quarta-feira, 30 de abril de 2014

A tragédia do Sarriá - parte 1

Faltavam poucos detalhes na cabeça de Telê Santana para fechar o grupo dos 22 da Copa. O time-base em 1981 jogava com João Leite (Atlético Mineiro), Edevaldo (Fluminense), Oscar (São Paulo), Luizinho (Atlético Mineiro) e Júnior (Flamengo), Toninho Cerezo (Atlético Mineiro), Paulo Isidoro (Grêmio), Sócrates (Corinthians) e Zico (Flamengo), Reinaldo (Atlético Mineiro) e Éder (Atlético Mineiro). Falcão ainda esteve fora do time titular durante aquela temporada. No gol, Valdir Peres começava a assumir a titularidade já no segundo semestre de 81. Leandro e Falcão ganhariam a titularidade no decorrer dos jogos preparatórios. A dúvida que permaneceria até o último minuto era de quem seria o centroavante titular.


Os dois centroavantes que despontavam como favoritos para ser o homem-gol daquela equipe se lesionaram: Careca, do Guarani, e Reinaldo, do Atlético Mineiro. A imprensa carioca clamava por Roberto Dinamite, do Vasco. Telê o testou nos jogos preparatórios, assim como deu uma chance também a Baltazar, do Grêmio. Mas quem assumiu a camisa 9 foi Serginho Chulapa, do São Paulo. Era um jogador que fugiu completamente às tradições brasileiras para aquela posição, desprovido de técnica apurada, era um atacante pesado, com seu 1,91 metro. Era brigador, não tinha habilidade nos pés, e com sua força física, ainda que meio desengonçado, vinha fazendo gols com a camisa são-paulina. Telê confiou nele.

Às vésperas da convocação final perduravam poucas dúvidas. Na lateral-direita quem seria o reserva de Leandro? Edevaldo ou Perivaldo, do Botafogo? No meio, dois jogadores do Flamengo tinham chances de convocação, Vítor, que era reserva de Andrade no time, mas caíra nas graças de Telê, e Adílio. E no ataque a última dúvida era na ponta-esquerda: Dirceu, que, em litígio, estava de saída do Atlético de Madrid, ou Mário Sérgio, do São Paulo.

Eis os 22 escolhidos por Telê Santana para a Copa do Mundo de 1982:

Goleiros: Valdir Peres (São Paulo), Carlos (Ponte Preta) e Paulo Sérgio (Botafogo)
Laterais: Leandro (Flamengo), Edevaldo (Internacional), Júnior (Flamengo) e Pedrinho (Vasco)
Zagueiros: Oscar (São Paulo), Luizinho (Atlético Mineiro), Edinho (Udinese, Itália) e Juninho Fonseca (Ponte Preta)
Meias: Toninho Cerezo (Atlético Mineiro), Batista (Grêmio), Falcão (Internacional), Sócrates (Corinthians), Zico (Flamengo), Paulo Isidoro (Grêmio) e Renato Paulista (São Paulo)
Atacantes: Serginho (São Paulo), Roberto Dinamite (Vasco), Éder (Atlético Mineiro) e Dirceu (Atlético de Madrid, Espanha).


A 12ª Copa do Mundo foi jogada na Espanha. As surpresas nas Eliminatórias foram as eliminações de Uruguai e Holanda. Desta vez, pela primeira vez na história, o Mundial passava a ter 24 seleções, buscando-se ampliar ainda mais a popularidade do futebol pelo mundo. Este processo foi comandado pelo brasileiro João Havelange, presidente da FIFA de 1974 a 1998. A ampliação de participantes aumentava as vagas de outros continentes onde o futebol tinha menos presença, e foi um processo que desagradou muito aos europeus, que sempre se puseram contrários à iniciativa e fizeram muitas críticas, pois queriam a Copa mais enxuta, quase que uma Eurocopa acrescida de Brasil e Argentina.

Os 24 participantes foram divididos em 6 grupos de quatro. Os dois primeiros colocados de cada grupo avançavam à segunda fase, onde as doze seleções remanescentes formavam quatro grupos de três, com os primeiros colocados de cada grupo avançando à semi-final. Esta foi a única Copa do Mundo que teve este formato. O Grupo A tinha Itália, Polônia, Peru e Camarões. O Grupo B tinha Alemanha Ocidental, Áustria, Chile e Argélia. O Grupo C tinha Argentina, Bélgica, Hungria e El Salvador. O Grupo D tinha Inglaterra, França, Tchecoslováquia e Kuwait. O Grupo E tinha Espanha, Iugoslávia, Irlanda do Norte e Honduras. E o Grupo F tinha Brasil, União Soviética, Escócia e Nova Zelândia.

A grande surpresa da primeira fase foram os africanos de Camarões, que, liderados por Roger Milla, conseguiram um surpreendente empate com a seleção italiana por 1 x 1. O resultado quase eliminou os italianos, que com apenas três empates, contra Polônia, Peru e Camarões, avançaram à segunda fase. A grande surpresa, no entanto, foi a vitória de 2 x 1 da Argélia sobre a Alemanha. Os argelinos ainda viriam a vencer ao Chile e por muito pouco não conseguiram a classificação, que acabou com alemães e austríacos. O futebol africano dava sinais de rápido crescimento e amadurecimento, nada a ver com a frágil e ingênua equipe do Zaire que entrou em campo na Copa de 1974.

A ampliação do número de participantes buscava fortalecer outros centros, como Ásia, África e Américas Central e do Norte de médio a longo prazo. Num primeiro momento, sem dúvidas, propiciou a chegada de equipes com nível técnico muito mais limitado do que o das principais seleções. Um sinal disto foi que naquele Mundial materializou-se a maior goleada da história das Copas. Muitas já tinham sido as vitórias de nove gols nas Copas, a últimas delas da Iugoslávia sobre o Haiti na Copa de 74, mas ninguém nunca havia chegado aos dois dígitos no placar. Na Copa de 82 se chegou, a Hungria venceu El Salvador por implacáveis 10 x 1.

Na 2ª fase, no Grupo 1 estavam União Soviética, Polônia e Bélgica, tendo avançado os poloneses. No Grupo 2 estavam Alemanha, Inglaterra e Espanha, um grupo dificílimo, que acabou vencido pelos alemães. O Grupo 3 era outro grupo dificílimo: Brasil, Itália e Argentina. E o Grupo 4 tinha França, Áustria e Irlanda do Norte, tendo a vaga ficado com os franceses.

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