sábado, 15 de outubro de 2022

Técnicos brasileiros campeões na Argentina


São poucos os técnicos estrangeiros que foram Campeões Argentinos de Futebol, e entre eles há dois brasileiros, campeões em 1967 e 1968. Antes deles, só o húngaro Emerico Hirschl havia sido campeão com o River Plate em 1936 e 1937. Depois deles, só no Torneio Apertura da Temporada 1992/93 um estrangeiro voltou a vencer, o uruguaio Óscar Tabárez, a frente do Boca Juniors. Depois disto, o chileno Manuel Pellegrini foi duas vezes campeão, com o San Lorenzo no Torneio Clausura de 2001, e com o River Plate no Torneio Clausura de 2003.

Para conhecer quem são estes dois técnicos brasileiros:

Osvaldo Brandão nasceu em Taquara, na Região Metropolitana de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, em 18 de setembro de 1916. Como jogador de futebol defendeu as camisas do Internacional e do Palmeiras, onde ao se aposentar iniciou sua carreira de treinador. Depois passou por Santos, Portuguesa de Desportos, Corinthians e mais uma vez pelo Palmeiras. Em 1961 passou pela primeira vez pelo Independiente, na Argentina. Em seguida voltou ao Brasil e treinou a São Paulo e Corinthians, até a sua passagem mais vitoriosa pelo Independiente em 1967. Depois disto passou por Corinthians, Peñarol, do Uruguai, São Paulo, Palmeiras e Seleção Brasileira, em 1977.

Elba de Pádua Lima, mais conhecido como Tim, nasceu em Rifaina, cidade da Região Metropolitana de Franca, em 20 de fevereiro de 1916. Começou a jogar futebol primeiro pelo Botafogo de Ribeirão Preto e depois pela Portuguesa Santista, mas e destacou mesmo para o cenário nacional no Rio de Janeiro, com a camisa do Fluminense, onde atuou de 1936 a 1944. Antes de se tornar treinador, ainda defendeu a São Paulo, Olaria e Junior de Barranquilla, da Colômbia. Como técnico teve os primeiros grandes trabalhos a frente do Bangu. Em 1964 assumiu ao Fluminense e foi campeão carioca, ficando no clube até 1967. Em 1968 treinou ao San Lorenzo, sendo campeão argentino. Depois disto, passou por Flamengo, Vasco, Botafogo, Coritiba, Santos e Seleção do Peru.


Para contas a história dos dois técnicos brasileiros campeões no futebol argentino, duas matérias do site "O Curioso do Futebol", de autoria de Lucas Paes:


O título argentino do técnico Osvaldo Brandão pelo Independiente em 1967

Osvaldo Brandão foi um dos maiores treinadores que o Brasil já teve. Dono da marca de ser o técnico com mais jogos pelos rivais Corinthians e Palmeiras, tem diversas conquistas na carreira, incluindo o histórico Campeonato Paulista de 1977 que deu fim a um longo jejum corinthiano, e títulos nacionais pelo Palmeiras. Entre seus feitos na carreira, Osvaldo conseguiu virar ídolo de uma torcida argentina, de um dos maiores clubes do país, quando teve duas passagens pelo Independiente, a segunda de enorme sucesso.

Exigente e austero, Osvaldo conseguia extrair muito de seus jogadores sem necessariamente ser um mago estrategista. Vendo suas qualidades, o Independiente o contratou pela primeira vez em 1961. Ele ficou no clube de Avellaneda até 1963 e apesar de não ganhar nenhum título, fomentou o caminho para a primeira "copa" do "Rey". Seria em 1967 que Brandão entraria para sempre na galeria de ídolos e para muitos dinvidades do Rojo.

Em 1967, houveram dois campeonatos argentinos, o Metropolitano, envolvendo apenas times de Buenos Aires e arredores, ganho pelo Estudiantes, torneio onde o Independiente fora eliminado pelo Racing, seu arquirrival. Já o Nacional envolvia os melhores times daquele torneio e campeões de outras províncias. Este foi o palco do que até hoje é uma das maiores campanhas de toda a história do futebol argentino, quando o Rojo não tomou conhecimento de ninguém e foi campeão com aproveitamento absurdo de pontos.

Osvaldo armava sua equipe no 4-2-4, num time que tinha como grandes destaques Luis Artime, Yazalde, Pastoriza e o lendário arqueiro Miguel Santoro. Se no primeiro semestre de 1967 nem tudo deu certo para os diabos, no segundo, num campeonato de turno único e pontos corridos com 15 times, o Independiente não tomou conhecimento de ninguém para conquistar o título.

O começo dos rojos foi absurdo, com 8 vitórias nos 8 primeiros jogos incluindo goleadas como 6 a 0 no Central Córdoba, 5 a 2 no Lanus, e 3 a 0 no San Lorenzo. A metade final do torneio teve a única derrota do time na competição, por 3 a 1 para o San Lorenzo. Vitórias contra Boca e River, este segundo em pleno Monumental de Nuñez, fizeram com que o Independiente basicamente dependesse de si diante do Racing para ser campeão. Ai, veio talvez o maior jogo de Osvaldo Brandão com o Independiente, que o garantiu na galeria de imortais ídolos rojos.

O "Clássico de Avellaneda" é desde sempre um pulsar de rivalidade absurda envolvendo os dois primeiros campeões da Libertadores na Argentina. Portanto, justamente no ano em que "La Academia" ganhou "La Copa", era impensável não vencer. O primeiro tempo sem gols deixou as coisas abertas, mas o segundo tempo foi um verdadeiro passeio dos homens de vermelho. Tarabini abriu a contagem a dois minutos, Artime marcou outros dois gols e garantiu a artilharia da competição, e já no finalzinho Savoy fechou a histórica goleada e o título. A Argentina era vermelha!


Porém, Brandão, apesar dos apelos dos torcedores, não ficou. Voltou ao Brasil, para auxiliar na Seleção Brasileira. Abriu, porém, o caminho para Tim, que indicado por ele, que rejeitou diversas propostas portenhas, assumiu o San Lorenzo e ganhou o Campeonato Argentino, no caso o Metropolitano. Porém, mesmo com apenas um ano, o apelido de Maestro ficou e até hoje, Brandão é um grande ídolo na casamata do Independiente. Sendo sempre lembrado pela torcida Roja.


Tim e o título argentino invicto com o San Lorenzo em 1968

A Argentina e o Brasil são, no futebol, países intimamentes ligados por uma rivalidade fortíssima dentro das quatro linhas. Imensos expoentes do futebol sul-americano, prezando ambos pelo jogo bonito, porém de formas diferentes, como diferenças entre o Tango e o Samba. Só que as vezes, quando há um comandando um time no país do outro, a música tem uma nota refinada, como o bater de um bumbo junto a nota de um violino. Logo depois do sucesso de Osvaldo Brandão no Independiente, foi a vez de Elba de Pádua Lima, o Tim, histórico jogador da Seleção Brasileira, entrar na história do San Lorenzo. 


Parte da primeira grande Seleção Brasileira em Copas do Mundo, que jogava um futebol encantador nos idos de 1938, Tim foi tão grande como técnico como foi como jogador. Porém, sua maior conquista não viria em terras tupiniquins. Em 1967, foi contratado pelo San Lorenzo para fazer com que o que havia sobrado do bom time dos "caras sujas" conseguisse tirar o "Ciclón" da fila. Até então, os cuervos tinham apenas três títulos na era profissional, tendo um curioso tabu de conquistarem um título a cada 13 anos. Tim seria responsável por mudar isso de maneira histórica.

Junto a Albrech, zagueiro de imensa categoria defensiva e excelente batedor de pênaltis e Telch, meia parte do time dos caras sujas, existiam nomes como o bom goleiro Buttice, Rodolfo Fischer, que seria artilheiro da equipe, Sergio Villar, lateral uruguaio que chegou naquele ano e virou praticamente uma divindade do Ciclón, entre outros. Tim tornaria o bom time um verdadeiro esquadrão, que iniciaria tempos gloriosos no San Lorenzo. Prezando pela relação honesta com seus jogadores e menos rigoroso que Brandão, marcou a vida de muitos daquele time.

O Metropolitano de 1968 teve fórmula curiosa. Onze times em cada grupo, turno e returno dentro dos grupos e duas datas de jogos intergrupos, geralmente clássicos (San Lorenzo e Huracán, e River e Boca, por exemplo, estavam separados). O San Lorenzo abriu a campanha metendo 5 a 1 no Atlanta, fora de casa e mostrando a que viria. Foram 14 vitórias e oito empates na primeira fase, incluindo vitórias contra o Boca em La Bombonera (2 x 1), goleadas contra Ferro Carril e Atlanta e uma vitória aguda para cima do Racing por 3 x 0. Depois desses números, veio a semifinal contra o River Plate.

Jogada no Cilindro de Avellaneda, a semifinal viu uma partidaça do Ciclón diante dos Millonarios. A vitória do time de Boedo veio por 3 a 1, antes de enfrentar na decisão o Estudiantes de La Plata, onde figurava La Bruja Verón, pai de Juan Sebastian Verón e outro craque da família. Na final, disputada no Monumental, foi de "La Bruja" o gol de abertura do marcador do bom time Pincharrata. Veglio deixou tudo igual ja na metade do segundo tempo. A virada veio com um chute espetacular de Fischer de longe, que deu a taça ao San Lorenzo.


Foi o primeiro título invicto da história do Campeonato Argentino na era profissional. Tim acabou deixando o San Lore pouco depois da conquista, após uma sequência ruim de resultados. Porém, isso não manchou a história que ele havia construído no Gasómetro. Tim foi o segundo e último brasileiro campeão argentino como treinador.


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