O Brasil tinha ficado
traumatizado com os 44 jogadores utilizados em 1966 e com os 52 utilizados em
1968. Numa jogada de pacificação dos ânimos, a primeira declaração oficial de
João Saldanha como técnico da Seleção Brasileira foi o anúncio de quais eram
seus onze titulares: Félix, Carlos Alberto Torres, Djalma Dias, Joel Camargo e
Rildo; Wilson Piazza e Gérson; Jairzinho, Tostão, Pelé e Edu. O treinador os batizou como "As feras do Saldanha".
A escolha de Saldanha era
emblemática frente ao momento político do país. Em plena Ditadura Militar, João
Saldanha era um comunista convicto e não escondia sua preferência política de
ninguém. Em outros regimes militares da América do Sul, como os vividos na
Argentina e no Chile, que mataram proporcionalmente bem mais do que no Brasil,
jamais um comunista ocuparia o cargo de técnico da seleção do país. O Brasil tinha estas particularidades, fruto de suas complexidades.
A estréia de Saldanha foi em 7 de
abril de 1969, e foi o primeiro jogo da Seleção Brasileira, na história, realizado em Porto Alegre,
disputado no Estádio Beira-Rio. O Brasil venceu o Peru por 2 x 1. Das 11 feras
escaladas na entrevista coletiva de apresentação do novo treinador, Joel e Edu
não jogaram, foram substituídos por Brito e Dirceu Lopes.
Assim como o time titular de
Aymoré Moreira em 1968, o time de Saldanha em 1969 tinha oito dos que viriam a
ser titulares no México em 1970. A mexida de um para outro foi a consistência
do meio-campo. O time de Aymoré não tinha nenhum meio-campista responsável por
marcar, Gérson e Rivellino eram armadores de jogadas. Com Saldanha, Piazza
fazia a marcação e deixava a defesa menos vulnerável. Funcionou. O Brasil
venceu novamente o Peru, jogando no Maracanã, onde também superou a Inglaterra.
Depois fez amistosos no Nordeste do país, vencendo ao Bahia, em Salvador, à
Seleção Sergipana, em Aracaju, e à Seleção Pernambucana, em Recife. Com seis
vitórias consecutivas, viajou para jogar as Eliminatórias.
O grupo do Brasil tinha Paraguai,
Colômbia e Venezuela. Só o primeiro colocado do grupo iria à Copa do Mundo. A
Seleção Brasileira fez campanha arrasadora. Na estréia venceu a Colômbia, em
Bogotá, por 2 x 0, dois gols de Tostão. Depois, fez 5 x 0 na Venezuela, em
Caracas, e 3 x 0 no Paraguai, em Assunção. A classificação estava praticamente
assegurada. E o Brasil havia voltado a jogar um bom futebol. No returno, nos
jogos no Brasil, todos jogados no Maracanã, goleadas por 6 x 2 na Colômbia e
por 6 x 0 na Venezuela. No último jogo, o maior público da história do
Maracanã, quase 200 mil pessoas viram o Brasil vencer o Paraguai por 1 x 0. A
grande estrela da fantástica campanha brasileira naquelas Eliminatórias foi
Tostão, artilheiro com 10 gols.
No último jogo do ano, um deslize
que marcaria a história da Seleção Brasileira. Em 3 de setembro de 1969, a
Seleção Brasileira perdeu por 2 x 1 para o Atlético Mineiro no Mineirão, em
Belo Horizonte. O centroavante atleticano Dario, apelidado de Dadá Maravilha,
foi a estrela do jogo, e isto traria conseqüências no ano seguinte.
O time titular naquele ano foi: Félix
(Fluminense), Carlos Alberto Torres (Santos), Djalma Dias (Santos), Joel
Camargo (Santos) e Rildo (Santos), Wilson Piazza (Cruzeiro) e Gérson
(Botafogo), Jairzinho (Botafogo), Tostão (Cruzeiro), Pelé (Santos) e Edu (Santos).
A base era o time do Santos, com seis dos onze titulares.
No começo de 1970, o Brasil fez
dois amistosos contra a Argentina - que eliminada pelo Peru, não iria à Copa de
70 - perdeu por 2 x 0 no Beira-Rio, em Porto Alegre, e venceu por 2 x 1 no
Maracanã, no Rio de Janeiro. A seguir, em 14 de março de 1970, restando três
meses para a Copa, a Seleção Brasileira empatou por 1 x 1 com o Bangu, no
acanhado Estádio de Moça Bonita, na zona
oeste do Rio de Janeiro. O desempenho aquém do esperado gerou muitas críticas. Uma
das opiniões veio do Presidente da República, o general Emílio Garrastazu Médici,
que sugeriu a convocação do atacante Dario, do Atlético Mineiro. Questionado
por um jornalista, João Saldanha foi enfático na resposta: “O presidente que
escolha os ministros dele, porque meus jogadores escolho eu”. A ordem foi imediata, João Saldanha estava demitido!
Saldanha, homem de personalidade
polêmica e temperamento forte, e um opositor ao Regime Militar mesmo enquanto esteve
técnico da seleção, resolveu tumultuar as coisas. Ele foi à imprensa com
declarações bombásticas, entre as quais a que mais ganhou destaque foi a de que
Pelé estava prestes a ser forçado a encerrar a carreira, porque tinha um alto
grau de miopia e estava perdendo a visão.
Um dia depois da demissão e a
Seleção Brasileira já tinha novo treinador, e ele também vinha do Botafogo,
assim como Saldanha: Mário Jorge Lobo Zagallo. Faltavam só três meses para o
Mundial, um treinador novo chegava, a insegurança e a desconfiança chagaram após
os resultados ruins contra a Argentina e o Bangu, e na imprensa o ex-treinador
lançava boatos a esmo para bagunçar mais o ambiente.
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