domingo, 1 de dezembro de 2013

O Brasil na Copa do Mundo de 1934

Sem enfrentar a Argentina desde os graves incidentes de 1925, e sem a realização de nenhuma outra edição do Campeonato Sul-Americano, o Brasil teve dificuldade para realizar jogos entre as Copas de 1930 e 1934. Houve um acerto com os campeões mundiais para a realização da Copa Rio Branco, primeiro em 1931 no Rio de Janeiro e depois em 1932 no Uruguai (ambos os confrontos vencidos pelo Brasil). Fora estes jogos, só amistosos contra clubes: em 1931 em São Paulo contra o Ferencvaros, e em 1932 contra o Andaraí, do Rio de Janeiro, e dois jogos em Montevidéu, contra Nacional e Peñarol. Em todos estes jogos, vitória da Seleção Brasileira.

Assim como havia acontecido nos anos que antecederam à Copa de 30, entre 1931 e maio de 1934 a seleção só jogou seis vezes, e quatro contra clubes. Não houve nenhum jogo durante 1933, e quando viajou para a Itália para jogar a segunda Copa do Mundo, novamente era utilizada uma seleção absolutamente sem qualquer entrosamento.

Duas curiosidades interessantes sobre 1931: primeiro é a estréia na Seleção Brasileira de dois jogadores que viriam a ter papel preponderante na mudança de patamar do futebol brasileiro, a nível mundial, vivido naquela década, e ambos defendiam equipes de menor expressão do Rio de Janeiro quando defenderam a camisa da seleção naquele ano de 31, o zagueiro Domingos da Guia, do Bangu, e o atacante Leônidas da Silva, do Bonsucesso.

A segunda curiosidade é em relação ao amistoso contra o Ferencvaros, time da Hungria, realizado na capital paulista. Neste jogo, Pepe, Del Debbio, Serafini, De Maria e Rato, todos cinco jogadores da Lazio, da Itália, foram os primeiros jogadores que atuavam no exterior a vestir a camisa do Brasil, embora nenhum deles ainda tivesse estreado pela equipe italiana. Naquele ano, a Lazio decidiu montar uma equipe de ítalo-brasileiros, aproveitando a forte presença de imigrantes italianos em São Paulo. Foram contratados de uma só vez: Del Debbio, De Maria, Guarisi (Filó) e José Castelli (Rato), do Corinthians, Tedesco, do Atlético Santista, Serafini, Sernagiotto (Ministrinho) e Rizzetti (Pepe), do Palestra Itália de São Paulo, e Fantoni, do Palestra Itália de Minas Gerais. Um deles, Filó, defendeu a Seleção da Itália na Copa de 34.

A FIFA escolheu a Itália para sediar a 2ª Copa do Mundo de Futebol. Houve um enorme interesse de países europeus. A FIFA definiu em 16 o número de participantes, tendo sido necessária a disputa de Eliminatórias para definir os 12 representantes europeus. O Uruguai, campeão mundial, boicotou o torneio, em repúdio à baixa presença de europeus na Copa de 30. Só quatro seleções não-européias participaram: Argentina, Brasil, Estados Unidos e Egito. O formato também mudou, sendo jogado todo em mata-mata, iniciando-se nas oitavas de final.  Quem perdesse, estava eliminado. A Seleção Brasileira teria a Espanha pela frente na primeira fase.

A estréia do Brasil na Copa do Mundo de 1934 é a primeira partida do time de futebol do país fora da América do Sul. Até aquele jogo, a Seleção Brasileira havia entrado em campo 62 vezes desde 1914: 24 partidas no Rio de Janeiro, 17 em Buenos Aires, 13 em Montevidéu, 3 em São Paulo, 3 em Viña del Mar, 1 em Rosário, na Argentina, e 1 em Durazno, no Uruguai.

O técnico brasileiro na Copa de 34 era Luís Vinhaes, no cargo desde 1931. E os convocados foram:

Goleiros: Pedrosa (Botafogo) e Germano (Flamengo)
Zagueiros: Sylvio Hoffman (Botafogo), Luiz Luz (Grêmio) e Octacílio (Botafogo)
Meias: Tinoco (Vasco), Martim Silveira (Botafogo), Heitor Canalli (Botafogo), Waldir (Botafogo) e Ariel (Botafogo)
Atacantes: Leônidas da Silva (Vasco), Luisinho Mesquita (São Paulo), Waldemar de Brito (São Paulo), Armandinho (São Paulo), Patesko (Botafogo), Carvalho Leite (Botafogo) e Átila (Botafogo).


Seleção Brasileira em sua 1ª vez na Europa

Dos convocados, dois em especial chegavam após ter brilhado no futebol uruguaio, o atacante gaúcho Patesko acabara de ser contratado pelo Botafogo após brilhar pelo Nacional de Montevidéu, e o também gaúcho Luiz Luz, zagueiro, que acabara de ser contratado pelo Grêmio ao Peñarol. Leônidas também havia brilhado com a camisa do Peñarol em 1933. Naquele mesmo ano de 1934, o zagueiro Domingos da Guia e o meia Fausto, que defendera o Brasil no Mundial de 1930, também brilhavam com a camisa do Nacional de Montevidéu. Domingos ainda brilharia pelo Boca Juniors no Campeonato Argentino do ano seguinte (1935).

O time que entrou para enfrentar a Espanha: Pedrosa, Sylvio Hoffman e Luiz Luz, Tinoco, Martim Silveira e Canalli, Luisinho Mesquita, Waldemar de Brito, Armandinho, Leônidas da Silva e Patesko. A parada foi resolvida logo no primeiro tempo: Iraragorri, aos 17 minutos, e Lángara duas vezes, aos 25 e aos 28. Fim de primeiro tempo: Espanha 3 x 0 Brasil. No segundo tempo, Leônidas aos 9 minutos descontou. No fim: 3 x 1.

Copa do Mundo de 1934: Espanha 3 x 1 Brasil 

A Itália superou a Estados Unidos, Espanha, Áustria e, na final, venceu a seleção da Tchecoslováquia por 2 x 1, numa virada com um gol de Orsi a nove minutos do fim, e depois com gol de Schiavio na prorrogação. O time italiano, campeão do mundo em 1934: Combi; Monzeglio e Luigi Allemandi; Attilio Ferraris, Luisito Monti e Bertolini; Enrique Guaita, Giuseppe Meazza, Angelo Schiavio, Giovanni Ferrari e Raimondo Orsi (o técnico era Vittorio Pozzo). Faziam parte do time os argentinos naturalizados Orsi e Luisito Monti, este último vice-campeão na Copa de 30, além do brasileiro Anfilogino Guarisi, o Filó, ex-jogador do Corinthians.

A FIFA escolheu a seleção de melhores daquela Copa com: Zamora (Espanha), Quincoce (Espanha) e Monzeglio (Itália), Attilio Ferraris (Itália), Luisito Monti (Itália) e Cilaurren (Espanha), Enrique Guaita (Itália), Nejedly (Tchecoslováquia), Mathias Sindelar (Áustria), Giuseppe Meazza (Itália) e Raimondo Orsi (Itália).

Nunca a Seleção Brasileira havia jogado tanto como jogou em 1934. Depois da derrota na Copa, o time brasileiro fez oito amistosos em solo europeu: foi goleada por 8 x 4 pela Iugoslávia, empatou sem gols com o Gradjanski, clube de Zagreb, na Iugoslávia, jogou duas vezes contra a Catalunha, com um empate e uma derrota, empatou em 4 x 4 com o Barcelona, venceu por 4 x 2 um Combinado de Lisboa, goleou por 6 x 1 o Sporting Lisboa e empatou sem gols com o Porto. A passagem pela Europa foi muito ruim: em nove jogos, duas vitórias, quatro empates e três derrotas.

Na volta ao Brasil, a Seleção Brasileira marcou uma excursão de 11 jogos pelo Nordeste em setembro e outubro. Eram os primeiros jogos no Brasil que não eram jogados ou no Rio ou em São Paulo. Seis jogos em Salvador e cinco em Recife. Na Bahia, goleadas por 10 x 4 sobre o Galícia, por 5 x 1 sobre o Ypiranga, por 8 x 1 e por 5 x 1, ambas sobre o Bahia, e vitórias por 2 x 1 sobre o Vitória e por 2 x 1 sobre a Seleção Baiana. Em Pernambuco, vitórias por 5 x 4 sobre o Sport Recife, 3 x 1 sobre o Santa Cruz, 8 x 3 sobre o Náutico, e 5 x 3 sobre a Seleção Pernambucana. No final, derrota por 3 x 2 para o Santa Cruz.

Aproveitando-se dos muitos gols na ida ao Nordeste, Waldemar de Brito e Leônidas da Silva foram os terceiro e quarto jogadores a atingir a marca de 10 gols pela Seleção. E Leônidas foi o primeiro a chegar a 20 gols com a camisa canarinho.

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