No ano seguinte, de 1920, houve
mais um Sul-Americano, o último neste formato envolvendo apenas brasileiros,
argentinos, uruguaios e chilenos. E fechou-se o ciclo, pois em 1916 foi jogado
na Argentina, em 1917 no Uruguai, em 1919 no Brasil e em 1920 o anfitrião foi o
Chile.
O time brasileiro tinha uma base
quase toda de cariocas, ainda que o treinador fosse novamente o paulista Sylvio
Lagreca. E pela primeira vez houve a presença de um jogador de fora do eixo
Rio-São Paulo, o ponta-esquerda Alvariza, que jogava no Rio Grande do Sul. O
time jogou com Kuntz (Flamengo), Telefone (Flamengo) e Martins (São Cristóvão),
Sisson (Flamengo), Japonês (Flamengo) e Fortes (Fluminense), Zezé (Fluminense),
Constantino (Santos), Castelhano (Santos), Junqueira (Flamengo) e Alvariza
(Brasil de Pelotas).
A campanha brasileira foi muito
ruim. Na estréia, vitória magra sobre o Chile por 1 x 0. Depois uma estrondosa
goleada de 6 x 0 sofrida para o Uruguai, e uma nova derrota, esta por 2 x 0,
para a Argentina. Os uruguaios, que empataram com os argentinos na estréia,
beneficiaram-se do empate destes com os chilenos na segunda rodada e, com cinco
pontos, conquistaram o terceiro título em quatro edições.
O futebol começava a crescer no
Brasil. Além de São Paulo e Rio de Janeiro, pioneiros no futebol, cada vez mais
estados já tinham seus próprios torneios: Bahia, Rio Grande do Sul, Paraná,
Minas Gerais, Pará, Amazonas, Ceará, Sergipe, Maranhão, Piauí e Rio Grande do
Norte. Já eram 13 campeonatos estaduais sendo disputados no Brasil àquela
altura.
A seleção voltou a se reunir para
o Sul-Americano de 1921, jogado em Buenos Aires, na Argentina. O técnico passou
a ser Laís, do Fluminense, e a base foi outra vez essencialmente carioca; o
time titular naquele Sul-Americano era: Kuntz (Flamengo), Telefone (Flamengo) e
Barata (América-RJ), Laís (Fluminense), Alfredinho (Botafogo) e Dino
(Flamengo), Zezé (Fluminense), Frederico (Bangu), Candiota (Flamengo), Machado
(Fluminense) e Orlandinho (Flamengo).
O torneio voltou a ser um
Quadrangular, mas com o Paraguai no lugar do Chile. Logo na estréia, o Brasil
caiu para a Argentina por 1 x 0. No outro jogo da primeira rodada, uma grande
zebra, o Paraguai venceu o Uruguai, campeão de três das quatro primeiras
edições, por 2 x 1. Na segunda rodada, o Brasil venceu bem os paraguaios por 3
x 0. Os argentinos bateram os uruguaios e, na rodada seguinte, os paraguaios,
e, com três vitórias em três jogos, sagraram-se, pela primeira vez, campeões
sul-americanos. O Brasil perdeu por 2 x 1 para o Uruguai no último jogo, mas
pelo saldo de gols, ficou com o vice-campeonato.
No ano seguinte, o torneio voltou
mais uma vez a ser disputado no Rio de Janeiro, nos estádio das Laranjeiras,
campo do Fluminense. O time convocado por Laís: Kuntz (Flamengo), Palamone
(Botafogo) e Bartô (São Bento-SP), Laís (Fluminense), Fortes (Fluminense) e Amilcar
(Corinthians), Formiga (Paulistano), Neco (Corinthians), Heitor Domingues (Palestra
Itália-SP), Tatu (Corinthians) e Domingues (Corinthians). Uma defesa
basicamente carioca, e uma linha de frente toda ela paulista, na qual ainda
tinha a presença no banco de reservas de Arthur Friedenreich, do Paulistano.
Desta vez o campeonato reunia
pela primeira vez a cinco equipes, com a participação tanto do Paraguai quanto
do Chile. O Sul-Americano de 1922 celebrava os 100 anos da Independência do
Brasil, mas não só de comemorações foi cercado o torneio, pois o país vivia um
momento de grande instabilidade política, e os jornais de oposição ao governo
se aproveitaram para agitar mais esta conjuntura, ainda mais porque a Seleção
Brasileira começou sem conseguir empolgar a torcida carioca, com resultados
ruins.
Na primeira rodada, em 17 de
setembro, a Argentina venceu ao Paraguai, e o Brasil empatou em 1 x 1 com o
Chile (Tatu fez o gol brasileiro). Em 24 de setembro, pela segunda rodada, o
Uruguai venceu ao Chile e o Brasil voltou a empatar em 1 x 1, desta vez com o
Paraguai (gol de Amílcar). Assim, tríplice empate até o momento entre
brasileiros, argentinos e uruguaios, os três com dois pontos.
Na terceira rodada, em 1 de outubro,
a Argentina goleou o Chile por 4 x 0, e o Brasil empatou mais uma vez, desta
vez sem gols, no clássico contra o Uruguai. A situação brasileira estava
difícil, principalmente porque o Brasil folgava na quarta rodada, e uma vitória
da Argentina sobre o Uruguai era suficiente para o troféu ir parar em Buenos
Aires. Mas o Uruguai venceu a Argentina por 1 x 0 e impediu o título. De
quabra, o Paraguai venceu ao Chile e se aproximou na briga pelo título. O
Brasil, com três empates, tinha três pontos. A Argentina tinha quatro pontos,
com duas vitórias e uma derrota. O Uruguai tinha cinco pontos, com duas
vitórias e um empate. E o Paraguai havia chegado aos mesmos três pontos que o
Brasil, com uma vitória, um empate e uma derrota.
Na última rodada, em 15 de outubro,
quem entrava em campo por uma vitória para conseguir ser mais uma vez campeão
era o Uruguai. Só que no primeiro jogo da tarde, o time uruguaio foi derrotado
pelo Paraguai. O Brasil entrava em campo para enfrentar a Argentina, ainda sem
ter vencido no torneio, precisando de uma vitória para sobreviver. Um empate,
provocava um tríplice empate entre argentinos, uruguaios e paraguaios. Já a
Argentina, assim como tivera diante do Uruguai, tinha mais uma oportunidade de
levar o troféu para Buenos Aires se vencesse o jogo. Ao Brasil não restava
apenas vencer, pois Uruguai e Paraguai, ambos com cinco pontos, tinham dois
gols positivos de saldo, primeiro critério de desempate. Um vitória por 1 x 0
levaria o Brasil aos mesmos cinco pontos, mas com saldo de um gol, e provocaria
um jogo extra entre uruguaios e paraguaios na decisão pelo título. Com uma
vitória por 2 x 0 haveria tríplice empate em número de pontos e em saldo de
gols, mas pelo segundo critério de desempate, gols marcados, o jogo de
desempate seria entre brasileiros e paraguaios.
O Brasil conseguiu abrir o
marcador aos 42 minutos do primeiro tempo através de um gol de Neco, atacante
do Corinthians. O segundo tempo se arrastou tenso e muito disputado. A pressão
política pela conquista do troféu de coroação do Centenário da Independência
era enorme. Os discursos ufanistas e nacionalistas nos jornais ligados ao
governo exigiam o título a todo custo. E eis que aos 41 minutos do segundo
tempo, o juiz paraguaio Francisco Andreu marca pênalti a favor do Brasil. Os
argentinos reclamaram horrores, talvez só não tenham causado balbúrdia ainda
maior porque para eles, àquela altura, a virada que lhes daria o título parecia
improvável. Mas houve muita confusão. Até que Amilcar cobrou e marcou. Brasil 2
x 0. E em jogo extra, Brasil e Paraguai decidiriam o título uma semana depois,
em 22 de outubro.
Ao mesmo tempo, o gol criou uma
situação inusitada, pois para aquela mesma data, estava marcado o primeiro jogo
que a Seleção Brasileira realizaria em São Paulo, contra a Argentina, no
estádio do Palestra Itália, o Parque Antártica, valendo o título de mais uma
Copa Roca. Decidiu-se reunir um “time B”, praticamente só de paulistas, para
representar o Brasil na capital paulista. E no mesmo dia, nas Laranjeiras, o
time principal também jogaria por um título, o do Campeonato Sul-Americano de
1922.
Até aquele momento da história, a
Seleção Brasileira havia entrado em campo 32 vezes, 20 delas em jogos valendo
por Campeonatos Sul-Americanos. Tinham sido 14 jogos no Rio de Janeiro, todos
nas Laranjeiras, 10 jogos em Buenos Aires, 5 em Montevidéu e 3 em Viña del Mar,
no Chile. E eis que em 22 de outubro de 1922 o Brasil entra duas vezes em campo
no mesmo dia e em duas cidades diferentes, um jogo no Rio e outro em São Paulo.
Pela Copa Roca, deu Brasil, vitória por 2 x 1. Nas Laranjeiras, a expectativa
era de vitória tranqüila, afinal o Paraguai, apesar das vitórias sobre o
Uruguai nos Sul-Americanos de 1921 e naquele de 1922, tinha perdido por 3 a 0
para o Brasil no único confronto entre as duas seleções até ali.
O artilheiro corinthiano Neco
começou a facilitar as coisas ao abrir o placar logo no começo do jogo. O ponta
Formiga ampliou logo na volta para o segundo tempo. E ele mesmo sacramentou a
vitória no finzinho do jogo. O Brasil era novamente, e desta vez com bastante
polêmica, Campeão Sul-Americano. O segundo título continental de sua história.
Ficha Técnica
BRASIL 3
x 0 PARAGUAI
Gols:
Neco (11’1T), Formiga (3’2T) e (44’2T)
BRASIL: Kuntz, Palamone e Bartô, Laís, Fortes e Amílcar, Formiga, Neco, Tatu, Heitor e Rodrigues.
PARAGUAI: Modesto Denis,
Ramon González e Venâncio Paredes, Roque Miranda, Fleitas Solich e Isidoro
Benítez, Daniel Schaerer, Luciano Capdevila, Ildefonso Lopes, Gerardo Rivas e
Luís Fretes.
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