O Brasil celebrava o Centenário de sua Independência em 1922 e foi a sede da 6ª edição do Campeonato Sul-Americano. Os discursos ufanistas e nacionalistas nos jornais ligados ao governo exigiam o título a todo custo. Era a primeira vez na história que um mesmo estádio recebia pela 2ª vez uma edição da principal competição continental, jogada no Estádio das Laranjeiras, no bairro homônimo, campo do Fluminense, no Rio de Janeiro. Foi a primeira vez também que o torneio não foi disputado como um quadrangular, tendo sido um pentagonal entre Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai.
Estádio das Laranjeiras
Para celebrar a disputa no Brasil, deu-se fim ao litígio entre a Confederação Brasileira e a Federação Paulista que havia impedido o país de ser representado por sua força máxima de futebol nas edições de 1920 e 1921. E a volta dos jogadores paulistas à Seleção Brasileira foi fator determinante para que o Brasil conquistasse o segundo título de Campeão Sul-Americano em sua história.
O início da campanha foi negativo. Esperava-se uma vitória contundente em cima do Chile, para quem a Seleção Brasileira nunca havia perdido até então (três vitórias, com um 5 a 0 e um 6 a 0, e um empate). No entanto, apesar de ter saído na frente no placar, os chilenos conseguiram empatar no fim da primeira etapa, sem que o Brasil conseguisse reverter este empate na etapa final. Arthur Friedenreich não estava em plenas condições físicas, lutando contra uma contusão, e a força ofensiva do time sentiu a diferença no poder de ataque da equipe.
A tabela era confusa, e no segundo jogo o Uruguai iniciou sua campanha vencendo ao Chile. O Brasil voltou a campo contra o Paraguai antes mesmo que a Argentina fizesse sua estreia. O atacante Heitor Domingues, do Palestra Itália, foi lançado no lugar de Fried, mas mesmo assim o poderio ofensivo da Seleção Brasileira não melhorou. Novamente saiu na frente no 1º tempo, com gol de Amílcar, mas mais uma vez cedeu o empate. A situação da Seleção Brasileira ia ficando desesperadora, e tudo levava a crer num fiasco em casa. Ainda mais após a Argentina, então campeã, ter feito sua estreia goleando ao Chile por 4 a 0.
Fried voltou ao ataque contra o Uruguai, mas mais uma vez o time não produziu, não saindo de um empate sem gols. O título parecia perdido. Com três jogos e três empates, o Brasil tinha três pontos. Argentina e Uruguai, com uma vitória cada nos únicos jogos que tinham feito até então, tinham 2 pontos. Paraguai e Chile só tinham empatado com o Brasil, cada um respectivamente com um ponto na tabela.
Na sequência, o Paraguai passou pelo Chile, o Uruguai fez 1 a 0 na Argentina, e os paraguaios venceram os uruguaios pelo mesmo placar, numa partida na qual ficaram indignados com a atuação do árbitro brasileiro. Com o resultado, o Paraguai tinha 5 pontos e só lhe restava um confronto contra a Argentina. O Uruguai também tinha 5 pontos, mas não jogava mais. O Brasil tinha 3 pontos, e também só lhe restava um confronto contra a Argentina. Os argentinos tinham 2 pontos, mas dois jogos por fazer, podendo chegar a 6 e serem campeões se vencessem a ambos.
Quando a Seleção Brasileira entrou em campo contra a Argentina em 15 de outubro, era vencer ou vencer. E ainda dependia de uma vitória argentina sobre os paraguaios, no jogo derradeiro, para que houvesse um jogo extra. Era uma situação dramática. E o heroi que manteve o Brasil vivo foi o mesmo de 1919, o atacante Neco, do Corinthians, que marcou o gol no finalzinho do 1º tempo. Ainda assim, o segundo tempo foi tenso, pois um gol argentino matava as chances brasileiras. Até que nos minutos finais foi assinalado um pênalti para a seleção, com muita reclamação dos argentinos, que acabou convertido por outro jogador do Corinthians, o volante Amílcar: Brasil 2 a 0.
Restava que a Argentina vencesse ao Paraguai na última rodada, mais uma vez com arbitragem brasileira. Aos paraguaios bastava um empate para conquistar o título. Quem salvou à Seleção Brasileira foi o ponta de lança alvi-celeste Juan Francia, autor dos dois gols que derrotaram aos paraguaios, o segundo de pênalti, que gerou mais protestos dos visitantes contra a arbitragem local. Paraguai, Uruguai e Brasil terminaram com 5 pontos, os dois primeiros com 2 vitórias, 1 empate e 1 derrota, e os brasileiros com 1 vitória e 3 empates. Só que os uruguaios, indignados com a atuação da arbitragem após a derrota para o Paraguai, abandonaram ao torneio e deixaram a cidade do Rio antes da conclusão do pentagonal.
Assim, como havia acontecido na conquista da edição de 1919, o título foi decidido num jogo extra no mesmo Estádio das Laranjeiras, desta vez, porém, contra o Paraguai (naquela havia sido frente ao Uruguai). A vitória brasileira começou com um gol de Neco no 1º tempo, e acabou consolidada com dois gols do ponta-direita Formiga, aclamado como herói nacional. Brasil, pela segunda vez, Campeão Sul-Americano de Futebol!
Convocação
Goleiros: Júlio Kuntz (Flamengo) e Marcos Carneiro de Mendonça (Fluminense)
Defesa: Luiz Palamone (Botafogo), Barthô (A.A. São Bento/SP) e Chico Netto (Fluminense)
Meio de campo: Laís (Fluminense), Amílcar Barbuy (Corinthians), Agostinho Fortes (Fluminense), Xingô (Palestra Itália/SP) e Luiz Nesi (São Cristóvão)
Ataque: Zezé (Fluminense), Formiga (Paulistano), Arthur Friedenreich (Paulistano), Heitor Domingues (Palestra Itália/SP), Neco (Corinthians), Tatu (Corinthians), Raphael Rodrigues (Corinthians) e Junqueira (Flamengo)
Seleção Brasileira de 1922
Campanha
17/09/1922 - BRASIL 1 x 1 CHILE
Local: Estádio das Laranjeiras, Rio de Janeiro
Gols: Tatu (9'1T) e Bravo (41'1T)
Brasil: Marcos Carneiro de Mendonça (Fluminense), Palamone (Botafogo) e Barthô (A.A. São Bento); Laís (Fluminense), Amílcar (Corinthians) e Fortes (Fluminense); Formiga (Paulistano), Neco (Corinthians), Arthur Friedenreich (Paulistano), Tatu (Corinthians) e Rodrigues(Corinthians).
Téc: Ground Committee (Comitê Técnico) comandado por Laís
Chile: Guillermo Bernal (Jorge V), Pedro Vergara (Eleuterio Ramirez) e Ulises Poirrier (La Cruz); Humberto Elgueta (Gold Cross), Carlos Catalán (Fabrica de Vidrios) e Tránsito González (La Cruz); Enrique Abello (Magallanes), Aurelio Domínguez (Artillero de Costa), Manuel Bravo (Coquimbo), Luis Encina (Norteamérica) e Víctor Varas (Artillero de Costa).
Téc: Juan Bertone
24/09/1922 - BRASIL 1 x 1 PARAGUAI
Local: Estádio das Laranjeiras, Rio de Janeiro
Gols: Amílcar (14'1T) e Gerardo Rivas (26'2T)
Brasil: Marcos Carneiro de Mendonça (Fluminense), Palamone (Botafogo) e Barthô (A.A. São Bento); Laís (Fluminense), Amílcar (Corinthians) e Fortes (Fluminense); Formiga (Paulistano), Neco (Corinthians), Heitor Domingues (Palestra Itália/SP), Tatu (Corinthians) e Junqueira (Flamengo).
Téc: Ground Committee (Comitê Técnico) comandado por Laís
Paraguai: Modesto Denis (Nacional), César Mena Porta (Olimpia) e Venancio Paredes (Guarani); Roque Centurión Miranda (Guaraní), Manuel Fleitas Solich (Nacional) e Ranulfo Benítez (Libertad); Luciano Capdevilla (Cerro Porteño), Ceferino Ramírez (Nacional), Ildefonso López (Guarani), Gerardo Rivas (Libertad) e Enrique Erico (Nacional).
Téc: Ground Committee (Comitê Técnico) comandado por Ildefonso López
01/10/1922 - BRASIL 0 x 0 URUGUAI
Local: Estádio das Laranjeiras, Rio de Janeiro
Brasil: Kuntz (Flamengo), Palamone (Botafogo) e Barthô (A.A. São Bento); Laís (Fluminense), Amílcar (Corinthians) e Fortes (Fluminense); Formiga (Paulistano), Neco (Corinthians), Arthur Friedenreich (Paulistano), Tatu (Corinthians) e Rodrigues (Corinthians).
Téc: Ground Committee (Comitê Técnico) comandado por Laís
Uruguai: Fausto Batignani (Liverpool), Antonio Urdinarán (Nacional) e Domingo Tejera (Montevideo Wanderers); Antonio Aguerre (Liverpool), Alfredo Zibechi (Nacional) e José Vanzzino (Nacional); Pascual Somma (Nacional), Juan Carlos Heguy (Central Español), Ángel Romano (Nacional), Norberto Casanello (Montevideo Wanderers) e Rodolfo Marán (Nacional).
Téc: Pedro Olivieiri
15/10/1922 - BRASIL 2 x 0 ARGENTINA
Local: Estádio das Laranjeiras, Rio de Janeiro
Gols: Neco (42'1T) e Amílcar (41'2T)
Brasil: Kuntz (Flamengo), Palamone (Botafogo) e Barthô (A.A. São Bento); Laís (Fluminense), Amílcar (Corinthians) e Fortes (Fluminense); Formiga (Paulistano), Neco (Corinthians), Heitor Domingues (Palestra Itália/SP), Tatu (Corinthians) e Rodrigues (Corinthians).
Téc: Ground Committee (Comitê Técnico) comandado por Laís
Argentina: Américo Tesoriere (Boca Juniors), Adolfo Celli (Newell's Old Boys) e Florencio Sarasíbar (Rosario Central); Alfredo Chabrolin (Newell's Old Boys), Ángel Médici (Boca Juniors) e Emilio Solari (Nueva Chicago); José Gaslini (Alvear), Julio Libonatti (Newell's Old Boys), Ángel Chiessa (Huracán), Juan Francia (Rosario Central) e Julio Rivet (Del Plata).
Téc: Ground Committee (Comitê Técnico)
22/10/1922 - BRASIL 3 x 0 PARAGUAI
Local: Estádio das Laranjeiras, Rio de Janeiro
Gols: Neco (11'1T), Formiga (3'2T) e (44'2T)
Brasil: Kuntz (Flamengo), Palamone (Botafogo) e Barthô (A.A. São Bento); Laís (Fluminense), Amílcar (Corinthians) e Fortes (Fluminense); Formiga (Paulistano), Neco (Corinthians), Heitor Domingues (Palestra Itália/SP), Tatu (Corinthians) e Rodrigues (Corinthians).
Téc: Ground Committee (Comitê Técnico) comandado por Laís
Paraguai: Modesto Denis (Nacional), Venancio Paredes (Guarani) e Ramonete (Atlantida); Roque Centurión Miranda (Guaranoi) Manuel Fleitas Solich (Nacional) e Ranulfo Benítez (Libertad). Daniel Schaerer (Olimpia), Luciano Capdevilla (Cerro Porteño), Ildefonso López (Guarani), Gerardo Rivas (Libertad) e Luis Fretes (Guarani).
Téc: Ground Committee (Comitê Técnico) comandado por Ildefonso López
Resumo
Seleção Brasileira:
Kuntz (Flamengo), Palamone (Botafogo) e Barthô (A.A. São Bento/SP); Laís (Fluminense), Amílcar (Corinthians) e Fortes (Fluminense); Formiga (Paulistano), Neco (Corinthians), Heitor Domingues (Palestra Itália/SP), Tatu (Corinthians) e Rodrigues (Corinthians).
Artilharia: Neco (2), Amílcar (2), Formiga (2) e Tatu (1)
Participação:
5 jogos: Palamone, Barthô, Laís, Amílcar Barbuy, Fortes, Formiga, Neco e Tatu
4 jogos: Rodrigues
3 jogos: Kuntz e Heitor Domingues
2 jogos: Marcos Carneiro de Mendonça e Friedenreich
1 jogo: Junqueira
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