O Campeonato Sul-Americano de 56 foi um hexagonal disputado em Montevidéu por Argentina, Brasil, Chile, Paraguai, Peru e Uruguai, e sem as presenças de Bolívia, Colômbia e Equador. A Seleção Brasileira foi representada por uma "seleção paulista" - comandada pelo então treinador do Corinthians, Osvaldo Brandão - sem a convocação de jogadores que atuavam por clubes do Rio de Janeiro.
Apesar da convocação restritiva, as expectativas eram altas, afinal o futebol paulista estava dominando o cenário nacional no início dos Anos 1950. Pelas dimensões continentais do Brasil, o futebol no país se formou sem a disputa de uma competição nacional. As disputas se concentravam em torno da divisão federativa. Não havia recursos econômicos nem logística para viabilizar longos deslocamentos. A primeira competição a superar o limite dos Campeonatos Estaduais foi o Torneio Rio-São Paulo, que a partir de 1950 reuniu os maiores clubes daquelas que eram as duas regiões econômicas mais ricas do Brasil: as finanças públicas que giravam no Rio de Janeiro, que era a capital federal, e em São Paulo, maior centro econômico do país, onde havia uma indústria nascente que cresceu em torno do capital do café, cujas exportações foram o principal financiador da economia brasileira no fim do Século XIX e início do Século XX.
Entre 1950 e 1955, os clubes paulistas conquistaram todos os títulos do torneio, três vezes com o Corinthians de Luizinho e Baltazar, e duas vezes com a Portuguesa de Djalma Santos e Brandãozinho. Logo, aquela equipe que representava o Brasil era um time que tinha uma defesa com nomes que vieram a ser pilares da Seleção Brasileira em suas conquistas nos anos seguintes, como Gilmar, Djalma Santos, De Sordi e Zito na proteção ao gol, e um ataque com nomes como Luizinho, Cláudio, Del Vecchio, Jair Rosa Pinto e Canhoteiro. Mas o desempenho em Montevidéu foi um fiasco! A seleção igualou seu pior desempenho histórico, terminando em 4º lugar.
De 1916 a 1956, o Brasil tinha participado 14 vezes do Campeonato Sul-Americano, tendo sido 3 vezes campeão, 6 vezes vice-campeão, 4 vezes havia terminado em 3º lugar, e só 1 vez em 4º lugar, em 1923, naquela oportunidade quando utilizou apenas jogadores de clubes cariocas, sem ter convocado paulistas. Em 1956 ficou com a 4ª posição pela segunda vez na história.
O torneio marcava o reencontro entre Brasil e Argentina desde aquela partida de 1946 em Buenos Aires que havia terminado em pancadaria generalizada. Há que relembrar que tinham sido já três grandes conflitos na capital argentina que terminaram com agressões à delegação brasileira: primeiro em 1925, levando os dois países a não se enfrentarem nos campos de futebol por 12 anos, até 1937, quando um novo episódio de violência afastou a Seleção Brasileira do Sul-Americano por outros 5 anos, em seguida houve uma paz que durou de 1942 a 1946, até a terceira pancadaria, que levou os dois países a ficarem mais 10 anos sem confronto entre ambos nos campos de futebol.
Estádio Centenário, em Montevidéu, em 1956
A estreia da Seleção Brasileira em 1956 foi dando vexame. O time foi goleado por 4 a 1 pelo Chile! O Brasil nunca havia perdido para o Chile nas 17 partidas disputadas até então, nas quais havia obtido 14 vitórias e 3 empates. E este retrospecto mostra o feito da goleada imposta por aquele time chileno de Enrique Hormazábal, autor de dois gols, e Leonel Sánchez.
O vexame custou para a segunda partida as vagas do zagueiro Mauro Ramos e dos meio-campistas Zito e Julião no time titular. Mas o problema do time de Brandão ia além da defesa. Na segunda partida não saiu de um empate sem gols com o Paraguai. Uruguai e Argentina tinham obtido duas vitórias cada um, fazendo as chances de título do Brasil ficarem remotíssimas.
Na terceira rodada, enquanto o Uruguai folgou, o Brasil venceu seu primeiro jogo (2 a 1 no Peru), mas a Argentina passou pelo Paraguai. Para esta partida contra os peruanos, dois jogadores de frente tinham perdido a titularidade, Del Vecchio e o veterano Jair Rosa Pinto. Na penúltima rodada, o melhor resultado do time brasileiro, o duelo contra a Argentina se arrastava para mais um empate sem gols, mas Luizinho, o "Pequeno Polegar", marcou aos 43 minutos do 2º tempo para dar à Seleção Brasileira a sua segunda vitória na competição. Porém, a vitória do Uruguai sobre o Chile na mesma rodada deixava a situação brasileira muito difícil: o Uruguai tinha 6 pontos (3 vitórias em 3 jogos), a Argentina tinha os mesmos 6 pontos (3 vitórias e 1 derrota), o Brasil tinha 5 (2 vitórias, 1 empate e 1 derrota), e o Chile 3 mas com dois jogos ainda por fazer (só tinha vencido ao Brasil, e tinha perdido para Argentina e Uruguai). A única chance brasileira era vencer ao Uruguai, e que argentinos e uruguaios empatassem na rodada derradeira, pois assim haveria um tríplice empate com 7 pontos.
Jogando em Montevidéu, o Uruguai conseguiu conter à Seleção Brasileira com um empate sem gols que eliminava matematicamente à camisa verde e amarela. Uruguai com 7 pontos e Argentina com 6 decidiram o título num confronto direto na última rodada. Brasil e Chile tinham 5 pontos e não tinham mais chances. Os chilenos ainda bateram ao Paraguai na última rodada, conseguindo obter um vice-campeonato. O Uruguai conseguiu vantagem ainda no 1º tempo, com gol de Javier Ambrois, seguraram o 1 a 0 até o final, e conquistaram seu 9º título sul-americano.
Convocação
Goleiros: Gilmar dos Santos Neves (Corinthians), Cabeção (Portuguesa de Desportos) e Paulo Martorano (São Paulo)
Defesa: Djalma Santos (Portuguesa de Desportos), Olavo (Corinthians), De Sordi (São Paulo), Mauro Ramos (São Paulo) e Alfredo Ramos (São Paulo)
Meio de campo: Zito (Santos), Formiga (Santos), Julião (Corinthians) e Roberto Belangero (Corinthians)
Ataque: Nestor (XV de Jaú/SP), Álvaro (Santos), Del Vecchio (Santos), Augusto "Tite" de Oliveira (Santos), Luizinho Trochillo (Corinthians), Baltazar (Corinthians), Jair Rosa Pinto (Palmeiras), Maurinho (São Paulo), Zezinho (São Paulo) e Canhoteiro (São Paulo)
Campanha
24/01/1956 - BRASIL 1 x 4 CHILE
Local: Estádio Centenário, Montevidéu, Uruguai
Gols: Hormazábal (8'1T), Maurinho (38'1T), Meléndez (20'2T), Leonel Sánchez (26'2T) e Hormazábal (38'2T)
Brasil: Gilmar (Corinthians), Djalma Santos (Portuguesa de Desportos), Mauro Ramos (São Paulo) e Alfredo Ramos (São Paulo); Zito (Santos) e Julião (Corinthians); Maurinho (São Paulo) (Nestor (XV de Jaú)), Álvaro (Santos), Del Vecchio (Santos) (Baltazar (Corinthians)), Jair Rosa Pinto (Palmeiras) e Canhoteiro (São Paulo).
Téc: Osvaldo Brandão
Chile: Misael Escuti (Colo Colo), Manuel Álvarez (Universidad Católica), Rodolfo Almeida (Palestino) e Isaac Carrasco (Colo Colo); Carlos Cubillos (Unión Española) e Ramiro Cortés (Audax Italiano); Jaime Ramírez (Colo Colo), Enrique Hormazábal (Colo Colo), René Meléndez (Everton), Leonel Sánchez (Universidad de Chile) e Manuel Muñoz (Colo Colo).
Téc: Luis Tirado
29/01/1956 - BRASIL 0 x 0 PARAGUAI
Local: Estádio Centenário, Montevidéu, Uruguai
Brasil: Gilmar (Corinthians), Djalma Santos (Portuguesa de Desportos), De Sordi (São Paulo) e Alfredo Ramos (São Paulo); Formiga (Santos) e Roberto Belangero (Corinthians); Nestor (XV de Jaú), Álvaro (Santos), Del Vecchio (Santos) (Baltazar (Corinthians)), Jair Rosa Pinto (Palmeiras) (Luizinho (Corinthians)) e Maurinho (São Paulo).
Téc: Osvaldo Brandão
Paraguai: Asunción Caballero (Presidente Hayes), Robustiano Maciel (Sol de América), Higinio Benítez Casco (Libertad) e Ireneo Hermosilla (Libertad); Victoriano Leguizamón (Olimpia) e Salvador Villalba (Libertad); Manuel Lugo (Sportivo Luqueño), Hilarión Osorio (Sportivo Luqueño) (Máximo "Chimo" Rolón (Libertad)), Hermes González (Libertad), Antonio Ramón Gómez (Libertad) e Joel Cabrera (Cerro Porteño) (Juan León Cañete (Boca Juniors de Cali/COL)).
Téc: Julio Ramírez
01/02/1956 - BRASIL 2 x 1 PERU
Local: Estádio Centenário, Montevidéu, Uruguai
Gols: Álvaro (10'1T), Tito Drago (42'1T) e Zezinho (35'2T)
Brasil: Gilmar (Corinthians), Djalma Santos (Portuguesa de Desportos), De Sordi (São Paulo) e Alfredo Ramos (São Paulo); Formiga (Santos) e Roberto Belangero (Corinthians); Nestor (XV de Jaú) (Maurinho (São Paulo)), Luizinho (Corinthians), Baltazar (Corinthians), Álvaro (Santos) (Zezinho (São Paulo)) e Canhoteiro (São Paulo).
Téc: Osvaldo Brandão
Peru: Dimas Zegarra (Universitario), Carlos Lazón (Alianza Lima), Guillermo Delgado (Alianza Lima) e Víctor Salas (Universitario) (Isaac Andrade (Sport Boys)); Joe Calderón (Sport Boys) (Germán Colunga (Deportivo Municipal)) e René Gutiérrez (Universitario); Félix Castillo (Alianza Lima), Guillermo Barbadillo (Alianza Lima), Roberto Castillo (Alianza Lima), Roberto "Tito" Drago (Deportivo Municipal) e Juan Seminário (Deportivo Municipal) (Jacinto Villalba (Universitario)).
Téc: Arturo Fernández
05/02/1956 - BRASIL 1 x 0 ARGENTINA
Local: Estádio Centenário, Montevidéu, Uruguai
Gol: Luizinho Trochillo (43'2T)
Brasil: Gilmar (Corinthians), Djalma Santos (Portuguesa de Desportos), De Sordi (São Paulo) e Alfredo Ramos (São Paulo); Formiga (Santos) e Roberto Belangero (Corinthians); Maurinho (São Paulo), Luizinho (Corinthians), Del Vecchio (Santos) (Álvaro (Santos)), Zezinho (São Paulo) e Canhoteiro (São Paulo).
Téc: Osvaldo Brandão
Argentina: Julio Mussimessi (Boca Juniors), Juan Colmán (Boca Juniors) (José García Pérez (Racing)), Federico Vairo (River Plate) e Francisco Lombardo (Boca Juniors); Eliseo Mouriño (Boca Juniors) e Ernesto Gutiérrez (Racing); Luis Pentrelli (Gimnasia y Esgrima La Plata), Carlos Cecconato (Independiente), Ernesto Grillo (Independiente), Ángel Labruna (River Plate) (Enrique Omar Sivori (River Plate)) e Tito Cucchiaroni (Boca Juniors).
Téc: Guillermo Stábile
10/02/1956 - BRASIL 0 x 0 URUGUAI
Local: Estádio Centenário, Montevidéu, Uruguai
Brasil: Gilmar (Corinthians), Djalma Santos (Portuguesa de Desportos), De Sordi (São Paulo) e Alfredo Ramos (São Paulo); Formiga (Santos) e Roberto Belangero (Corinthians); Maurinho (São Paulo), Luizinho (Corinthians), Del Vecchio (Santos) (Baltazar (Corinthians)), Zezinho (São Paulo) e Canhoteiro (São Paulo).
Téc: Osvaldo Brandão
Uruguai: Julio Maceiras (Danubio), William Martínez (Peñarol), Ladislao Brazionis (Rampla Juniors) e Víctor Rodríguez Andrade (Peñarol); Carlos Carranza (Cerro) e Luis Miramontes (Defensor Sporting); Carlos Borges (Peñarol), Javier Ambrois (Nacional), Oscar Miguez (Peñarol), Daniel Melgarejo (Danubio) (Héctor Demarco (Defensor Sporting)) e Walter Roque (Rampla Juniors).
Téc: Hugo Bagnulo
Jornal "El Diario", de Montevidéu, em 1956: "cantam nas ruas"
Resumo
Seleção Brasileira:
Gilmar (Corinthians), Djalma Santos (Portuguesa de Desportos), De Sordi (São Paulo) e Alfredo Ramos (São Paulo); Formiga (Santos) e Roberto Belangero (Corinthians); Maurinho (São Paulo), Luizinho (Corinthians) (Álvaro (Santos)), Del Vecchio (Santos), Zezinho (São Paulo) (Baltazar (Corinthians)) e Canhoteiro (São Paulo).
Artilharia: Maurinho (1), Álvaro (1), Zezinho (1) e Luizinho (1)
Participação:
5 jogos: Gilmar, Djalma Santos, Alfredo Ramos e Maurinho
4 jogos: De Sordi, Formiga, Roberto Belangero, Álvaro, Luizinho Trochillo, Del Vecchio, Baltazar e Canhoteiro
3 jogos: Nestor e Zezinho
2 jogos: Jair Rosa Pinto
1 jogo: Mauro Ramos, Zito e Julião
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