quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Três seleções em um único ano

Depois da Copa de 54, a Seleção Brasileira só voltou a jogar em setembro de 1955, quando se reuniu para enfrentar o Chile pelo Taça Bernardo O’Higgins, empatando em 1 x 1 no Rio e vencendo por 2 x 1 em São Paulo. Dois meses depois, jogou contra o Paraguai, pela Taça Oswaldo Cruz, vencendo por 3 x 0 no Rio e empatando em 3 x 3 em São Paulo. O time titular naqueles jogos teve: Gilmar (Corinthians), Paulinho de Almeida (Vasco), Alfredo Ramos (São Paulo) e Nilton Santos (Botafogo), Dequinha (Flamengo), Formiga (Santos) e Didi (Fluminense), Maurinho (São Paulo), Humberto (Palmeiras), Ipojucan (Portuguesa de Desportos) e Escurinho (Fluminense).

Em janeiro o Brasil disputaria mais um Campeonato Sul-Americano. Aqueles jogos do fim do ano anterior poderiam ter sido preparatórios, mas não foram, porque no fim o torneio foi jogado com uma seleção totalmente distinta.

A Seleção Brasileira nunca havia jogado tanto como jogaria naquele ano de 1956. Em janeiro e fevereiro haveria Sul-Americano em Montevidéu. Em março haveria o 2º Pan-Americano, na Cidade do México. Em abril, estava programada uma excursão à Europa e no fim daquele ano o Brasil receberia amistosamente à Itália e à Tchecoslováquia.

A CBD decidiu montar três seleções diferentes. No Sul-Americano, o Brasil seria representado por uma Seleção Paulista, só com jogadores de São Paulo, que seria comandada por Oswaldo Brandão. No Pan-Americano, seria representado por uma Seleção Gaúcha, só com jogadores do Rio Grande do Sul, comandada por Teté. E na ida à Europa, o comandante seria o veterano Flávio Costa, sem restrições na convocação.

Em Montevidéu, os titulares de Brandão foram: Gilmar (Corinthians), Djalma Santos (Portuguesa de Desportos), De Sordi (São Paulo) e Alfredo Ramos (São Paulo), Formiga (Santos) e Roberto Belangero (Corinthians), Maurinho (São Paulo), Del Vecchio (Santos), Zezinho (São Paulo), Luizinho Trujillo (Corinthians) e Canhoteiro (São Paulo). Logo na estréia o título ficou distante, com o Brasil sendo goleado pelo Chile por 4 x 1. Na história da seleção, são poucas as derrotas para os chilenos, mas quando ocorrem são em boa parte com goleada, com aconteceu na Copa América de 1987 e nas Eliminatórias em 2000. Na segunda rodada, um empate sem gols com o Paraguai deixou a missão ainda mais difícil. A seguir, vitórias por 2 x 1 no Peru e por 1 x 0 na Argentina e um empate sem gols com o Uruguai. Fora da briga por título, o Brasil viu os uruguaios chegarem à última rodada com a vantagem do empate para conquistar o título; eles venceram pela vantagem mínima e voltaram a ser campeões.

No Pan, o time escolhido por Teté tinha: Sérgio (Grêmio), Florindo (Internacional), Duarte (Brasil de Pelotas), Odorico (Internacional) e Oreco (Internacional), Ênio Rodrigues (Grêmio) e Luizinho (Internacional), Bodinho (Internacional), Larry (Internacional), Ênio Andrade (Renner) e Chinesinho (Internacional). O time venceu ao Chile por 2 x 1, ao Peru por 1 x 0, ao México por 2 x 1, goleou a Costa Rica por 7 x 1 e empatou em 2 x 2 com a Argentina, tornado o Brasil Bi-campeão Pan-Americano.

Dentre os jogadores que foram comandados por Flávio Costa no restante dos jogos do ano, o time formado pelos que entraram mais vezes em campo: Gilmar (Corinthians), Djalma Santos (Portuguesa de Desportos), Edson (América-RJ), Zózimo (Bangu) e Nilton Santos (Botafogo), Formiga (Santos) e Zizinho (Bangu), Canário (América-RJ), Leônidas da Selva (América-RJ), Gino (São Paulo) e Canhoteiro (São Paulo).

Este time primeiro fez uma parada em Recife, onde venceu a Seleção de Pernambuco por 2 x 0. Jogos fora do eixo Rio-São Paulo ainda eram uma raridade. Aquela era a 81ª vez que a Seleção Brasileira entrava em campo em solo brasileiro, havia jogado 53 vezes no Rio de Janeiro (então ainda como Capital Federal), 16 vezes em São Paulo, 6 vezes em Salvador e outras 6 em Recife. Desde a excursão de onze jogos em Recife e Salvador em 1934, a seleção não havia voltado a sair para jogar em outras praças.

De lá, a seleção embarcou para a Europa. Jogou em Portugal, onde venceu os portugueses por 1 x 0, empatou com a Suíça em Zurique, venceu a Áustria em Viena, empatou com os tchecos em Praga, venceu a Turquia em Istambul, e sofreu duas derrotas: 3 x 0 para a Itália, em Milão, e 4 x 2 para a Inglaterra, em Londres.

Ao voltar, amistosamente, venceu duas vezes o Paraguai, bateu o Uruguai e empatou sem gols com a Argentina. Depois, recebeu, pela primeira vez, seleções européias para amistosos no Brasil. Venceu a Itália por 2 x 0 no Rio, perdeu da Tchecoslováquia por 1 x 0 também no Rio, e depois goleou os tchecos em São Paulo por 4 x 1.

Foram 25 jogos naquele ano de 1956, nunca a seleção havia jogado tanto num ano. Muita coisa vinha mudando no Brasil e no futebol brasileiro. Em 1954, o Presidente da República, Getúlio Vargas, havia se suicidado no Palácio do Catete, com seu governo envolto em casos de corrupção e com pessoas muito próximas a ele envolvidas como mandantes em emboscadas para assassinar membros da oposição. Em 1955, foi eleito Juscelino Kubitschek como novo presidente, e ele chegava ao poder com um discurso de transformação, prometendo tirar a capital do Rio de Janeiro, e construir um novo país, mais moderno e mais forte. Em meio a este contexto, começa a surgir um uso política da Seleção Brasileira, que iria aumentar ainda mais nos anos seguintes.

Ao mesmo tempo, o futebol brasileiro também vinha ganhando uma notoriedade. Após ser semi-finalista na Copa de 38, finalista na Copa de 50, e derrubado pelo poderoso Time de Ouro nas quartas da Copa de 54, os europeus já viam o Brasil com outros olhos e o colocavam num patamar equivalente ao já conquistado anteriormente por Uruguai e Argentina. E os sinais desta mudança começaram a poder ser vistos de forma mais clara naqueles dias. É quando também brasileiros vão jogar e se destacar no futebol europeu, em tempos que este sucesso ainda significava uma grande barreira para vestir a camisa canarinho. Três casos de jogadores que se destacaram na Itália e na Espanha nestes tempos e tiveram suas carreiras encurtadas com a camisa da seleção: Julinho, Canário e Evaristo.


Julinho Botelho trocou a Portuguesa de Desportos pela Fiorentina, da Itália, em 1955, na contratação mais cara feita pelo clube italiano. Com grande destaque, foi campeão italiano na temporada 1955-56 com a Fiorentina, o primeiro título da história da equipe. Nas duas temporadas seguintes foi vice-campeão. O tempo na Europa lhe custou a presença entre os convocados para a Copa de 58. No fim daquele ano, depois da Copa, ele voltou para defender o Palmeiras. Em 1959 esteve envolvido num episódio que entrou para a história do Maracanã. Num amistoso contra a Inglaterra, quando os auto-falantes anunciaram Julinho como titular e Garrincha no banco de reservas, recebeu uma vaia monumental antes da bola rolar; quando ela rolou, ele foi o melhor em campo, sendo o principal responsável pela vitória, saindo de campo ovacionado.

Darcy Silveira dos Santos, o Canário, foi um ponta-direita que chegou à Seleção Brasileira vestindo a camisa do América, único clube brasileiro que defendeu. Em 1959 foi vendido para o Real Madrid, onde fez parte de um ataque histórico: Canário, Alfredo Di Stéfano, Puskas e Gento, sendo o primeiro brasileiro a sagrar-se campeão da Copa dos Campeões da Europa. Também foi companheiro de Didi com a camisa merengue. Depois passou por Sevilla, Zaragoza e Mallorca. Foi com a camisa do Zaragoza que recebeu os maiores elogios da imprensa espanhola, quando ao lado de Eleutério Santos, Marcelino, Juan Manuel Villa e Lapreta formou um ataque que na Espanha ficou conhecido como os "Cinco Magníficos".

Evaristo de Macedo destacou-se no Flamengo e em 1957 foi contratado pelo Barcelona, onde jogou por cinco temporadas e formou ma linha de ataque fenomenal, que tinha: Kubala, Kocsis, Evaristo, Luís Suárez e Czibor. Depois, em 1962, foi para o Real Madrid, onde jogou por três temporadas, formado o ataque com Di Stéfano, Puskas e Gento. Conseguiu a façanha de tornar-se ídolo nos dois rivais espanhóis, cuja disputa transcende a esfera futebolística.

O respeito ao estilo de jogo brasileiro crescia, e com este crescimento, aumentavam os convites para amistosos, porque havia cada vez mais gente interessada em ver a seleção jogar.

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