quinta-feira, 26 de setembro de 2013

O Brasil era um país muito jovem e em formação

O Brasil é um gigante com dimensões territoriais continentais. O país representa aproximadamente 50% do território da América do Sul, assim como sua população também é de cerca de metade da do subcontinente. No início, as vantagens adquiridas com a não fragmentação territorial do processo de Independência, não passavam de um acúmulo de dificuldades e desafios, afinal era necessário superar as grandes barreiras geográficas e integrar o país colossal, herdado dos tempos coloniais.

No fim do século XIX e início do século XX, a cabeça do brasileiro estava imersa em um mar de baixa auto-estima, cheia de complexos de inferioridade. O Brasil havia sido o último país do mundo a abolir o sistema escravagista, fora o último latino-americano a libertar-se do poder político de além-mar. Tivera uma independência forjada, sem luta, sem conquista, e todos os seus vínculos na Europa haviam sido construídos a partir de regiões pobres do velho continente, longe da prosperidade avassaladora que emergira com o desenvolvimento industrial. O passado brasileiro parecia não mais do que uma condenação. Nesse contexto sócio-cultural, após a Proclamação da República, uma fração da elite brasileira trata de trabalhar para fazer do Rio de Janeiro uma utopia que mantivesse a unidade territorial nacional e fosse uma ferramenta útil na construção de um país novo, com ordem, e na busca do progresso.

Após a Proclamação da República, a elite brasileira precisou se voltar para a construção de um futuro que libertasse o país deste seu passado. Era necessário desenvolver a auto-estima nacional. Neste novo projeto, por força das circunstâncias, foi preciso que a cidade do Rio se tornasse a peça para um desligamento simbólico do passado que condenava o Brasil. Foi uma ironia forçada pelo destino, pois a princípio não era isso o que se desejava. A primeira Carta Constituinte já previa a construção de uma nova capital federal no planalto Central. O Brasil olhava para o Rio de Janeiro com uma enorme desconfiança; afinal, ali estavam todos os alicerces da monarquia de onde partira todo o esquema de repressão portuguesa às revoltas nas várias províncias que buscaram independência. Afastar-se da capital do império seria o desligamento simbólico pensado inicialmente, mas o custo de se transferir a capital federal para o centro do país era muito elevado. Não havia no país recursos econômicos que viabilizassem esta mudança. Além do mais, o Rio, como cidade-estado desde 1834 (Município Neutro), oferecia todas as vantagens estratégicas para abrigar o Distrito Federal sem que houvesse uma disputa entre as províncias, o que poderia implicar a perda da coesão do território nacional. Assim, manteve-se a capital onde estava e em torno da cidade tratou-se de construir a unidade cultural nacional.

A ordem política nos primeiros anos da república era sustentada, sobretudo, pelos recursos da aristocracia do café. O Brasil era o grande produtor mundial de café, seguido pela Colômbia. Até 1850, a principal região produtora era o Vale do Paraíba, no oeste do estado do Rio de Janeiro, em torno da região de Vassouras e Valença. Com o esgotamento dos solos fluminenses, a cafeicultura se mudou para o interior de São Paulo, para as regiões de Limeira, Campinas e Bragança Paulista, e posteriormente Ribeirão Preto. No nascimento da república, eram nestas regiões que estavam os principais recursos econômicos.

A política se dividia entre o Partido Republicano Federal (PRF), o Partido Republicado Paulista (PRP) e o Partido Republicano Mineiro (PRM). As eleições eram indiretas. A primeira foi realizada em 1891 e foi vencida por Deodoro da Fonseca, aquele que havia proclamado a República dois anos antes, que venceu Prudente de Morais, que por sua vez venceria a eleição seguinte, em 1894.

Daí para frente começou a República do Café com Leite, com o PRP e o PRM revezando-se no poder. Na eleição de 1898 venceu Manuel Campos Sales (PRP), na de 1902 venceu Rodrigues Alves (também PRP), em 1906 venceu Afonso Pena (PRM), em 1910 venceu Hermes da Fonseca (também PRM), depois em 1914 foi a vez de Venceslau Brás (coligação PRP – PRM), em 1919 venceu Epitácio Pessoa (PRM), a seguir, em 1922, foi a vez de Artur Bernardes (também PRM), seguido por Washington Luís (PRP) em 1926.

Apesar do acordo político entre as aristocracias do café (de São Paulo) e do leite (de Minas Gerais), o clima político do país estava longe de estar apaziguado. As divergências regionais continuavam reaparecendo de tempos em tempos. Em 1923 houve a Revolução do Rio Grande do Sul, em 1924 houve a Revolução Paulista, que voltou a ocorrer em 1932. Em 1935, a Intentona Comunista tentou dar um golpe bolchevique através da Coluna Prestes, liderada pelo líder comunista Luís Carlos Prestes.

Para agravar, o mundo metia-se na maior recessão de sua história após o Crash da Bolsa de Nova Iorque em 1929. A retração mundial impôs pesadas perdas aos cafeicultores. Na iminência de uma vitória do Partido Republicano Mineiro nas eleições de 1930, os cafeicultores paulistas se organizaram e induziram Washington Luís a romper o acordo café-com-leite e eleger Júlio Prestes, do PRP, como presidente. O objetivo do PRP era obter resguardo político para que a política protecionista ao café fosse mantida, mitigando os efeitos da crise internacional.

A ação funcionou e Júlio Prestes venceu a eleição, mas não assumiu. O PRM articulou um golpe de estado junto ao candidato derrotado, Getúlio Vargas, do Partido Libertador Gaúcho. Eles também tinham o apoio do Partido Democrático Paulista e do Partido Republicano Paraibano. Deu-se o golpe de estado que levou a quinze anos de Getúlio Vargas no poder. O argumento para o golpe era esfriar o “rolo compressor paulista”, que só pensava em seus interesses e era incapaz de ceder a outras unidades federativas.

O Brasil era um país formando uma democracia ainda muito pueril, era essencialmente agrícola e recém começava a conseguir dar acesso básico à educação para a massa de iletrados que foram tirados à sorte no fim da escravidão para sobreviverem como pudessem (em 1890, 84% da população brasileira é analfabeta, em 1920 cai para 75% da população sendo de analfabetos). Na economia, não havia capital capaz de financiar a implantação de gigantes industriais, as poucas indústrias que se expandiam nestes tempos pelo Brasil eram as de bens de consumo, produzidos em plantas modestas e com capacidade de produção limitada. A unidade do Brasil ainda era puramente aparente, estava ainda em construção, todas as províncias ainda ansiavam pela separação e almejavam uma federação similar à dos Estados Unidos. Daí nascia a necessidade de construir alicerces de maior brasilidade, que permitissem que se forjasse uma verdadeira unidade nacional.

Nenhum comentário:

Postar um comentário