A preparação para a Copa de 66
foi a mais confusa da história. Há quem diga que Vicente Feola foi tão
simplesmente vítima dos conluios políticos da CBD. Mas não se pode inocentá-lo
de haver sido no mínimo cúmplice, pois se ele se dispôs ao papel de mera
marionete e foi incapaz de ter voz ativa, é tão culpado quanto pela bagunça,
confusão, desorganização e decisões difíceis de serem compreendidas de um ponto
de vista lógico.
Teve de tudo naquela preparação.
Teria o sucesso do Bi-campeonato subido à cabeça de todos a ponto de se
acreditar que o desleixo não afetaria o resultado? O fato é que a Seleção
Brasileira havia mudado de patamar, tanto para o resto do mundo, quanto para os
olhos internos de sua sociedade; passou-se a haver um imenso círculo de
interesses girando em torno da seleção.
O início da preparação foi no
Brasil. A seleção fez 10 amistosos, com 8 vitórias e 2 empates. Superou a País
de Gales, Peru e Polônia, duas vezes cada, e ainda venceu a Tchecoslováquia e
Chile, adversário com quem empatou em outros dois jogos. Foram seis jogos no
Rio de Janeiro, dois em São Paulo e dois em Belo Horizonte.
A Seleção Brasileira se deu ao
luxo de entrar duas vezes em campo no mesmo dia e no mesmo estádio, no Maracanã
em 8 de junho de 1966, com dois times diferentes. Na preliminar venceu ao Peru
por 3 x 1, jogando com Ubirajara Motta, Fidélis, Brito, Fontana e Oldair,
Roberto Dias e Denílson, Paulo Borges, Alcindo, Tostão e Edu. No jogo
principal, venceu à Polônia por 2 x 1, jogando com Manga, Djalma Santos, Djalma
Dias, Altair e Paulo Henrique, Dino Sani e Lima, Garrincha, Silva, Pelé e
Paraná.
Na reta final de preparação, a
Seleção Brasileira embarcou para a Europa e fez mais 6 amistosos, com 5 vitórias
e 1 empate. Venceu o Atlético de Madrid por 5 x 3 e ao modestos Atvidaberg, da
Suécia, por 8 x 2. Ainda superou à Suécia, e aos clubes Malmoe e AIK, ambos da
Suécia. O único empate foi diante da Escócia. O Brasil parecia estar pronto
para fazer mais uma bela campanha no Mundial.
Na preparação para a Copa do
Mundo foram utilizados, nestes amistosos, 44 jogadores diferentes. Cinco
goleiros: Gilmar (Santos), Manga (Botafogo), Ubirajara Motta (Bangu), Fábio
(São Paulo) e Valdir (Palmeiras). Quatro laterais-direitos: Djalma Santos
(Palmeiras), Carlos Alberto Torres (Fluminense), Fidélis (Bangu) e Murilo
(Flamengo). Quatro laterais-esquerdos: Paulo Henrique (Flamengo), Rildo
(Botafogo), Édson (Corinthians) e Oldair (Vasco). Sete zagueiros: Bellini (São
Paulo), Orlando Peçanha (Santos), Brito (Vasco), Fontana (Vasco), Djalma Dias
(Palmeiras), Altair (Fluminense) e Leônidas (América-RJ). Oito meio-campistas:
Zito (Santos), Lima (Santos), Denílson (Fluminense), Dudu (Palmeiras), Gérson
(Botafogo), Roberto Dias (São Paulo), Dino Sani (Corinthians) e Flávio
(Corinthians). Oito pontas: Garrincha (Corinthians), Paulo Borges (Bangu),
Jairzinho (Botafogo), Paraná (São Paulo), Edu (Santos), Fefeu (São Paulo),
Ivair (Portuguesa de Desportos) e Nado (Náutico). Oito atacantes: Pelé
(Santos), Amarildo (Milan, Itália), Tostão (Cruzeiro), Alcindo (Grêmio), Silva
(Flamengo), Servílio (Palmeiras), Rinaldo (Palmeiras) e Célio (Vasco).
Houve até uma confusão inusitada. O Flamengo em 1964 havia contratado, ao Juventus da rua Javari, de São Paulo, o jovem zagueiro Ditão. Ele era irmão de outro zagueiro que vinha se destacando em São Paulo, só que pela Portuguesa de Desportos, mas que também havia iniciado sua carreira no Juventus. Dele, o irmão mais novo herdou o mesmo apelido. Geraldo Freitas Nascimento, nascido em 1938, era o Ditão da Portuguesa, contratado em 1966 pelo Corinthians. Gilberto Freitas Nascimento, nascido em 1942, era o irmão mais novo, o Ditão zagueiro do Flamengo. Pois bem, em 1966, nos preparativos para a Copa do Mundo, o técnico Vicente Feola convocou Ditão, já do Corinthians, para a seleção. Só que na hora de divulgar os chamados por Feola, anunciou-se o Gilberto e não o Geraldo. No dia da apresentação, já no aeroporto, chegou o Ditão do Flamengo, só então se percebendo a confusão. A CBD reconheceu o erro, mas não quis desfazer a troca; quem viajou para a Europa com a Seleção Brasileira foi o Ditão do Flamengo e não o do Corinthians, para a indignação paulistana. Mas no fim, nenhum dos dois acabou na lista final.
Ao final da preparação, os 22
convocados por Vicente Feola para defender o Brasil na Copa do Mundo de 1966
foram:
Goleiros: Gilmar (Santos) e Manga (Botafogo)
Laterais: Djalma Santos (Palmeiras), Paulo Henrique (Flamengo),
Fidélis (Bangu) e Rildo (Botafogo)
Zagueiros: Bellini (São Paulo), Orlando Peçanha (Santos), Brito
(Vasco) e Altair (Fluminense)
Meias: Zito (Santos), Lima (Santos), Denilson (Fluminense) e Gérson
(Botafogo)
Atacantes: Garrincha (Corinthians), Jairzinho (Botafogo), Pelé
(Santos), Paraná (São Paulo), Alcindo (Grêmio), Tostão (Cruzeiro), Silva (Flamengo)
e Edu (Santos).
O Brasil vivia um momento
político conturbado, a Ditadura Militar havia começado dois anos antes. Em
paralelo, o futebol brasileiro passava por uma grande mudança internamente. Um
marco foi um jogo pela Taça Brasil daquele ano de 1966 no qual o Cruzeiro venceu
o Santos por 6 x 2. O time de Tostão, Natal e Dirceu Lopes começava a
redesenhar o mapa do futebol brasileiro. Os times de São Paulo e do Rio de
Janeiro já não reinavam sozinhos no cenário futebolístico nacional, os times de
Belo Horizonte e de Porto Alegre já faziam frente e conseguiam jogar de igual
para igual, sem a diferença técnica que existia até os anos 1950. E a marca
desta nova conjuntura eram as presenças de Alcindo, do Grêmio, e de Tostão, do
Cruzeiro, no grupo que foi jogar na Inglaterra.
A 8ª Copa do Mundo de Futebol foi
na Inglaterra. A única surpresa nas Eliminatórias foi a eliminação da
vice-campeã do Mundial anterior, a Tchecoslováquia, que foi derrotada por
Portugal. A França, que havia ficado fora da Copa de 62, eliminada pela Bulgária,
estava de volta. As 16 equipes ficaram divididas em quatro grupos: o Grupo 1
tinha Inglaterra, França, Uruguai e México; o Grupo 2 tinha Alemanha, Espanha,
Argentina e Suíça; o Grupo 3 tinha Brasil, Hungria, Portugal e Bulgária; e o
Grupo 4 tinha Itália, União Soviética, Chile e Coréia do Norte. O grupo
brasileiro não estava entre os mais difíceis, na teoria. A grande surpresa da
Copa de 66 foi a derrota da Itália para a Coréia do Norte por 1 x 0. Uma
zebraça! E o resultado eliminou os italianos logo na primeira fase.
O Brasil não teve grande
dificuldade para bater a Bulgária na estréia, 2 x 0, gols de Garrincha e Pelé.
No segundo jogo, contra a Hungria, sem Pelé em campo (substituído por Tostão).
Os húngaros abriram o placar no comecinho do jogo, mas não tardou para Tostão
empatar. Com um empate no primeiro tempo, na volta para a segunda etapa havia
certa tensão no ar. O Brasil não se encontrou em campo e a Hungria não perdoou,
vencendo por 3 x 1.
A última partida era contra o
surpreendente time português, de Eusébio. Insatisfeito com a derrota para a
Hungria, Feola mexeu em quase todo o time. O time titular dos primeiros jogos
tinha Gilmar, Djalma Santos, Bellini, Altair e Paulo Henrique, Lima e Gérson,
Garrincha, Alcindo, Pelé e Jairzinho. Para enfrentar os portugueses, Feola mexeu
no time inteiro: Manga, Fidélis, Brito, Orlando Peçanha e Rildo, Lima e Denílson,
Jairzinho, Silva, Pelé e Paraná. Um retrato da confusa preparação brasileira, e
uma conseqüência impiedosa. Com 25 minutos do primeiro tempo, Portugal, que é
bem verdade que abusava das faltas sobre Pelé, já vencia por 2 x 0. No segundo
tempo fez o terceiro gol. O Brasil ainda descontou, mas de nada adiantou, a
derrota por 3 x 1 eliminou a Seleção Brasileira logo na primeira fase. Um
vexame que foi conseqüência da mais confusa preparação já feita para uma Copa
do Mundo.
Portugal, treinado pelo brasileiro Otto Glória, ex-treinador do Vasco e do Botafogo. O grande astro da equipe era nascido em Moçambique, colônia portuguesa, o atacante Eusébio. O time português perdeu dos ingleses na semi-final, e estes, por sua vez, venceram a Alemanha por 4 x 2 na final. Jogando em casa, a Inglaterra era campeã do mundo. O time tinha: Banks; George Cohen, Jack Charlton, Bobby Moore e Ray Wilson; Stiles, Peters e Bobby Charlton; Alan Ball, Hurst e Hunt, treinados por Alf Ramsey.
A seleção de melhores da Copa de
66 foi eleita com: Gordon Banks (Inglaterra), Cohen (Inglaterra), Bobby Moore
(Inglaterra), Vicente (Portugal) e Marzolini (Argentina), Franz Beckenbauer (Alemanha),
Coluna (Portugal) e Bobby Charlton (Inglaterra), Florian Albert (Hungria), Uwe
Seller (Alemanha) e Eusébio (Portugal).
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