O ciclo preparatório para a Copa
do Mundo se iniciou com a conturbada disputa do Campeonato Sul-Americano de
1957, em Lima, no Peru. O Brasil passou a ser treinado por Osvaldo Brandão,
ex-técnico de Palmeiras e Corinthians. Sua seleção conservava um pouco da cara
da equipe montada por Flávio Costa em 1956, mas trazia algumas peças novas. A
mais surpreendente delas era o veterano Zizinho, do Bangu. O time titular de
Brandão naquele ano foi: Gilmar (Corinthians), Djalma Santos (Portuguesa de
Desportos), Édson (América-RJ), Zózimo (Bangu) e Nilton Santos (Botafogo),
Roberto Belangero (Corinthians) e Didi (Botafogo), Joel (Flamengo), Zizinho
(Bangu), Evaristo (Flamengo) e Pepe (Santos).
A campanha no Sul-Americano
começou com uma boa vitória sobre o Chile, por 4 x 2, jogo no qual Didi brilhou
e fez três gols. No segundo jogo, goleada arrasadora por 7 x 1 sobre o Equador,
seguida de um 9 x 0 sobre a Colômbia, dia no qual Evaristo fez cinco gols (ele já
tinha feito dois no jogo anterior, contra os equatorianos). As coisas caminhavam
bem, mas logicamente era preciso medir forças contra uruguaios e argentinos
para se saber quais eram as reais chances de título.
Na quarta rodada, o Brasil tinha
o Uruguai pela frente. Era sua “primeira final”. Didi e Evaristo, que vinham
sendo os destaques daquela campanha, marcaram cada um seu gol, os quais deram alguma
esperança no segundo tempo, mas a seleção pagou um preço caro por ter sofrido
três gols antes dos 23 minutos do primeiro tempo.
Depois veio uma vitória simples sobre
os donos da casa, o Peru, com gol de Didi, que vinha sendo o grande nome da
equipe. No último jogo, o Brasil precisava vencer a Argentina para ter
possibilidades de se manter na luta pelo título. O time argentino, no qual se
destacavam Omar Sivori, José Sanfilippo e o artilheiro Humberto Maschio, abriu
o marcador no primeiro tempo, e sacramentou a vitória com dois gols nos últimos
minutos da etapa final, fazendo implacáveis 3 x 0 e sendo campeão com um jogo de
antecipação, no último, só por cumprir tabela, perdeu do Peru. A derrota fez o Brasil
voltar para casa sob uma saraivada de críticas da imprensa.
Dez dias após o fim do
Sul-Americano, dava-se início às Eliminatórias para a Copa. Na América do Sul
seriam três grupos, com o campeão de cada um classificado. O primeiro tinha
Brasil e Peru apenas, o segundo tinha Argentina, Chile e Bolívia, e o terceiro
com Uruguai, Paraguai e Colômbia. Os uruguaios acabaram eliminados pelos
paraguaios e o Bi-campeão Mundial ficou de fora. As Eliminatórias daquela Copa foram fatais para os Bi-campeões, na Europa a
Itália foi eliminada pela Irlanda do Norte e também ficou fora do Mundial de 58.
O Brasil empatou por 1 x 1 em
Lima, com gol do atacante Índio. Na volta, no Maracanã, a Seleção Brasileira
passou sufoco, venceu apenas por 1 x 0, gol de Didi, e ouviu vaias pelo mau
futebol apresentado dentro de campo. Classificou-se à Copa do Mundo de 1958,
porém Oswaldo Brandão não resistiu no cargo, acabou descartado.
Para os compromissos que ainda
restavam naquele ano, jogos contra Portugal em Lisboa e a Copa Roca, contra a
Argentina, foi posto como técnico interino o gaúcho Sylvio Pirilo, ex-jogador de
Flamengo e Botafogo, e sem nenhuma experiência anterior como técnico de uma
equipe. Ele não só foi bem, como em sua curta estadia na Seleção Brasileira
lançou a campo pela primeira vez um menino que estava prestes a mudar a
história do futebol mundial.
Na Europa, o Brasil venceu Portugal
duas vezes. Em 7 de julho, o Brasil entrou em campo para pegar a Argentina no
Maracanã jogando com: Castilho (Fluminense), Paulinho de Almeida (Vasco), Bellini
(Vasco) e Oreco (Corinthians), Zito (Santos), Jadir (Flamengo) e Didi
(Botafogo), Maurinho (São Paulo), Luizinho Trujillo (Corinthians), Del Vecchio
(Santos) e Tite (Santos). No time argentino, os destaques eram os já veteranos
Carrizo, no gol, e Angel Labruna, no comando de ataque. Era outra equipe,
totalmente diferente da que havia sido campeã sul-americana no começo do ano.
Labruna e Suarez fizeram os gols argentinos. Para tentar uma reação no segundo
tempo, Pirilo lançou a campo, no lugar de Del Vecchio, um menino do Santos que
sequer havia completado 17 anos ainda, mas que vinha fazendo muitos gols no
Campeonato Paulista, o garoto Pelé. E logo após entrar em campo, foi dele o gol
que diminuiu a diferença no placar. Em sua estréia com a camisa da Seleção
Brasileira, Pelé fez o seu. Três dias depois novo confronto, este no Pacaembu.
Desta vez Pirilo já lançou Pelé no começo do jogo no time titular. Ele voltou a
balançar a rede, com Mazola depois ampliando. Com 16 anos e 9 meses, ele
debutou em dois jogos contra a Argentina, fez dois gols, e conquistou seu
primeiro título com a camisa canarinho. Nascia um mito.
No fim do ano, a CBD enviou a
Seleção Baiana, com um misto de jogadores de Bahia, Vitória e Fluminense de Feira de Santana, para disputar a Taça Bernardo O’Higgins, em dois confrontos
contra o Chile em Santiago, que o Brasil perdeu. Só em maio de 1958, o time
voltou a se reunir e agora já com um novo treinador, Vicente Feola, técnico do
São Paulo. Antes da Copa do Mundo, uma série de sete jogos amistosos, no que
seria a maior preparação já feita até então pela Seleção Brasileira para jogar
um Mundial. E o resultado nos jogos preparatórios foi excepcional.
O Brasil faria seus primeiro jogo
na Copa em 8 de junho, contra a Áustria. Pouco mais de um mês antes, em 4 de
maio, Feola fez sua estréia a frente do comando da seleção goleando o Paraguai
por 5 x 1 no Maracanã, pela Taça Oswaldo Cruz. Na seqüência, um empate sem gols
com os paraguaios no Pacaembu, no único jogo não vencido nesta série preparatória.
O time lançado a campo contra os
paraguaios no Maracanã: Gilmar (Corinthians), De Dordi (São Paulo), Bellini
(Vasco), Zózimo (Bangu) e Oreco (Corinthians), Dino Sani (São Paulo) e Didi
(Botafogo), Joel (Flamengo), Vavá (Vasco), Dida (Flamengo) e Zagallo
(Flamengo). No segundo tempo, Pelé, do Santos, entrou no lugar de Dida. Os gols
brasileiros foram feitos por Zagallo, duas vezes, Vavá, Dida e Pelé. Era a
terceira vez que Pelé, um garoto franzino de apenas 17 anos, entrava em campo
com a camisa do Brasil, a segunda no Maracanã, e marcava seu terceiro gol. Não
era uma coisa normal, algo fora de série dava sinais de estar acontecendo, um
verdadeiro fenômeno indicava sinais de suas primeiras manifestações.
No segundo jogo contra os
paraguaios, no Pacaembu, Feola manteve o time. A diferença foi a substituição
no segundo tempo, Pelé não entrou, ele pôs Canhoteiro, do São Paulo, no lugar
de Zagallo. Seguiram-se mais dois amistosos, em 14 e 18 de maio, contra a
Bulgária, seguindo o mesmo roteiro, o primeiro no Maracanã e o segundo no Pacaembu. Desta vez duas vitórias amplas, por 4 x 0 no Rio e 3 x 1 em São Paulo.
Mais em ambos os jogos, com Feola aproveitando para mexer bastante no time e
dando oportunidade aos jogadores que não enfrentaram os paraguaios. No Maracanã,
os quatro gols foram de jogadores do Flamengo: Moacir, duas vezes, Joel e Dida
marcaram. No Pacaembu, os três gols foram de jogadores do Santos: Pelé, duas
vezes, e Pepe fizeram.
O último amistoso no Brasil antes
do embarque para a Europa foi em 21 de maio, a Seleção Brasileira goleou o
Corinthians por 5 x 0 no Pacaembu. O time jogou com Djalma Santos, da
Portuguesa de Desportos, na lateral-direita, e Nilton Santos, do Botafogo, na
lateral-esquerda. Zito, do Santos, passou a formar o meio-campo, ao lado de
Didi. E no ataque, Garrincha, do Botafogo, foi mais uma vez usado como titular
na ponta-direita, como havia sido nos jogos com a Bulgária. Garrincha e Pepe
marcaram duas vezes cada um, com Mazola complementando a goleada sobre os
corinthianos.
Antes de chegar à Suécia, uma
parada na Itália, onde o Brasil goleou os times da Fiorentina e da
Internazionale. O primeiro jogo, contra a Fiorentina, foi a partida mitológica
na qual se diz que quando o placar já estava 4 x 0 para a Seleção Brasileira,
Garrincha driblou a defesa italiana inteira e, depois de já haver passado pelo
goleiro, parou quase sobre a linha e tentou mais um drible, para trás, sobre um
zagueiro que vinha fazer a cobertura. Ele acabou fazendo o gol, mas diz a lenda
que perdeu a titularidade nos primeiros jogos da Copa por conta deste lance. Sobre
a Fiorentina, Mazola fez dois, e Garrincha e Pepe também marcaram. O time
começava a ter a cara do que estava por entrar na história: Gilmar, De Sordi,
Bellini, Orlando Peçanha e Nilton Santos, Dino Sani e Didi, Garrincha, Mazola,
Dida e Pepe.
Três dias depois, uma nova
goleada por 4 x 0, desta vez sobre a Internazionale. Em relação ao jogo
anterior, Castilho jogou no gol no lugar de Gilmar, e Joel foi o titular na
ponta-direita no lugar de Garrincha. Para a estréia no Mundial da Suécia, uma
semana depois, Gilmar voltaria ao gol, mas Garrincha seria mantido no banco. Os
gols brasileiros foram de Dino Sani, Mazola, Dida e Zagallo, que entrou no
segundo tempo no lugar de Pepe. E a única novidade na estréia foi justamente Zagallo como titular na ponta-esquerda, posição que havia sido de Pepe na reta
final dos amistosos.
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