A reta final de preparação, às
vésperas da Copa, no entanto, já dava sinais de que o time tinha dificuldades.
O Brasil jogou nove amistosos em território nacional no começo daquele ano, não
perdeu, tendo vencido seis e empatado três. Mas a qualidade estava visivelmente
abaixo do padrão histórico do time brasileiro.
O Brasil venceu a Tchecoslováquia
(1 x 0), Bulgária (1 x 0), Romênia (2 x 0), Haiti (4 x 0), Irlanda (2 x 1) e
Paraguai (2 x 0). E empatou com México, Grécia e Áustria. Os resultados
despertaram críticas e dúvidas na imprensa esportiva.
A seleção embarcou para a Europa,
onde ainda fez três jogos preparatórios, vencendo os combinados do Sudoeste da
Alemanha e da Basiléia, na Suíça, e empatando com o Racing Strasbourg, da
segunda divisão da França. Era cada vez maior a desconfiança com os comandados
de Zagallo.
Os 22 convocados para a Copa de
74 foram:
Goleiros: Leão (Palmeiras), Renato (Flamengo) e Wendel (Botafogo)
Laterais: Zé Maria (Corinthians), Nelinho (Cruzeiro), Marinho
Chagas (Botafogo) e Marco Antônio (Fluminense)
Zagueiros: Marinho Peres (Santos), Luís Pereira (Palmeiras) e Alfredo
(Palmeiras)
Meias: Wilson Piazza (Cruzeiro), Paulo César Carpeggiani (Internacional),
Rivellino (Corinthians), Paulo César Caju (Flamengo) e Ademir da Guia
(Palmeiras).
Atacantes: Jairzinho (Botafogo), Valdomiro (Internacional), Leivinha
(Palmeiras), César Lemos (Palmeiras), Mirandinha (São Paulo), Edu (Santos) e
Dirceu (Botafogo).
A 10ª Copa do Mundo foi jogada na
Alemanha Ocidental. Os 16 participantes eram 9 europeus, 4 sul-americanos, mais
Austrália, Haiti e Zaire, no que foi a primeira participação de um africano.
Nas Eliminatórias das Américas do Norte e Central, a primeira surpresa, tendo o
Haiti eliminado o México. Na Europa, Inglaterra e França acabaram eliminadas. Os
ingleses caíram para a surpreendente equipe da Polônia, que também
surpreenderia naquele Mundial. Por fim, a presença das duas Alemanhas não só na
mesma Copa como dividindo o mesmo grupo; e proporcionando um resultado
surpreendente e histórico: a Alemanha Oriental venceu a Alemanha Ocidental por
1 x 0, na que foi a única derrota da equipe que viria a ser a campeã daquela
Copa do Mundo.
O sistema de disputa mudou. Na 1ª
fase mantinham-se 4 grupos de quatro. Os dois primeiros de cada grupo avançavam
à segunda fase, onde se dava a novidade, pois estes se dividiam em dois grupos
de quatro, com o vencedor de cada grupo fazendo a final. Este formato foi
utilizado nas Copas do Mundo de 1974 e 1978.
O Grupo 1 tinha Alemanha
Ocidental, Alemanha Oriental, Chile e Austrália. O Grupo 2 tinha Brasil,
Iugoslávia, Escócia e Zaire. O Grupo 3 tinha Uruguai, Suécia, Holanda e
Bulgária. E o Grupo 4 tinha Argentina, Itália, Polônia e Haiti. A surpresa da
fase inicial foi a eliminação prematura da Itália, então vice-campeã mundial,
que acabou derrubada pela Polônia. O Uruguai, bi-campeão mundial, derrotado por
Holanda e Suécia, também acabou eliminado na primeira fase.
O Brasil começou a Copa no mesmo
ritmo que vinha jogando nos amistosos preparatórios, um jogo nada atraente, nem
envolvente. Carente de força ofensiva, e mais aguerrido do que técnico. Nos
dois primeiros jogos, dois empates sem gols, contra Iugoslávia e Escócia. No
terceiro jogo, o adversário era o estreante Zaire. O Brasil precisava de uma
vitória por três gols para obter a classificação. A Iugoslávia os havia vencido
por implacáveis 9 x 0, e a Escócia por magros 2 x 0. Com uma vitória por 3 a 0
o time brasileiro avançava. Havia a expectativa por parte dos torcedores
brasileiros de uma acachapante goleada. Mas o Brasil fez os 3 x 0 de que
precisava, e, sem empolgar, garantiu vaga na segunda fase. Os titulares do
Brasil: Leão, Zé Maria, Marinho Peres, Luís Pereira e Marinho Chagas, Wilson
Piazza, Rivellino e Paulo César Caju, Jairzinho, Valdomiro e Dirceu.
Na segunda fase, o Grupo E ficou com Brasil, Argentina, Holanda e Alemanha Oriental. Brasileiros e argentinos despontavam favoritos, mas o time holandês vinha jogando um futebol muito dinâmico, surpreendendo os adversários. Na 1ª fase, a Holanda venceu ao Uruguai por 2 x 0, empatou sem gols com a Suécia e fez 4 x 1 na Bulgária. Do outro lado, no Grupo F, estavam Alemanha Ocidental, Iugoslávia, Polônia e Suécia.
O Brasil começou a segunda fase
com uma vitória magra, por 1 x 0, sobre os alemães orientais. A seleção
continuava jogando um futebol bucólico e sem brilho. No jogo seguinte, o Brasil
venceu a Argentina, seu maior rival, por 2 x 1, e ganhou confiança. Aumentava
sensivelmente a esperança de estar na final. Os argentinos, que haviam sofrido
uma implacável derrota de 4 x 0 para os holandeses, foram eliminados naquele
jogo, o primeiro confronto Brasil x Argentina da história das Copas do Mundo.
O time de Zagallo foi confiante
para enfrentar a surpreendente Holanda, algoz de Uruguai e Argentina. Os
holandeses só haviam jogado as Copas de 34 e 38. Era quase se fossem estreantes
no Mundial. O Brasil, três vezes campeão mundial, dava-se ao direito de ter a presunção
de não poder ser derrotado por uma equipe sem tradição no futebol. Ainda que do
outro lado estivessem craques do quilate de Cruyff e Neeskens, e uma equipe que
foi apelidada de “Carrossel Holandês” e de “Laranja Mecânica”.
Os comandados do revolucionário
treinador Rinus Michel jogavam um futebol dinâmico, com uma postura tática nova
e inovadora, atacando e defendendo em grandes blocos compactos de jogadores. O
ápice do que se entendia na época como “futebol total”. Os jogadores invertiam
suas posições no campo constantemente, retinham a posse de bola e trocavam
muitos passes, numa forma de jogar menos estática. O timaço holandês jogava com
Jongbloed; Suurbier, Arie Haan, Rijsbergen e Krol; Jansen, Van Hanegen, Neeskens
e Cruyff; Johnny Rep e Rensenbrink. O grande cérebro da equipe era o magistral
Johan Cruyff. Ao seu lado, quase tão genial quanto ele, estava Johan Neeskens. E havia outros
belíssimos jogadores de futebol, como Suurbier, Krol, Rep e Rensenbrink.
O primeiro tempo de Brasil e
Holanda terminou sem gols. Mas logo no início do segundo tempo os holandeses
mostraram seu cartão de visitas e abriram o placar, gol de Neeskens. Quinze
minutos depois, aos 20 minutos, Cruyff ampliou. A Seleção Brasileira,
completamente envolvida pelo adversário, e sem conseguir demonstrar qualquer
sinal de reação, apelou para a violência. O Brasil desandou a fazer faltas para
diminuir o ímpeto holandês. Luís Pereira acabou expulso. A Holanda chegava pela
primeira vez em sua história a uma final de Copa do Mundo.
No Brasil, a derrota para uma seleção até então sem tradição no futebol explodiu como uma bomba. Os jogadores foram muito criticados. Mas foi Zagallo o principal alvo. As maiores críticas eram pela não titularidade de Ademir da Guia. O filho de Domingos da Guia era a principal estrela do Palmeiras, que dominava o futebol brasileiro, mas que foi preterido do time titular por Paulo César, o qual era comandado na época por Zagallo no time do Flamengo.
A máquina holandesa de jogar
futebol foi à final contra a Alemanha Ocidental. Com dois minutos de jogo
Neeskens abriu o marcador. Mas no que parecia uma repetição da epopéia alemã
vinte anos antes, quando esta superou a Hungria de Puskas, o time virou ainda
no primeiro tempo, com gols de Breitner e Gerd Muller. E ficou nisto: Alemanha
2 x 1 Holanda. Os alemães conquistavam seu segundo título mundial.
Os campeões, comandados por
Helmut Schon, e donos de um futebol que também era chamado de “futebol total”,
pelo estilo compactado e dinâmico na movimentação pelo campo de jogo: Sepp Maier;
Berti Vogts, Schwarzenbek, Franz Beckenbauer e Breitner; Hoeness, Bonhof e
Overath; Grabowski, Gerd Muller e Holzenbein.
A Seleção da Copa escolhida pela
FIFA: Tomaszewski (Polônia), Berti Vogts (Alemanha OC), Beckenbauer (Alemanha
OC), Suurbier (Holanda) e Marinho Chagas (Brasil), Deyna (Polônia), Neeskens (Holanda),
Cruyff (Holanda) e Overath (Alemanha OC), Lato (Polônia) e Rensenbrink (Holanda).
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