Seguiu-se com o processo de reaproximação diplomática entre o futebol do Brasil e do Uruguai iniciado no ano anterior, cujas relações estavam arranhadas desde 1922. Após iniciar em 1931 um caminho de pacificação das relações com a disputa da Taça Rio Branco no Rio de Janeiro, em 1932 o único evento da Seleção Brasileira no ano foi uma viagem a Montevidéu para uma nova disputa do mesmo troféu.
A Seleção Brasileira iniciou sua preparação com um jogo amistoso ainda no Rio, antes da viagem, contra o Andarahy, do badalado zagueiro Dondon. Foi o primeiro confronto contra um clube brasileiro na história da seleção com direito à utilização do uniforme oficial. O clube de pequena expressão do bairro da Zona Norte do Rio, historicamente figurante no Campeonato Carioca, não ofereceu qualquer resistência, tendo sido goleado por 7 a 2.
Mais uma vez o trabalho da seleção foi atrapalhado por problemas políticos do Brasil, que em 1932 atravessou uma pequena e curta guerra civil - chamada Revolução Constitucionalista, conflito que gerou cerca de 100 mil mortes - na qual tropas do Estado de São Paulo tentaram depor, sem sucesso, o então Presidente da República, Getúlio Vargas, que havia tomado o poder com um golpe de estado dois anos antes, em 1930. Sem a utilização de jogadores paulistas neste ano de 1932, a seleção iniciou um processo de renovação, buscando novos talentos. Este processo podia ser observado na linha de ataque da Seleção Brasileira, formada basicamente por jogadores de equipes mais modestas do cenário futebolístico do Campeonato Carioca. O ataque tinha um jogador do Sport Club Brasil da Urca, dois do Bonsucesso e um do Carioca do Jardim Botânico. Ainda que com esta equipe renovada, a passagem pelo Uruguai se tornou um retumbante sucesso. A Seleção Brasileira venceu os três jogos que disputou no Estádio Centenário, superando à Seleção Uruguaia pela segunda vez consecutiva na Copa Rio Branco (2 a 1), e vencendo a Peñarol (1 a 0) e Nacional de Montevidéu (2 a 1). Um jogador, em especial, encheu os olhos uruguaios de admiração: o centroavante Leônidas da Silva, então jogador do Bonsucesso. Ele acabou contratado pelo Peñarol, onde brilhou com a camisa auri-negra no Campeonato Uruguaio seguinte.
JOGOS NO ANO:
27/11/1932 - BRASIL 7 x 2 Andarahy (Brasil)
Amistoso - Estádio das Laranjeiras, Rio de Janeiro
Gols: Preguinho (5), Palmieri (2), Wálter e Jarbas
Brasil: Aymoré Moreira (Brasil/RJ), Pennaforte (Vasco) (Domingos da Guia (Vasco)) e Itália (Vasco); Agrícola (São Cristóvão), Oscarino (América/RJ) e Ivan Mariz (Fluminense); Wálter (Brasil/RJ), Leônidas da Silva (Bonsucesso/RJ), Gradim (Bonsucesso/RJ) (Carola (América/RJ)), Preguinho (Fluminense) e Jarbas (Carioca/RJ).
Téc: Luiz Vinhaes
Andarahy: Adhemar, Aristolino e Dondon; Ferro, Bethuel e Venerotti; Chagas, Astor, Romualdo, Palmieri e Baiano.
04/12/1932 - BRASIL 2 x 1 URUGUAI
Copa Rio Branco - Estádio Centenário, Montevidéu, Uruguai
Gols: Leônidas da Silva (15'1T) e (16'2T), e Pedro Cea (19'2T)
Brasil: Victor (Botafogo), Domingos da Guia (Vasco) e Itália (Vasco); Agrícola (São Cristóvão) (Canalli (Botafogo)), Martim Silveira (Botafogo) e Ivan Mariz (Fluminense); Wálter (Brasil/RJ), Paulinho (Botafogo), Leônidas da Silva (Bonsucesso/RJ) (Benedicto (Botafogo)), Gradim (Bonsucesso/RJ) e Jarbas (Carioca/RJ).
Téc: Luiz Vinhaes
Uruguai: Héctor Macchiavello (Racing Montevidéu), José Nasazzi (Bella Vista) (Pedro Aguirre (Rampla Juniors)) e Ernesto Mascheroni (Peñarol); Campos (Sud América) (Arsenio Fernández (Nacional), Álvaro Gestido (Peñarol) e Abraham Lobos (Montevideo Wanderers); Braulio García (Peñarol), Juan García (Rampla Juniors), Pedro Duhart (Nacional), Pedro Cea (Nacional) e Eduardo Ithurbide (Nacional) (Conduelo Piriz (Nacional)).
Téc: Alberto Suppicci
08/12/1932 - BRASIL 1 x 0 Peñarol (Uruguai)
Amistoso - Estádio Centenário, Montevidéu, Uruguai
Gol: Jarbas
Brasil: Victor (Botafogo), Domingos da Guia (Vasco) e Itália (Vasco); Agrícola (São Cristóvão), Martim Silveira (Botafogo) e Ivan Mariz (Fluminense); Benedicto (Botafogo), Paulinho (Botafogo), Oscarino (América/RJ), Gradim (Bonsucesso/RJ) e Jarbas (Carioca/RJ).
Téc: Luiz Vinhaes
Peñarol: Homero Fernández, Erebo Zunino e Ernesto Mascheroni; Alberto Nogués, Álvaro Gestido e Luis Mainardi; Braulio Castro (Juan Pedro Arremón), Luis Mata, Oscar Carbone (Pedro Young), Pelegrin Anselmo e Santos Iriarte.
Téc: Leonardo De Lucca
11/12/1932 - BRASIL 2 x 1 Nacional (Uruguai)
Amistoso - Estádio Centenário, Montevidéu, Uruguai
Gols: Wálter, Enrique Fernández e Gradim
Brasil: Victor (Botafogo), Domingos da Guia (Vasco) e Itália (Vasco); Canalli (Botafogo), Martim Silveira (Botafogo) e Ivan Mariz (Fluminense); Wálter (Brasil/RJ), Paulinho (Botafogo), Nélson (Flamengo) (Oscarino (América/RJ)), Gradim (Bonsucesso/RJ) e Jarbas (Carioca).
Téc: Luiz Vinhaes
Nacional: Sáenz, Britos e Tambasco; Arsenio Fernández, Félix Magno e Ricardo Faccio; Santos Urdinarán, Anibal Ciocca (Conduelo Piriz), Pedro Duhart, Enrique Fernández e Atílio Fernández.
Téc: Carlos Scarone
RESUMO:
Seleção Brasileira de 1932:
Victor (Botafogo), Domingos da Guia (Vasco) e Itália (Vasco); Agrícola (São Cristóvão/RJ), Martim Silveira (Botafogo) e Ivan Mariz (Fluminense); Wálter (Brasil/RJ), Paulinho (Botafogo), Oscarino (América/RJ) (Leônidas da Silva (Bonsucesso/RJ)), Gradim (Bonsucesso/RJ) e Jarbas (Carioca/RJ).
Artilharia: Preguinho (5), Leônidas da Silva (2), Wálter (2), Jarbas (2) e Gradim (1)
Participação:
4 jogos: Domingos da Guia, Itália, Agrícola, Ivan Mariz, Francisco Gradim e Jarbas
3 jogos: Victor, Martim Silveira, Oscarino, Wálter e Paulinho
2 jogos: Heitor Canalli, Benedicto e Leônidas da Silva
1 jogo: Aymoré Moreira, Pennaforte, Carola, Nélson e Preguinho
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