Em 1959, no começo do ano, a Seleção Brasileira tinha pela frente o desafio de disputar mais uma edição do Campeonato Sul-Americano em Buenos Aires. Motivada pela conquista da Copa do Mundo, a nação esperava enfim superar aos argentinos. Dos onze jogadores que tinham jogado a final de 58 contra a Suécia, somente Vavá não estava na delegação, justamente por ter migrado para o futebol espanhol, tendo ido defender ao Atlético de Madrid, em tempos nos quais, embora já houvesse voos comerciais, isto ainda representava um empecilho para que os jogadores defendessem à seleção.
Mas Vicente Feola não largou com a mesma escalação: tirou Gilmar e Djalma Santos, iniciando com o goleiro Castilho e o lateral-direito Paulinho de Almeida. Com Paulinho, a linha de zaga era quase toda do Vasco, onde também atuavam Bellini e Orlando. No segundo jogo, o lateral-esquerdo Coronel assumiu a vaga de Nilton Santos, passando a jogar a linha de defesa completa do Vasco. Durante a competição, porém, Gilmar e Djalma Santos recuperaram a titularidade em suas posições. Do meio para frente, ele começou com Dorval, companheiro de ataque de Pelé no Santos, como titular no lugar de Garrincha, outro que acabou recuperando a posição no decorrer do torneio. E para a vaga aberta por Vavá como centroavante, ele testou Henrique, do Flamengo, Almir, do Vasco, e Paulinho Valentim, do Botafogo, que no fim foi quem conseguiu se destacar e vencer aos concorrentes.
O preço pelas indecisões custou caro. O jogo que custou o título à Seleção Brasileira foi justamente a estreia, contra o Peru do técnico húngaro Gyorgy Orth. O mesmo time e o mesmo treinador que dois anos antes tinham "vendido caro" a classificação brasileira nas Eliminatórias. O Brasil chegou a abrir 2 a 0 no início do 2º tempo, mas o tinhoso time peruano conseguiu buscar um empate por 2 a 2. A perda de um ponto que foi fundamental na definição do campeão.
Nas rodadas seguintes, a Seleção Brasileira passou com autoridade por Chile (3 x 0), Bolívia (4 x 2), Uruguai (3 x 1) e Paraguai (4 x 1). Com direito a mais uma confusão no jogo contra os uruguaios, com uma briga generalizada que culminou com a expulsão de dois de cada lado: Almir e Orlando no Brasil, e Davoine e Néstor Gonçalvez na "Celeste". A confusão começou aos 40 minutos do 1º tempo, logo após os uruguaios fazerem 1 a 0 e saírem na frente. Após uma disputa de Almir com o goleiro, Davoine e Gonçalvez tentaram intimidá-lo, e a discussão virou briga, com direito a invasão de campo por parte dos bancos de reservas, e distribuição de socos e pontapés. O jogo ficou paralisado por meia hora. No 2º tempo, na bola, e com mais espaços em campo, a Seleção Brasileira meteu três gols - todos marcados por Paulinho Valentim - e venceu de virada.
Apesar da grande campanha brasileira, a Argentina não perdeu nenhuma vez: 6 a 1 no Chile, 2 a 0 na Bolívia, 3 a 1 no Peru, 3 a 1 no Paraguai, e 4 a 1 no Uruguai. Chegou assim à última rodada, para o duelo com o Brasil, com a vantagem do empate para se sagrar campeã. A equipe argentina, apesar da boa campanha, tinha um time bem mais limitado tecnicamente do que em anos anteriores. Após o fracasso na Copa do Mundo de 58, no ano anterior, na qual não havia avançado da Fase de Grupos, com derrotas acachapantes, primeiro para a Alemanha e depois com a impiedosa goleada por 6 a 1 sofrida para a Tchecoslováquia, alguns dos principais nomes da Argentina já não estavam mais, tendo Sivori, Maschio e Angelillo migrado para jogar no futebol da Itália. Em campo, havia um Brasil mais forte e uma Argentina mais frágil frente ao visto nas edições anteriores de Sul-Americanos.
Com o Monumental de Núñez lotado empurrando sua seleção, os argentinos saíram em vantagem no 1º tempo, Pelé empatou no início do segundo, mas ainda assim o Brasil não conseguiu virar. Os jornais brasileiros da época reclamaram que o juiz teria apitado o fim de jogo em meio a um contra-ataque brasileiro, enquanto Garrincha avançava pela intermediária. Sem registros televisivos, nunca se saberá se a reclamação era pertinente ou não. O fato é que a Argentina terminou se consagrando campeã sul-americana pela 12ª vez.
Curiosamente, aquela foi a única edição de Campeonato Sul-Americano disputada por Pelé, que então, com 18 anos, terminou como o artilheiro da competição, com 8 gols. Uma particularidade em comum com Alfredo Di Stéfano, que jogou somente a edição de 1947 com a camisa da Argentina.
Ataque de 1959 da Seleção Brasileira no Sul-Americano
Garrincha, Pelé, Paulinho Valentim, Didi e Zagallo
Convocação
Goleiros: Gilmar dos Santos Neves (Corinthians) e Castilho (Fluminense)
Laterais: Djalma Santos (Portuguesa de Desportos), Nilton Santos (Botafogo), Paulinho de Almeida (Vasco) e Coronel (Vasco)
Zagueiros: Bellini (Vasco), Orlando Peçanha (Vasco) e Mauro Ramos (São Paulo)
Meio de campo: Zito (Santos), Didi (Botafogo), Formiga (Palmeiras), Dino Sani (São Paulo) e Décio Esteves (Bangu)
Ataque: Garrincha (Botafogo), Paulinho Valentim (Botafogo), Zagallo (Botafogo), Dorval (Santos), Pelé (Santos), Henrique Frade (Flamengo), Almir Pernambuquinho (Vasco) e Chinesinho (Palmeiras)
Campanha
10/03/1959 - BRASIL 2 x 2 PERU
Local: Estádio Monumental de Núñez, Buenos Aires, Argentina
Gols: Didi (24'1T), Pelé (3'2T), e Juan Seminário (14'2T) e (32'2T)
Brasil: Castilho (Fluminense), Paulinho de Almeida (Vasco), Bellini (Vasco), Orlando Peçanha (Vasco) e Nilton Santos (Botafogo) (Coronel (Vasco)); Zito (Santos) e Didi (Botafogo); Dorval (Santos), Henrique Frade (Flamengo) (Almir Pernambuquinho (Vasco)), Pelé (Santos) e Zagallo (Botafogo).
Téc: Vicente Feola
Peru: Rafael Asca (Sporting Cristal), Juan De la Vega (Alianza Lima), José Fernández (Universitario), Victor Benítez (Alianza Lima) e Willy Fleming (Deportivo Municipal); Manuel Grimaldo (Alianza Lima) e Miguel Loayza (Ciclista de Lima) (José Carrasco (Deportivo Municipal)), Oscar Gómez Sánchez (River Plate/ARG), Juan Joya (Alianza Lima), Alberto Terry (Universitario) e Juan Seminário (Deportivo Municipal).
Téc: Gyorgy Orth
15/03/1959 - BRASIL 3 x 0 CHILE
Local: Estádio Monumental de Núñez, Buenos Aires, Argentina
Gols: Pelé (43'1T) e (45'1T), e Didi (44'2T)
Brasil: Castilho (Fluminense), Paulinho de Almeida (Vasco), Bellini (Vasco), Orlando Peçanha (Vasco) e Coronel (Vasco); Zito (Santos) e Didi (Botafogo); Dorval (Santos), Henrique Frade (Flamengo) (Paulinho Valentim (Botafogo)), Pelé (Santos) e Zagallo (Botafogo).
Téc: Vicente Feola
Chile: Raul Coloma (Ferrobadminton), Sergio Valdés (Magallanes), Raul Sánchez (Santiago Wanderers), Luis Vera (Audax Italiano) e Sergio Navarro (Universidad de Chile); Hernán Rodríguez (Colo Colo) e Luis Hernán Álvarez (Colo Colo) (Eladio Rojas (Everton)); Mario Moreno (Colo Colo), Juan Soto (Colo Colo) (Carlos Verdejo (La Serena)), Leonel Sánchez (Universidad de Chile) (Jorge Toro (Colo Colo)) e Mario Soto (Universidad Católica).
Téc: Fernando Riera
21/03/1959 - BRASIL 4 x 2 BOLÍVIA
Local: Estádio Monumental de Núñez, Buenos Aires, Argentina
Gols: Ricardo Alcón (12'1T), Pelé (16'1T), Paulinho Valentim (18'1T), Ausberto Garcia (22'1T), Paulinho Valentim (26'1T) e Didi (44'2T)
Brasil: Castilho (Fluminense), Paulinho de Almeida (Vasco) (Djalma Santos (Portuguesa de Desportos)), Mauro Ramos (São Paulo), Orlando Peçanha (Vasco) e Coronel (Vasco); Zito (Santos) (Formiga (Palmeiras)) e Didi (Botafogo); Garrincha (Botafogo), Paulinho Valentim (Botafogo), Pelé (Santos) e Zagallo (Botafogo).
Téc: Vicente Feola
Bolívia: Arturo López (Bolivar), Oscar Claure (Jorge Wilstermann) (Raymundo Centeno (Deportivo Municipal)), Ramón Santos (Bolivar), Miguel Burgos (The Strongest) e Wilfredo Camacho (Deportivo Municipal); Max Ramírez (The Strongest) e Abdul Aramayo (Chaco Petrolero); Victor Agustín Ugarte (Once Caldas), Mario Mena (Bolivar) (Ausberto García (Jorge Wilstermann)), Renán López (Jorge Wilstermann) e Ricardo Alcón (Litoral).
Téc: Vicente Arraya
26/03/1959 - BRASIL 3 x 1 URUGUAI
Local: Estádio Monumental de Núñez, Buenos Aires, Argentina
Gols: Escalada (36'1T), e Paulinho Valentim (17'2T), (35'2T) e (44'2T)
Brasil: Castilho (Fluminense) (Gilmar (Corinthians)), Djalma Santos (Portuguesa de Desportos), Bellini (Vasco), Orlando Peçanha (Vasco) e Coronel (Vasco) (Paulinho Valentim (Botafogo)); Formiga (Palmeiras) e Didi (Botafogo); Garrincha (Botafogo) (Dorval (Santos)), Almir Pernambuquinho (Vasco), Pelé (Santos) e Chinesinho (Palmeiras).
Téc: Vicente Feola
Uruguai: Juan Carlos Leiva (Rampla Juniors), Walter Davoine (Rampla Juniors), William Martínez (Peñarol) (Julio Castillo (Rampla Juniors)), Alcides Silveira (Sud América) e Juan Carlos Mesías (Nacional); Néstor Gonçalvez (Peñarol) e Héctor Demarco (Defensor Sporting); Carlos Borges (Peñarol) (Roque Fernández (Nacional)), Vladas Douksas (Rampla Juniors), José Sasía (Defensor Sporting) e Guillermo Escalada (Nacional) (Zelmar Aguillera (Sud América)).
Téc: Juan Carlos Corazo
29/03/1959 - BRASIL 4 x 1 PARAGUAI
Local: Estádio Monumental de Núñez, Buenos Aires, Argentina
Gols: Silvio Parodi (4'1T), Pelé (25'1T) e (31'1T), Chinesinho (35'1T) e Pelé (18'2T)
Brasil: Gilmar (Corinthians), Djalma Santos (Portuguesa de Desportos), Bellini (Vasco), Formiga (Palmeiras) e Coronel (Vasco); Décio Esteves (Bangu) e Didi (Botafogo); Garrincha (Botafogo) (Dorval (Santos)), Paulinho Valentim (Botafogo), Pelé (Santos) e Chinesinho (Palmeiras).
Téc: Vicente Feola
Paraguai: Honorio Casco (Cerro Porteño), Luis Gini (Sol de América), Juan Vicente Lezcano (Olimpia), Salvador Villalba (Libertad) e Edelmiro Arévalo (Olimpia); Carlos Sanabria (Valencia/ESP) e Eligio Antonio Insfrán (Guarani); Ildefonso Sanabria (Guarani), Luis Doldán (Olimpia) (Raul Aveiro (Sportivo Luqueño)), Cayetano Ré (Cerro Porteño) (Ángel Jara Saguier (Cerro Porteño)) e Silvio Parodi (Vasco da Gama/BRA) (Juan León Cañete (Huracán)).
Téc: Aurelio González
04/04/1959 - BRASIL 1 x 1 ARGENTINA
Local: Estádio Monumental de Núñez, Buenos Aires, Argentina
Gols: Pizzutti (40'1T) e Pelé (13'2T)
Brasil: Gilmar (Corinthians), Djalma Santos (Portuguesa de Desportos), Bellini (Vasco), Orlando Peçanha (Vasco) e Coronel (Vasco); Dino Sani (São Paulo) e Didi (Botafogo); Garrincha (Botafogo), Paulinho Valentim (Botafogo) (Almir Pernambuquinho (Vasco)), Pelé (Santos) e Chinesinho (Palmeiras).
Téc: Vicente Feola
Argentina: Osvaldo Negri (Racing), Francisco Lombardo (Boca Juniors) (Carmelo Simeone (Vélez Sarsfield)), Jorge Griffa (Newell's Old Boys) (Luis Cardoso (Boca Juniors)), Eliseo Mouriño (Boca Juniors) e Juan Carlos Murúa (Racing); Vladislao Cap (Racing) e Juan José Pizzutti (Racing); Ángel Nardiello (Boca Juniors), Héctor Sosa (Racing), Eugenio Callá (Argentinos Juniors) (Juan José Rodríguez (Boca Juniors)) e Raul Belén (Racing).
Técs: Victorio Spinetto, José Della Torre e José Barreiro
Seleção Brasileira em Buenos Aires em 1959
Resumo
Seleção Brasileira:
Castilho (Fluminense) (Gilmar (Corinthians)), Djalma Santos (Portuguesa de Desportos) (Paulinho de Almeida (Vasco)), Bellini (Vasco), Orlando Peçanha (Vasco) e Coronel (Vasco); Formiga (Palmeiras) (Zito (Santos)) e Didi (Botafogo); Garrincha (Botafogo) (Dorval (Santos)), Paulinho Valentim (Botafogo), Pelé (Santos) e Chinesinho (Palmeiras) (Zagallo (Botafogo)).
Artilharia: Pelé (8), Paulinho Valentim (5), Didi (3) e Chinesinho (1)
Participação:
6 jogos: Coronel, Didi e Pelé
5 jogos: Hilderaldo Bellini, Orlando Peçanha e Paulinho Valentim
4 jogos: Castilho, Djalma Santos, Garrincha e Dorval
3 jogos: Gilmar, Paulinho de Almeida, Zito, Formiga, Almir Pernambuquinho, Chinesinho e Zagallo
2 jogos: Henrique Frade
1 jogo: Mauro Ramos, Nilton Santos, Dino Sani e Décio Esteves
Nenhum comentário:
Postar um comentário