O
trabalho de Cláudio Coutinho se iniciou com uma vitória avassaladora sobre a
Colômbia no Maracanã por 6 x 0, em partida pelas Eliminatórias. Depois o Brasil
venceu o Paraguai por 1 x 0 em Assunção e empatou no Maracanã. A seleção
avançou para um triangular final, do qual sairiam dois classificados para a
Copa. A Argentina já estava classificada, como país-sede. Brasil, Bolívia (que
eliminou o Uruguai) e Peru (que eliminou o Chile) disputariam duas vagas da
América do Sul.
Coutinho
era um aficionado por estratégia de jogo, era um estudioso de esquemas táticos,
numa época em que com o “futebol total” jogado por Alemanha e Holanda fez com
que o sistema de jogo ganhasse cada vez mais importância dentro das quatro
linhas.
A
estratégia de jogo de Cláudio Coutinho se baseava, sobretudo, na projeção para
ocupação dos espaços vazios. Nome confuso para uma estratégia simples:
posicionar o time em campo de uma forma que deixasse espaços vazios na defesa
adversária para que os meias lançassem a bola em profundidade nestes espaços para
a penetração de quem viesse de trás, surpreendendo a defesa adversária. O
lançamento deixava de ser ao “estilo Gérson”, que pegava a bola no meio e
colocava no peito de Pelé na entrada da área, passando a ser um “lançamento no
vazio”, mas numa trajetória da bola indo de encontro ao jogador no “espaço
futuro”. A bola e o jogador lançado tinham que formar duas linhas concorrentes
no campo.
O
futebol revolucionário de holandeses e alemães fazia as equipes se movimentarem
de forma compacta, pressionando quem tinha a posse de bola no time adversário,
e com inversões constantes do posicionamento dos jogadores em campo. Esta
movimentação mais agrupada deixava espaços vazios em áreas distantes de quem
estava com a bola. Na visão de Coutinho, a saída deste xadrez seria treinar
os jogadores para aproveitar estes espaços.
Com
Coutinho, a Seleção Brasileira continuou a série de bons resultados que já
vinha obtendo com Osvaldo Brandão. Antes da segunda fase das Eliminatórias, o
time fez alguns amistosos locais (Seleção Carioca, Seleção Paulista, Seleção
Fluminense, Seleção Goiana e Seleção Paranaense) e jogou no Maracanã contra
Inglaterra, Alemanha e França (três empates), e venceu o Milan, da Itália.
Ainda venceu Polônia e Escócia, em São Paulo, e Iugoslávia, em Belo Horizonte.
Bem preparado, o time não teve dificuldades para conseguir sua vaga para o
Mundial. Venceu ao Peru por 1 x 0 e atropelou à Bolívia por 8 x 0. Brasil e
Peru avançaram à Copa de 78, na qual sairiam como personagens principais de uma
louca história.
O
time brasileiro tido como titular em 1977 tinha: Leão (Palmeiras), Zé Maria
(Corinthians), Luís Pereira (Atlético de Madrid, Espanha), Edinho (Fluminense)
e Marinho Chagas (Fluminense), Toninho Cerezo (Atlético Mineiro), Paulo Isidoro
(Atlético Mineiro) e Rivellino (Fluminense), Gil (Botafogo), Roberto Dinamite
(Vasco) e Paulo César Caju (Botafogo). O meia Zico, do Flamengo, e o
centroavante Reinaldo, do Atlético Mineiro, também jogaram muitos destes jogos.
Terminada a preparação, Cláudio Coutinho anunciou seus escolhidos para jogar a Copa do Mundo de 1978:
Goleiros: Leão (Palmeiras), Valdir Peres (São Paulo) e Carlos (Ponte
Preta)
Laterais: Toninho Baiano (Flamengo), Nelinho (Cruzeiro), Edinho (Fluminense)
e Rodrigues Neto (Botafogo)
Zagueiros: Oscar (Ponte Preta), Amaral (Corinthians), Abel Braga
(Vasco) e Polozzi (Ponte Preta)
Meias: Toninho Cerezo (Atlético Mineiro), Batista (Internacional),
Chicão (São Paulo), Rivellino (Fluminense), Zico (Flamengo) e Jorge Mendonça
(Palmeiras)
Atacantes: Gil (Botafogo), Roberto Dinamite (Vasco), Reinaldo (Atlético
Mineiro), Zé Sérgio (São Paulo) e Dirceu (Vasco).
Foram
vários os testes feitos nos três anos anteriores. Em 1976, Osvaldo Brandão
havia utilizado 46 jogadores diferentes, relembrando a preparação para a Copa
de 66. Em 1977, foram utilizados 36 jogadores diferentes. Havia margem para
contestações, e elas naturalmente surgiram. Algumas vozes queriam o
lateral-direito do Corinthians, Zé Maria, entre os convocados, outras queriam o
lateral-esquerdo Júnior, do Flamengo. Vozes pediam que o zagueiro Luís Pereira
estivesse na lista, outras pediam o meia Paulo Isidoro. As mais enfáticas, no
entanto, eram as que pediam a presença de Paulo Roberto Falcão, meio-campista
do Internacional.
A
11ª Copa do Mundo foi disputada na Argentina. Foi a última Copa a reunir 16
equipes. As duas principais ausências, entre as seleções de maior tradição,
eram o Uruguai (eliminado pela Bolívia) e a Inglaterra (eliminada pela Itália).
Na 1ª fase, o Grupo 1 tinha Argentina, Itália, França e Hungria; o Grupo 2
tinha Alemanha Ocidental, Polônia, México e Tunísia; o Grupo 3 tinha Brasil,
Espanha, Áustria e Suécia; e o Grupo 4 tinha Holanda, Escócia, Peru e Irã. De
certo que no primeiro grupo, um verdadeiro “grupo da morte”, uma camisa de
tradição cairia logo na primeira fase, dado que só dois se classificavam; quem
ficou pelo caminho foi a França.
Na
2ª fase, os oito classificados se reuniram em dois grupos com quatro equipes,
com os primeiros colocados avançando para a final. O Grupo A reuniu Alemanha,
Holanda, Itália e Áustria. Detalhe para a presença dos dois finalistas do
Mundial de 74. Já o Grupo B reuniu Argentina, Brasil, Peru e Polônia.
Logo
na primeira fase o Brasil já pode ver que tipo de dificuldades iria ter pela
frente naquela Copa. Na estréia, um empate em 1 x 1 com a Suécia, o juiz galês
Clive Thomas encerrou o jogo com a bola no ar numa cobrança de escanteio, a
qual terminou com a cabeçada de Zico para o fundo das redes. Reza a lenda que o
apito soou com a bola no ar, no meio do trajeto entre o chute do cobrador e a
cabeçada de Zico. De nada serviu protestar. No segundo jogo, um novo empate,
desta vez sem gols, contra a Espanha. Com dois empates nos dois primeiros
jogos, a campanha estava lembrando a da Copa de 74. Mas o último jogo não era
contra o frágil Zaire, como fora naquele Mundial. O Brasil tinha pela frente a
retranca defensiva da Áustria, e só uma vitória significava a classificação. E
com tensão, porque no outro jogo, no mesmo horário, se a Suécia vencesse a
Espanha, só uma vitória por dois gols colocaria o Brasil na fase seguinte.
O
Brasil fez seu dever de casa, com um gol de Roberto Dinamite aos 40 minutos do
primeiro tempo, que garantiu a magra vitória por 1 x 0. O alívio só veio quando
a Espanha marcou sobre os suecos aos 30 do segundo tempo. Suspiro aliviado, o
Brasil estava classificado.
O
time titular de Coutinho: Leão, Toninho Baiano, Oscar, Amaral e Edinho, Toninho
Cerezo, Batista e Zico (Jorge Mendonça), Gil, Roberto Dinamite e Dirceu. O time
perdeu Rivellino lesionado, que chegou a atuar em alguns jogos, mas sem estar
cem por cento. Já no meio, Zico começou titular, depois Jorge Mendonça passou a
ser o titular, e Zico recuperando a posição nos últimos jogos.
No
último jogo, o Brasil venceu a Polônia por 3 x 1, mesma vantagem de gols da
Argentina sobre os poloneses (vitória por 2 x 0). O detalhe importante é que os
dois jogos não foram no mesmo horário. O Brasil entrou em campo primeiro, com
isto a Argentina, que começou a enfrentar ao Peru já depois do apito final do
jogo entre brasileiros e poloneses, já sabia de qual resultado precisava: uma
vitória por 4 x 0 ou mais lhe colocava na final. Por 3 x 0 ou menos, colocava o
Brasil na final.
Na
outra chave, a Holanda fez 5 x 1 na Áustria e 2 x 1 na Itália, e empatou em 2 x
2 com a Alemanha. Como alemães e italianos também tinham empatado entre eles, os
holandeses ficaram em primeiro no grupo e avançaram para sua segunda final de
Copa do Mundo consecutiva.
Voltemos
a Argentina x Peru. O time peruano era uma boa equipe, era a mesma base que
eliminou a Argentina nas Eliminatórias e foi à Copa de 70, e que depois se
sagrou campeã da Copa América de 1975. O time tinha Chumpitaz, Oblitas e
Teófilo Cubillas. Mas no gol, estava o argentino naturalizado peruano Quiroga.
Os
dois países, irmanados pela língua espanhola, tinham o mesmo libertador do
período colonial, o general argentino José de San Martin. Ambos viviam sob
Ditadura Militar, na Argentina com o general Videla e no Peru com o general
Francisco Bermúdez. E neste dia, os dois generais se reuniram antes do jogo e
depois estiveram juntos nos vestiários de Peru e de Argentina.
O
jogo começou e os argentinos tinham amplo domínio. O primeiro tempo terminou 2
x 0. Logo na volta do intervalo a fatura se definiu, com dois gols seguidos. Aos
4 minutos do segundo tempo o placar já apontava os 4 x 0 necessários para os
argentinos. Ainda houve tempo para mais dois, final: Argentina 6 x 0 Peru.
Os
argentinos foram para a final, venceram a Holanda por 3 x 1 e conquistaram o
primeiro título mundial de sua história. O Brasil venceu a Itália e ficou com o
terceiro lugar. Com quatro vitórias e três empates, a Seleção Brasileira
terminou a Copa de 78 invicta. No desembarque no país, questionado pela
imprensa, Cláudio Coutinho disse: “nós fomos os campeões morais”. Alguns anos
depois, jogadores peruanos deram declarações afirmando que alguns companheiros
de equipe receberam dinheiro do governo argentino para entregar o jogo, o que
jamais foi comprovado.
A
Argentina campeã do mundo: Fillol; Olguín, Luis Galván, Passarela e Tarantini;
Osvaldo Ardiles, Gallego e Daniel Bertoni; Luque, Mario Kempes e Oscar Ortiz,
com César Menotti como treinador.
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