O local escolhido pela FIFA para
abrigar a 6ª Copa do Mundo de Futebol foi a Suécia. Pela segunda vez
consecutiva, o torneio foi disputado na Europa, mas a partir dali, dada a
reconhecida qualidade técnica dos sul-americanos, adotou-se o rodízio entre
continentes, que ficou válido até o fim do século 20. A cada oito anos o
Mundial voltava para a Europa e para as Américas, havendo um rodízio na
organização.
Foram na Europa, as Copas de
1958, na Suécia, de 1966, na Inglaterra, de 1974, na Alemanha, de 1982, na
Espanha, de 1990, na Itália, e de 1998, na França. Foram as Américas as Copas
de 1962, no Chile, de 1970, no México, de 1978, na Argentina, de 1986, no
México (seria na Colômbia), e de 1994, nos Estados Unidos.
Curiosamente, todas as 16
seleções que jogaram a Copa de 58 eram ou da Europa ou das Américas. O Grupo 1
tinha Alemanha Ocidental, Argentina, Tchecoslováquia e Irlanda do Norte. O
Grupo 2 tinha França, Iugoslávia, Escócia e Paraguai. O Grupo 3 reunia Suécia,
Hungria, México e País de Gales. E o Grupo 4 era tido como o “grupo da morte”:
Inglaterra, União Soviética, Brasil e Áustria. A mídia apontava União
Soviética, Alemanha, França e Inglaterra como as favoritas ao título.
O grupo do Brasil trazia uma
geopolítica bastante curiosa. Com o mundo pós-Segunda Guerra Mundial
bi-polarizado pela Guerra Fria entre o Capitalismo e o Socialismo, com os
países de Terceiro Mundo à margem, os soviéticos eram a grande potência
socialista e os ingleses, embora já tivessem perdido com as duas
Grandes Guerras a hegemonia econômica para os Estados Unidos, ainda tinham a Londres
como o mais importante centro financeiro do mundo. Já o Brasil era tido como um país pobre,
mas de futuro promissor.
E eis que Brasil e Argentina
foram as duas grandes surpresas da 1ª fase, o time brasileiro surpreendeu
positivamente, já o argentino foi um fiasco, e voltou para casa sob intensas
críticas de sua imprensa. Na estréia, a Argentina perdeu por 3 x 1 para a
Alemanha, o que não era um resultado de todo inesperado, mas colocava o time
sob pressão por vitórias nos jogos seguintes. Na segunda rodada, venceu a
Irlanda do Norte por 3 x 1, e como estes haviam vencido os tchecos na abertura,
a classificação argentina parecia encaminhada. Mas eis que no último jogo a
surpresa: Tchecoslováquia 6 x 1 Argentina. E o principal rival da Seleção
Brasileira volta para casa, eliminado na primeira fase e humilhado por uma
goleada retumbante.
A convocação da Seleção
Brasileira havia gerado muita polêmica, principalmente por causa da ausência de
Canhoteiro, ponta-esquerda do São Paulo. A imprensa paulista, indignada,
buscava responsáveis por todos os lados. E olha que o técnico da seleção,
Vicente Feola, era o treinador do São Paulo. Toda a ala esquerda passou a ser
fortemente questionada, a imprensa paulista queria Oreco e Pepe como titulares
no lugar de Nilton Santos e Zagallo. Colocavam a culpa na CBD, cuja sede era no
Rio, e estaria supostamente impondo a escalação a Feola. O fato é que nos sete
jogos preparatórios para a Copa, Zagallo e Pepe começaram titulares cada um em
três deles, já Canhoteiro foi titular só em um. Era um prenúncio do que já estava
na cabeça de Feola.
A estréia do Brasil era contra a
Áustria. Era um jogo extremamente perigoso, tinha o nervosismo natural da
estréia, e era teoricamente o mais fácil da primeira fase, logo perder pontos
poderia implicar numa eliminação precoce. O time brasileiro escolhido por Feola
foi: Gilmar, De Sordi, Bellini, Orlando e Nilton Santos, Zito e Didi, Joel,
Mazola, Dida e Zagallo. Foi este time que entrou em campo nos dois primeiros
jogos da Copa. Os comandados de Feola não tiveram dificuldade para bater os
austríacos por 3 x 0, com dois gols de Mazola e um de Nilton Santos.
No segundo jogo, um empate em 0 x
0 com a Inglaterra, no primeiro jogo a terminar sem gols na história das Copas
do Mundo. Os ingleses já haviam empatado com os soviéticos em 2 x 2 na primeira
rodada, e ficaram em situação difícil. Mas seriam salvos pelos soviéticos se
estes vencessem o Brasil no último jogo. Toda a preparação científica dos
jogadores, a preparação física repleta de tecnologia não seria páreo para os
franzinos jogadores brasileiros.
Insatisfeito com o futebol
apresentado perante a Inglaterra, Feola decidiu fazer três mudanças no ataque
brasileiro para aquele jogo. Saíram Joel, Mazola e Dida, e entraram Garrincha,
Vavá e o garoto Pelé, com seus 17 anos. As mudanças mudariam a história das
Copas do Mundo e mudariam a história da Seleção Brasileira. Nos minutos
iniciais, Garrincha infernizou a defesa soviética. Nenhum zagueiro o parava,
com seus dribles desconcertantes. Foi dele o passe para Vavá abrir o placar
logo aos 3 minutos de jogo. O Brasil mandava em campo, mas era uma partida
duríssima, que só foi decidida aos 32 minutos do segundo tempo, quando Vavá
marcou de novo e deu números finais ao jogo: Brasil 2 x 0 URSS.
Tendo avançado em primeiro, o
adversário do Brasil nas quartas era a equipe supostamente mais fraca dentre as
classificadas, o País de Gales. Foi um adversário duríssimo, que impôs uma
forte retranca, quase impenetrável. O gol brasileiro saiu só aos 21 minutos do
segundo tempo. E daquele gol para frente, sairia dos pés do jovem garoto
franzino, que carregava a camisa 10 nas costas, o destino daquele Mundial. Pelé
fez seis gols nos play-offs. Começou na magra vitória sofrida sobre Gales.
Na semi-final, o Brasil teria
pela frente uma das favoritas ao título, a França, de Just Fontaine e Raimond
Kopa. Na outra semi-final, a Alemanha enfrentaria a surpreendente Suécia, que
eliminara a União Soviética nas quartas de final. Antes dos 10 minutos, Vavá
abriu o placar e Fontaine empatou. Daí para frente, só deu Brasil. Com um gol
de Didi, o time brasileiro foi para o intervalo em vantagem. Na volta para
segunda etapa, três gols de Pelé colocaram implacáveis 5 x 1 no placar. No fim,
Piantoni ainda descontou. Final: 5 x 2. O Brasil estava novamente numa final de
Copa do Mundo.
Na final contra a Suécia, um
susto, quando logo aos 4 minutos Liedholm abriu o placar. Logo depois, Zagallo salvou uma bola sobre a linha, que poderia ter mudado a história. Mas aos 9 minutos
Vavá empatou. Com Garrincha e Vavá fazendo uma dupla infernal para a defesa
sueca, não tardou para que Vavá virasse, colocando 2 x 1 no placar. E aí só deu
Brasil, Pelé fez o terceiro no segundo tempo, Zagallo fez o quarto, Simonsson
diminuiu faltando dez minutos, mas aos 45 do segundo tempo, Pelé fechou a
contagem. Brasil 5 x 2 Suécia.
As ruas do Brasil, que pararam
para escutar a transmissão pelo rádio, explodiram em alegria, foram tomadas por
uma festa descontrolada, num êxtase de alegria carnavalesca. O país inteiro
passou a cantar o hino composto para celebrar: “A Taça do Mundo é Nossa / Com o
brasileiro, não há quem possa / Êta esquadrão de ouro / É bom no samba, é bom
no couro / O brasileiro lá no estrangeiro / Mostrou o futebol como é que é /
Ganhou a taça do mundo, sambando com a bola no pé / Goool! / A Taça do Mundo é
Nossa / Com o brasileiro, não há quem possa”.
O capitão Bellini levantou a taça
e eternizou o gesto. Era a primeira vez que a Taça Jules Rimet era erguida com
as duas mãos para o alto, num gesto que foi repetido por todos os capitães que
levantaram a copa desde então.
Em solo europeu, em 1934 na Itália e em 1938 na
França, foram dois títulos da Itália. Em 1954, na Suíça, a Alemanha foi a
campeã. O Brasil quebrou a tradição sendo campeão na Suécia. Daí para frente,
em 1966 a Inglaterra foi sede e campeã, em 1974 a Alemanha foi sede e campeã,
em 1982 na Espanha deu Itália campeã, em 1990 na Itália, deu Alemanha campeã,
em 1998 a França foi sede e foi campeã, tradição que adentrou o século XXI com
a Itália campeã em 2006 jogando na Alemanha. Por tanto, o título da Copa do
Mundo de 1958 foi ainda mais especial, foi único.
Os escolhidos pela FIFA como seleção dos melhores da Copa de 58 foram: Harry Gregg (Inglaterra), Djalma Santos (Brasil), Bellini (Brasil) e Nilton Santos (Brasil), Blanchflower (Irlanda do Norte) e Didi (Brasil), Garrincha (Brasil), Pelé (Brasil), Just Fontaine (França), Raymond Kopa (França) e Gunnar Gren (Suécia).
Curiosamente, Djalma Santos, que jogou apenas a final, foi eleito para a Seleção da Copa. O titular da posição durante toda a Copa foi De Sordi, que pediu para ficar fora da final por uma indisposição estomacal. Djalma Santos o substitui e jogou tão bem que só com um jogo, foi eleito entre os melhores daquele Mundial.
Os escolhidos pela FIFA como seleção dos melhores da Copa de 58 foram: Harry Gregg (Inglaterra), Djalma Santos (Brasil), Bellini (Brasil) e Nilton Santos (Brasil), Blanchflower (Irlanda do Norte) e Didi (Brasil), Garrincha (Brasil), Pelé (Brasil), Just Fontaine (França), Raymond Kopa (França) e Gunnar Gren (Suécia).
Curiosamente, Djalma Santos, que jogou apenas a final, foi eleito para a Seleção da Copa. O titular da posição durante toda a Copa foi De Sordi, que pediu para ficar fora da final por uma indisposição estomacal. Djalma Santos o substitui e jogou tão bem que só com um jogo, foi eleito entre os melhores daquele Mundial.
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