terça-feira, 12 de novembro de 2013

A Taça do Mundo é Nossa!

O local escolhido pela FIFA para abrigar a 6ª Copa do Mundo de Futebol foi a Suécia. Pela segunda vez consecutiva, o torneio foi disputado na Europa, mas a partir dali, dada a reconhecida qualidade técnica dos sul-americanos, adotou-se o rodízio entre continentes, que ficou válido até o fim do século 20. A cada oito anos o Mundial voltava para a Europa e para as Américas, havendo um rodízio na organização.

Foram na Europa, as Copas de 1958, na Suécia, de 1966, na Inglaterra, de 1974, na Alemanha, de 1982, na Espanha, de 1990, na Itália, e de 1998, na França. Foram as Américas as Copas de 1962, no Chile, de 1970, no México, de 1978, na Argentina, de 1986, no México (seria na Colômbia), e de 1994, nos Estados Unidos.

Curiosamente, todas as 16 seleções que jogaram a Copa de 58 eram ou da Europa ou das Américas. O Grupo 1 tinha Alemanha Ocidental, Argentina, Tchecoslováquia e Irlanda do Norte. O Grupo 2 tinha França, Iugoslávia, Escócia e Paraguai. O Grupo 3 reunia Suécia, Hungria, México e País de Gales. E o Grupo 4 era tido como o “grupo da morte”: Inglaterra, União Soviética, Brasil e Áustria. A mídia apontava União Soviética, Alemanha, França e Inglaterra como as favoritas ao título.

O grupo do Brasil trazia uma geopolítica bastante curiosa. Com o mundo pós-Segunda Guerra Mundial bi-polarizado pela Guerra Fria entre o Capitalismo e o Socialismo, com os países de Terceiro Mundo à margem, os soviéticos eram a grande potência socialista e os ingleses, embora já tivessem perdido com as duas Grandes Guerras a hegemonia econômica para os Estados Unidos, ainda tinham a Londres como o mais importante centro financeiro do mundo. Já o Brasil era tido como um país pobre, mas de futuro promissor.

E eis que Brasil e Argentina foram as duas grandes surpresas da 1ª fase, o time brasileiro surpreendeu positivamente, já o argentino foi um fiasco, e voltou para casa sob intensas críticas de sua imprensa. Na estréia, a Argentina perdeu por 3 x 1 para a Alemanha, o que não era um resultado de todo inesperado, mas colocava o time sob pressão por vitórias nos jogos seguintes. Na segunda rodada, venceu a Irlanda do Norte por 3 x 1, e como estes haviam vencido os tchecos na abertura, a classificação argentina parecia encaminhada. Mas eis que no último jogo a surpresa: Tchecoslováquia 6 x 1 Argentina. E o principal rival da Seleção Brasileira volta para casa, eliminado na primeira fase e humilhado por uma goleada retumbante.

Brasil: Campeão Mundial em 1958

A convocação da Seleção Brasileira havia gerado muita polêmica, principalmente por causa da ausência de Canhoteiro, ponta-esquerda do São Paulo. A imprensa paulista, indignada, buscava responsáveis por todos os lados. E olha que o técnico da seleção, Vicente Feola, era o treinador do São Paulo. Toda a ala esquerda passou a ser fortemente questionada, a imprensa paulista queria Oreco e Pepe como titulares no lugar de Nilton Santos e Zagallo. Colocavam a culpa na CBD, cuja sede era no Rio, e estaria supostamente impondo a escalação a Feola. O fato é que nos sete jogos preparatórios para a Copa, Zagallo e Pepe começaram titulares cada um em três deles, já Canhoteiro foi titular só em um. Era um prenúncio do que já estava na cabeça de Feola.

A estréia do Brasil era contra a Áustria. Era um jogo extremamente perigoso, tinha o nervosismo natural da estréia, e era teoricamente o mais fácil da primeira fase, logo perder pontos poderia implicar numa eliminação precoce. O time brasileiro escolhido por Feola foi: Gilmar, De Sordi, Bellini, Orlando e Nilton Santos, Zito e Didi, Joel, Mazola, Dida e Zagallo. Foi este time que entrou em campo nos dois primeiros jogos da Copa. Os comandados de Feola não tiveram dificuldade para bater os austríacos por 3 x 0, com dois gols de Mazola e um de Nilton Santos.

No segundo jogo, um empate em 0 x 0 com a Inglaterra, no primeiro jogo a terminar sem gols na história das Copas do Mundo. Os ingleses já haviam empatado com os soviéticos em 2 x 2 na primeira rodada, e ficaram em situação difícil. Mas seriam salvos pelos soviéticos se estes vencessem o Brasil no último jogo. Toda a preparação científica dos jogadores, a preparação física repleta de tecnologia não seria páreo para os franzinos jogadores brasileiros.

Insatisfeito com o futebol apresentado perante a Inglaterra, Feola decidiu fazer três mudanças no ataque brasileiro para aquele jogo. Saíram Joel, Mazola e Dida, e entraram Garrincha, Vavá e o garoto Pelé, com seus 17 anos. As mudanças mudariam a história das Copas do Mundo e mudariam a história da Seleção Brasileira. Nos minutos iniciais, Garrincha infernizou a defesa soviética. Nenhum zagueiro o parava, com seus dribles desconcertantes. Foi dele o passe para Vavá abrir o placar logo aos 3 minutos de jogo. O Brasil mandava em campo, mas era uma partida duríssima, que só foi decidida aos 32 minutos do segundo tempo, quando Vavá marcou de novo e deu números finais ao jogo: Brasil 2 x 0 URSS.

Tendo avançado em primeiro, o adversário do Brasil nas quartas era a equipe supostamente mais fraca dentre as classificadas, o País de Gales. Foi um adversário duríssimo, que impôs uma forte retranca, quase impenetrável. O gol brasileiro saiu só aos 21 minutos do segundo tempo. E daquele gol para frente, sairia dos pés do jovem garoto franzino, que carregava a camisa 10 nas costas, o destino daquele Mundial. Pelé fez seis gols nos play-offs. Começou na magra vitória sofrida sobre Gales.

Na semi-final, o Brasil teria pela frente uma das favoritas ao título, a França, de Just Fontaine e Raimond Kopa. Na outra semi-final, a Alemanha enfrentaria a surpreendente Suécia, que eliminara a União Soviética nas quartas de final. Antes dos 10 minutos, Vavá abriu o placar e Fontaine empatou. Daí para frente, só deu Brasil. Com um gol de Didi, o time brasileiro foi para o intervalo em vantagem. Na volta para segunda etapa, três gols de Pelé colocaram implacáveis 5 x 1 no placar. No fim, Piantoni ainda descontou. Final: 5 x 2. O Brasil estava novamente numa final de Copa do Mundo.  

Na final contra a Suécia, um susto, quando logo aos 4 minutos Liedholm abriu o placar. Logo depois, Zagallo salvou uma bola sobre a linha, que poderia ter mudado a história. Mas aos 9 minutos Vavá empatou. Com Garrincha e Vavá fazendo uma dupla infernal para a defesa sueca, não tardou para que Vavá virasse, colocando 2 x 1 no placar. E aí só deu Brasil, Pelé fez o terceiro no segundo tempo, Zagallo fez o quarto, Simonsson diminuiu faltando dez minutos, mas aos 45 do segundo tempo, Pelé fechou a contagem. Brasil 5 x 2 Suécia.

As ruas do Brasil, que pararam para escutar a transmissão pelo rádio, explodiram em alegria, foram tomadas por uma festa descontrolada, num êxtase de alegria carnavalesca. O país inteiro passou a cantar o hino composto para celebrar: “A Taça do Mundo é Nossa / Com o brasileiro, não há quem possa / Êta esquadrão de ouro / É bom no samba, é bom no couro / O brasileiro lá no estrangeiro / Mostrou o futebol como é que é / Ganhou a taça do mundo, sambando com a bola no pé / Goool! / A Taça do Mundo é Nossa / Com o brasileiro, não há quem possa”.

O capitão Bellini levantou a taça e eternizou o gesto. Era a primeira vez que a Taça Jules Rimet era erguida com as duas mãos para o alto, num gesto que foi repetido por todos os capitães que levantaram a copa desde então.


 Aquele título foi um marco histórico. Em todo o século XX, foi o único título de um país não-europeu numa Copa do Mundo jogada dentro da Europa, assim como nenhum europeu foi campeão jogando nas Américas. Em 1930, no Uruguai e em 1950, no Brasil, ambas as vezes deu Uruguai campeão. Em 1962 no Chile, e em 1970 no México, em ambas deu Brasil. Em 1978 na Argentina, e em 1986 no México, foram dois títulos da Argentina, e em 1994, nos Estados Unidos, o Brasil foi campeão.

Em solo europeu, em 1934 na Itália e em 1938 na França, foram dois títulos da Itália. Em 1954, na Suíça, a Alemanha foi a campeã. O Brasil quebrou a tradição sendo campeão na Suécia. Daí para frente, em 1966 a Inglaterra foi sede e campeã, em 1974 a Alemanha foi sede e campeã, em 1982 na Espanha deu Itália campeã, em 1990 na Itália, deu Alemanha campeã, em 1998 a França foi sede e foi campeã, tradição que adentrou o século XXI com a Itália campeã em 2006 jogando na Alemanha. Por tanto, o título da Copa do Mundo de 1958 foi ainda mais especial, foi único.

Os escolhidos pela FIFA como seleção dos melhores da Copa de 58 foram: Harry Gregg (Inglaterra), Djalma Santos (Brasil), Bellini (Brasil) e Nilton Santos (Brasil), Blanchflower (Irlanda do Norte) e Didi (Brasil), Garrincha (Brasil), Pelé (Brasil), Just Fontaine (França), Raymond Kopa (França) e Gunnar Gren (Suécia).


Curiosamente, Djalma Santos, que jogou apenas a final, foi eleito para a Seleção da Copa. O titular da posição durante toda a Copa foi De Sordi, que pediu para ficar fora da final por uma indisposição estomacal. Djalma Santos o substitui e jogou tão bem que só com um jogo, foi eleito entre os melhores daquele Mundial.



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