sábado, 27 de setembro de 2014

A derrota convulsiva de 1998 - Parte 1

O ano da Copa de 98 começou para a Seleção Brasileira com a disputa da Copa Ouro da Concacaf. Pela segunda vez seguida o Brasil foi convidado para disputar o torneio. Em 1996 havia disputado com um time sub 23, que acabou derrotado pelo México na final. Em 1998 enviou um time mais forte, embora sem a presença dos principais jogadores que atuavam no futebol europeu.

Os titulares da seleção na Copa Ouro foram: Taffarel (Atlético Mineiro), Zé Maria (Parma, Itália), Gonçalves (Botafogo), Júnior Baiano (Flamengo) e Júnior (Palmeiras), Mauro Silva (Deportivo La Coruña, Espanha), Flávio Conceição (Deportivo La Coruña, Espanha), Denílson (São Paulo) e Zinho (Palmeiras), Edmundo (Fiorentina, Itália) e Romário (Flamengo). Era um time forte, que ainda se dava ao luxo de ter a Giovane Élber, artilheiro do Campeonato Alemão pelo Bayern Munique, sentado no banco de reservas. A maioria dos onze titulares esteve presente ou na Copa de 94 ou na Copa de 98. Portanto, por mais que houvesse as ausências de Cafu, Aldair, Roberto Carlos, César Sampaio, Dunga, Rivaldo e Ronaldo, era uma equipe altamente competitiva.

Esta competitividade, no entanto, não se materializou em campo. O ataque Edmundo-Romário não funcionou. Nos dois primeiros jogos, disputados em Miami, o Brasil empatou com Jamaica (0 x 0) e Guatemala (1 x 1) e não jogou bem. Classificou-se à segunda fase depois de uma goleada por 4 x 0 em El Salvador, jogando em Los Angeles. Avançou à semi-final para enfrentar os Estados Unidos, para quem perdeu por 1 x 0. Um resultado decepcionante para quem se julgava grande favorito para vencer a Copa da França.

Depois disto, só mais dois amistosos antes do Mundial, com uma vitória sobre a Alemanha e uma derrota para a Argentina em pleno Maracanã. De fato, já não havia mais dúvidas ou testes a fazer, o grupo já estava escolhido por Zagallo, era uma mescla dos times que venceram a Copa América e Copa das Confederações em 1997.

A grande ausência foi o atacante Romário, que sofreu uma contratura muscular num jogo do Flamengo a alguns meses do Mundial. O técnico Zagallo, e seu auxiliar técnico Zico, decidiram não esperar pela recuperação do atacante, pois entendiam que ele não conseguiria atingir o nível de preparação física que uma Copa do Mundo exige. O descarte de Romário gerou enorme polêmica na imprensa esportiva e nos torcedores.

A lista final dos 22 convocados pelo Lobo Zagallo:

Goleiros: Taffarel (Atlético Mineiro), Dida (Cruzeiro) e Carlos Germano (Vasco)
Laterais: Cafu (Roma, Itália), Zé Carlos (São Paulo), Roberto Carlos (Real Madrid, Espanha) e Zé Roberto (Flamengo)
Zagueiros: Aldair (Roma, Itália), Júnior Baiano (Flamengo), Gonçalves (Botafogo) e André Cruz (Milan, Itália)
Meias: César Sampaio (Yokohama Flugels, Japão), Dunga (Jubilo Iwata, Japão), Emerson (Bayer Leverkusen, Alemanha), Doriva (Porto, Portugal), Leonardo (Milan, Itália), Giovanni (Barcelona, Espanha), Rivaldo (Barcelona, Espanha) e Denílson (Bétis, Espanha)
Atacantes: Bebeto (Botafogo), Ronaldo (Internazionale, Itália) e Edmundo (Vasco).

  
O Brasil vivia um momento muito rico em opções, principalmente para o ataque. Basta ver a relação de brasileiros que conseguiu terminar uma temporada como principal artilheiro nas ligas européias e se descobrirá uma enorme concentração no período entre 1996 e 2004. Em 18 oportunidades na história em que o artilheiro de uma das principais ligas européias foi brasileiro, em 10 delas isto aconteceu nos oito anos entre 1996 e 2004. No Campeonato Italiano, só em quatro temporadas houve um artilheiro brasileiro: Dino da Costa, da Roma, em 1956-57, Altafini Mazzola, do Milan, em 1961-62, Luís Vinícius, do Vicenza, em 1965-66, e Márcio Amoroso, do Udinese, em 1998-99 (uma das quatro no período citado). No Campeonato Espanhol, os brasileiros que foram artilheiros: Vavá, do Elche, em 1965-66, Waldo, do Valência, em 1966-67, Baltazar, do Atlético de Madrid, em 1988-89, Bebeto, do La Coruña, em 1992-93, Romário, do Barcelona, em 1993-94, e Ronaldo, pelo Barcelona em 1996-97 e pelo Real Madrid em 2003-04 (duas das sete vezes ocorrendo no período citado). No Campeonato Alemão, Márcio Amoroso, do Borussia Dortmund, em 2001-02, Élber, do Bayern Munique em 2002-03, Ailton, do Werder Bremen, em 2003-04, e Grafite, do Wolfsbrug, em 2008-09 (três das quatro vezes portanto no período destacado). No Campeonato Francês, Sonny Anderson foi três vezes artilheiro, na temporada 1995-96 pelo Mônaco, e nas temporadas 1999-00 e 2000-01 pelo Lyon (todos os casos no período 1996-2004).

Naturalmente a ausência de Romário reverberava muito mais, tanto por tudo que ele representou na conquista da Copa do Mundo de 1994, quanto pelo que jogou com a camisa da seleção durante o ano de 1997. Entretanto, nomes como Amoroso, Élber e Sonny Anderson também representavam um potencial ofensivo importante que não encontrou espaço naquele grupo em 1998.

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