quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Enfim uma Copa América no estrangeiro?

Campeão mundial após 24 anos de jejum, o Brasil queria agora superar dois desafios, os únicos que nunca tinham sido conseguidos pela Seleção Brasileira. O primeiro era ganhar uma Copa América fora do Brasil, e o segundo era ser campeão olímpico.

Em 1995, a Copa América era no Uruguai. Empolgado com a Taça do Mundo, havia enorme confiança de que desta vez o título viria. E no seguinte, 1996, haveria os Jogos Olímpicos de Atlanta, nos Estados Unidos. Desde a edição anterior – da qual o Brasil ficou fora por ter sido derrotado no Pré-Olímpico – a FIFA autorizava a inclusão de três jogadores de qualquer idade, tivessem ou não já jogado uma Copa do Mundo, numa seleção sub 23. Também era enorme a confiança de que desta vez o ouro viria para o Brasil.

Após a Copa do Mundo de 1994, Carlos Alberto Parreira decidiu se afastar, pedindo demissão do cargo de treinador. Mas o trabalho foi continuado pelo incansável Zagallo, que passou de assistente a técnico e assumiu o desafio de iniciar o ciclo preparatório para a Copa de 1998.

Antes da Copa América, a seleção fez seis amistosos e venceu cinco (Iugoslávia, Eslováquia, Israel, Polônia e Valência, da Espanha), empatou apenas uma vez, com Honduras, no Estádio Serra Dourada, em Goiânia. Jogou ainda a Copa Stanley Rous, no Reino Unido, a qual já havia conquistado em 1987, e da qual voltou a ser campeão naquele ano de 1995, depois de vencer três jogos: 1 x 0 na Suécia, 3 x 0 no Japão, e 3 x 1 na Inglaterra dentro do Estádio de Wembley, em Londres.

O time brasileiro, renovado em relação ao da Copa de 94, estava definido, jogando bem, e quase imbatível. Os titulares de Zagallo: Taffarel (Atlético Mineiro), Jorginho (Kashima Antlers, Japão), Aldair (Roma, Itália), André Cruz (Napoli, Itália) e Roberto Carlos (Internazionale, Itália), César Sampaio (Yokohama Flugels, Japão), Dunga (Stuttgart, Alemanha), Juninho Paulista (São Paulo) e Zinho (Yokohama Flugels, Japão), Edmundo (Palmeiras) e Túlio (Botafogo).

A Copa América reuniu as 10 seleções da América do Sul mais dois convidados: México e Estados Unidos. Os times foram divididos em três grupos de quatro. O grupo brasileiro, que jogou na cidade de Rivera, tinha Colômbia, Equador e Peru.

A estréia foi mais difícil do que se imaginava que seria: vitória suada e apertada sobre o Equador, com um gol do zagueiro Ronaldão aos 28 minutos do segundo tempo. No segundo jogo, nova dureza, vitória por 2 x 0 sobre o Peru, gols de Edmundo e Zinho, mas tendo o primeiro sido marcado só aos 32 minutos do segundo tempo. Já classificado com antecipação, na última rodada, no jogo que seria teoricamente o mais difícil, o Brasil superou a Colômbia com certa facilidade: 3 x 0.

O time brasileiro vinha numa ascendente de produção. E logo nas quartas de final teria pela frente a Argentina, que havia perdido por 3 x 0 para os EUA e com isto terminado em segundo lugar em seu grupo. O primeiro tempo foi intenso: Balbo abriu o marcador logo aos dois minutos, Edmundo empatou logo depois, mas Gabriel Batistuta pôs os argentinos novamente na frente. As maiores emoções, no entanto, estavam reservadas para o fim. Aos 36 minutos do segundo tempo, o camisa 9 brasileiro, Túlio Maravilha, ajeitou a bola com o braço e concluiu para as redes, colocando 2 x 2 no placar. O juiz não viu, os argentinos ficaram irados, mas tomaram a vingança pelo gol de mão marcado por Maradona sobre a Inglaterra na Copa de 1986, do qual se vangloriavam pela esperteza da “mão de Deus”.

Com o empate, o duelo foi decidido nos pênaltis. A vitória em 1994 tinha varrido o trauma brasileiro com penalidades. E no gol estava Taffarel, responsável pelas duas únicas vitórias da Seleção Brasileira em disputas de pênaltis até ali.

Roberto Carlos, Hugo Pérez, Túlio e Alberto Acosta fizeram suas cobranças: 2 x 2. Foi então que o zagueiro André Cruz perdeu sua cobrança. Os argentinos tinham a chance de passar a frente com Diego Simeone, mas Taffarel, que havia falhado nos dois gols argentinos, defendeu! Dunga fez o seu. E Taffarel voltou a ser protagonista, voando para defender a cobrança de Nestor Fabbri. Na última cobrança, Edmundo marcou e classificou o Brasil: 4 x 2 nos pênaltis.

A semi-final foi contra os Estados Unidos. O time norte-americano havia vencido a Argentina na primeira fase e batido o México nos pênaltis nas quartas. O Brasil tratou de abrir o marcador logo no começo do jogo, com o zagueiro Aldair marcando de cabeça, e não conseguiu nada além disto: placar mínimo e Brasil na final.

O adversário na partida decisiva era o Uruguai, dono da casa. O futebol uruguaio vinha em crise havia alguns anos, desde 1970 não conseguia ficar entre os 10 melhores da Copa do Mundo, não havia obtido a classificação para a Copa de 94, e tinha poucos jogadores protagonistas no futebol europeu, principal cenário de competitividade do futebol mundial. O Brasil se julgava favorito.  

Túlio fez um gol aos 30 minutos do primeiro tempo, parecia que o sonho de conquistar uma Copa América fora do Brasil estava perto de se realizar. Mas Pablo Bengoechea empatou, cobrando falta, logo aos 6 minutos do segundo tempo. Foi um jogo duríssimo, disputadíssimo e equilibradíssimo. Terminou 1 x 1 e o título foi ser decidido nos pênaltis. Os uruguaios foram precisos, Enzo Francescoli, Bengoechea, Jose Oscar Herrera, Álvaro Gutiérrez e Sergio Martínez acertaram suas cobranças. Túlio perdeu para o Brasil, a terceira cobrança da série. Final: Uruguai 5 x 3. A Seleção Brasileira caiu invicta, mas sem o troféu.



Dunga vs Enzo Francescoli

Nenhum comentário:

Postar um comentário