quinta-feira, 29 de maio de 2014

O Brasil, enfim, conheceu a prosperidade

Uma potência agrícola, o verdadeiro celeiro do planeta, um território fornecedor do abastecimento alimentar de boa parte da população global. No início do século XXI, o Brasil passou a acumular os postos de maior produtor mundial de carne bovina, café, açúcar, soja e laranja, além de ser o segundo maior produtor mundial de algodão e de leite e o terceiro maior produtor de milho.

E não foi só pelos benefícios da natureza que a agricultura brasileira prosperou, houve um enorme e notável progresso em pesquisa agrícola, liderado pela Embrapa. A partir dos anos 1970 o Brasil teve os maiores ganhos de produtividade agrícola de todo o mundo, e não por ampliação de sua área de cultivo nem pelo uso de fertilizantes, mas utilizando a mesma área de cultivo de forma cada vez melhor e mais intensiva.

Mas o destino do país estava muito além da agro-pecuária. As políticas de desenvolvimento industrial, paulatinamente implementadas durante o século XX, surtiram bons resultados, e ao se encontrarem com a estabilidade econômica obtida a partir de 1994 com o lançamento do Plano Real, produziram mais um ciclo de momentânea prosperidade econômica para o Brasil.

Com a estabilização da macroeconomia e o controle da inflação, o Brasil se fortaleceu e trilhou o caminho do progresso, mas para conseguir isto, também precisou reformar sua estrutura empresarial. Nos anos 1990, o país passou por um intenso processo de privatizações, cerca de cem empresas estatais passaram a ser privadas entre 1991 e 2001, o que gerou uma injeção de cerca de noventa bilhões de dólares nos cofres do governo. A maior de todas foi a do sistema de telefonia, na qual a Embratel foi fragmentada em diversas empresas e vendida a diferentes donos, visando garantir uma competitividade no setor que impulsionasse investimentos.

Com estabilidade e perspectiva de crescimento, o capital estrangeiro imigrou para o Brasil e compôs um importante pedaço deste ciclo de desenvolvimento, sendo o grande exemplo a indústria automobilística. Durante os anos 90 as montadoras estrangeiras fabricando veículos no Brasil saltaram de quatro (Volkswagen, General Motors, Ford e Fiat) para quatorze. A estabilidade fortaleceu também o setor dos bancos, e os gigantes privados brasileiros Bradesco e Itaú, e o estatal Banco do Brasil, passaram a ser os únicos bancos latino-americanos entre os vinte maiores do mundo, resistindo ao que ocorreu no resto da América do Sul, onde os bancos estrangeiros obtiveram presença dominante nos mercados nacionais de seus vizinhos.

Sem a hiperinflação, as empresas brasileiras conseguiriam ser altamente competitivas em escala global. Entre as que obtiveram maior destaque estão a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) – que depois de passar a mãos privadas passou a ser apenas Vale – que já era líder mundial na fabricação de minério de ferro desde 1974, e sobreviveu à disputa de concentração de capital em seu mercado (no início do século XXI, o mercado mundial de minério de ferro se concentrou na mão de três empresas que detinham 70% da extração e fabricação no planeta, a brasileira Vale e as britânicas-australianas Rio Tinto e BHP Billiton) e também a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e a Usiminas, que no campo da siderurgia foram outras que se alçaram ao grupo das empresas mais competitivas em escala global.

O Brasil, além de líder mundial na agro-pecuária, tornou-se uma grande força industrial. O maior exemplo desta força industrial brasileira foi a Embraer, empresa aeronáutica à beira da falência antes do Plano Real, que no século XXI tornou-se a terceira maior fabricante de aviões do mundo, atrás apenas da Boeing e da Airbus, e disputando acirradamente o posto com a canadense Bombardier.

O modelo de gestão empresarial brasileiro também alçou vôo no mercado de bens de consumo. Entre muitos casos de sucesso, um em especial se destaca pela grandeza e significância de seu feito: um trio de banqueiros – Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira – donos do banco de investimentos Garantia, decidiu entrar no mercado de bens de consumo e, em 1989, comprou a cervejaria Brahma, uma das maiores do país. Dez anos depois, em 1999, eles compraram a principal rival, a cervejaria Antarctica, e formam a Ambev. A partir daí iniciaram uma expansão impressionante pelo mercado mundial: em 2002 compraram a cervejaria argentina Quilmes e passaram a ter penetração em todo o mercado da América Latina; em 2004 se associaram à cervejaria belga Interbrew, e puseram-se com uma participação minoritária na InBev, resultado da fusão belgo-brasileira no negócio. Não tardou muito e os três passaram a adquirir ações e se tornaram majoritários no capital da InBev. Em 2008, no vôo mais ousado, adquiriram a tradicional cervejaria norte-americana Anheuser-Busch, cuja principal marca era a cerveja Budweiser. Assim, formaram a AB InBev, que tornou-se a maior cervejaria do planeta. Mas a expansão para o mercado de consumo dos Estados Unidos não parou por aí: em 2010 eles compraram a rede Burgen King, cadeia de lanches rápidos especializada em hambúrgueres, e em 2013 compraram a tradicional fabricante de alimentos Heinz, dona de algumas das marcas mais vendidas nos EUA. A trilha inversa de colonização se desenhava, os empresários oriundos de uma sociedade colonial que viveu sob regime de extorsão lançam-se ao centro do imperialismo global.

As forças industrial e agro-pecuária do Brasil se uniram e permitiram ao país alçar-se à vanguarda da economia mundial. O caso mais clássico desta união, derivado do encontro entre a pesquisa agrícola e a capacidade de produção industrial, foi a criação e fabricação de etanol com álcool derivado da cana de açúcar. A experiência, iniciada no fim dos anos de 1970, após as grandes crises globais do petróleo, cresceu e tornou o Brasil o terceiro maior produtor de biodiesel do mundo, atrás apenas de Alemanha e EUA. Na economia ecologicamente alinhada, o país também tinha um posicionamento estratégico diferenciado.

Apesar dos persistentes problemas de desigualdade sócio-econômica, a luta por justiça social teve conquistas paulatinas nos cem primeiros anos de sua república. Apesar de um modelo educacional ainda restringente, enfrentando dificuldades para chegar a todas as camadas da sociedade, apesar de todas estas graves distorções, o Brasil conseguiu rumar sob alguma ordem por seu caminho de progresso. E cada conquista de alcance global foi um símbolo desta caminhada.

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