esquerda. O time tinha muitos jogadores jovens, mas estava já reforçado com a experiência de alguns dos nomes que figuravam no Campeonato Italiano daquele ano, onde havia diversos brasileiros atuando. O próprio goleiro Cláudio Taffarel, que no ano anterior havia se transferido do Internacional para o Parma e se tornado o primeiro goleiro estrangeiro a atuar na Liga Italiana.

O time brasileiro tomou um susto na primeira fase e quase foi eliminado de forma prematura. Jogou mais uma vez em sua história em Viña del Mar e na estréia venceu a Bolívia por 2 x 1. No segundo jogo empatou em 1 x 1 com o Uruguai, o que era um resultado normal entre os dois favoritos a avançarem à semi-final naquele grupo. Veio o terceiro jogo e o Brasil sucumbiu surpreendentemente para a Colômbia por 2 x 0. No último jogo, venceu o Equador por 3 x 1, e teve que rezar, pois no outro jogo os uruguaios batiam os colombianos por 1 x 0. Mais um gol uruguaio e o Brasil teria sido eliminado, mas não foi.

Na fase final, um quadrangular entre Brasil, Argentina, Colômbia e Chile definiria o campeão. Logo na estréia, um Brasil x Argentina abriria a disputa com cara de final antecipada. O Brasil lutou no limite de forças das limitações técnicas daquele grupo. Logo no primeiro minuto, Dario Franco balançou as redes do Estádio Nacional de Santiago. Branco ainda empatou logo a seguir, mas o próprio Dario Franco iria desempatar antes ainda do intervalo. No segundo tempo, Gabriel Batistuta fez o terceiro. João Paulo ainda descontou, mas a vitória foi mesmo argentina.

Na segunda rodada do quadrangular final o Brasil devolveu os 2 x 0 sobre a Colômbia e se manteve vivo na luta pelo título. Renato Gaúcho e Branco fizeram os gols brasileiros. A Argentina empatou com o Chile e manteve um fio de esperança brasileiro. Na rodada final, o Brasil fez 2 x 0 no Chile, mas os colombianos não fizeram frente aos argentinos, que acabaram campeões. Desde 1959 a Argentina não conquistava o título continental, um jejum de trinta e dois anos, no meio dos quais havia vencido duas vezes a Copa do Mundo.

O Brasil acabou com um honroso vice-campeonato, mas isto não foi suficiente para manter o cargo de treinador de Paulo Roberto Falcão, que acabou destituído da função após o término do torneio.

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