Sem enfrentar a Argentina desde
os graves incidentes de 1925, e sem a realização de nenhuma outra edição do
Campeonato Sul-Americano, o Brasil teve dificuldade para realizar jogos entre
as Copas de 1930 e 1934. Houve um acerto com os campeões mundiais para a
realização da Copa Rio Branco, primeiro em 1931 no Rio de Janeiro e depois em
1932 no Uruguai (ambos os confrontos vencidos pelo Brasil). Fora estes jogos, só
amistosos contra clubes: em 1931 em São Paulo contra o Ferencvaros, e em 1932
contra o Andaraí, do Rio de Janeiro, e dois jogos em Montevidéu, contra
Nacional e Peñarol. Em todos estes jogos, vitória da Seleção Brasileira.
Assim como havia acontecido nos
anos que antecederam à Copa de 30, entre 1931 e maio de 1934 a seleção só jogou
seis vezes, e quatro contra clubes. Não houve nenhum jogo durante 1933, e
quando viajou para a Itália para jogar a segunda Copa do Mundo, novamente era
utilizada uma seleção absolutamente sem qualquer entrosamento.
Duas curiosidades interessantes
sobre 1931: primeiro é a estréia na Seleção Brasileira de dois jogadores que
viriam a ter papel preponderante na mudança de patamar do futebol brasileiro, a
nível mundial, vivido naquela década, e ambos defendiam equipes de menor
expressão do Rio de Janeiro quando defenderam a camisa da seleção naquele ano
de 31, o zagueiro Domingos da Guia, do Bangu, e o atacante Leônidas da Silva,
do Bonsucesso.
A segunda curiosidade é em
relação ao amistoso contra o Ferencvaros, time da Hungria, realizado na capital
paulista. Neste jogo, Pepe, Del Debbio, Serafini, De Maria e Rato, todos cinco
jogadores da Lazio, da Itália, foram os primeiros jogadores que atuavam no
exterior a vestir a camisa do Brasil, embora nenhum deles ainda tivesse
estreado pela equipe italiana. Naquele ano, a Lazio decidiu montar uma equipe
de ítalo-brasileiros, aproveitando a forte presença de imigrantes italianos em
São Paulo. Foram contratados de uma só vez: Del Debbio, De Maria, Guarisi
(Filó) e José Castelli (Rato), do Corinthians, Tedesco, do Atlético Santista,
Serafini, Sernagiotto (Ministrinho) e Rizzetti (Pepe), do Palestra Itália de
São Paulo, e Fantoni, do Palestra Itália de Minas Gerais. Um deles, Filó,
defendeu a Seleção da Itália na Copa de 34.
A FIFA escolheu a Itália para
sediar a 2ª Copa do Mundo de Futebol. Houve um enorme interesse de países
europeus. A FIFA definiu em 16 o número de participantes, tendo sido necessária
a disputa de Eliminatórias para definir os 12 representantes europeus. O
Uruguai, campeão mundial, boicotou o torneio, em repúdio à baixa presença de
europeus na Copa de 30. Só quatro seleções não-européias participaram:
Argentina, Brasil, Estados Unidos e Egito. O formato também mudou, sendo jogado
todo em mata-mata, iniciando-se nas oitavas de final. Quem perdesse, estava eliminado. A Seleção
Brasileira teria a Espanha pela frente na primeira fase.
A estréia do Brasil na Copa do
Mundo de 1934 é a primeira partida do time de futebol do país fora da América
do Sul. Até aquele jogo, a Seleção Brasileira havia entrado em campo 62 vezes
desde 1914: 24 partidas no Rio de Janeiro, 17 em Buenos Aires, 13 em
Montevidéu, 3 em São Paulo, 3 em Viña del Mar, 1 em Rosário, na Argentina, e 1
em Durazno, no Uruguai.
O técnico brasileiro na Copa de
34 era Luís Vinhaes, no cargo desde 1931. E os convocados foram:
Goleiros: Pedrosa (Botafogo) e Germano (Flamengo)
Zagueiros: Sylvio Hoffman (Botafogo), Luiz Luz (Grêmio) e Octacílio
(Botafogo)
Meias: Tinoco (Vasco), Martim Silveira (Botafogo), Heitor Canalli
(Botafogo), Waldir (Botafogo) e Ariel (Botafogo)
Atacantes: Leônidas da Silva (Vasco), Luisinho Mesquita (São
Paulo), Waldemar de Brito (São Paulo), Armandinho (São Paulo), Patesko
(Botafogo), Carvalho Leite (Botafogo) e Átila (Botafogo).
Dos convocados, dois em especial
chegavam após ter brilhado no futebol uruguaio, o atacante gaúcho Patesko
acabara de ser contratado pelo Botafogo após brilhar pelo Nacional de
Montevidéu, e o também gaúcho Luiz Luz, zagueiro, que acabara de ser contratado
pelo Grêmio ao Peñarol. Leônidas também havia brilhado com a camisa do Peñarol
em 1933. Naquele mesmo ano de 1934, o zagueiro Domingos da Guia e o meia
Fausto, que defendera o Brasil no Mundial de 1930, também brilhavam com a
camisa do Nacional de Montevidéu. Domingos ainda brilharia pelo Boca Juniors no
Campeonato Argentino do ano seguinte (1935).
O time que entrou para enfrentar
a Espanha: Pedrosa, Sylvio Hoffman e Luiz Luz, Tinoco, Martim Silveira e
Canalli, Luisinho Mesquita, Waldemar de Brito, Armandinho, Leônidas da Silva e
Patesko. A parada foi resolvida logo no primeiro tempo: Iraragorri, aos 17
minutos, e Lángara duas vezes, aos 25 e aos 28. Fim de primeiro tempo: Espanha
3 x 0 Brasil. No segundo tempo, Leônidas aos 9 minutos descontou. No fim: 3 x
1.
A Itália superou a Estados
Unidos, Espanha, Áustria e, na final, venceu a seleção da Tchecoslováquia por 2
x 1, numa virada com um gol de Orsi a nove minutos do fim, e depois com gol de
Schiavio na prorrogação. O time italiano, campeão do mundo em 1934: Combi;
Monzeglio e Luigi Allemandi; Attilio Ferraris, Luisito Monti e Bertolini;
Enrique Guaita, Giuseppe Meazza, Angelo Schiavio, Giovanni Ferrari e Raimondo
Orsi (o técnico era Vittorio Pozzo). Faziam parte do time os argentinos
naturalizados Orsi e Luisito Monti, este último vice-campeão na Copa de 30,
além do brasileiro Anfilogino Guarisi, o Filó, ex-jogador do Corinthians.
A FIFA escolheu a seleção de
melhores daquela Copa com: Zamora (Espanha), Quincoce (Espanha) e Monzeglio (Itália),
Attilio Ferraris (Itália), Luisito Monti (Itália) e Cilaurren (Espanha), Enrique
Guaita (Itália), Nejedly (Tchecoslováquia), Mathias Sindelar (Áustria), Giuseppe
Meazza (Itália) e Raimondo Orsi (Itália).
Nunca a Seleção Brasileira havia
jogado tanto como jogou em 1934. Depois da derrota na Copa, o time brasileiro
fez oito amistosos em solo europeu: foi goleada por 8 x 4 pela Iugoslávia,
empatou sem gols com o Gradjanski, clube de Zagreb, na Iugoslávia, jogou duas
vezes contra a Catalunha, com um empate e uma derrota, empatou em 4 x 4 com o
Barcelona, venceu por 4 x 2 um Combinado de Lisboa, goleou por 6 x 1 o Sporting
Lisboa e empatou sem gols com o Porto. A passagem pela Europa foi muito ruim:
em nove jogos, duas vitórias, quatro empates e três derrotas.
Na volta ao Brasil, a Seleção
Brasileira marcou uma excursão de 11 jogos pelo Nordeste em setembro e outubro.
Eram os primeiros jogos no Brasil que não eram jogados ou no Rio ou em São
Paulo. Seis jogos em Salvador e cinco em Recife. Na Bahia, goleadas por 10 x 4 sobre o Galícia, por 5 x 1 sobre o
Ypiranga, por 8 x 1 e por 5 x 1, ambas sobre o Bahia, e vitórias por 2 x 1
sobre o Vitória e por 2 x 1 sobre a Seleção Baiana. Em Pernambuco, vitórias por
5 x 4 sobre o Sport Recife, 3 x 1 sobre o Santa Cruz, 8 x 3 sobre o Náutico, e
5 x 3 sobre a Seleção Pernambucana. No final, derrota por 3 x 2 para o Santa
Cruz.
Aproveitando-se dos muitos gols
na ida ao Nordeste, Waldemar de Brito e Leônidas da Silva foram os terceiro e
quarto jogadores a atingir a marca de 10 gols pela Seleção. E Leônidas foi o
primeiro a chegar a 20 gols com a camisa canarinho.
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