Nos primórdios da Seleção
Brasileira de futebol, o esporte era jogado apenas no Rio de Janeiro e em São
Paulo, os jogos do combinado nacional eram muito escassos, e os primeiros
torneios eram ainda muito pequenos e simples.
Depois do primeiro jogo, em 21 de
julho de 1914, no campo do Fluminense, no bairro das Laranjeiras, no Rio de
Janeiro, a seleção voltou a se reunir em setembro para uma série de três jogos
internacionais em Buenos Aires, na Argentina.
O time titular do técnico-jogador
Sylvio Lagreca nestes três compromissos tinha: Marcos Carneiro (Fluminense),
Píndaro de Carvalho (Flamengo) e Nery (Flamengo), Sylvio Lagreca (São Bento),
Rubens Salles (Paulistano) e Pernambuco (Fluminense), Millon (Paulistano),
Osvaldo Gomes (Fluminense), Bartô (Fluminense), Friedenreich (Ypiranga-SP) e
Arnaldo (Paulistano). A base estrutural da equipe era, portanto, formada em
torno das equipes do Fluminense e do Paulistano.
Em 20 de setembro, na primeira
vez que perfilou num gramado fora do Brasil, a seleção canarinho perdeu
implacavelmente por 3 x 0 para a Argentina. Quatro dias depois, com dois gols
de Bartô e um de Arthur Friedenreich, o Brasil venceu ao Columbia, clube da
Argentina, por 3 x 1. No último jogo da excursão, em 27 de setembro de 1914, a
camisa canarinho conquistou o seu primeiro troféu, a Copa Roca, com vitória de
1 x 0, gol de Rubens Salles, bateu a Argentina e foi campeã.
No ano seguinte, em 1915, a
seleção não se reuniu nenhuma vez. Só voltou a jogar em julho de 1916 para
jogar o 1º Campeonato Sul-Americano de Futebol, a ser disputado na Argentina. A
campanha teve três jogos. Antes de voltar, um jogo amistoso, em Montevidéu,
contra o campeão sul-americano, o Uruguai.
Uma interessante curiosidade: das
sete primeiras partidas disputadas pela Seleção Brasileira em sua história, seis
delas foram jogadas em Buenos Aires. Uma segunda curiosidade neste primeiro
torneio oficial jogado pelo Brasil: o árbitro representante do país na
competição era o inglês Sidney Pullen, jogador e capitão do time do Flamengo
por mais de uma década, entre 1915 e 1925.
O torneio foi um Quadrangular
entre Argentina, Uruguai, Brasil e Chile. A seleção do Brasil empatou por 1 a 1
com Chile e Argentina, e perdeu do Uruguai por 2 a 1. Os uruguaios empataram o
último jogo sem gols com os argentinos e com cinco pontos foi a campeã, ficando
a Argentina com o vice e o Brasil com o terceiro lugar. O time titular do
Brasil foi: Marcos Carneiro (Fluminense), Orlando (Paulistano) e Nery
(Flamengo), Lagreca (São Bento-SP), Sidney (Flamengo) e Gallo (Flamengo), Luiz
Menezes (Botafogo), Alencar (Americano-SP), Mimi Sodré (Botafogo), Arthur Friedenreich
(Paysandu-SP) e Arnaldo (Santos).
Em 1917 a seleção voltou a se
reunir para um Sul-Americano, desta vez a ser jogado em Montevidéu, no Uruguai,
novamente num Quadrangular entre Uruguai, Argentina, Brasil e Chile. Antes,
porém, três jogos preparatórios no Rio de Janeiro, todos contra clubes
sul-americanos, primeiro um empate sem gols com o Dublin, do Uruguai, e depois
um empate e uma vitória sobre o Barracas, da Argentina.
Em Montevidéu, a campanha foi
desastrosa. O time titular jogou com: Casemiro (Mackenzie-SP), Vidal
(Fluminense) e Chico Neto (Fluminense), Lagreca (São Bento), Gallo (Flamengo) e
Dias (São Bento), Haroldo (Santos), Caetano (Palestra Itália-SP), Amílcar
(Corínthians), Neco (Corínthians) e Arnaldo (Santos). Com uma base titular
essencialmente formada por jogadores paulistanos, o Brasil foi goleado por 4 x
2 pela Argentina e por 4 x 0 pelo Uruguai. Na despedida, como prêmio de
consolação, goleada de 5 x 0 sobre o Chile. O Uruguai venceu seus três jogos e
se tornou Bi-campeão.
Em 1918, a seleção se reuniu uma
única vez. O resultado foi marcante, pois em um amistoso contra o Dublin, do
Uruguai, realizado mais uma vez no Rio, o Brasil perdeu por 1 a 0, na primeira
derrota que a camisa canarinho sofreria para um clube em sua história. E não
poderiam ficar traumas, pois o desafio no ano seguinte seria crucial para
auto-afirmação do futebol brasileiro.
O ano de 1919 seria marcante,
pois o Brasil se depava com o maior desafio de sua curta história de vida: o 3º
Sul-Americano, desta vez em casa, a ser jogado nas Laranjeiras, no Rio de
Janeiro. Conseguiria o Brasil vencer diante de sua gente?
O time daquele campeonato tinha Marcos
Carneiro (Fluminense), Píndaro de Carvalho (Flamengo) e Bianco (Palestra Itália-SP),
Sérgio (Paulistano), Fortes (Fluminense) e Amílcar (Corínthians), Millon
(Santos), Neco (Corínthians), Arthur Friedenreich (Paulistano), Heitor
Domingues (Palestra Itália-SP) e Arnaldo (Santos). O jogador-treinador, desta vez,
era Heitor Domingues. E apesar dos jogos em gramados cariocas, a base do time
mantinha-se de paulistanos.
Na estréia, em 11 de maio de
1919, uma vitória implacável, por 6 x 0, sobre o Chile, com três gols de Arthur
Friedenreich e dois de Neco, tendo Haroldo completado o placar. No outro jogo da
rodada, o Uruguai venceu a Argentina por 3 x 2.
Na segunda rodada, em 18 de maio,
o Brasil conseguiu uma grande vitória sobre a Argentina, por 3 x 1, com gols
brasileiros de Heitor, Amílcar e Millon. Os uruguaios venceram os chilenos por
magros 2 x 0. Assim, brasileiros e os bi-campeões uruguaios decidiriam o título em 25 de maio. Apesar do melhor saldo, o Brasil não tinha qualquer vantagem; quem
vencesse sagrava-se campeão, e um empate forçava uma nova partida.
Os uruguaios começaram a partida
arrasadores, Isabelino Gradin aos 13 minutos, e Carlos Scarone, aos 17,
colocaram uma folgada vantagem de 2 x 0 no placar e assustaram a torcida
brasileira presente no campo das Laranjeiras, estimada em cerca de vinte mil
torcedores.
Era hora de emergir o primeiro herói
da história centenária da camisa canarinho, e não seria o craque do time,
Friedenreich, mas o centroavante do Corinthians, Neco. Foi dele o gol que aos
29 minutos do primeiro tempo levantou as arquibancadas do campo do Fluminense.
A diminuição da vantagem, ainda no primeiro tempo, colocou o Brasil de volta no
jogo.
Na segunda etapa, o centroavante
voltaria a balançar as redes aos 18 minutos para empatar o jogo. Dali para
frente, nervos a flor da pele. Porém, ninguém mais conseguiu voltar a balançar
as redes. O título seria decidido em novo encontro, quatro dias depois, no
mesmo local.
A partida levou novamente
aproximadamente vinte mil expectadores às Laranjeiras. E a disputa foi muito
nervosa, num zero a zero arrastado, no qual a bola teimava a entrar no gol. O
jogo terminou sem gols no tempo normal, e pela primeira vez na história do
futebol sul-americano, assim como da Seleção Brasileira, foi jogada uma
prorrogação. Levou mais de meia hora de tempo extra para a bola encontrar as
redes das Laranjeiras. Gol de Friedenreich, do craque brasileiro. Brasil,
Campeão Sul-Americano de 1919!
Ficha Técnica
BRASIL 1
x 0 URUGUAI
Gol: Friedenreich
(Prorrogação: 32 minutos)
BRASIL: Marcos de Mendonça, Píndaro e Bianco, Sérgio, Fortes e Amílcar, Millon, Neco, Friedenreich, Heitor e Arnaldo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário