Com Zagallo recém sentado no
banco de reservas, a seleção voltou a campo, uma semana depois do empate com o
Bangu, para enfrentar o Chile no Morumbi, em São Paulo. O time não mudou na
escalação, mas mudou em atitude, goleou os chilenos por 5 x 0, com Pelé e
Roberto Miranda marcando dois gols cada e Gérson fechando o placar.
E logo na primeira convocação de
Zagallo, eis que o nome de Dario, o Dadá Maravilha, o Peito de Aço,
centroavante do Atlético Mineiro, personagem central da demissão de João
Saldanha, apareceu na lista de convocados.
Seguiu-se uma seqüência de seis
amistosos em solo brasileiro antes do embarque para o México, que aconteceu um
mês e meio antes da Copa do Mundo começar. O Brasil voltou a vencer o Chile,
desta vez por 2 x 1 no Maracanã. Depois jogou em Manaus contra a Seleção
Amazonense, vencendo por 4 x 1. A seguir, empate sem gols com o Paraguai no
Rio, vitória sobre a Seleção Mineira por 3 x 1 em Belo Horizonte, empate sem
gols com a Bulgária em São Paulo e, na despedida, vitória por 1 x 0 sobre a
Áustria no Maracanã.
Daí a seleção embarcou para o
México, onde deu início a um forte trabalho de condicionamento aeróbico
comandado pelos preparadores físicos Cláudio Coutinho e Carlos Alberto
Parreira.
Houve mais três amistosos
preparatórias, com vitórias por 3 x 0 sobre um Combinado de Guadalajara, por 5
x 2 sobre um Combinado de León e por 3 x 0 sobre o Irapuato, clube mexicano. O
time estava pronto, técnica e fisicamente, para jogar a Copa do Mundo. Em dez
amistosos sob o comando de Zagallo, foram oito vitórias e dois empates.
A 9ª Copa do Mundo, no México,
mantinha o formato das anteriores. As baixas surpreendentes nas Eliminatórias
foram a Argentina, que, com derrotas para Bolívia e Peru, foi eliminada, e, na
Europa, a França, eliminada pela Suécia. O Grupo 1 trazia União Soviética,
Bélgica, México e El Salvador; o Grupo 2 tinha Itália, Uruguai, Suécia e
Israel; o Grupo 3 tinha Inglaterra, Brasil, Tchecoslováquia e Romênia; e o
Grupo 4 tinha Alemanha, Bulgária, Peru e Marrocos. O grupo brasileiro era tido
como o mais difícil daquele Mundial.
A seleção titular de Zagallo
trazia inovações em relação ao time montado por Saldanha. O novo treinador foi
ousado. Tinha dois brilhantes jogadores na contenção do meio-campo: Clodoaldo e
Piazza. Achou espaço para ambos, recuando o segundo para jogar como zagueiro.
Tinha Gérson, Rivellino, Tostão e Pelé, todos legítimos camisas 10 de seus
clubes, responsáveis pela armação e o municiamento do ataque. Arrumou espaço
para todos jogarem juntos, empurrando Rivellino para a ponta-esquerda e tirando
Edu do time titular.
A Seleção Brasileira começava
então sua caminhada, embalada pela música que marcou aquela Copa do Mundo: Noventa
milhões em ação / Pra frente Brasil, do meu coração / Todos juntos vamos / Pra
frente Brasil / Salve a Seleção / De repente é aquela corrente pra frente /
Parece que todo o Brasil deu a mão / Todos ligados na mesma emoção / Tudo é um
só coração! / Todos juntos vamos, pra frente Brasil, Brasil / Salve a Seleção!
A campanha brasileira começou com
uma estréia arrasadora e mostrando um futebol de encher os olhos. O Brasil saiu
atrás no marcador, mas sobrou em campo, goleou os tchecoslovacos por 4 x 1,
tendo os dois últimos gols, marcados por Jairzinho, sido duas obras de arte. Em
um, ao ser lançado, deu um balão magistral no goleiro, dominando no peito com
extrema categoria e fuzilando as redes, e no outro concluindo após vários
dribles que entortaram vários zagueiros.
Já o segundo jogo era uma
decisão. O Brasil tinha pela frente os detentores do título mundial, com os
lendários Bobby Moore e Bobby Charlton. Foi um jogo duríssimo, com muitas
chances de gol de lado a lado, num jogo aberto, do qual qualquer um poderia ter
saído vencedor. Venceu o Brasil, com gol de Jairzinho. Foi um dos maiores jogos
de futebol de todos os tempos.
Com duas vitórias e a
classificação em primeiro lugar garantida, o Brasil venceu a Romênia por 3 x 2.
O adversário pela frente nas quartas de final era o Peru, treinado pelo
brasileiro Didi, algoz dos argentinos nas Eliminatórias, e liderado pelo craque
Teófilo Cubillas. Apesar do placar dilatado, com vitória canarinho por 4 x 2, a
partida não foi nada fácil, foi duríssima. O Brasil avançou à semi-final para encarar
o Uruguai, seu algoz na Copa de 50.
O Brasil levou um grande susto
quando Luis Cubilla fez o gol uruguaio aos 19 minutos do primeiro tempo. A
partida seguiu extremamente nervosa, com muita tensão. O gol redentor de
Clodoaldo no finzinho do primeiro tempo foi importantíssimo para o time ter
tranqüilidade na segunda etapa para virar o jogo, com gols de Jairzinho e
Rivellino; o Brasil fez 3 x 1 e voltou a conseguir classificar-se para uma
final de Copa do Mundo.
A Seleção Brasileira estava
jogando um futebol exuberante. Tecnicamente bonito e taticamente perfeito. Cada
jogo, cada vitória, foi uma obra magistral. O Brasil jogava em harmonia
perfeita, dava um concerto futebolístico completo.
O adversário na final era a
Itália, que na semi-final venceu a Alemanha Ocidental, de Franz Beckenbauer e
Gerd Muller, num jogo épico, que certamente está entre os melhores da história
das Copas do Mundo. O tempo normal terminou 1 x 1, com o gol alemão saindo aos
44 minutos do segundo tempo. Na prorrogação, a Alemanha virou, mas ainda na
primeira parte do tempo extra, os italianos reviraram e puseram 3 x 2 a seu
favor. Faltando seis minutos para o fim, os alemães voltaram a conseguir o
empate, mas no minuto seguinte Rivera decretou o 4 x 3 definitivo.
A equipe brasileira entrou em
campo, em 21 de junho de 1970, com: Félix, Carlos Alberto, Brito, Wilson Piazza
e Everaldo, Clodoaldo e Gérson, Jairzinho, Tostão, Pelé e Rivellino. E o que se
viu naquele dia foi o capítulo final de uma epopéia épica. O adversário impunha
respeito, era o campeão da Eurocopa de 1968.
O título começou a ser escrito
com Tostão batendo um lateral que Rivellino emendou de primeira para dentro da
área, onde encontrou a testada de Pelé para as redes. A descrição do italiano
Facchetti para aquele gol é sensacional: "Pulei primeiro que ele para cabecear
a bola. Eu era mais alto e tinha mais impulsão. Quando desci ao chão, olhei pra
cima, perplexo. Pelé ainda estava lá, no alto, cabeceando a bola. Parecia que
podia ficar no ar o tempo que quisesse".
Os italianos empataram no
primeiro tempo. Mas o Brasil era muito superior em campo. Foi aos 20 minutos da
etapa final que Gérson limpou um marcador na entrada da área e disparou sua
canhota de ouro num tiro transversal que estufou as redes. Brasil 2 x 1.
Cinco minutos depois e Gérson fez
um lançamento magistral do meio de campo na cabeça de Pelé, que só ajeitou para
Jairzinho ampliar. Mas ainda tinha mais. E novamente em mais um lance esplêndido,
que começou com Clodoaldo driblando vários italianos na intermediária do
Brasil, ele passou e a bola foi de pé em pé até o ataque, onde parou em Pelé,
que levantou a cabeça e deu um passe no vazio para o lado direito da área
italiana, Carlos Alberto, em velocidade, emendou de primeira, sem precisar
mudar o ritmo de suas passadas. Uma bomba, que o goleiro nem viu passar, estufou
a rede a quatro minutos do fim. 4 x 1. A Seleção Brasileira fechava com chave
de ouro uma Copa do Mundo perfeita.
Foi na Copa de 70 que Pelé quase
fez um gol de antes da linha do meio-campo, surpreendendo o goleiro Viktor, da
Tchecoslováquia, adiantado; a bola passou rente à trave. No jogo com o Uruguai,
Pelé emendou uma cobrança de tiro de meta de primeira, quase fazendo um gol, e
deu um drible de corpo sensacional no goleiro Mazurkiewicz, pegando a bola do
outro lado e por pouco não fazendo mais um gol sobre o Uruguai.
Na Copa de 70, o Brasil venceu
todos os sete jogos que disputou. Só nos Mundiais de 1930, 1934 e 1938, que
eram em sistema mata-mata, o campeão não havia empatado ou perdido pelo menos
uma vez. Um feito tão difícil, que só voltou a se repetir em 2002, também com o
Brasil sendo campeão. Das sete vitórias, em três a seleção fez 4 gols, e em
outras duas fez 3 gols. Um time com uma força de ataque incrível. Mais raro
ainda foi o feito de Jairzinho, que jamais foi repetido na história, ele fez
gol em todos os sete jogos da seleção naquela Copa do Mundo.
Com o terceiro título mundial, o
Brasil conquistava em definitivo a Taça Jules Rimet, que foi erguida pelo
capitão Carlos Alberto. O Brasil era tri-campeão mundial!
Carlos Alberto ergue a Taça Jules Rimet
Ficha Técnica
BRASIL 4
x 1 ITÁLIA
Gols:
Pelé (18'1T), Bonisegna (37'1T), Gérson (20'2T), Jairzinho (25'2T) e Carlos
Alberto Torres (42'2T)
BRASIL: Félix; Carlos Alberto, Brito, Wilson Piazza e Everaldo; Clodoaldo, Gérson e Pelé; Jairzinho, Tostão e Rivellino.
ITÁLIA: Enrico Albertosi, Tarcisio Burgnich,
Pierluigi Cera, Roberto Rosato e Giacinto Facchetti; Giancarlo De Sisti, Mário
Bertini (Antonio Juliano) e Sandro Mazzola (Gianni Rivera); Angelo Domenghini,
Roberto Bonisegna e Luigi Riva.
A seleção dos melhores do Mundial
tinha cinco brasileiros: Mazurkiewicz (Uruguai), Carlos Alberto (Brasil), Beckenbauer
(Alemanha), Wilson Piazza (Brasil) e Facchetti (Itália), Gérson (Brasil) e
Bobby Charlton (Inglaterra), Jairzinho (Brasil), Teófilo Cubillas (Peru), Pelé
(Brasil) e Gerd Muller (Alemanha).
Nenhum comentário:
Postar um comentário