sábado, 25 de agosto de 2018

ALDAIR: uma lenda em Roma

A história de um dos melhores defensores da Roma de todos os tempos, o jogador estrangeiro de futebol que mais vezes usou as cores amarelo e vermelho: Aldair, um zagueiro firme, que combinava excelente sentido do posicionamento e bote a uma técnica refinada, e a uma elegância que mais parecia ser a de um meio-campista habilidoso no trato à bola de futebol.


Ele não era apenas um profissional extraordinário dentro de campo, com sua marcação dura mas justa, silenciosamente eficaz em ser um líder do grupo, e exemplar fora do campo, mantendo sempre sua classe e sua cortesia. Ele foi carinhosamente apelidado, pela torcida da Roma, de "Alda" ou "Pluto" (por sua semelhança com o personagem da Disney). Alguns explicam o apelido Pluto, de Aldair, por sua fé inabalável nas cores amarela e vermelha, assim como Pluto era um amigo fiel do Mickey Mouse. Aldair era de fato um jogador silencioso, que decidiu permanecer leal à Roma no auge de sua carreira, quando ele poderia vestir a camisa de qualquer time europeu.

Aldair Nascimento dos Santos nasceu em 30 de novembro de 1965 na cidade de Ilhéus, estado da Bahia, no Nordeste do Brasil. Ele passou sua infância com a mãe, e aos 8 anos de idade começou a jogar na equipe de futebol de seu pai. Seis anos depois, o pai o empurrou para um teste no Vasco da Gama, no Rio de Janeiro. Aldair se tornou jogador das divisões de base do Vasco, mas logo sentiu uma tremenda saudade de casa, o que o levou, após apenas quatro meses, a sair do Rio e voltar para sua Ilhéus natal.

Poucos meses depois, ele recebeu uma segunda chance do futebol, quando o olheiro do Flamengo, Juarez dos Santos, levou-o para um campinho de teste do clube em Duque de Caxias, região metropolitana do Rio de Janeiro. Desta vez Aldair não perdeu a oportunidade, não demorou muito e ele logo assinou o seu primeiro contrato profissional, em 1986, ano em que fez sua estréia no Maracanã, num clássico contra o Botafogo. Em sua geração sub-20 no Flamengo, que subiu aos profissionais em 1986, emergiam também jogadores do calibre de Bebeto, Zinho e Jorginho, todos presentes na conquista da Copa do Mundo de 1994.

Ele jogou três temporadas pelo Flamengo, fazendo 185 partidas e ganhando um título regional (Campeonato Carioca de 1986) e um nacional (Copa União de 1987). Seu desempenho não passou despercebido aos olhos dos times europeus e foi assim que, em 1989, Sven-Goran Eriksson, recém empossado no comando do Benfica, depois de deixar a Roma, chamou-o para oferecer-lhe para se juntar a ele em Lisboa. No começo, ele hesitou, mas sua esposa o convenceu e Aldair aceitou uma oferta para jogar pelos comandados de Eriksson.

Assim que chegou a Portugal, sofreu com uma lesão, perdendo espaço na equipe do Benfica, ainda assim, terminou a temporada com 33 jogos no total e foi titular na final da Liga dos Campeões, quando o Benfica perdeu o título para o Milan, do treinador Arrigo Sacchi (1 x 0). Mas o saldo de sua primeira temporada na Europa foi muito positivo, ele imediatamente chamou a atenção, e alguns dos grandes clubes europeus colocaram seus olhos sobre ele. Entre seus admiradores imediatos estava Dino Viola, presidente da Roma, que, a conselho de Eriksson, investiu 6 bilhões de liras na sua contratação (a última compra de Viola como presidente da Roma).

Aldair imediatamente assumiu a titularidade no centro da defesa giallorossi, e os fãs rapidamente se apaixonaram pelo "Pluto" e sua maneira de ver o futebol, sempre saindo da defesa com a bola nos pés e a cabeça erguida. Além do estilo clássico de jogo, Aldair se mostrou um defensor incrivelmente talentoso, com um excelente tempo de desarme, um grande senso de posicionamento e uma sabedoria tática nata, que também era capaz de perceber quando a pressão era muito forte e era hora de varrer a bola para longe da área.

Apesar de Aldair estar regularmente no time titular, seus primeiros anos em Roma não foram fáceis. Levou tempo para ele se adaptar ao jogo e aos ritmos da Série A do Campeonato Italiano. Aldair começou a sentir saudade de casa, em parte devido à sua relação nada fácil com o treinador Ottavio Bianchi. Depois de apenas uma temporada, Aldair já estava pensando em voltar ao Brasil.

Em sua primeira temporada com a camisa da Roma, o clube bateu a Sampdoria na final da Copa da Itália, ganhando o troféu pela sétima vez em sua história. Aldair não sabia, no entanto, que seriam necessários mais 10 anos para a Roma colocar outro troféu uma seu museu. Os anos 1990 foram caracterizados por trocas constantes de treinadores. Após a saída de Ottavio Bianchi, em 1992, passaram pelo banco de reservas Vujadin Boskov, Carlo Mazzone, Carlos Bianchi, Nils Liedholm e Zdenek Zeman, até que as rédeas da equipe foram tomadas por um certo Fabio Capello.

Desde 1989, ano de sua estréia com a Seleção Brasileira, até 2000, Aldair permaneceu entre as opções de defesa dos brasileiros. Um período caracterizado pela conquista de inúmeros troféus. Primeiro, a vitória na Copa América em 1989 depois de quarenta anos de espera, Aldair foi titular no torneio em seis dos sete jogos disputados, e em nenhum destes jogos o Brasil sofreu gol. Em 1994, o verde-amarelo nacional alçou-se ao topo do planeta, vencendo a Copa do Mundo nos Estados Unidos.

Em 1996, a conquista da Medalha de Bronze nos Jogos Olímpicos de Atlanta. Em 1997 foi a vez da conquista da Copa das Confederações e de outra Copa América. E em 1998, com Aldair titular absoluto na zaga, não repetiu-se o título de quatro anos antes, com o Brasil caindo diante da França na final da Copa do Mundo.

Na "Nova Roma" de Capello, Aldair continuou a comandar a defesa giallorossi com seu estilo inimitável, além de explorar o seu sentido de posicionamento para cobrir seus companheiros de defesa, sobretudo o compatriota Cafu e seus constantes avanços ao ataque. Na frente a referência era Francesco Totti, e atrás era Aldair o ponto de referência do time de Capello. Em 1998, Aldair recebeu a braçadeira de capitão, que antes era de Abel Balbo, mas em 31 de Outubro de 1999, ele decidiu transferir a braçadeira para o jovem Totti; Aldair disse na época que ele fez o gesto porque pensou que já era hora de Totti assumir a responsabilidade de liderar a equipe.

A linha defensiva, toda sul-americana, na temporada 2000-01, composta por Aldair, Walter Samuel e Antonio Carlos Zago, é considerada uma das mais fortes da história de Roma. Infelizmente, Aldair sofreu uma grave lesão na metade da temporada, na qual a Roma ganhou seu terceiro Scudetto em sua história. Em 17 de julho, o dia em que os giallorossi foram coroados campeões da Itália, os companheiros do vestiário cantaram "Aldair, Aldair, Aldair!". Aquela lesão foi o começo do fim da aventura de Aldair com a camisa vermelha e amarela. Capello o utilizou bem menos nas duas temporadas seguintes, mas sua classe permaneceu intacta, como demonstrado em 30 de outubro de 2002, quando a Roma enfrentou os campeões da Europa, o Real Madrid, no Santiago Bernabéu, um mês antes do trigésimo sétimo aniversário Aldair. A derrota significaria a eliminação de Roma da Liga dos Campeões e o resultado parecia inevitável diante dos Galácticos Ronaldo, Luis Figo e Zinedine Zidane. Aldair liderou a defesa com a sua calma proverbial, no que foi provavelmente a sua maior atuação com a camisa da Roma, que venceu por 1 x 0.

A temporada 2002-03 foi a última de Aldair com a camisa da Roma. Sua última atuação foi usando o número 436 com as cores amarelo e vermelho, em 24 de maio de 2003, em um jogo em casa contra a Atalanta. A Roma estava ancorada em um 8º lugar na tabela. Era a oportunidade para Pluto e os fãs giallorossi de dizerem adeus, com uma volta do estádio saudado por aplausos e temperada por lágrimas dos fãs e do próprio jogador.

Em 2 de junho de 2003, o Estádio Olímpico celebrou o "Dia Aldair", durante o qual o time da Roma enfrentou um time de brasileiros diante de 40.000 espectadores. O jogo terminou 3 x 3. Foi uma partida emocionante, especialmente quando Aldair converteu uma penalidade e foi carregado em triunfo por ambos os amigos que atuavam nas duas equipes, tanto a giallorossi quanto a verde-amarela. A festa terminou em lágrimas, quando Pluto deu uma volta de honra no campo e foi abraçar seus filhos no centro do gramado. "Eu estou realmente feliz. Vocês sempre estarão no meu coração, força Roma!", disse Aldair ao microfone, enquanto nas arquibancadas, eram levantados cartazes de agradecimento ao defensor, entre os quais se destacaram: "Foi fácil amar você, vai ser difícil ficar sem você" e "honrado 13 anos, graças a Pluto". Após o jogo, sua camisa número 6 foi entregue ao Presidente Franco Sensi que, a pedido dos fãs, retirou-a por 10 anos, só voltando a ser utilizada em 2013.

Jogadores, dirigentes, treinadores e até presidentes se revezaram durante os anos 1990, mas Aldair permaneceu sempre ali, no coração da defesa giallorossi. Uma vez foi pedido a Francesco Totti para definir Aldair em duas palavras, e ele respondeu: "Duas palavras não são suficientes, seriam demasiado poucas. Ele é parte da história de Roma e é assim que vamos sempre lembrar". Giacomo Losi, histórico zagueiro do clube, defendeu a Roma de 1954 a 1969, sem nunca ter sido expuldo uma única vez, afirmou: "Se eu tivesse que escolher um defensor com quem eu teria gostado de jogar, seria Aldair. Nós teriamos formado uma grande parceria".

No verão de 1997, o lendário treinador giallorossi Nils Liedholm foi convidado a escolher os 11 melhores jogadores dos primeiros 70 anos de história do Roma. Quando chegou na defesa central, Liedholm observou: "Eu escolho dois estrangeiros para os melhores zagueiros de sempre do Roma. Um falso estrangeiro, Vierchowod (ele era italiano apesar de seu sobrenome russo) e um estrangeiro real: Aldair". E isto a menos de sete anos após a sua chegada à capital italiana, e os anos mais gloriosos do zagueiro brasileiro em Roma ainda estavam por vir, e ele já era apontado como um dos melhores jogadores de sempre a representar o clube.

Na Cidade Eterna, Aldair ganhou a Copa da Itália em 1991, o Scudetto da Série A em 2001 e a Supercopa da Itália no mesmo ano. E durante a sua estadia com a Roma. Em 2012 ele foi eleito para fazer parte do Hall da Fama do Roma, e à época disse: "Estou muito feliz por ser reconhecido pelos fãs. É também uma honra encontrar-me na companhia de outros grandes jogadores. Você pode ver que o que conseguimos não foi esquecido. Há dois momentos da minha passagem em Roma que eu me lembro particularmente com carinho. Primeiro quando voltei da lesão na temporada 1993/94, em um momento difícil para a equipe, e os fãs me mostraram o que eu significava para eles. E depois, claro, o Scudetto e a festa fantástica que passou por toda a cidade".

Fonte: site oficial do Roma

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