quinta-feira, 11 de julho de 2013

As Primeiras Conquistas da Seleção Brasileira - Parte 1

Nos primórdios da Seleção Brasileira de futebol, o esporte era jogado apenas no Rio de Janeiro e em São Paulo, os jogos do combinado nacional eram muito escassos, e os primeiros torneios eram ainda muito pequenos e simples.

Depois do primeiro jogo, em 21 de julho de 1914, no campo do Fluminense, no bairro das Laranjeiras, no Rio de Janeiro, a seleção voltou a se reunir em setembro para uma série de três jogos internacionais em Buenos Aires, na Argentina.

O time titular do técnico-jogador Sylvio Lagreca nestes três compromissos tinha: Marcos Carneiro (Fluminense), Píndaro de Carvalho (Flamengo) e Nery (Flamengo), Sylvio Lagreca (São Bento), Rubens Salles (Paulistano) e Pernambuco (Fluminense), Millon (Paulistano), Osvaldo Gomes (Fluminense), Bartô (Fluminense), Friedenreich (Ypiranga-SP) e Arnaldo (Paulistano). A base estrutural da equipe era, portanto, formada em torno das equipes do Fluminense e do Paulistano.

Em 20 de setembro, na primeira vez que perfilou num gramado fora do Brasil, a seleção canarinho perdeu implacavelmente por 3 x 0 para a Argentina. Quatro dias depois, com dois gols de Bartô e um de Arthur Friedenreich, o Brasil venceu ao Columbia, clube da Argentina, por 3 x 1. No último jogo da excursão, em 27 de setembro de 1914, a camisa canarinho conquistou o seu primeiro troféu, a Copa Roca, com vitória de 1 x 0, gol de Rubens Salles, bateu a Argentina e foi campeã.

No ano seguinte, em 1915, a seleção não se reuniu nenhuma vez. Só voltou a jogar em julho de 1916 para jogar o 1º Campeonato Sul-Americano de Futebol, a ser disputado na Argentina. A campanha teve três jogos. Antes de voltar, um jogo amistoso, em Montevidéu, contra o campeão sul-americano, o Uruguai.

Uma interessante curiosidade: das sete primeiras partidas disputadas pela Seleção Brasileira em sua história, seis delas foram jogadas em Buenos Aires. Uma segunda curiosidade neste primeiro torneio oficial jogado pelo Brasil: o árbitro representante do país na competição era o inglês Sidney Pullen, jogador e capitão do time do Flamengo por mais de uma década, entre 1915 e 1925.

O torneio foi um Quadrangular entre Argentina, Uruguai, Brasil e Chile. A seleção do Brasil empatou por 1 a 1 com Chile e Argentina, e perdeu do Uruguai por 2 a 1. Os uruguaios empataram o último jogo sem gols com os argentinos e com cinco pontos foi a campeã, ficando a Argentina com o vice e o Brasil com o terceiro lugar. O time titular do Brasil foi: Marcos Carneiro (Fluminense), Orlando (Paulistano) e Nery (Flamengo), Lagreca (São Bento-SP), Sidney (Flamengo) e Gallo (Flamengo), Luiz Menezes (Botafogo), Alencar (Americano-SP), Mimi Sodré (Botafogo), Arthur Friedenreich (Paysandu-SP) e Arnaldo (Santos).

Em 1917 a seleção voltou a se reunir para um Sul-Americano, desta vez a ser jogado em Montevidéu, no Uruguai, novamente num Quadrangular entre Uruguai, Argentina, Brasil e Chile. Antes, porém, três jogos preparatórios no Rio de Janeiro, todos contra clubes sul-americanos, primeiro um empate sem gols com o Dublin, do Uruguai, e depois um empate e uma vitória sobre o Barracas, da Argentina.

Em Montevidéu, a campanha foi desastrosa. O time titular jogou com: Casemiro (Mackenzie-SP), Vidal (Fluminense) e Chico Neto (Fluminense), Lagreca (São Bento), Gallo (Flamengo) e Dias (São Bento), Haroldo (Santos), Caetano (Palestra Itália-SP), Amílcar (Corínthians), Neco (Corínthians) e Arnaldo (Santos). Com uma base titular essencialmente formada por jogadores paulistanos, o Brasil foi goleado por 4 x 2 pela Argentina e por 4 x 0 pelo Uruguai. Na despedida, como prêmio de consolação, goleada de 5 x 0 sobre o Chile. O Uruguai venceu seus três jogos e se tornou Bi-campeão.

Em 1918, a seleção se reuniu uma única vez. O resultado foi marcante, pois em um amistoso contra o Dublin, do Uruguai, realizado mais uma vez no Rio, o Brasil perdeu por 1 a 0, na primeira derrota que a camisa canarinho sofreria para um clube em sua história. E não poderiam ficar traumas, pois o desafio no ano seguinte seria crucial para auto-afirmação do futebol brasileiro.

O ano de 1919 seria marcante, pois o Brasil se depava com o maior desafio de sua curta história de vida: o 3º Sul-Americano, desta vez em casa, a ser jogado nas Laranjeiras, no Rio de Janeiro. Conseguiria o Brasil vencer diante de sua gente?

O time daquele campeonato tinha Marcos Carneiro (Fluminense), Píndaro de Carvalho (Flamengo) e Bianco (Palestra Itália-SP), Sérgio (Paulistano), Fortes (Fluminense) e Amílcar (Corínthians), Millon (Santos), Neco (Corínthians), Arthur Friedenreich (Paulistano), Heitor Domingues (Palestra Itália-SP) e Arnaldo (Santos). O jogador-treinador, desta vez, era Heitor Domingues. E apesar dos jogos em gramados cariocas, a base do time mantinha-se de paulistanos.

Na estréia, em 11 de maio de 1919, uma vitória implacável, por 6 x 0, sobre o Chile, com três gols de Arthur Friedenreich e dois de Neco, tendo Haroldo completado o placar. No outro jogo da rodada, o Uruguai venceu a Argentina por 3 x 2.

Na segunda rodada, em 18 de maio, o Brasil conseguiu uma grande vitória sobre a Argentina, por 3 x 1, com gols brasileiros de Heitor, Amílcar e Millon. Os uruguaios venceram os chilenos por magros 2 x 0. Assim, brasileiros e os bi-campeões uruguaios decidiriam o título em 25 de maio. Apesar do melhor saldo, o Brasil não tinha qualquer vantagem; quem vencesse sagrava-se campeão, e um empate forçava uma nova partida.

Os uruguaios começaram a partida arrasadores, Isabelino Gradin aos 13 minutos, e Carlos Scarone, aos 17, colocaram uma folgada vantagem de 2 x 0 no placar e assustaram a torcida brasileira presente no campo das Laranjeiras, estimada em cerca de vinte mil torcedores.

Era hora de emergir o primeiro herói da história centenária da camisa canarinho, e não seria o craque do time, Friedenreich, mas o centroavante do Corinthians, Neco. Foi dele o gol que aos 29 minutos do primeiro tempo levantou as arquibancadas do campo do Fluminense. A diminuição da vantagem, ainda no primeiro tempo, colocou o Brasil de volta no jogo.

Na segunda etapa, o centroavante voltaria a balançar as redes aos 18 minutos para empatar o jogo. Dali para frente, nervos a flor da pele. Porém, ninguém mais conseguiu voltar a balançar as redes. O título seria decidido em novo encontro, quatro dias depois, no mesmo local.

A partida levou novamente aproximadamente vinte mil expectadores às Laranjeiras. E a disputa foi muito nervosa, num zero a zero arrastado, no qual a bola teimava a entrar no gol. O jogo terminou sem gols no tempo normal, e pela primeira vez na história do futebol sul-americano, assim como da Seleção Brasileira, foi jogada uma prorrogação. Levou mais de meia hora de tempo extra para a bola encontrar as redes das Laranjeiras. Gol de Friedenreich, do craque brasileiro. Brasil, Campeão Sul-Americano de 1919!

Brasil, Campeão em 1919

Ficha Técnica
BRASIL 1 x 0 URUGUAI
Gol: Friedenreich (Prorrogação: 32 minutos)

BRASIL: Marcos de Mendonça, Píndaro e Bianco, Sérgio, Fortes e Amílcar, Millon, Neco, Friedenreich, Heitor e Arnaldo.

URUGUAI: Cayetano Saporiti, Manuel Varela e Alfredo Foglino, Rogelio Naguil, Alfredo Zibechi e José Vanzzino, José Pérez, Héctor Scarone, Ángel Romano, Isabelino Gradín e Rodolfo Marán.


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