domingo, 23 de junho de 2024

Seleção Brasileira em 1944


Em 1944 foi dado início ao trabalho de Flávio Costa como técnico da Seleção Brasileira. E pela primeira vez, pode-se dizer que o futebol brasileiro sofreu influências táticas mais profundas do futebol europeu. Flávio Costa havia sido jogador do Flamengo de 1926 a 1936, e depois assumiu como treinador no clube. Em 1937, o Flamengo decidiu importar um técnico da Europa, tendo o escolhido sido o húngaro Izidor "Dori" Kurschner, que introduziu no país o sistema tático "WM".

Kurschner era discípulo do britânico Jimmy Hogan, o primeiro grande teórico de esquemas táticos no futebol mundial. Da Inglaterra, ele foi recrutado pelo MTK Budapeste, da Hungria, onde Dori Kurschner era jogador, tendo este vindo a substituir Hogan quando este deixou a função. No Flamengo, o treinador húngaro fez uma campanha arrasadora no Campeonato Carioca de 1937, repleta de goleadas, mas o clube perdeu o título para o rival Fluminense, um insucesso crucial para encurtar a passagem do húngaro pelo clube da Gávea. Nos bastidores, reza a lenda que Flávio Costa foi um dos articuladores políticos para a derrubada de Kurschner do cargo durante 1938, tendo logo depois Flávio Costa reassumido a função.

Mas Flávio Costa prestou bastante atenção na organização do time do Flamengo enquanto Dori Kurschner esteve no clube, aprendendo lições valiosas, que o fizeram ser um pioneiro no Brasil em organização de sistemas táticos. Ele adotou o sistema tático "WM", adaptando-o ao estilo do futebol brasileiro e criando a chamada "diagonal", um sistema tático que fazia com que a equipe fosse mais ofensiva por um lado e mais defensiva pelo outro. Era como se fosse um "WM em movimento". Por esta adaptação, há muitos registros históricos que dão a Flávio Costa e não ao húngaro Dori Kurschner o mérito pela implementação do "WM" no futebol brasileiro. 

Flávio Costa iria marcar uma época no futebol do Rio de Janeiro. Entre 1939 e 1944, conquistou 4 das 6 edições do Campeonato Carioca. Ficou no Flamengo até 1946, quando trocou o clube pelo rival Vasco da Gama, onde continuou fazendo história, tendo conquistado 3 das 4 edições de Campeonato Carioca que disputou com o Vasco entre 1947 e 1950. Foram, portanto, 7 títulos do campeonato do Rio entre 1939 e 1950. E a partir de 1944 ele assumiu também à Seleção Brasileira.

E as inovações táticas de Flávio Costa já começaram a surtir efeito já mesmo em seu primeiro ano a frente da Seleção Brasileira. Até aquele momento o escrete nacional sofria uma grande freguesia para o futebol uruguaio. Entre 1916 e 1942, em 16 confrontos entre as duas seleções, o Brasil tinha vencido 5 e empatado 3, e perdido a metade, com 8 derrotas. Em 1944, a Seleção Brasileira recebeu ao Uruguai para dois amistosos, um no Rio e outro em São Paulo, e surpreendeu, aplicando duas goleadas. No Rio de Janeiro venceu impiedosamente por 6 a 1, seu placar mais elástico sobre o rival na história do confronto. Na capital paulista, outra goleada, desta vez por 4 a 0. Os uruguaios sentiram o golpe sofrido, e apelaram para a violência. Foi a primeira vez na qual um Brasil versus Uruguai teve confusão e briga. Como consequência, houve quatro expulsões, com Juan Santiago, Uribe Durán e Juan Tejera, pela celeste, e Zezé Procópio, do lado brasileiro, recebendo cartão vermelho.


O goleiro Oberdan Cattani


JOGOS NO ANO:

14/05/1944 - BRASIL 6 x 1 URUGUAI
Amistoso - Estádio de São Januário, Rio de Janeiro
Gols: Isaías, Tesourinha, Eduardo Lima (2), Juan Tejera, Ruy e Lelé

Brasil: Oberdan Cattani (Palmeiras) (Jurandir (Flamengo)), Piolim (São Paulo) e Begliomini (Corinthians); Zezé Procópio (São Paulo), Ruy (Fluminense) e Noronha (São Paulo); Tesourinha (Internacional), Lelé (Vasco), Isaías (Vasco), Jair Rosa Pinto (Vasco) e Eduardo Lima (Palmeiras).
Téc: Flávio Costa
Uruguai: Flavio Pereyra Nattero (Peñarol), Mario Lorenzo (Peñarol) e Secundino Arrascaeta (Nacional); José Pedro Colturi (Peñarol), Uribe Durán (Rampla Juniors) e Julio Sagastume (Montevideo Wanderers); Luis Volpi (Montevideo Wanderers), José Antonio Vásquez (Peñarol), José María Medina (Montevideo Wanderers), Juan Pedro Riephoff (Chacarita Juniors) (Roberto Porta (Nacional)) e Juan Tejera (Liverpool) (Juan Santiago (Liverpool)).
Téc: Ricardo Acosta


18/05/1944 - BRASIL 4 x 0 URUGUAI
Amistoso - Estádio do Pacaembu, São Paulo
Gols: Jair Rosa Pinto (3) e Heleno de Freitas

Brasil: Oberdan Cattani (Palmeiras), Norival (Fluminense) e Begliomini (Corinthians); Zezé Procópio (São Paulo), Ruy (Fluminense) (Ávila (Internacional)) e Noronha (São Paulo); Luisinho Mesquita (São Paulo) (Alfredo (Vasco)), Lelé (Vasco), Isaías (Vasco) (Heleno de Freitas (Botafogo)), Jair Rosa Pinto (Vasco) e Eduardo Lima (Palmeiras).
Téc: Flávio Costa
Uruguai: Juan José Carvidón (Montevideo Wanderers) (Flavio Pereyra Nattero (Peñarol)), Julio Vicente Morales (River Plate) (Mario Lorenzo (Peñarol)) e Agenor Muñíz (Peñarol); José Pedro Colturi (Peñarol), Rodolfo Pini (Nacional) (Uribe Durán (Rampla Juniors)) e Raul Rodríguez (Peñarol); Juan Tejera (Liverpool), José Antonio Vásquez (Peñarol), Juan Pedro Riephoff (Chacarita Juniors) (José María Medina (Montevideo Wanderers)), Roberto Porta (Nacional) e Juan Santiago (Liverpool).
Téc: Ricardo Acosta



RESUMO:

Seleção Brasileira de 1944:
Oberdan Cattani (Palmeiras), Piolim (São Paulo) (Norival (Fluminense)) e Begliomini (Corinthians); Zezé Procópio (São Paulo), Ruy (Fluminense) e Noronha (São Paulo); Tesourinha (Internacional) (Luisinho Mesquita (São Paulo)), Lelé (Vasco), Isaías (Vasco), Jair Rosa Pinto (Vasco) e Eduardo Lima (Palmeiras).

Artilharia: Jair Rosa Pinto (3), Eduardo Lima (2), Heleno de Freitas (1), Tesourinha (1), Isaías (1), Ruy (1) e Lelé (1)

Participação:
2 jogos: Oberdan Cattani, Begliomini, Zezé Procópio, Ruy, Noronha, Lelé, Isaías, Jair Rosa Pinto e Eduardo Lima
1 jogo: Jurandir, Norival, Piolim, Ávila, Tesourinha, Luisinho Mesquita, Alfredo e Heleno de Freitas


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