Após o título mundial da Seleção
Brasileira, os olhos europeus se voltaram para o Brasil. Didi foi contratado
pelo Real Madrid, e Vavá pelo Atlético de Madrid. Quem também tomou os rumos
dos gramados europeus foi Mazola, que foi defender o Milan, da Itália. Dino
Sani, pouco depois, em 1961, também foi comprado pelo Milan. Em 1963 seria a
vez de Amarildo se juntar a eles no Milan. O elenco milanês tinha três
brasileiros na temporada 1963-64. Nos anos seguintes, os pontas Germano e
Ângelo Sormani também passariam por lá. Já o rival de Milão, a Internazionale,
contratou em 1962 o atacante Jair da Costa, que ficou lá por dez anos. Caminhos parecidos ao que já havia sido percorrido por Dino da Costa, ex-jogador do Botafogo, que brilhou pelo Roma entre 1955 e 1960. Depois, de 1960 a 1968, passou por Fiorentina, Atalanta, Juventus, Verona e Ascoli. Dino não defendeu a seleção italiana, mas certamente por ser mestiço, de traços indígenas, diferentemente de Mazola, branco e aloirado.
José Altafini, descendente de
italianos, ganhou o apelido de Mazola pela semelhança física com Valentino
Mazzola, craque da equipe do Torino, penta-campeã italiana, que faleceu no
acidente aéreo que matou todo o time em 1949. No Campeonato Italiano, jogou
contra o filho de Valentino, Sandro Mazzola. Altafini foi para a Itália para não voltar:
defendeu o Milan de 1958 a 65, o Napoli de 1965 a 72 e a Juventus de 1972 a 76,
naturalizou-se italiano e jogou a Copa do Mundo de 62 pela Squadra Azzurra, ao
lado dos argentinos naturalizados Omar Sivori e Humberto Maschio.
Mazola no Milan e no Napoli
A forte presença imigrante é uma característica marcante do Brasil, e com uma diferenciação especial, pois
gerou um nível de miscigenação sem igual em nenhuma outra parte do mundo. Se a
escravidão trouxe 4,5 milhões de africanos ao longo de quatro séculos, o
incentivo à imigração trouxe 2,7 milhões entre 1889 e 1914, entre alemães,
italianos, japoneses, espanhóis, finlandeses, húngaros, libaneses, sírios,
judeus e ingleses. Só da Itália, vieram um milhão e meio de imigrantes, que se
concentraram em São Paulo e no Rio Grande do Sul. Da Alemanha, vieram
aproximadamente 250 mil, que se concentraram em Santa Catarina e no Rio Grande
do Sul. Do Japão, entre 1908 e 1935 foram 230 mil imigrantes chegando
principalmente a São Paulo, até hoje representa o maior contingente de
japoneses fora do Japão em todo o mundo. Um grande contingente de poloneses e de
ucranianos imigrou para o Paraná. Libaneses, sírios, turcos e judeus se
espalharam entre o Rio de Janeiro e São Paulo. Os finlandeses aportaram na
Região Serrana do estado do Rio de Janeiro. Em toda a história mundial, só os
Estados Unidos receberam tamanha massa de imigrantes, mas por lá, certamente, a
miscigenação jamais chegou perto da ocorrida no Brasil, onde não aconteceu sem
a necessidade de superação de barreiras, mas onde estes povos se integraram e
se misturaram, e fizeram descendentes mestiços.
Depois de ser Campeão do Mundo em 1958, o
Brasil viajou para Buenos Aires para o Campeonato Sul-Americano de 1959 como favorito. Na estréia, porém, o time brasileiro empatou em 2 x 2 com o
Peru, e isto lhe custou caro. O time peruano era bom, tanto que na segunda
rodada venceu ao Uruguai por 5 x 3 e só foi parado pela Argentina, para quem
perdeu por 3 x 1. O Brasil, depois do empate com os peruanos, venceu quatro
jogos seguidos: 3 x 0 no Chile, 4 x 2 na Bolívia, 3 x 1 no Uruguai e 4 x 1 no
Paraguai. Com Pelé tendo feito 7 gols (ainda faria mais um na última rodada), o atacante
do Botafogo, Paulinho Valentim, tendo feito 5 gols, e Didi feito 3 gols, o
Brasil vinha jogando o bom futebol que se esperava dele. Mas na última rodada,
só uma vitória sobre a Argentina impediria o título dos donos da casa.
O Brasil já havia sofrido com uma briga generalizada no jogo com o Uruguai, e ficou altamente insatisfeito com a arbitragem no jogo com a Argentina, no qual Pizzuti abriu o marcador para os donos da casa aos 40 minutos do primeiro tempo, com Pelé tendo empatado aos 13 do segundo. E eis que o árbitro encerrou a partida no meio de um contra-ataque brasileiro, com Garrincha avançando sozinho pela intermediária argentina.
Depois de ser vice na Argentina, o
Brasil venceu um amistoso contra a Inglaterra por 2 x 0 no Maracanã (o jogo em
que Julinho Botelho foi das vaias aos aplausos), goleou o Chile por 7 x 0 pela
Taça Bernardo O’Higgins, bateu o Paraguai pela Taça Oswaldo Cruz e, no confuso
cenário do futebol sul-americano, mandou a Seleção Pernambucana para jogar um torneio
sul-americano em Guayaquil, que inicialmente não seria um torneio oficial,
afinal houve um torneio nove meses antes; mas, posteriormente ao fim do torneio
a Conmebol decidiu considerá-lo oficial e chamou de Campeonato Sul-Americano
Extra. O Brasil perdeu para Uruguai, Colômbia e Argentina (4 x 1), num torneio
que reunia só cinco equipes. Os uruguaios acabaram campeões.
Insatisfeito com as confusões no
futebol da América do Sul, a CBD enviou a Seleção Gaúcha novamente para jogar o
Campeonato Pan-Americano de 1960, em sua terceira e última edição (desta vez a
Argentina foi a campeã), depois jogou o Sul-Americano de 1963 com um time mesclando a
Seleção Mineira e jogadores do interior de São Paulo (a Bolívia acabou campeã,
num torneio que o Uruguai não participou e a Argentina, assim como os
brasileiros, não mandou uma seleção forte), e o Brasil sequer participou do
Sul-Americano de 1967. Depois da derrota no Sul-Americano de Buenos Aires, em
1959, a Seleção Brasileira só voltaria a colocar seu time principal em campo
para uma competição continental na Copa América de 1975.
O ano de 1960 foi especial para a
Seleção Brasileira pelas duas goleadas aplicadas sobre a Argentina, a primeira
em plena Buenos Aires, por 4 x 1, com dois gols do atacante do Vasco, Delem, e
com Julinho Botelho e Servílio completando a goleada. Depois, pela Taça do
Atlântico, goleada por 5 x 1 no Maracanã, com dois gols de Pepe, Pelé, Delem e
Chinesinho. Foi um raro momento na história em que o futebol brasileiro sobrava
em relação ao futebol argentino.
Ainda naquele ano, o Brasil fez uma
excursão de três jogos ao Egito – vitórias por 5 x 0, 3 x 1 e 3 x 0 –, fez uma
excursão à Europa da qual voltou invicto (venceu o Malmoe, clube da Suécia, por
7 x 1, a Dinamarca por 4 x 3 e o Sporting, de Portugal, por 4 x 0, tendo
empatado em 2 x 2 com a Internazionale, em Milão). Para fechar o ano, foi
campeão da Taça do Atlântico, um quadrangular entre Brasil, Argentina, Uruguai
e Paraguai. O Brasil só perdeu para o Uruguai, em Montevidéu, num jogo que
encerrou uma invencibilidade de 32 jogos da Seleção Brasileira quando jogando
com sua seleção principal, com 27 vitórias e 5 empates entre julho de 1957 e
julho de 1960.
Durante a preparação para a Copa
de 62, ninguém parava a Seleção Brasileira, eram vitórias e vitórias. Em 1961, Vicente Feola enfrentou um grave problema cardíaco e teve de ser substituído, o técnico passou a ser Aymoré Moreira, ex-treinador de Palmeiras e São Paulo, e
irmão de Zezé Moreira, que havia treinado o Brasil na Copa do Mundo de 1954.
Naquele ano, o Brasil venceu três vezes ao Paraguai e duas vezes ao Chile,
conquistando a Taça Oswaldo Cruz e a Taça Bernardo O’Higgins. Em 1962, antes do
Mundial no Chile, jogou seis amistosos, vencendo todos, duas vezes ao Paraguai,
duas vezes a Portugal e duas vezes ao País de Gales.
Vários jogadores foram testados
entre as Copas de 58 e 62. Na zaga, Calvet, do Santos, e Vítor, do São Paulo,
no meio Chinesinho, do Palmeiras, e Mengálvio, do Santos, e no ataque Paulinho
Valentim e Quarentinha, do Botafogo, Dorval e Coutinho, do Santos, e Delem, do
Vasco. Mas no final, a Seleção Brasileira que jogaria a Copa de 62 seria a
mesma que havia sido campeã na Suécia. A única mudança era a zaga reserva de
quatro anos antes que passava a ser a titular. Havia uma pressão natural da
imprensa para que mais jogadores do Santos fossem titulares, afinal a
histórica equipe de Mengálvio, Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe estava
insuperável, vencendo tudo. Outra preocupação era por ser um time já
envelhecido em relação ao campeão quatro anos antes. Pesaria a idade ou a
experiência iria se sobrepor? O time viajou ao Chile para descobrir.
Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe
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